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UPA comemora 9 anos de atividades em Santa Maria

No mês de março, a UPA – Unidade de Pronto Atendimento – completou 9 anos de atividades  de atendimento ininterrupto,  em Santa Maria/RS, abrangendo uma área de 200.000 habitantes, e focada  no compromisso de uma assistência

Classificação de risco em saúde é tema de palestra na UFN

Classificação de Risco foi o tema da palestra do enfermeiro, Vagner Costa Pereira, no Seminário do Programa de Residência em Enfermagem na Urgência/Trauma: Aplicabilidade clínica, da Universidade Franciscana, nesta sexta-feira, 9. O palestrante é  coordenador de

SUS: saúde à mercê da espera

“ O maior pronto atendimento de urgência e emergência da cidade”. Assim foi descrita a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), inaugurada em Santa Maria em 4 de abril de 2014, durante o governo do então Prefeito, Cezar

Vestibulandos de Medicina visitam Casa de Saúde

Alunos do curso preparatório para Medicina do Fóton Vestibular participaram de visita técnica à Casa de Saúde, acompanhados do gerente operacional e engenheiro de segurança do trabalho Rosito Borges. A visita, realizada no dia 22 de agosto,

Foto: PMSM

No mês de março, a UPA – Unidade de Pronto Atendimento – completou 9 anos de atividades  de atendimento ininterrupto,  em Santa Maria/RS, abrangendo uma área de 200.000 habitantes, e focada  no compromisso de uma assistência pré-hospitalar de qualidade.

A diretora da Unidade de Pronto Atendimento e do Hospital Municipal Casa de Saúde de Santa Maria RS, Irmã Liliane Pereira, comemora essa data e destaca a UPA como um importante instrumento em favor da saúde pública. Em entrevista à Agência Central Sul, ela fala sobre o papel da UPA para a população de Santa Maria, em especial, nesse momento de crise sanitária.

Agência Central Sul – Como nasceu a UPA e qual a sua missão?

Irmã Liliane Pereira, diretora da UPA e do Hospital Municipal Casa de Saúde de Santa Maria

Irmã Liliane Pereira –   A UPA nasceu com o compromisso de focar na assistência pré-hospitalar  há nove anos atrás. É caracterizada como UPA porte 3 por possuir no mínimo 15 leitos de observação e quatro leitos de estabilização. Tem funcionamento em caráter ininterrupto e abrange uma área acima de 200.000 habitantes. Foi inaugurada em 21 de março de 2012, com o objetivo de oferecer a Santa Maria uma assistência pré-hospitalar de qualidade. Na época, o então prefeito César Schirmer disse: “Sem dúvida, este é um grande instrumento em favor da saúde pública. Isto vai mudar substancialmente o tratamento de emergência e urgência”. E desde então a UPA é focada nesse compromisso.

Outro fator importante que está na origem da UPA é o fato desta ser uma porta aberta, ou seja, todo paciente que buscar atendimento será atendido. É claro, que este atendimento segue protocolos claros, tal como a classificação de risco, que é um instrumento aplicado em que se define a prioridade dos atendimentos.

ACS – A missão da UPA é…

ILP – Para entender a missão da UPA  convido  cada um a fazer um exercício: pensar o que seria de Santa Maria sem a UPA? Como perceber a rede de Saúde de Santa Maria sem esse serviço? Em tempos pandêmicos quais os impactos dos serviços prestados pela UPA na cidade de Santa Maria e por que não dizer e região? Essas são algumas das principais perguntas que povoam meus pensamentos e meu coração, considerando ainda que, o maior objetivo de um serviço de saúde são os usuários. No caso da UPA não é diferente: os pacientes são a razão da Instituição existir. Entretanto, os profissionais de saúde (aqui inclui aqueles com formação específica e aqueles do apoio) são sujeitos da UPA, pois vale recordar que, sem estes aqueles não podem ser atendidos.

ACS – Esses profissionais, em suas diferentes tarefas, são todos protagonistas desse atendimento, não?

ILP – Sim, agradeço imensamente a esses profissionais que diuturnamente deixam suas casas e os seus e vão cuidar de outras pessoas. É claro que isso foi uma escolha, mas a escolha também requer decisão cotidiana, e é por esta decisão que eu os agradeço. São muitos profissionais que fazem, todos os dias, a UPA acontecer, os atendimentos serem prestados e as vidas preservadas. Hoje faço parte, sou parte, dessa equipe na área da gestão.

