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Coisas da vida

Sempre me interessei por pessoas e principalmente pelas histórias que cada uma carrega. Quando falo em gente, falo em pessoas comuns mesmo. Fico encantada com a história da moça que está no celular na fila do

Colóquio discutiu narrativas audiovisuais de resistência

O Colóquio Narrativas Audiovisuais de Resistência promovido pela TV OVO, ocorreu na segunda-feira,19, na Cesma. O 9º colóquio contou com a participação da roteirista e produtora audiovisual Inês Figueiró, que foi corroteirista do filme Era o

Começou na última quarta-feira, dia 22 de maio, o 1º Congresso de Literatura InfantoJuvenil de Santa Maria. A fim de promover o livro e a leitura, possibilitando o debate entre professores, autores e pesquisadores,  foram proporcionadas oficinas, sessões de autógrafos, leitura compartilhada, saraus de leitura, minimaratonas de leitura nas escolas, mesas redondas e espetáculos.

A realização trouxe à tona o ensino através da leitura, a qualidade da produção dos livros infantis e juvenis, e a importância da literatura infantil, buscando construir um espaço de reflexão e debate e repensar o processo de formação de leitores no âmbito educacional.

A abertura oficial contou com o espetáculo No fundo da mata ouvi… do músico, ator e contador de histórias Roberto Freitas no Theatro Treze de Maio. Ele é pesquisador da cultura popular e se apresenta em todo o Brasil em congressos e festivais de literatura.

Roberto Freitas ministrando a oficina Os Pontos de Quem Conta e Lê um Conto. Fotos: Ronald Mendes

Convidando a plateia a fazer uma viagem pelo mundo imaginário, Freitas narra histórias de humor, terror, amor e dor. Ele explica que histórias são libertas e não podem ser aprisionadas. Elas acontecem, de certa forma, por ele e as pessoas  estarem lá naquele momento e daquele jeito. “A vida é assim, é passageira, e a preciosidade da história é exatamente isso, é o respeito a esse momento único que nunca mais se repetirá”, afirma Freitas.

Durante os dias 23 e 24, na Antiga Reitoria da UFSM, estavam sendo ministradas oficinas no turno da manhã e da tarde. Entre as seis oficinas, Roberto Freitas ministrou a Os Pontos de Quem Conta e Lê um Conto, onde ele fala das possibilidades da história como uma ferramenta pedagógica. “Eu estimulo os professores a usarem a história como um canal para comunicar conceitos e torná-los mais interessantes e instigantes”, aponta.

Já a oficina do pernambucano Luciano Pontes chamava-se Narrativa Visual e Caminhos da Leitura. Ele, que é escritor, ator, diretor teatral e contador de história já recebeu o Prêmio APACEPE de Teatro com o espetáculo Seu Rei Mandou. Em sua oficina, busca ensinar sobre estratégias de construção práticas de uma narrativa visual, a partir de exercícios simples, também trabalhando a questão do olhar, da apreciação e da leitura de imagens como um todo.

A oficina de Luciano Pontes sobre Narrativas Visuais e Caminhos da Leitura.

Os livros de imagem são narrativas que não tem a presença da palavra verbal impressa, exigindo um certo nível de comprometimento na leitura, que por não ter a palavra que explica ou descreve alguma coisa, pode distanciar o leitor. Porém, Pontes defende que “essas imagens convidam o leitor aquela sequencial de forma diferente, é uma contribuição na formação do olhar desse leitor”.

O escritor e ilustrador André Neves conta que começou sua carreira fazendo livros visuais, em que a narrativa é toda visual. “Eu comecei a perceber que a força da imagem é muito importante pra narrar uma história, e que a imagem está, cada vez mais, tendo uma função maior”. Neves relata que um livro sem palavra tem o mesmo potencial que um com, mas é preciso que se olhe atentamente para estas imagens. “Ele alimenta a linguagem visual das pessoas, além do imaginário da história, da própria percepção que a pessoa vai ter da leitura e do aprendizado que vai ter”. Ainda comenta que a ilustradora polonesa, Kveta Pacovska diz que o livro para infância é o primeiro museu da criança, sua primeira exposição de arte.

Neves tem livros publicados no Brasil e no exterior, participa de mostrar e exposições de ilustrações, além de ser professor de cursos dedicados à leitura, literatura e ilustração. É o escritor homenageado do Congresso, e sua oficina se chama Esses Livros para a Infância. Nela, Neves procura trazer conhecimentos sobre a literatura contemporânea e suas grandes possibilidades narrativas, usando a leitura de textos e imagens como ponto de partida para a aquisição do conhecimento e pensamento crítico.

A oficina Esses Livros para a Infância foi ministrada por André Neves.

Luciano Pontes e André Neves, que já colaboraram em livros como Ouvindo as Conchas do MarUma História sem Pé nem Cabeça, ainda contaram sobre seu próximo projeto. A partir de uma provocação das ilustrações de Neves, o Luciano Pontes e o pernambucano, Fábio Monteiro escreveram textos. “Isso é a inversão do processo de criação, porque, geralmente, o ilustrador parte da palavra”, explica Pontes. Também divulgam que o livro é uma homenagem ao poeta Fernando Pessoa e são duas histórias distintas que dialogam entre si.

Para o encerramento do 1º Congresso de Literatura Infantojuvenil, o espetáculo Seu Rei Mandou será apresentado no dia 24 de maio, às 19h no Theatro Treze de Maio. Ele aborda um universo fabuloso da realeza por meio de releituras cômicas e poéticas de contos populares, como: A Lavadeira Real, O Rato que Roeu a Roupa do Rei de Roma, e O Rei Chinês Reinaldo Reis. É necessária a retirada de convites na bilheteria do Theatro.

