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O show não pode parar

Final dos anos 1950. Jogos da Primavera. Em frente ao Colégio Centenário, 200 componentes da Banda do Maneco, assim carinhosamente chamada, se preparavam para marchar na Rua do Acampamento. Na sacada dos edifícios mais altos da

Alunos ocupam o Colégio Manuel Ribas em Santa Maria

O Colégio Manoel Ribas (Maneco), em Santa Maria, foi ocupada ontem (8) pelos alunos do Grêmio Estudantil da instituição. Outras sete escolas da cidade também estão ocupadas: Cilon Rosa, Augusto Ruschi, Margarida Lopes, Tancredo Neves, Olavo

Sai verba para conclusão do ginásio do Maneco

Na tarde de ontem (09), a 8º Coordenadoria Regional de Educação de Santa Maria (8ºCRE), através da titular, professora Celita da Silva e da chefe do Setor Administrativo e Financeiro, Leoneide de Gregori anunciaram a liberação

 A época escolar é uma etapa de formação individual que, para muitos, está repleta de memórias marcantes. E o mais interessante é que esse processo ocorre dentro de um meio coletivo, que permite realizar trocas com outros indivíduos, estabelecer laços e, ao mesmo tempo,  ter contato com outras mentalidades e estilos de vida. Muitas vezes, é nesses ambientes onde afloram as primeiras amizades, se formam os primeiros grupos e até se descobrem as primeiras paixões. Essas lembranças são frequentemente associadas a uma memória afetiva que caminha em sintonia com o processo de aprendizagem e aquisição de conhecimento. No entanto, ao explorarmos o papel da educação pública nesse cenário, emergem questões que vão além das recordações pessoais e tocam temas sociais e estruturais. A escola é um ambiente que zela pela preparação cognitiva e intelectual das pessoas que integram uma sociedade. Porém, quando se trata das escolas estaduais, muitas vezes não retrata o que se espera para um sistema educacional eficaz.

Em primeira análise, é preciso partir do princípio de que o acesso à educação pública é um direito de todos, garantido pela Constituição. Esse direito é um valor e um objetivo a unir toda a população e que deve ser sustentado pelos formuladores de políticas públicas em todos os níveis geográficos.

 Em Santa Maria, as escolas Manoel Ribas (Maneco), Cilon Rosa e Maria Rocha, da rede estadual de ensino da região, passaram por transformações significativas ao longo das últimas décadas. Ao explorar essas histórias de transformação, busca-se entender como essas escolas não apenas se adaptaram às novas demandas educacionais, mas também como impactam a vida de alunos e educadores. 

Segundo o IBGE, em 2023, cerca de 80% dos estudantes brasileiros do ensino básico estavam matriculados em escolas públicas, fator que reflete a dependência de um sistema educacional acessível por uma grande parcela da população. Para Celma Pietczak, professora e coordenadora na escola Maria Rocha, o maior impacto positivo, com o passar dos anos, foi a formação profissionalizante. Ela exalta os cursos profissionalizantes disponibilizados pela escola, e com isso, a demanda de profissionais que acaba crescendo e impactando a sociedade. Um ponto de fragilidade destacado por Pietczak é a questão estrutural. Para ela as verbas destinadas para a escola não dão conta da demanda que se tem e, por muitas vezes, acaba-se gerindo o colégio com menos dinheiro do que seria o necessário.

Celma Pietczak é coordenadora da escola Maria Rocha. Imagem: Nelson Bofill/LABFEM

Segurança em Risco: O Desafio da Proteção nas Escolas

De acordo com o resultado da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSe), de 2019, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada em 2022, 17,3% dos estudantes consultados relataram que faltaram a alguma aula devido a problemas com segurança. O quadro é alarmante: em 2009, quando teve início a pesquisa, esse número era de apenas 8,6%. O estudo, que tem o apoio do Ministério da Educação, conta com a participação de adolescentes na faixa etária de 13 a 17 anos.