ACS – Como a senhora chegou na direção da UPA?

ILP – Para que seja possível entender minha função na UPA é preciso conhecer um pouco da minha trajetória pessoal e profissional. Sou religiosa das Irmãs franciscanas da Penitência e Caridade Cristã. Sou enfermeira de formação e, ao longo dos anos na carreira acadêmica, me especializei em Gestão Hospitalar e, posteriormente, mestrado em Enfermagem com ênfase em Liderança e Ética. Meu doutorado é em Enfermagem com ênfase em Sensibilidade Moral e Ética. Portanto, quando vim para a cidade de Santa Maria o motivo da minha chegada era fazer parte do corpo acadêmico da Universidade Franciscana. Todavia, passados dois anos fui convidada pela Presidente da SEFAS (mantenedora da UPA) e a Ministra Provincial para gerir o Hospital Casa de Saúde e UPA e estou nesta missão.

ACS– Como está sendo ser gestora da UPA em um momento de Pandemia?

ILP – Para mim, pessoalmente, fazer parte dessa equipe nesse momento pandêmico emerge três sentimentos distintos, complementares entre si: Gratidão– sou muito grata por fazer parte de uma equipe comprometida, responsável e atenta às necessidades daqueles que buscam o trabalho; Desafio- sinto um desafio constante que exige de cada um de nós que ali trabalhamos de oferecer uma assistência com excelência mesmo quando tudo está sobrecarregado e parece que nossas forças se esvaem. Esperança- um sentimento em forma de verbo (esperançar) que me permite crer em um novo tempo de equidade e responsabilidade de todos pelo bem comum.

ACS – Qual a principal meta da UPA?

ILP – A principal meta da UPA é oferecer aos pacientes um serviço de excelência o que passa impreterivelmente pela qualidade de prestação de serviços  e atenção aos profissionais que ali trabalham. Eu acredito que a busca desse patamar de exigência envolve a liderança compartilhada, a corresponsabilidade e a capacidade de tomar decisões. Esses três elementos são constructos cotidianos para mim e para aqueles que comigo trabalham, pois eu sou apenas parte de uma equipe de gestores.

Wagner Costa Pereira, coordenador de enfermagem  e responsável técnico na UPA 24h. Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM

Classificação de Risco foi o tema da palestra do enfermeiro, Vagner Costa Pereira, no Seminário do Programa de Residência em Enfermagem na Urgência/Trauma: Aplicabilidade clínica, da Universidade Franciscana, nesta sexta-feira, 9. O palestrante é  coordenador de Enfermagem e responsável técnico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) em Santa Maria.

O enfermeiro ressaltou que este protocolo é um tema muito atual na área da saúde e ainda pouco conhecido entre os profissionais. O processo de classificação de risco é uma ferramenta utilizada por médicos e enfermeiros dos serviços de atendimento de urgência e emergência, para categorizar a situação de cada paciente. Para isso, é importante a utilização de alguns recursos como o manual de serviço (literatura a ser consultada), conhecimento clínico e materiais básicos, o estetoscópio por exemplo, utilizado para escutar os sons internos do paciente.

 

  • Sistema de Classificação de Risco

Este sistema busca avaliar os pacientes e classificar a necessidade de atendimento prioritário, conforme a gravidade de cada caso. “Ou seja, trata-se da priorização do atendimento, após uma complexa avaliação do paciente, realizada por um profissional devidamente capacitado, do ponto de vista técnico e científico” conforme o artigo de Vinicius Fernandes, enfermeiro, graduado pelo Centro Universitário de Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo.

Este sistema categoriza uma situação de risco em cinco cores: azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. Do mais  ao menos urgente, a cor vermelha determina atendimento imediato, laranja, em até 10 minutos, amarelo até 60 minutos, verde,  120 minutos (2h) e azul até 240 minutos (4h).

Segundo o enfermeiro, este processo é um divisor de águas no serviço de pronto atendimento, pois auxilia no diagnóstico, no tempo de espera e o no próprio atendimento do serviço de urgência e emergência. “A classificação pode fazer a diferença na vida e até mesmo no caso de morte do paciente”, considera. Com isso, Vagner ressalta um problema enfrentado no sistema público de saúde, pois a Unidade de Pronto Atendimento deveria fornecer o atendimento imediato em casos de urgência e emergência. Porém, muitos casos que chegam a UPA deveriam ser encaminhados para leitos em hospitais públicos, após o primeiro atendimento, mas não é isso que acontece. Desta forma, as UPA’s acabam suprindo a falta de leitos dos hospitais, mantendo um paciente internado por, em média, 7 dias nas unidades.

