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Tradições.

Festas Juninas retornam após dois anos de pandemia

As festividades do mês de junho são tradicionais em todo o país. Desde 2020 elas deixaram de ser realizadas para grandes públicos por conta da pandemia de Covid-19. Neste ano, a diminuição das restrições referentes a

Gaúcho de apartamento na Semana Farroupilha

Quando chega a Semana Farroupilha, o amor pelo Rio Grande do Sul aflora e os gaúchos e gaúchas de todas as querências querem mostrar para todos a força da tradição e o apego pelo Rio Grande. Muitas pessoas

As festividades do mês de junho são tradicionais em todo o país. Desde 2020 elas deixaram de ser realizadas para grandes públicos por conta da pandemia de Covid-19. Neste ano, a diminuição das restrições referentes a pandemia possibilitou a retomada de grandes festas e cidades da região trouxeram essa tradição de volta. É o caso da cidade de Formigueiro, RS, que tem como padroeiro São João Batista, um dos santos presente nas comemorações do mês. Para o festeiro Rosalino Moreira, a experiência de voltar, após dois anos, está sendo muito boa. Ele relata que encontra dificuldades em conciliar os horários entre as festividade e seu trabalho, porém “está sendo gratificante, porque as vendas de nossos doces já passaram de 15 mil, só nesses dias”. A programação das festividades juninas na cidade de Formigueiro voltaram sem restrições em relação ao Covid-19, prevendo cinco dias de comemorações, incluindo baile e bingos. 

Bingo da comunidade em Formigueiro. Imagem: Miguel Cardoso

O acadêmico de Jornalismo da UFN Miguel Cardoso participa das festividades de Formigueiro desde criança. Para ele, a festa é o evento mais importante da cidade, “porque reúne todas as comunidades do município”. Ele conta que a festa do padroeiro envolve muitas brincadeiras como  jogo de bingo e nesse ano, em especial, um sentimento de alegria também pelo fato de poder trabalhar dando assessoria a prefeitura. A festa é esperada o ano inteiro por toda a sociedade e todos gostam de participar. As atividades desse período arrecadam fundos para a paróquia São João Batista.

As festas juninas também estão presentes nas escolas. Em São Gabriel, o Colégio Tiradentes da Brigada Militar promove sua tradicional festa todos os anos para alunos, militares e a comunidade em geral. De acordo com o auxiliar do corpo de alunos do colégio, Sargento Cesar Volnei, a festividade é importante para a comunidade escolar, para a união de familiares, alunos e militares. Para ele o sentimento de voltar com as comemorações é de grandes expectativas, “pois vamos recuperar estes dois anos perdidos e manter a união e motivação dos alunos”.

Apresentação da quadrilha dos alunos do Colégio Tiradentes. Imagem: Colégio Tiradentes

Professores e alunos também se envolvem diretamente na organização da festa. Para a professora de Filosofia e Sociologia, Cássia Bairros que participa das festas há 10 anos, o sentimento de voltar é muito positivo, “pois estou vendo a organização dos alunos, dos militares, então o sentimento é de esperança, de que agora estamos retomando aos poucos nossas festas. Ver o entusiasmo dos alunos está sendo incrível”.

A festa esta prevista para sábado, 25 de junho. As expectativas dos alunos são grandes como conta Henrique Silva, que está no terceiro ano do ensino médio e é a segunda vez que participa: “Não me envolvi em 2019 e agora está sendo muito legal poder ver que tudo está voltando ao normal, todos estão querendo participar e ajudar mais esse ano”. Para ele a festa contribui para a união de todos, “tem muitas tarefas que envolvem o apoio coletivo, então as turmas estão se unindo, professores e alunos estão sempre se ajudando”. Também Maria Clara Vianna, estudante do segundo ano do ensino médio, está participando pela primeira vez e cheia de expectativas.

Em Caçapava do Sul, a Escola Estadual de 1º e 2º Grau Nossa Senhora da Assunção também retoma suas atividades festivas neste mês, no dia 23 de junho. A diretora, Daniela Evangelho, conta que está muito feliz com esta volta: “Estou muito animada por poder reunir todos e é isso que a gente deseja, oportunizando a participação dos estudantes de forma saudável com brincadeiras, apresentações e comidas tradicionais. O que eu mais gosto é a alegria de estar com toda gurizada jovem aqui junto da gente”.