Durante a apuração foi possível observar que a problemática da precariedade da segurança é um ponto em comum que afeta as três escolas. Para Celma, a segurança é um fator preocupante. “Até um determinado horário tem gente na portaria, no entanto, tem horários que a gente não tem ninguém. Se o responsável sai, a gente tem que controlar o portão lá na direção, nós não temos ninguém que possa garantir a integridade desse processo. O entorno da nossa escola também tem complicações com relação a isso. A gente tem a situação de um aluno nosso que saiu e apanhou na quadra. Pessoas que não eram daqui, que eram de outra escola, vieram por causa de um conflito particular e bateram nele no entorno da escola.”, comenta a vice-diretora.

O cenário não é diferente na escola Cilon Rosa. Para a diretora Maribel da Costa Dal Bem, não existe nenhuma segurança nas escolas públicas hoje em dia: “Constantemente envio ofícios para a coordenadoria da escola solicitando melhorias no que diz respeito à questão da segurança pública. É muito difícil. […] O Cilon, como é uma escola com um alto número de alunos, a saída é sempre uma aglomeração, independente do horário. […] Nós precisaríamos de um policiamento aqui. Hoje, nós enquanto escola não conseguimos lidar com isso. […] O governo deveria pensar nessa segurança.”

Já na escola Manoel Ribas (Maneco), o estudante Ernesto Corrêa relata que nunca viu nenhuma briga, mas já ouviu diversos relatos de amigos e colegas. Ele também pontua que é muito raro ver policiamento fazendo a segurança da escola, só em ocasiões mais sérias. Apesar disso, ele diz sentir-se seguro para voltar para casa.

No estado do Rio Grande do Sul como um todo, a segurança nas escolas estaduais tem sido um tema de preocupação crescente. O estado enfrenta desafios específicos relacionados à violência escolar, como agressões físicas entre alunos, furtos e até situações mais graves, como ameaças envolvendo armas. Segundo dados da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC), em 2022, cerca de 10% das escolas estaduais relataram incidentes violentos. 

Desafios da Estrutura Escolar: Necessidades e Melhorias para um Ambiente Adequado

Questões estruturais acabam virando o centro de discussões quando se fala em escola pública e em Santa Maria acontece o mesmo. As três escolas já mencionadas tem suas deficiências estruturais. Recentemente, a escola Manoel Ribas (Maneco) juntamente com uma parceria entre a Secretaria da Educação (Seduc) e o Movimento União BR, com fiscalização da Secretaria de Obras Públicas (SOP), concluíram a reforma do telhado. O investimento foi avaliado em mais de 647 mil reais. 

Infográfico sobre as infraestruturas das escolas de Santa Maria em 2023. Fonte: QEDU

O vice-diretor da escola, Helder Luiz Santini, ressalta que algumas pequenas reformas acabam demorando pelo fato do prédio ser um patrimônio do estado, no qual existem regras que impossibilita algumas mudanças sem passar por uma avaliação antes. Sobre a reforma no telhado, o vice-diretor afirma que foi uma “briga” conseguir a autorização para a reforma. Briga essa que se tornou de extrema importância, tendo em vista que a escola alagava quando chovia, e com as fortes chuvas que assolaram o estado do Rio Grande do Sul em maio, a reforma se tornou necessária. Para o estudante Ernesto Corrêa, a escola tem bastante pontos a serem melhorados, salas com vidros e janelas quebradas, e o telhado esburacado. Ele também conclui que por ser um patrimônio histórico, entende as obras demorarem para serem concluídas.

Hélder Santini é vice-diretor da escola Manoel Ribas, o Maneco. Imagens: Vitória Oliveira/LABFEM

Esse problema também pode ser observado nas escolas Maria Rocha e Cilon Rosa quando aconteceram as chuvas torrenciais de maio. “Realmente alagaram os corredores, laboratórios de informática, teve banheiro que parecia uma cachoeira. Teve gente que subiu no telhado do prédio da escola, que possui 4 andares, para fazer uma limpeza. Não temos verbas para chamar profissionais especializados para exercer essas funções. Então, de fato, em termos de estrutura, na minha opinião, nos sobressaímos em relação às demais escolas da rede estadual, porém, ainda estamos em uma situação bastante deficitária.” diz Celma Pietczak, professora e coordenadora na escola Maria Rocha. 