Outro problema destacado pelo enfermeiro é a falta ou a precariedade no registro dos processos durante o  atendimento. Vagner argumenta que não preencher os registros obrigatórios ou registrá-los de forma incorreta pode não só prejudicar o paciente, mas também implicar responsabilidade ao médico ou enfermeiro. “Em caso de morte, a palavra da família do paciente tem maior credibilidade em caso de julgamento, pois, realizar o procedimento correto e mesmo assim não registrar, por exemplo, até pode ser válido para a saúde do paciente, mas não dá respaldo legal ao profissional responsável”,  afirma.

 

  • Triagem x Classificação de Risco

De acordo com sua experiência, Vagner esclarece a principal diferença entre estes dois conceitos utilizados para determinar o atendimento de um paciente da urgência/emergência, reforçando a importância da classificação de risco.

Triagem: diz respeito a um atendimento humanizado-profissional, aliando características de observação com conceitos técnicos.

Classificação de Risco: sistema baseado em processos e estudos científicos usados para determinar com base nos sintomas do paciente a urgência da sua situação, para além da observação. Compreende alguns passos, desde a entrada do paciente no pronto atendimento, ao contato/avaliação com cada usuário do sistema de saúde.

 

O enfermeiro faz um alerta sobre a classificação de casos especiais, como por exemplo idosos e pacientes com suspeitas de agressão.

  • Situações Especiais

Idosos – Verde

Deficientes físicos e mentais – Verde

Acamados – Verde

Dificuldade de locomoção – Verde

Gestantes – Verde ou Amarelo, na maioria dos casos

Pessoas escoltadas, algemadas ou envolvidos em ocorrência policial – Amarelo

Suspeita de, ou agressão  e vítimas de abusos sexuais – Amarelo

Retornos em menos de 24h sem melhora – Verde

Acidentes de Trabalho – Amarelo  

O maior pronto atendimento de urgência e emergência da cidade”. Assim foi descrita a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), inaugurada em Santa Maria em 4 de abril de 2014, durante o governo do então Prefeito, Cezar Schirmer. A UPA, abriu as portas ao público de forma parcial no dia 21 de março de 2014. Na época, os atendimentos eram realizados a partir de encaminhamentos feitos por profissionais dos Pronto Atendimentos (PA) do Patronato e da Tancredo Neves.

Como consta no site da prefeitura, a Unidade ocupa uma área total de 1,4 mil m², com estrutura para atender a população com salas de consultórios para diagnósticos, tratamento terapêutico, observação, atendimento de urgências e emergências. O funcionamento é de segunda-feira a domingo, inclusive feriados. A UPA também oferece serviços laboratoriais, raios-X e pequenas cirurgias.

Foto: João Alves publicada em 26/06/2012 no site da Prefeitura de Santa Maria

No dia 26 de maio, sábado, por volta das 16h, fomos até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santa Maria, que fica em anexo à Casa de Saúde, no Bairro Perpétuo Socorro, na região norte da cidade. Em conversa com quem estava no local – entre pessoas que aguardavam a consulta e familiares que acompanhavam os pacientes – fomos informados de que o atendimento naquela tarde demorava em média três horas.

Às 17h30, usuários que haviam preenchido a ficha na recepção antes das 14h ainda esperavam pelo atendimento médico. Não havia muitos pacientes na unidade, porém fomos informados de que, além da falta de médico no plantão da tarde, o recepcionista responsável por fazer o cadastro se demonstrava impaciente com o público. “Estão chamando só agora o pessoal das 14h. Deus o livre isso aí, para mim o atendimento é péssimo. Deus que me perdoe, ainda bem que eu tenho meu plano. Chego lá e marco consultas e exames direto. É a segunda vez que trago alguém aqui, na primeira foi a minha filha, até que não demorou tanto. Hoje que trouxe minha companheira, tá demorando demais. Para piorar, o PA está fechado e o posto da Tancredo também”.

Outro homem, que também aguardava seu familiar ser atendido, comentou sobre a falta de educação do funcionário da recepção. “Aquele cara não era para estar ali trabalhando. O rapaz que atende ali é péssimo. Vai tratar a mãe dele assim lá no meio do mato, do jeito que trata as pessoas. Falta ele ser mais educado. Chegou uma mulher ali e disse que estava demorando, ele falou: quer assim quer, não quer esperar vai embora”.