Figura na janela. Salvador Dali

Sempre me interessei por pessoas e principalmente pelas histórias que cada uma carrega. Quando falo em gente, falo em pessoas comuns mesmo. Fico encantada com a história da moça que está no celular na fila do supermercado ou a das duas senhoras que conversam e pegam o mesmo ônibus que eu. Também gosto de olhar as luzinhas de cada prédio – espero que isso não soe psicótico e nem semelhante a filmes de Hitchcock. O que me chama atenção é pensar quem são aquelas pessoas, e o porquê delas estarem com as luzes ligadas tarde da noite. Será que elas estão esperando alguém? Problemas no trabalho? Fome? Não conseguem dormir sem um Rivotril ou um Valium? Não sei. Mas elas estão ali vivendo e quando se vive se têm histórias.

Acredito que todo mundo tenha uma história incrível, algo peculiar, algo normal ou algo que nem aconteceu ainda. E aí que me perco porque não consigo decidir se é melhor contar ou ouvir histórias. Caiu em minhas mãos, precisamente nos meus olhos, o livro “Tudo que é belo”. Ele pertence
ao projeto The Moth, que é uma organização sem fins lucrativos dedicada à arte de contar histórias. Em 1997, na Georgia, nos Estados Unidos, o romancista George Dawes Green resolveu reunir amigos nas varandas de suas casas para contarem suas histórias em noites de verão. The Moth
significa mariposas que são atraídas pelas luzes, no caso, o projeto é uma alusão de que as pessoas são atraídas pelas histórias. Esse gesto tão simples e bonito virou um fenômeno mundial, acumulando mais de 20 mil relatos de famosos e desconhecidos, que são contados sem roteiros prévios para plateias superlotadas mundo afora. As sessões passaram a ser temáticas e as pessoas narram suas memórias sejam íntimas ou grandes histórias que conquistam o público.

“Tudo que é belo” foi editado por Catherine Burns e tem quarenta e cinco histórias reais dividias por categorias. São relatos simples com um poder imenso de te fazer rir ou chorar, como a  história do cineasta Arthur Bradford, que trabalhou em um acampamento para pessoas especiais e conheceu Ronnie, que tinha paralisia cerebral. O sonho de Ronnie era conhecer o ator Chad Everett, então Arthur planeja uma viagem para Califórnia no intuito de realizar o sonho de Ronnie e documentar, porém Chad acabou não os recebendo. Depois de Arthur divulgar o material da viagem para Califórnia, Chad convida Ronnie para um encontro. Após isso o ator passou a ligar para Ronnie todos domingos até Ronnie falecer. Questionado porque Arthur se dedicou tanto à um sonho que não era seu, ele respondeu que por causa do Ronnie aquele se tornou o seu próprio sonho e que
agradece a ele por ter compartilhado o sonho.

No compilado de histórias também tem uma visão da morte através de uma criança de cinco anos que quer se despedir do primo da mesma idade que faleceu. Também de um americano que enfrenta um terremoto no Japão e volta para os Estados Unidos, mas depois resolve retornar ao Japão para saber notícias da senhora proprietária do restaurante que ele frequentava. Ele descobre que ela está bem. Mesmo eles nunca terem trocado uma palavra, já que não falavam o mesmo idioma. E a minha história preferida: uma garota de Beckenham que trabalhava em um salão de beleza comum e descobre que vai ser cabeleireira do David Bowie e acompanhá-lo em uma turnê.

A vida mostra que todos temos uma história. Eu, com quatro anos, tentei ir embora com o circo e ganhei uma cicatriz na sobrancelha; meus pais resolveram matar aula no mesmo dia e se conheceram; e o namorado do meu melhor amigo mudou de Porto Alegre para Belém para ficar perto dele. Toda narrativa importa e enquanto mais vivemos mais histórias serão contadas, para bons ouvintes, é claro.

 

 

 

Silvana Righi é formada em jornalismo pela UFN e pós-graduada em Televisão e Convergência Digital pela Unisinos. Trabalha como roteirista e gosta de escrever com ironia. Passa a maior parte do tempo entre cinema, cachorros e livros.

 

Narrativas de resistência é tema de debate. Divulgação TV OVO

O Colóquio Narrativas Audiovisuais de Resistência promovido pela TV OVO, ocorreu na segunda-feira,19, na Cesma. O 9º colóquio contou com a participação da roteirista e produtora audiovisual Inês Figueiró, que foi corroteirista do filme Era o Hotel Cambridge . Outro convidado da noite  foi o realizador audiovisual argentino Axel Monsú, que coordena o Instituto de Artes Audiovisales de Misiones, na Argentina.

A discussão, levantada por Inês,  sobre a resistência nas narrativas audiovisuais, levou o debate para o filme Era o Hotel Cambridge , que conta a história de sem-tetos e refugiados que moram em uma ocupação no centro de São Paulo.  A cineasta falou sobre as gravações do filme, que foram realizadas em um cenário natural,  com moradores interagindo junto a atores. “O processo desse filme é de uma riqueza e de um fazer cinema como uma forma de resistência no sentido de trazer outras possibilidades de fazer”. Para não realizar um filme no modelo capitalista de produção e se conectar com a comunidade, foi preciso 1 ano para conhecer o movimento e construir uma relação com as pessoas.

Axel Monsú, falou sobre as formas das narrativas argentinas e sua construção a  partir de culturas. O realizador  contou que o  Festival de Cinema em Cortos  tem uma abordagem temática na identidade e diversidade cultural e abre espaço para os  produtores missioneiros e das periferias. Eles contam histórias que, normalmente, não irão para as grandes telas.