Segundo a diretora do Cilon Rosa, Maribel da Costa Dal Bem, desde os anos 2000 ela pode perceber um processo de degradação na infraestrutura do colégio. Ela explica que, ao ingressar na instituição no início daquela década, a estrutura já enfrentava problemas frequentes com pichações e com as fortes chuvas, que ocasionaram o alagamento das dependências internas.  Com o passar dos anos foram efetuadas melhorias através de reparos nos espaços internos e externos da instituição, como no pátio, nos corredores e nas salas de aula. 

Maribel conta sobre os desafios enfrentados diariamente pela escola Cilon Rosa. Imagem: Nelson Bofill/LABFEM

Evasão Escolar: Causas, Impactos e Caminhos para a Retenção dos Estudantes
O censo escolar 2023, divulgado no final de fevereiro de 2024 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), apresenta uma tendência de redução do papel da educação pública, enquanto escolas particulares ganham terreno. Isso ocorre também a nível estadual, onde é ainda mais forte o recuo do papel do Estado frente à iniciativa privada. 

Taxas de rendimento por etapa escolar nas instituições estaduais de ensino de Santa Maria – RS

Celma destaca que, apesar do aumento no número de alunos no primeiro ano do ensino médio de 2023 para 2024, se observarmos um recorte mais amplo, englobando a última década, realmente houve uma diminuição drástica no número de estudantes que frequentam a escola. Ela relata que no ano de 2012, quando ingressou na instituição, a escola contava com doze turmas de primeiro ano, sendo possível notar uma nítida retenção em relação aos últimos anos. Celma ainda argumenta que a reforma do ensino médio contribuiu de maneira significativa para a disparidade em relação às instituições de ensino privadas: “A alteração que teve na matriz do ensino médio deixou tudo muito incerto, com isso muitas disciplinas novas foram adicionadas à grade curricular, e a percepção que eu tenho é que não há uma formação profissional adequada para isso, o educador precisa ir se moldando, dependendo muito do esforço dele.” Além disso, ela acredita que o fato dos estudantes vislumbrarem uma preparação mais direcionada aos vestibulares e ao ENEM, contribuiu para esse movimento no contexto educacional, afinal, as escolas privadas possuem mais autonomia no que tange a esse processo do que as escolas públicas, que necessitam seguir a risca o protocolo imposto pelo governo do estado.

No país, a quantidade de matrículas na educação básica da rede pública em 2023 reduziu para 37,9 milhões, frente a 38,4 milhões em 2022 – uma queda de 1,34%. Ao mesmo tempo, as matrículas na rede privada passaram de 9 milhões em 2022, para 9,4 milhões, em 2023.

Essa realidade pôde também ser observada na escola Manoel Ribas. Helder explica que ocorreu uma queda no número de alunos por turma. Ele ainda ressalta que, por muito tempo, as salas estavam completamente lotadas, com mais de 30 alunos, realidade que hoje não existe mais. Ele completou alegando que muitos jovens preferem trabalhar e acabam saindo do ambiente escolar. Outro ponto destacado pelo vice-diretor é de que a evasão escolar não se dá somente pela troca da educação pelo trabalho. Santini alega que cada vez mais no Brasil a taxa de natalidade vai diminuindo, fator esse que acaba justificando a baixa de alunos nas escolas. Dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um recorde de mortes, o maior desde 1974, e queda de nascimentos, a maior desde 2003.

Maneco faz parte da história da cidade desde 1930

O Colégio Manoel Ribas, popularmente conhecido como Maneco, foi fundado em 1930 e tem uma longa história de contribuição para a educação pública em Santa Maria. Como uma escola estadual, o Maneco foi responsável por formar muitas gerações de estudantes, com destaque para o ensino médio e técnico, focando em uma educação de qualidade e acessível. Com o passar do tempo, o colégio se destacou por sua tradição acadêmica e por sua participação em eventos culturais e esportivos da cidade.

Atualmente a escola conta com aproximadamente, 2.600 alunos, 140 professores e 36 funcionários, divididos em três turnos.