Ambos entrevistados não quiseram se identificar. Até o momento em que saímos do local, cerca de 18h, nenhuma das pessoas com quem conversamos havia sido atendida.

Os atendimentos do UPA são realizados por ordem de gravidade e risco, conforme protocolo estabelecido abaixo:

Na Unidade, as informações do quadro estão fixadas na entrada.

Também nos foi dito que, na sexta, 25 de maio, a unidade estava sobrecarregada. Um homem de 36 anos, que não quis se identificar, deu entrada pela manhã desse dia com fraturas no tórax, em decorrência de um acidente de trânsito. O rapaz foi encaminhado para análise médica e exames de Raio-X, que confirmaram fraturas nas costelas do lado direito e também na escápula.

O ortopedista da UPA recomendou a transferência do paciente para o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Durante o tempo de espera, o rapaz permaneceu desacompanhado, mesmo sem condições de se mover. Na ocasião, sua esposa, que estava no local, foi retirada da sala sem nenhuma explicação. Quando pediu para retornar, foi informada de que o médico precisaria da permissão do médico da Unidade. O atendente ligou para o médico, que não estava presente no local, e a permanência da mulher foi admitida por apenas cinco minutos, mais uma vez sem explicação. Não foram prestados esclarecimentos e também não foram entregues os exames de raio-x realizados. O homem aguardou a transferência até às 20h, quando enfim foi levado para o HUSM.

A espera pela transferência levou várias horas, pois, segundo o atendente do UPA, o médico responsável por cirurgias torácicas atende na Unidade de segunda a quinta-feira, e portanto seu retorno seria apenas na segunda pela manhã. Com a superlotação do hospital, não seria viável receber mais um paciente. Era sexta-feira, e o rapaz – com fraturas – teria que aguardar mais três dias para ter algum encaminhamento. O paciente, afinal, foi internado por uma semana e aguardou até a quinta-feira do dia 31 de maio para ser informado de que passaria por cirurgia. Apenas submetido a exames de Raio-X e tomografia, ele acabou não passando por cirurgia, nem teve imobilização das partes fraturadas, de acordo com o médico, decorrência de serem na parte superior do corpo, onde seria impossível a colocação de gesso ou tala. Junho chegou, e o rapaz ainda se recuperava em casa, fazendo uso de medicamentos para dor e fisioterapia.

Em outro relato sobre o atendimento da Unidade de Pronto Atendimento a um paciente acidentado, o serviço prestado também foi ineficiente. Em outubro de 2017, um homem de 28 anos procurou a UPA após ter caído de moto. Ele relata que foram mais de três horas aguardando o atendimento a ser realizado por uma clínica geral. A médica o encaminhou para o raio-x. Após retornar à sala da médica, o rapaz foi atendido enquanto a profissional conversava com uma amiga pelo WhatsApp. “Tô aqui respondendo uma amiga que tinha me mandado uma mensagem mais cedo e eu não vi”, disse a médica enquanto ria e mostrava o celular para o paciente.

A doutora também comia biscoitos de um pacote que estava em sua mesa. Errou duas vezes ao procurar o raio-x que havia requisitado. Em um primeiro momento, encontrou o exame de um paciente que havia fraturado o dedo indicador. Surpreendido, o rapaz indicou que o exame realizado havia sido no pulso, onde permaneceu com a mão fechada não havendo condições para diagnosticar se um dedo estivesse quebrado. A médica, então, encontrou outro exame, mesmo as pastas dispondo claramente os nomes dos pacientes. O rapaz então foi até o outro lado da mesa, olhou para o computador e encontrou a pasta do exame com o seu nome escrito.  Durante todo o atendimento, a clínica geral mostrou-se indisciplinada e antiética. De acordo com o rapaz, mesmo ele relatando que sentia dores fortes no joelho em decorrência da queda de moto, não foi pedido nenhum tipo de exame para a região. Os machucados que sangravam no braço e na perna direita também não foram considerados. Ele não recebeu nenhum tipo de medicação no local, saiu da unidade com alguns medicamentos receitados e a doutora não sabia nem mesmo pronunciar o nome do medicamento que havia prescrito.