Festa Junina da Escola Estadual de 1º e 2º Grau Nossa Senhora da Assunção em Caçapava. Imagem: Carlos Dias

Da mesma forma, a professora da disciplina Projeto de Vida, Jianny Moreno relata a sua expectativa com a programação da festa junina no colégio: “O retorno nos deixa mais felizes e nos dá a oportunidade de colocarmos toda a energia positiva em cima da festa, compartilhando essa junção com as pessoas maravilhosas tanto da escola quanto da comunidade externa”. A estudante do terceiro ano do ensino médio Manuela Ricalde acredita que o evento é bom para movimentar o financeiro da escola e faz com que os alunos se aproximem mais. “Isso movimenta toda a escola para um lado bom, o que eu mais gosto da festa junina além das comidas é a função das roupas típicas, da organização da quadrilha e da galera toda reunida”, completa a estudante.

Colaboração: Vitória Oliveira e Miguel Cardoso

Grupo de jovens tomando mate na Praça Saldanha Marinho. Foto: Karin Spezia. Laboratório de fotografia e memória.

Quando chega a Semana Farroupilha, o amor pelo Rio Grande do Sul aflora e os gaúchos e gaúchas de todas as querências querem mostrar para todos a força da tradição e o apego pelo Rio Grande.

Chiripá farroupilha. Foto: arquivo
Chiripá farroupilha. Foto: arquivo

Muitas pessoas renovam as “pilchas”, denominação dada a indumentária do gaúcho. Para o homem, bombacha, bota ou alpargata, cinturão, lenço, chapéu e camisa, além do chiripá – saiote que lembra um fraldão, usado sobre a bombacha. Hoje vale o mesmo para as mulheres que conquistaram essa alternativa para além do tradicional vestido de prenda. Segundo Fabiana Gonçalves, gerente de uma loja especializada em artigos gaúchos, disse que aumentou 50% as vendas devido à Semana Farroupilha,  e também que este aumento já era esperado.  A festa comemorativa lota os CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), a semana toda, com bailes, “entrevero de bóias” (Nome dado aos jantares/almoços que servem vários pratos típicos da culinária gaúcha).

No entanto, há também os chamados “Gaúchos de apartamentos”, termo utilizado para quem compra pilcha e se veste a caráter somente na Semana Farroupilha, mas  não abre mão de cultivar as tradições o ano todo assegurando o churrasco aos domingos, o chimarrão e outras peculiaridades da cultura gaúcha. Estes, não necessariamente, frequentam os CTGs, como é caso do Cezar Bonacorso (19). “Gosto do mate à tardinha e do churrasco aos domingos, porém não frequento CTG, e não gosto muito de usar bombachas. Mas respeito e gosto das tradições gaúchas,” afirma Bonacorso.

É também o caso do estudante da UFSM, Cássio Michels (20), para quem uma das maiores paixões  é o churrasco. “Não vou a CTG, não uso pilchas, mas gosto do bom e velho churrasco,” diz o estudante que ainda disse que ia “para fora” ( expressão usada para referir a ida para as fazendas, sítios ou chácaras no meio rural) mas que com a faculdade e a falta de tempo, não vai mais.

Leonardo Lima  e Juliana Dorneles tomando chimarrão na Praça Saldanha Marinho. Foto: Karin Spezia. Laboratório de fotografia e memória.

As tradições e o amor pelo RS passam de pai para filho, como conta a Juliana Dorneles, técnica em enfermagem (24), “Meus pais cultivam o ano todo as tradições, frequentam CTG e me ensinaram também a cultivar as tradições,” relata Juliana.

Para Stefani Mello (23) “o amor pelo Estado está além de ir ou não a CTG. Está dentro da gente, nasce conosco, até quem não frequenta esses espaços tem um amor pelo Rio Grande,” diz a estudante que também afirmou que gosta da música gaúcha, de dançar em CTG e de vestir bombacha.

Este repórter-aprendiz não pode deixar de se manifestar quando se trata dos pagos gaúchos. Para mim, ser gaúcho de apartamento ou de CTG não importa, somos todos iguais Gaúchos. E temos um amor pela nossa terra, por mais que não cultivemos de forma veemente as tradições, sempre levamos algo dela conosco, com os costumes, as comidas e bebidas típicas que fazem parte do nosso cotidiano. Ao tomar um chimarrão, fazer um churrasco com os amigos, ir para fora aos finais de semana, falar sinaleira ao invés de semáforo, chamar o menino de guri ou pia, estamos conservando as tradições e mostrando que podemos gostar de rock, samba, pagode, jazz, música clássica, funk, sertanejo, mas mesmo assim sermos gaúchos de apartamento ou não, mas gaúchos.