Maneco foi inaugurado em 1930. Foto: Labfem

A Banda Marcial Manoel Ribas foi fundada em 20 de outubro de 1956, a mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul. Para participar da banda naquela época, era exigido que os alunos tivessem boas notas. A banda se tornou referência no Rio Grande do Sul e era convidada para viajar por diversas cidades do estado. Em Santa Maria, era presença confirmada em qualquer festividade. Os anos passaram e a tradicional Banda do Maneco não parou no tempo. Após viver seus tempos áureos com grandes apresentações, começou a participar de campeonatos de bandas marciais e de fanfarras, onde fez, e ainda faz bonito. Referência no Rio Grande do Sul, o grupo vem colecionando premiações em diferentes concursos disputados pelo estado, brigando sempre pelas primeiras colocações.

Colégio Cilon Rosa contava com aulas de corte, costura, rendas e bordados em 1946

Fundado em 1946, o Colégio Estadual Cilon Rosa também faz parte do cenário educacional de Santa Maria. Em 26 de agosto foi criada a Escola Artesanal Dr. Cilon Rosa, de Santa Maria, onde eram oferecidos cursos de corte e costura, rendas e bordados, com duração de dois anos. A escola não tinha sede própria e funcionou no prédio do Colégio Manuel Ribas, com total de 36 alunas. Em 1957 a escola passou a ser denominada Escola Industrial Cilon Rosa, quando foi instalado o curso de Aprendizagem Industrial Cilon Rosa. De 1963 a 1967 o número de matriculados chegou a 713 alunos, passando a denominar-se Colégio Industrial Cilon Rosa.

Em 1966 a escola passou a ocupar um pavilhão do prédio da nova sede à Avenida Presidente Vargas. Em 1971, com a conclusão do 2º pavilhão, a escola passou ocupar sua sede própria. 

O Cilon Rosa se destacou ao longo dos anos por promover um ambiente de inclusão e uma educação voltada para o desenvolvimento integral dos alunos, com ênfase no fortalecimento da cidadania e nos valores sociais.

Cilon Rosa começou sua história como uma escola de corte e costura. Imagem: Labfem

Colégio Maria Rocha começou como escola ginasial anexada à escola Olavo Bilac

O Colégio Maria Rocha recebeu esse nome em homenagem à Maria Manuela Rocha, filha de Manoel Marques da Rocha e Bertholina Junqueira Rocha, que era professora. A história da escola tem muitos capítulos que podem ser acompanhados aqui.

Também pertencente à rede pública estadual, o Maria Rocha focou-se no atendimento à comunidade local e na promoção de uma educação de qualidade para crianças e adolescentes. Ao longo de sua história, o Maria Rocha desenvolveu atividades que integravam a escola com a comunidade, promovendo eventos culturais, esportivos e cívicos. Atualmente a escola conta com, aproximadamente, 1200 alunos e cerca de 100 professores e funcionários, divididos em três turnos.

Perspectiva Histórica

Esses colégios são testemunhas da evolução do ensino público em Santa Maria, refletindo as transformações sociais e educacionais da cidade ao longo do século XX. Com a crescente urbanização, as instituições educacionais assumiram um papel central no desenvolvimento das comunidades locais, sendo espaços não apenas de ensino, mas também de formação cidadã e cultural.

Além disso, a história dessas escolas está ligada às políticas educacionais do estado do Rio Grande do Sul e às necessidades emergentes da população em diferentes momentos históricos, como a expansão do ensino médio e técnico, e a busca por uma educação mais inclusiva e de qualidade.

Reportagem produzida por Isaac Brum, Gabriel Deon e Thomás Ortiz na disciplina de Narrativa Multimídia, no 2º semestre de 2024, sob orientação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Banda Marcial Manoel Ribas em desfile no final da década de 1950 na Rua do Acampamento. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Final dos anos 1950. Jogos da Primavera. Em frente ao Colégio Centenário, 200 componentes da Banda do Maneco, assim carinhosamente chamada, se preparavam para marchar na Rua do Acampamento. Na sacada dos edifícios mais altos da avenida, entre eles o Taperinha, dezenas de alunos, do Colégio Manoel Ribas, esperavam para jogar papéis picados. “Maneco! Maneco!”, ao descer a avenida, assim era recebida a banda comandada pelo mestre Binatão, relembra James Pizarro, ex-componente, que nos contou diversas história numa tarde chuvosa.