Mais de 4 mil horas na espera por um exame

Noite de uma quinta feira, 10 de maio. Cristiana Andrade, 40 anos, deu entrada no UPA com dores no corpo, enjoos e febre. Após uma 1h30 de aguardo na sala de recepção, foi transferida para a sala de medicações, onde ficou sentada em uma poltrona até a noite do domingo, 13 de maio. Durante os dois dias na sala de medicações, onde aguardava o resultado dos exames de sangue que constatariam o motivo de estar ali, o atendimento que recebeu por parte das enfermeiras, segundo ela, foi de despreparo e descaso com o seu estado de saúde. Cristiana relata que na madrugada do sábado, 11 de maio, diversas vezes foi convidada a se retirar da sala para se direcionar a sala de oxigênio ao lado. Porém esta sala estava lotada, não tinha nem mesmo uma poltrona para que pudesse acomodar-se. Ela teria que ficar sentada em uma cadeira simples e sujeita a se sentir ainda pior. Cristiana recusou-se a sair do local e ouviu das enfermeiras frases do tipo “você não está pensando nos outros” ou “você tem que sair daqui para dar lugar a outro paciente”, além de cochichos e olhares de irritação umas com as outras.

A noite fria de outono parecia ser mais longa do que o normal. A espera era a palavra que lhe mais doía, e não sabia se o pior sintoma era esperar pelo médico, pelos resultados dos exames ou pela sua transferência para um leito onde pudesse pelo menos espichar suas pernas e deitar a cabeça sobre um travesseiro. Durante a madrugada, quando precisava ir ao banheiro, tinha de pedir que chamassem algum de seus familiares que aguardavam pelo lado de fora da sala, ou até mesmo pelo lado de fora da Unidade – pois não era permitido acompanhantes na sala de medicações.

Já eram quase 80 horas sentada sobre uma poltrona azul, que parecia ser a mais desconfortável de todos os tempos. Já eram mais de três dias aguardando resultados de exames que pareciam que nunca chegariam. “Por causa do surto, os exames estão demorando mais do que o normal em todos os hospitais da cidade, mas logo vai sair o teu”, era a desculpa que ouvia do médico e das enfermeiras que entravam e saiam da sala e às vezes nem lembravam do motivo dela estar há tanto tempo ali. Cristiana explica que a orientação que recebeu na primeira noite “internada” era de que ela não podia ser transferida para um leito antes que os médicos soubessem que doença ela tinha. As suspeitas principais eram toxoplasmose, hepatite ou leptospirose.

Na noite do domingo, 12 de maio, os exames ainda não tinham ficado prontos. No entanto, por meio do contato de uma amiga com a diretoria do UPA, a paciente finalmente foi transferida para um leito na própria Unidade. Pôde, enfim, tomar um banho, descansar e humanamente aguardar pelos resultados, agora acompanhada de um familiar. Na segunda-feira, 14 de maio, enquanto se alimentava aos poucos com o auxílio do marido, recebeu a visita da médica plantonista que passava de leito em leito para ver o estado dos pacientes. Em poucos minutos de conversa e avaliação, a médica decide que Cristiana já estava em condições de ir para casa. “Você já está até comendo, não há motivos para ficar aqui. Pode ir para casa e aguardar lá o resultado dos exames”, foi o que ouviu em castelhano da médica apressada. Seu marido não aceitou, disse à médica que a esposa não tinha condição nenhuma de ir para casa, onde doente ficaria junto aos seus filhos e sua família, enquanto não soubesse que doença tinha e que males poderia causar aos que se aproximavam dela.

A médica, então garantiu verbalmente que, se Cristina fosse diagnosticada com toxoplasmose, hepatite, leptospirose, ou a doença que fosse, poderia dar  baixa no mesmo leito que deixaria na noite da segunda. Porém, seu marido insistiu mais uma vez e propôs uma prescrição onde a médica se responsabilizasse pela decisão tomada. Não foi o que aconteceu. Após sete dias internada sem saber o motivo, na quinta-feira, 17 de maio, os exames de Cristiana ficaram prontos. Toxoplasmose foi a doença diagnosticada. Na noite da mesma quinta-feira, a mulher deixou a Unidade reclamando de dores nas costas, com uma receita na mão, e a certeza de que o atendimento naquele local se resumia a uma palavra: despreparo. O tratamento da toxoplasmose foi realizado em casa, sem acompanhamento médico e sem Cristiana ter voltado à Unidade para reavaliação.

