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moradores de rua

Projeto “Palavra de Catador” foi realizado no domingo

No último domingo, 15 de maio, o Projeto Café da Tarde Social, formado por Reinaldo Santos, Ester Leite e Deborá Evangelista, realizou a ação “Palavra de Catador”. A ação tem como objetivo promover rodas de conversas,

No último domingo, 15 de maio, o Projeto Café da Tarde Social, formado por Reinaldo Santos, Ester Leite e Deborá Evangelista, realizou a ação “Palavra de Catador”. A ação tem como objetivo promover rodas de conversas, intervenções artísticas ou palestras em semanas acadêmicas de universidades, centros acadêmicos e  instituições de ensino público e privado de Santa Maria focadas no lugar de fala dos catadores de recicláveis da cidade, intercalada pela exibição de mini documentários sustentando o debate sobre o tema, que neste domingo foi “Como sobreviver ao frio estando nas ruas”.

Café da Tarde Social foi realizado no último domingo. Imagem: Ester Leite

A ação também envolve alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana sob orientação da professora Cláudia Buzzatti. São arrecadados donativos (alimentos não perecíveis, roupas, calçados, material escolar, brinquedos e itens de higiene pessoal) para famílias de catadores cadastradas no Projeto e para a Janta Solidária, promovida pelo Projeto de Extensão UFSM Nas Ruas.

“Palavra de Catador”  é um ato do Projeto Café da Tarde Social Santa Maria que procura dar voz aos coletores de recicláveis e intervir positivamente em suas trajetórias de vida através da educomunicação, trazendo a potencialização da fala dos sujeitos apostando em uma educação para a mídia, com  a interação entre professores, estudantes e catadores, desenvolvendo em espaços abertos  e na sala de aula conteúdos educativos ancorados na defesa dos direitos humanos. 

A próxima ação do Projeto será o “III Mutirão de Inverno dos Catadores e da População de Rua de Santa Maria” que ocorre dia 12 de junho na Praça Saldanha Marinho das 8h às 14h, contando com a doação de cobertores, agasalhos, itens de inverno, cestas básicas e frutas cítricas ricas em vitamina C. Durante toda a programação estarão disponíveis cortes de cabelo, acolhimento em saúde, com a participação da Coordenação Municipal de Equidades da Secretaria Estadual de Saúde, oportunidade para defesa de direitos com relatos e audições de discriminações, representação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores, e orientações para a confecção da documentação básica para quem está nas ruas.

O morador de rua José Carlos, em frente a um supermercado da cidade, esperando doações
O morador de rua José Carlos, em frente a um supermercado da cidade, esperando doações. Foto: Thais Hoerlle.

Na correria diária, são poucas as pessoas que conseguem ter a sensibilidade de olhar em volta e notar que existe uma vida paralela nas ruas da cidade. Fragilizadas pelas circunstâncias, as pessoas que têm como único abrigo as marquises de lojas da cidade, além de estarem em situação de desproteção, muitas vezes nem são percebidas por quem circula entre uma via e outra de Santa Maria.

Para entender um pouco mais sobre a realidade de quem vive na rua, conversei com o morador José Carlos Mainardi, 46,  que está nas ruas há 13 anos. Desde a morte de sua esposa, em Porto Alegre, José veio para Santa Maria buscar uma nova vida e até um emprego na construção civil. No entanto, a instabilidade emocional frente à falta de trabalho e o fim do dinjheiro, levaram ao alcoolismo e à depressão.

José já tentou alguns tratamentos para vencer a luta contra a bebida, porém sem sucesso. Ele prefere dormir em bancos de praças do centro da cidade e conta com a generosidade de moradores da região central para sobreviver. Com uma mochila nas costas, José carrega tudo o que tem: roupas, documentos e seu título de eleitor.

Com segundo grau completo, o simpático senhor mostra discernimento e conhecimento sobre a realidade que o cerca, e conta como percebe a indiferença da sociedade em relação aos moradores de rua.

“As pessoas estão ocupadas demais para se preocuparem com o próximo. Julgam que somos vagabundos, que não queremos trabalhar, que não corremos atrás do nosso espaço. Mas só quem vive essa situação sabe como é difícil sair do fundo do poço. Só quem conhece a depressão e entende que alcoolismo é uma doença pode julgar, mas não, preferem atirar a pedra primeiro”, relata José.

O morador faz questão de ressaltar que sempre optou por fugir das drogas e da violência e só busca viver em paz. Quando pergunto sobre seus planos para o futuro, José lamenta, “é difícil criar planos quando não se consegue visualizar nem o próximo amanhecer. Aqui, a gente vale o que tem no bolso, se tiver cinco reais, vai valer só cinco reais”.

Por acreditar que é mais seguro estar distante das demais pessoas na mesma situação, José não procura a ajuda de albergues. “Quando junta mais de dois moradores de rua no mesmo espaço, já é considerado perigo a sociedade.Somos vistos como quadrilha”, acrescenta.

Com a voz embargada, destacou que apesar dos problemas financeiros e a disância da família, o principal drama vivido é ser ignorado e desconsiderado pela  sociedade. “Eu existo, eu ainda existo, e só quero ser visto como um homem, como um cidadão, não sou um saco de lixo que o caminhão esqueceu de levar para o aterro, eu sei que existo, eu sinto que existo, e quero ser visto assim”, finaliza.

  Por Thais Hoerlle, para a disciplina de Jornalismo Online