Pizarro se emociona ao falar da Banda. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Pizarro, 76 anos, se emociona ao falar a história da Banda do Maneco, a qual ingressou no ano de 1957 e permaneceu por seis anos. O ex-componente relembra os momentos em que tocou flauta pífaro na banda que pertence ao colégio de mesmo nome. Pizarro começou a estudar no Colégio Manoel Ribas, quando ele ainda se chamava Grupo Escolar João Belém.

A Banda Marcial Manoel Ribas, foi fundada em 20 de outubro de 1956, a mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul. Para participar da banda naquela época, era exigido que os alunos tivessem boas notas. O ex-componente da banda, conta que o então diretor, Padre Rômulo Zanchi, conferia o boletim dos integrantes e em caso de notas abaixo da média, o aluno deixava a banda.

Pizarro relembra um desfile na Rua do Acampamento. Na banda, ele tocava pífaro. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Em 62 anos de história, já trouxe muita alegria para a cidade de Santa Maria em seus tempos áureos. Durante muito tempo foi considerada a banda referência no Estado. Pizarro relembra que, o diretor, Padre Rômulo Zanchi, entrou em contato com dois componentes da Banda dos Fuzileiros Navais (RJ) , a maior do país, para que viessem até Santa Maria ensaiar com a Banda do Maneco.

Além de ensaiar com os componentes da Banda do Maneco, a Banda dos Fuzileiros Navais também era referência. Pizarro conta que a evolução que mais agradava ao público, era a mesma tocada pela banda do Rio de Janeiro. Além disso, a Banda do Maneco desfilava formando uma grande âncora, que ocupava uma quadra inteira na rua.

A Banda Marcial Manoel Ribas se tornou referência no Rio Grande do Sul e era convidada para viajar por diversas cidades do estado. Em Santa Maria, era presença confirmada em qualquer festividade. Ao relembrar um momento marcante, Pizarro conta a primeira vez que a banda formou a palavra “Maneco”, no campo de futebol do Riograndense. “As arquibancadas estavam lotadas e aquele momento comoveu a todos. Alunos, pais, professores, todo mundo amava a Banda do Maneco”, diz Pizarro. O ex-componente acompanha até hoje os desfiles da banda e se emociona a cada vez que vê uma apresentação.

A Banda ainda faz bonito

Os anos passaram e a tradicional Banda do Maneco não parou no tempo. Após viver seus tempos áureos com grandes apresentações, começou a participar de campeonatos de bandas marciais e de fanfarras, onde fez, e ainda faz bonito. Referência no Rio Grande do Sul, o grupo vem colecionando premiações em diferentes concursos disputados pelo estado, brigando sempre pelas primeiras colocações.

Composta por 140 instrumentistas e 30 balizas, maior corporação do estado, a banda se prepara para uma competição em casa – o 27º Campeonato Estadual de Bandas e Fanfarras, em novembro deste ano. E para dar conta de um grande grupo, a Banda do Maneco conta do quatro coordenadores. José Paulo Rorato é o coordenador geral da banda, junto dele estão outros três, que fazem trabalho voluntário, Geison Nielsen, Daniel Santos e Nátura Mayer.

A Banda chegou a desfilar com 200 componentes no fim da década de 1950. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

No início de cada ano, os coordenadores se reúnem para escolher o enredo da banda, com o intuito de formar um alinhamento perfeito e tornar o resultado final agradável para todas as categorias. Daniel Santos, professor de sopro, evidencia o que poderá dar mais destaque no repertório. De forma geral, as músicas são escolhidas para contemplar a totalidade.

Nátura, além de fazer parte da coordenação, também é coreógrafa das balizas, e acredita que o concurso na cidade seja a oportunidade de ganhar visibilidade diante da comunidade santamariense. Ela, que passou de aluna à professora, viveu diferentes momentos junto à banda.

A coreógrafa entrou no Colégio Manoel Ribas no ano de 2003, e seu interesse pela dança fez com que escolhesse o clube nas aulas de Educação Física. Ainda como caloura, se tornou Mór – integrante responsável pelas balizas. Anos depois, entrou na faculdade de Educação Física, e durante seu primeiro estágio, voltou às origens para coordenar as coreografias da banda – onde trabalha de forma voluntária até hoje.