As Unidades de Saúde dos bairros de Santa Maria

Segundo informações disponibilizadas no site da Prefeitura Municipal de Santa Maria, existem 22 Unidades Básicas de Saúde na cidade (UBS), distribuídas entre 11 bairros e vilas:

  • Vila Oliveira;
  • Bairro Centro;
  • Bairro Medianeira;
  • Cohab Santa Marta;
  • Bairro Itararé;
  • Bairro Salgado Filho;
  • Vila Shirmer;
  • Vila Lorenzi;
  • Bairro Passo das Tropas;
  • Residencial Dom Ivo Lorscheiter,
  • Bairro Camobi;
  • Cohab Fernando Ferrari;
  • Cohab Tancredo Neves.

Além das Unidades, há os locais de atendimento especializado, como o Centro de Diagnóstico Nossa Senhora do Rosário (antigo Cedas). A única notícia encontrada no site da Prefeitura sobre o local foi publicada em julho de 2013, e afirma que o Centro de Diagnóstico oferece aos usuários da rede pública municipal – encaminhados pela Central de Marcação – especialidades médicas, exames de ultrassom, eletrocardiograma, fisioterapia, fonoaudiologia, saúde da mulher e laboratório municipal. Na cidade também há o Pronto Atendimento Municipal (PA) do Bairro Patronato. No site da Prefeitura, consta que no PA há a unidade de Pronto Atendimento Infantil (PAI), e o Pronto Atendimento Adulto (PAA), ambos funcionando 24 horas por dia. Além disso, cita-se o Pronto Atendimento Odontológico (PAO), que atende de segunda a sexta-feira, das 19h às 7h da manhã do dia seguinte, e aos sábados, domingos e feriados, atende 24 horas. Além disso, existe a Policlínica Rubem Noal, no Bairro Tancredo Neves, e a Casa 13 de Maio, no bairro Centro – uma unidade de saúde especializada, com foco no atendimento de infecções sexuais transmissíveis (ISTs), HIV/Aids e hepatites virais (B e C).

Em Santa Maria, também existem 14 Unidades Estratégia Saúde da Família (ESF), espalhadas por bairros, vilas e distritos:

  • Distrito Arroio do Só, junto à Subprefeitura;
  • Distrito Bela União, na Rua Cruz Alta;
  • Distrito de Santo Antão, próximo à Escola Int. Manoel Ribas;
  • Distrito de Pains, junto à subprefeitura;
  • Vila Bela União;
  • Bairro Alto da Boa vista, na Rua 25 de Abril junto à escola Adelmo Simas Genro;
  • Bairro Parque Pinheiro Machado, na Rua Boa Vista;
  • Vila Caramelo;
  • Vila São João, na Rua Palestina;
  • Bairro São José, na Rua Antônio Gonçalves Do Amaral;
  • Vila Lídia, rua Maestro Ribas Barbosa;
  • Vila Maringá, na Rua João de Barro;
  • Vila Santos, na Rua Antônio Foletto;
  • Vitor Hoffman, na Rua Distrito Federal;
  • Vila Urlândia, na rua Valdir C. da Silva.

Informações solicitadas às Unidades de Saúde  

Entre os dias 4 e 13 de junho, entramos em contato com Postos de Saúde, Unidades Básicas de Saúde(UBS) e Unidades Estratégia Saúde da Família (ESF) da cidade. As informações solicitadas foram referentes aos horários de atendimento, o serviço médico prestado, os exames realizados no local, entre outros. No entanto, em poucos casos obtivemos as respostas, e houve situações em que nem mesmo fomos atendidos. As Unidades com que entramos em contato foram as seguintes:

-Posto Dom Antônio Reis

  • Telefone: 3223-5588
  • Atendimento: de segunda à sexta das 7h às 16h sem fechar ao meio dia.
  • Coordenadora: Nilra
  • A unidade atende pela agenda médica e também faz o acolhimento.
  • Atendimento médico: 2 Clínicos gerais; 1 Ginecologista; 1 Dentista para adultos; 1 Dentista pediátrico e 1 Pediatra.

-ESF. Vila Santos

  • Telefone: 3211-8088
  • Karen (não identificou o cargo) informou-nos que tem ordens da Secretaria de Saúde para não passar nenhum tipo de informação referente ao atendimento prestado.

-Posto de Saúde José Erasmo crossetti

  • Telefone: 3921-1097
  • Enfermeira responsável: Letícia
  • Secretária: Vívian
  • Fomos informados por Letícia de que não são dadas informações por telefone para estudantes. A unidade não colabora com trabalhos acadêmicos.

