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Marcha das Vadias

Mulheres de Santa Maria fazem hoje a Marcha das Vadias

As mulheres de Santa Maria estão marchando, igual a  muitas mulheres em de vários países que se integram ao movimento “Marcha das Vadias” originado em Toronto, no Canadá, no ano passado. A Marcha foi organizada por

A luta das mulheres por direitos civis e sociais iguais aos dos homens, a luta contra o assédio nas ruas e contra a violência de gênero se fortalece cada vez mais em Santa Maria. A Marcha das Vadias tomou força na cidade e ganhou apoio de vários grupos sociais locais.
Porém, algumas feministas declaradas sofrem ataques de homens que não aceitam o empoderamento e a união feminina. A força que as mulheres estão ganhando assusta alguns homens que partem para a agressão – via online e fisicamente.
Um grupo de feministas fez uma manifestação em repúdio à violência no dia 5 de setembro. A mobilização teve como  motivo repudiar a agressão que uma menina sofreu em frente à boate Macondo Lugar, no estacionamento do outro lado da rua.

Laura já foi assediada em uma discussão sobre a hipersexualização de mulheres em vídeo-games (foto por: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)
Laura Lena Bastos acredita que os homens que criticam feministas nunca leram sobre o movimento (Foto: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)

Na página do protesto, muitas meninas foram atacadas verbalmente, expostas e assediadas por dois meninos que entraram no grupo para menosprezar o movimento. E infelizmente, muitas mulheres feministas sofrem isso todos os dias.
“Eles te chamam de vadia, qualquer coisa que venha na cabeça, e criticam com tudo que podem o movimento. É muita desinformação. Em primeiro lugar, muita carga que vem do início da luta feminista. Os homens que nos atacam nunca leram sobre o movimento e carregam o machismo, que está impregnado”, nota Laura Lena Bastos, estudante de Artes Visuais da UFSM, que já foi assediada algumas vezes nas redes sociais por sua militância. Ela também foi assediada em uma discussão sobre a hipersexualização de mulheres em vídeo-games.

(foto por: Tabata da Cruz/Laboratório de Fotografia e Memória)
Ana Carolina Bragança discutiu nas redes sociais com homens que atacam o feminismo (Foto: Tabata da Cruz/Laboratório de Fotografia e Memória)

No grupo online, estava Ana Carolina Bragança, que discutiu com os meninos por comentários num post. “Quem participa do movimento está exposta a sofrer esse tipo de violência. E mesmo quando não ocorre diretamente contigo, tu te afetas porque eles atacam o feminismo. Quem nos agride geralmente procura o porquê que lutamos e transformam em deboche ou menosprezam”, nota Ana Carolina. “Me senti violada,, como se nenhuma mulher pudesse votar, como se nós não tivéssemos que fazer isso, não tivéssemos que lutar por nossos direitos e nossas reivindicações. Temos que desvincular o feminismo do ódio, as pessoas acham que o feminismo é como o machismo, mas na verdade é igualdade que queremos e não excluir o gênero masculino”, explica a estudante.

Agressões físicas praticadas por desconhecidos

Thays já foi atacada na rua por um grupo de meninos (foto por: Roger Haeffner/Laboratório de Fotografia e Memória)
Thays já foi atacada na rua por um grupo de meninos (Foto: Roger Haeffner/Laboratório de Fotografia e Memória)

“Esse poder de diálogo com os homens só acontece quando eles sabem respeitar e param de atacar o movimento. As mulheres não gostam de falar sobre a causa com pessoas que só as atacam e criticam a luta. Hoje em dia a gente vê muito mais o empoderamento feminino do que diálogos com os homens. As mulheres estão percebendo o universo de privilégios masculinos e sabem que o patriarcado precisa ser derrubado. Elas enxergam muito mais disso do que aberturas para conversas com homens”, argumenta Thays Campagnol, que revela ter sido atacada várias vezes. Para a estudante de Direito, os ataques vêm de pessoas que não têm conhecimento da causa e de quem está no meio político.

Segundo a acadêmica Thays, são microataques que passam despercebidos, como participar em debates políticos e ser silenciada. “O fato que ocorreu, por exemplo, no grupo do Facebook ”Não Passarão! Manifestação em Repúdio à Violência Contra a Mulher! foram dois meninos que assediaram e ofenderam (além de expor) mulheres que participavam do protesto. Um deles tem 16 anos, e claramente não entende o movimento. Temos artefatos para processá-lo, mas sabemos que a Justiça não nos ajuda! Ele também fez uso do slut shaming, que é quando a sexualidade da mulher é reprimida, ela só é bem vista quando é para o homem. E eles usam isso na rua e fazem a gente se sentir violada”, desabafa a moderadora do grupo.

A feminista conta que no meio político existe uma rixa, pois as pessoas diminuem a causa, e eles atacam as mulheres que lutam chamando-as de ‘feminazi’, o que é absurdo, comparar a luta feminista com o nazismo, absurdo e ignorante.”São coisas que tem que haver uma compreensão. Os homens que estão no movimento estão lá para apoiar, e não para se colocar no lugar da vítima ou silenciá-la. Tu deves apoiar e entender, mas em momento nenhum ele deve apontar o dedo para uma de nós e atacar. Eles teriam que entender os privilégios e fazer essa desconstrução com eles mesmos, mas isso não ocorre, então é desconfortável para ambas as partes”, destaca a estudante.