Seu trabalho junto às balizas rendeu sete prêmios desde 2010. Referência quando se trata de novidades, no último ano Nátura deixou sua apresentação às escuras, sem nenhuma divulgação na internet e surpreendeu a cada novo passo. “Se um dia a gente lança uma menina no ar, no outro dia está nas redes sociais, e quando chegamos nos concursos sempre tem alguma coisa parecida, por isso, tentamos guardar segredo e chegar com muitas surpresas”, declara a coreógrafa, que pretende usar a mesma tática para o campeonato desde ano.

Apesar de ser considerada uma banda tradicional, a Banda do Maneco abre espaço para novas possibilidades. O grupo das balizas, que sempre foi composto por meninas, agora abriu espaço para dois meninos. Depois de três anos tentando essa inclusão no corpo coreográfico, esta é a primeira vez que o grupo participará de um campeonato de forma mista. Marcelo Dorneles, 18 anos, um dos balizas, contou que sempre recebeu convites para entrar no  time da dança, no entanto, o receio de sofrer preconceito por parte de outros meninos nunca deixaram com que ele tomasse coragem. Durante seus dois primeiros anos com a banda, o estudante participou do grupo de percussão.

Desfile na Avenida Medianeira em 2015. (foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Depois que começou a ensaiar com as meninas, o estudante percebeu que nada mudou no comportamento dos outros colegas. “Não to nervoso para participar desse concurso, já havia me apresentado junto à banda. Apesar de não ter tanto tempo nas balizas como as meninas, eu sempre estava assistindo os ensaios, então já sabia as coreografias de cor e estou bem tranquilo”, declara Marcelo.

A Banda do Maneco além de formar músicos, também atrai os que já tem essa formação. Fernando Trindade, Mór do Sopro, conta que está na banda desde de 2014. Ele relembra como momento marcante, o campeonato vencido pela banda em Quaraí, no ano de 2015. Trindade, que conheceu a banda ainda como aluno do Maneco, toca trompete e auxilia os novos integrante na execução das músicas.

Por já ter passado por vários momentos com a banda, Nátura se incomoda quando é abordada por pessoas que já estudaram no Maneco, e afirmam “que no tempo delas, era muito melhor”. Como ex-aluna, ela reconhece as evoluções da banda todos os anos. “Sempre fomos muito além que outras corporações do estado. Somos exemplo, muito visados, e hoje concorremos na categoria musical porque mudamos nosso instrumental para melhorar o arranjo. Colocamos saxofones e outros instrumentos que não são mais da categoria marcial, justamente pra continuar melhorando”, explica a professora.

“Precisamos de ajuda!”

Com os olhos cheio de esperança, Nátura afirma que naquele cantinho de Santa Maria, há uma grande potência, que muita pessoas não conhecem. A escola conta com o projeto da Lei Rouanet, enviado a aprovado pelo Ministério da Cultura, com captação de R$ 295 mil. No entanto, ainda não conseguiram uma empresa da cidade que converta a dedução de imposto de renda em forma de doação para a banda. Para a professora, algumas pessoas não sabem que podem contribuir, ou acreditam que o processo possa ser muito burocrático.

Para ajudar a banda a arrecadar contribuições, um vídeo foi produzido pela Pastel Store Filmes e postado no Facebook da Banda do Maneco, pedindo o engajamento da sociedade santamarienses.

 

 

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, no primeiro semestre de 2018, sob orientação do profº Carlos Alberto Badke.

Texto: Camila Fogliarini e Deivid Pazatto

 Fachada do Maneco. Foto retirada da fanpage do Grêmio Estudantil da escola

Fachada do Maneco ( Colégio Manuel Ribas). Foto retirada da fanpage do Grêmio Estudantil da escola

O Colégio Manoel Ribas (Maneco), em Santa Maria, foi ocupada ontem (8) pelos alunos do Grêmio Estudantil da instituição. Outras sete escolas da cidade também estão ocupadas: Cilon Rosa, Augusto Ruschi, Margarida Lopes, Tancredo Neves, Olavo Bilac, Maria Rocha e Walter Jobim.