-Posto de Saúde João Luiz Pozzobon

  • Telefone: 3212-8736
  • Atendimento: de segunda à sexta. das 7h30 às 12h e das 13h às 16h30.
  • Coordenadora: Lisiane.
  • Secretária: Priscila.
  • Atendimento médico: 1 Clínico geral, 1 Ginecologista obstetra, 1 Dentista que atende adultos e crianças
  • A unidade atende com demanda livre,  quando é feito o atendimento da agenda médica em conjunto com o acolhimento. Foi questionado sobre o número de atendimentos estipulado pela agenda médica, mas não obtivemos resposta. A informação que obtivemos foi de que as tardes das quintas-feiras são reservadas para o atendimento da saúde da mulher e de crianças. Nas manhãs da sextas-feiras há atendimento do clínico geral.

-UBS Waldir Mozzaquattro

  • Telefone: 3223-6608
  • Atendimento: de segunda à sexta das 7h às 12h e das 13h às 16h.
  • Coordenadora: Antonieta.
  • Secretária: Michele.
  • Atendimento médico: 3 Clínicos gerais; 2 Ginecologistas; 2 Dentistas; 2 Técnicos de enfermagem; 1 Pediatra e 1 Enfermeira.
  • A agenda médica é estabelecida nas quartas-feiras às 13h, quando são distribuídas 140 fichas para atendimento na semana seguinte. O acolhimento existe se for necessário.

-Posto de Saúde Rubem Noal

  • Telefone: 3214-1006
  • Enfermeira responsável: Gabriela
  • Responsável segundo a secretária: Rose  3214-2077
  • Tentamos contatos duas vezes no dia 4 de junho, na primeira delas a secretária passou o contato de Rose, como sendo a pessoa responsável para responder sobre o atendimento da unidade. Rose por sua vez pediu que retornasse ao primeiro telefone contatado para falar com a enfermeira Gabriela que seria a responsável por estas informações. Após quatro tentativas, no dia 5 de junho finalmente conseguimos contato com Gabriela. A enfermeira pediu para retornar em outro momento pois, não poderia passar estas informações naquele instante, mesmo dizendo no início da conversa que teria disponibilidade.

-ESF Maringá

  • Telefone: 3223-2158
  • Enfermeira responsável: Sharon
  • Em três tentativas de contato, não conseguimos falar com a enfermeira. As respostas foram que ela estaria em uma reunião. No primeiro contato realizado no dia 4 de junho, foi possível ouvir quando a secretária perguntou se a enfermeira poderia atender e a resposta foi que fosse informado que estava em uma reunião.

-ESF Bairro Passo das Tropas

  • Telefone: 3211-2202
  • Enfermeira responsável: não se identificou
  • Foi informado pela enfermeira da Unidade que não são prestadas informações por telefone, muito menos para estudantes. Segundo ela, para termos os esclarecimentos solicitados, seria necessário uma autorização e se tivéssemos a autorização, deveríamos ir pessoalmente na Unidade para conversar com a suposta enfermeira que em momento algum se identificou.

Secretaria da Saúde diz que informações não podem ser prestadas a estudantes

Em contato com a supervisora da Secretaria de Município da Saúde, obtivemos a informação de que as enfermeiras e secretárias dos postos de saúde da cidade, de fato recebem a orientação de não fornecerem informações  sobre o atendimento prestado à população. A coleta de dados e demais esclarecimentos sobre as unidades devem ser feitas na Secretaria, com a superintendente de Atenção Básica, Maria Suzana Lopes, que é responsável pelos postos de saúde da cidade. A orientação em não passar informações por telefone existe em função da grande demanda de atendimento que há nas unidades, já que as enfermeiras coordenadoras dos postos também prestam atendimento à população. Portanto, como método de prevenção, a a secretaria opta por fornecer os esclarecimentos referentes ao atendimento nas unidades de saúde, isentando os profissionais dos postos da função. Na tentativa de agendar um horário com a superintendente Suzana, encontramos grande dificuldade em conseguir transferir a ligação para sua sala. O telefone de acesso à superintendente não estava funcionando no dia 11 e 12 de junho. Quando entramos em contato com secretária, ela precisou se dirigir até o suposto local que estaria Suzana, porém, não a encontrou e por fim ainda  informou  que a doutora estava na unidade. Deixamos recado e pedimos que fosse retornada a ligação, no entanto, até o fechamento desta matéria, não recebemos o retorno da superintendente da Secretaria de saúde.