Como Thays, outras feministas também já sofreram ataques físicos inclusive, na rua, por homens desconhecidos. Uma menina de 17 anos, feminista, que não quis se identificar (justamente por conta da violência), contou sobre a violência que sofreu no mês de abril deste ano. “Eu estava voltando do Parque Itaimbé, estava na rua Serafim Valandro, eram seis horas da tarde, tinham quatro meninos vindo na minha direção. Eles me viram e conversaram entre si, eles vieram e me colocaram contra a parede, passaram a mão em mim, me xingaram, eles sabiam que eu era feminista não sei como. Eles diziam ‘é isso que feminista precisa, você tem sorte por não te estuprarmos aqui mesmo’. Depois eles me empurraram e saíram e enquanto caminhavam me mandaram ‘ter cuidado’. Eu fiquei em estado de choque, fui pra casa e no dia seguinte fui na delegacia da mulher (DEAM) e tentei fazer uma ocorrência, mas por alguns desentendimentos não consegui registrar”, contou a menina.

Ela afirma que esse incômodo dos homens com a luta é por eles não estarem acostumados com isso, com mulheres se emponderando e tentando alcançar o lugar em que eles estão. Para a jovem, feminismo ganhou muita força agora, e as meninas os enfrentam e sabem que têm vez e voz para lutar, e eles ainda enxergam as mulheres como submissas.

A desinformação sobre o atendimento às vítimas

Débora Dias fala sobre a importância de registrar qualquer crime contra o corpo da mulher (foto por: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)
Débora Dias fala sobre a importância de registrar qualquer crime contra o corpo da mulher (Foto: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)

A delegada da Delegacia de Polícia para Mulheres, Débora Dias, afirma que é muito importante que se faça a ocorrência para criar antecedentes criminais, pois, quem faz esse tipo de violência contra a mulher geralmente fará de novo ou já fez outras vezes. E depois da segunda ocorrência de assédio ele cumpre uma pena, segundo Débora geralmente ele cumpre serviço comunitário. “Quando ocorre o estupro, que é um ato violento, com ou sem penetração, com ações libidinosas no corpo da vítima, o homem é preso imediatamente após a comprovação das investigações”, explica a delegada.

Assista ao depoimento captado pelo Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa)
[youtube_sc url=”https://youtu.be/hGcUHuVbf8g”]

Detalhe da Marcha das Vadias em Porto Alegre. Foto:Paulo Pepê

As mulheres de Santa Maria estão marchando, igual a  muitas mulheres em de vários países que se integram ao movimento “Marcha das Vadias” originado em Toronto, no Canadá, no ano passado. A Marcha foi organizada por estudantes do sexo feminino de uma universidade local a partir da declaração de um policial. Ele afirmou, em palestra, que o fato das mulheres se vestirem como “vadias” poderia provocar o estupro. Desde então, muitas mulheres estão se organizando, inclusive em diversas cidades brasileiras, para realizar suas marchas e reivindicarem direitos e respeito da sociedade aos seus modos de agir, vestir, sua liberdade e escolhas. A Marcha, ao mesmo tempo que possui um caráter sério de defesa, de protesto à violência praticada contra as mulheres, é mesclada pela irreverência de muitas participantes que usam roupas curtas, algumas até seminuas, pintam seus corpos com desenhos, palavras e frases de manifestação social.

O movimento cresce a cada ano e tem conseguido a adesão de um maior número de participantes, principalmente com o auxílio da mobilização através das redes sociais. Com isso é possível sensibilizar as mulheres para os problemas locais que enfrentam.

Em São Paulo, as manifestantes denunciaram a prática machista de Rafinha Bastos, humorista, que possui uma casa de shows no centro da cidade, onde a marcha se deslocou e protestou em frente ao local.

Em Santa Maria as organizadoras da “Marcha das Vadias” postaram umvídeo no youtube.com, com intuito de convocar o protesto marcado para hoje, dia 02 de junho, sábado, com a concentração marcada para as 14h, na concha acústica do parque Itaimbé.  O vídeo traz dados estatísticos sobre a violência contra a mulher santa-mariense, apontando  que em 2011 foram registrados 4.217 casos de agressão, e que até o dia 8 de março de 2012, 13 mulheres eram agredidas por dia na cidade.

No facebook foi criado um grupo chamado Marcha das Vadias de Santa Maria e já conta com 2.884 integrantes, nesta rede social também está a “Fanpage”, página temática, do grupo onde 544 já “curtiram”, ou seja, apoiam o movimento.

As atividades do protesto começaram há uma semana com eventos que culminam com a marcha em si. Eles tiveram início no dia 29 de maio com uma divulgação na frente da Rádio Universidade.

O QUE:  MARCHA DAS VADIAS

QUANDO: HOJE, SÁBADO, 14H

ONDE: CONCHA ACÚSTICA DO PARQUE ITAIMBÉ

 

Texto: Maiquel Machado, acadêmico do curso de Jornalismo/Unifra