Na região, a Escola Bom Conselho, em Silveira Martins, e o Colégio Estadual São Sepé, em São Sepé, também seguem ocupados pelos estudantes.

Ontem à tarde, antes da ocupação, o Grêmio Estudantil do Maneco realizou o Segundo Grande Ato em Defesa da Educação Pública (o primeiro foi realizado em 23 de maio). A atividade teve início em frente à instituição e foi encerrada na Praça Saldanha Marinho.

Ato em defesa da educação pública. Foto: Maiquel Rosauro
Ato em defesa da educação pública. Foto: Maiquel Rosauro

O ato intensificou a luta contra o sucateamento da educação pública e também objetivou banir as PLs 44 e 257, ressarcir o salário dos educadores e exigir o repasse de verbas em dia para a educação.

Entre as pautas específicas, os alunos do Maneco reivindicam um local apropriado para recebimento e distribuição de merenda (um refeitório) no colégio e a abertura do ginásio para a realização de aulas de educação física em dias de chuva.

Mais informações sobre a ocupação do Maneco neste link: https://www.facebook.com/gremiomaneco2016.

A greve dos professores estaduais teve início em 13 de maio e não tem data para ser encerrada.

Fonte: Maiquel Rosauro, assessor de imprensa CPERS/Sindicato-Santa Maria

Atual estrutura do ginásio do Maneco. Fotos: Karine Kinzel (ACS)

Na tarde de ontem (09), a 8º Coordenadoria Regional de Educação de Santa Maria (8ºCRE), através da titular, professora Celita da Silva e da chefe do Setor Administrativo e Financeiro, Leoneide de Gregori anunciaram a liberação de R$ 313 mil para a conclusão da obra do ginásio poliesportivo do Colégio Estadual Manoel Ribas (Maneco). A obra que teve início em 2003 estava parada desde 2005 sem perspectiva de conclusão.

De acordo com Tarciso Ceolin, professor e diretor do colégio, o sonho de ter um ginásio construído já era antigo. O projeto inicial, lançado em 2003, tinha como proposta inicial apenas a estrutura e parte do piso, sendo este de cimento alisado. Em 2005 foi feita a colocação de parte do tabuão, mas com a falta de verbas as obras pararam. No ano de 2007, quando o professor assume pela terceira vez a direção da instituição, é dado inicio a um processo para a conclusão da obra, porém, o projeto teve de ser readequado. Um erro de planilha fez com que o ele voltasse a Porto Alegre, atrasando novamente a conclusão do ginásio. Outro fator que levou ao atraso das obras ocorreu em 2009, com a queda da ponte Rio Jacuí. Na ocasião, a verba destinada para as obras do ginásio foi transferida para a construção da nova ponte, levando em conta que naquele momento as prioridades eram outras, afirma o diretor.

Muro caído dará lugar à rampa de acesso para cadeirantes.

As obras começam após a homologação da licitação e da assinatura de contrato, que deverá ficar pronta na semana que vem. A empresa responsável pelas obras é a Porto Redes, de Porto Alegre. Em uma área de 2500m², será feito o término das estruturas dos vestiários, sala dos professores, três salas de ginástica, salas da administração e camarim. Também serão construídas três quadras didáticas na transversal e, na longitudinal terá todas as quadras oficiais, de vôlei, futsal, basquete, handebol, um palco e arquibancada.  Em relação ao muro que está caído há 10 anos, o diretor afirma que no local será feita uma estrutura de acesso ao ginásio, que são as rampas para cadeirantes.

A expectativa de alunos e professores para a conclusão das obras do ginásio é de ansiedade. “A nossa expectativa desde o primeiro tijolo era a de poder pisar no ginásio, e agora é de que esse ano nós vamos entrar no ginásio e fazer um grande evento”, declara a professora de educação física Maria Helena, que leciona na instituição há sete anos. Para a aluna do 2º ano Gabriela Marque, 17 anos, a expectativa é de ter um espaço para fazer educação física. Segundo ela “é um dinheiro bem investido e vale a pena”.