Demora no atendimento é a principal reclamação

A partir da pesquisa sobre o atendimento dos Postos de Saúde de Santa Maria, a conclusão que tivemos é que prestar informação é a maior dificuldade das unidades. Em alguns postos as pessoas responsáveis foram grosseiras e se mostraram incomodadas com o teor da ligação. A falta de preparo para lidar com indagações, se reflete na incompetência dos serviços prestados à população. Dentre as reclamações mais frequentes dos usuários, a demora no atendimento e a escassez de médicos e enfermeiros são as mais comuns.  A maioria dos postos da cidade funcionam somente até às 16h. Há casos em que os atendimentos que chegam aos postos são encaminhados ao clínico-geral já que, as unidades não possuem especialistas. O não cumprimento dos horários, a falta de medicamentos, a demora para conseguir realizar exames, a precariedade dos aparelhos e a falta de educação com que são tratados, são outras falhas que indignam os santa-marienses que dependem do Sistema Único de Saúde. Uma vez que os postos não possuem uma demanda de assistência médica de áreas específicas, as Unidades de Pronto Atendimento são sobrecarregadas.

BALANÇO FILA ZERO
– 64 mil pessoas aguardando por consultas e exames nos últimos cinco anos
– 48.226 agendamentos realizados
– 28.700 consultas realizadas
– 19.526 exames realizados
–7.410 óbitos
– 1.508 pessoas faltaram na consulta agendada
– 9.980 telefonemas na caixa postal até 28/07
– 30.154 ligações feitas até 28/07
– 4.018 pessoas não querem consultas/exames até 28/07

Comparativo população de Santa Maria/ Atendimentos na Rede SUS
– 277 mil habitantes
– 311.108 usuários na Rede SUS
– Sendo 140.325 homens e 170.217 mulheres
– Do total, menores de 12 anos correspondem a 43.924
– De 01/01/2017 a 31/07/2017: 16.044 novos usuários cadastrados no SUS

Comparativo de procedimentos nos pronto-atendimentos em 2016 e 2017
Pronto Atendimento do Patronato
– 2016 – 90.183 procedimentos em todo o ano
– 2017- 56.614 procedimentos apenas no primeiro semestre

Pronto Atendimento da Tancredo Neves
– 2016 – 50.971 procedimentos em todo o ano
– 2017 – 60.489 procedimentos apenas no primeiro semestre

*as informações acima foram publicadas no site do Diário de Santa Maria no dia o1/08/2017.

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A reportagem foi produzida pelos alunos Caroline Costa e William Ignácio, para a disciplina de Jornalismo Investigativo, durante o 1º semestre de 2018, sob orientação da profª Carla Torres.

 

Alunos do curso preparatório para Medicina do Fóton Vestibular participaram de visita técnica à Casa de Saúde, acompanhados do gerente operacional e engenheiro de segurança do trabalho Rosito Borges. A visita, realizada no dia 22 de agosto, teve como objetivo mostrar aos alunos o funcionamento das unidades hospitalares da Casa de Saúde e à Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Os estudantes aprenderam como é classificado o grupo de risco em cada paciente, como funcionam o setor de raio-X, a enfermaria, a sala de medicação, a unidade psiquiátrica, a unidade pediátrica, a unidade cardiológica, o refeitório, a lavanderia, o morgue e a sala de armazenamento temporário de resíduos hospitalares.

Com a visita, os aspirantes a médicos puderam ter noção de como é o funcionamento do hospital desde a lavanderia até o atendimento assistencial. Os alunos tiveram a possibilidade de sanar dúvidas com profissionais.

Para Rosito Borges, a visita foi bastante satisfatória. “Essa foi uma grande oportunidade para eles, principalmente porque vão fazer Medicina, por conhecer o ambiente hospitalar e saber que o hospital não é somente a parte assistencial, mas que também tem uma parte técnica envolvida”. Ele também ressalta a importância dos alunos conhecerem a rotina dos profissionais da saúde e a equipe.

Mariana Aléssio Dias da Costa, 19 anos, natural de Cruz Alta, prepara-se para ingressar em Medicina. “Foi sensacional! Professor Rosito sempre nos motivando a lutar ainda mais por nossos sonhos! Somos muito gratos pelos aprendizados e pelo estímulo!¨, comenta.

Entre o sonho e a realidade, alunos puderam ter um conhecimento amplo sobre o funcionamento do hospital. Muitos não imaginavam o processo completo das unidades para que o atendimento assistencial ocorresse.

Texto: Nínive Wohlmann

Disciplina: Jornalismo Digital 1

Professor: Maurício Dias