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Violência contra a mulher: o relato de Julia

Violência psicológica é algo que não se evidencia tão claramente quanto um tapa ou soco dado pelo parceiro. Como a cultura que naturaliza esses e outros abusos sofridos por mulheres e, mesmo crianças, algumas vítimas não percebem quando

Lei Maria da Penha 10 anos: persiste agressão à mulher

No último semestre de 2016, 1961 ocorrências de violência doméstica foram denunciadas na Delegacia de Polícia para Mulher  de Santa Maria. Delas, 950 viraram inquéritos policiais remetidos ao judiciário. Já as medidas de proteção solicitadas à vítima

Violência doméstica lidera registros na Delegacia da Mulher de Santa Maria

Por  Bruna Germani, acadêmica de jornalismo Anualmente, são registradas aproximadamente quatro mil e 800 ocorrências na Delegacia da Mulher de Santa Maria. Segundo a responsável pela delegacia, delegada Débora Dias, 90% dos casos envolvem violência doméstica,

Maria da penha (Série de reportagens)-01Violência psicológica é algo que não se evidencia tão claramente quanto um tapa ou soco dado pelo parceiro. Como a cultura que naturaliza esses e outros abusos sofridos por mulheres e, mesmo crianças, algumas vítimas não percebem quando estão em relacionamentos abusivos. A ACS traz uma série de testemunhos de mulheres, de diferentes idades e experiências, sobre as violências sofridas. Nos relatos feitos à repórter-aprendiz Amanda Souza, misturam-se dor, lucidez e alívio. Os nomes foram trocados por decisão da equipe de edição da ACS.

Quando lembrar dói

desfoco
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A acadêmica Julia Trindade  sofreu  violência doméstica dos 15 aos 17 anos. Só hoje consegue compreender a natureza do que vivenciou.
“Comecei a namorar esse menino na oitava série, com 14 anos. Estávamos juntos todos os dias. Com 15 anos, depois de trocar de colégio, comecei a passar todos os dias na casa dele, minhas roupas estavam lá, meu material, minhas coisas, tudo. Eu via minha mãe apenas uns dois fins de semana por mês”.

Julia morou com o namorado durante dois anos. O primeiro tipo de violência sofrida foi a psicológica. Ela conta que o rapaz  a traía abertamente, não escondia ou, sequer, sentia vergonha do que fazia.

“Às vezes eu chegava em casa e ele dizia que tinha alguém com ele. Eu saía para visitar meus avós no domingo e, uma vez, quando voltei, tinha uma menina lá”.

O namorado sempre fazia questão de demonstrar que se relacionava com outras pessoas. E o principal problema surgiu quando Julia tentou desabafar com a sogra.  A mãe do rapaz a fez acreditar ser tudo normal. Ela também enfrentava a violência doméstica, pois o pai do rapaz era extremamente violento.

“Foi a forma que ela aprendeu a se relacionar. A culpa não é dela, mas foi algo naturalizado entre a família, a violência do pai e a mulher aceitando sempre”, analisa, hoje, a jovem.

Eu ouvia muitos xingamentos como ‘vagabunda’ e, era jogado na minha cara que eu não me arrumava como ‘’uma garota’’… no como eu andava sempre desarrumada”, conta. E não era o bastante. Quando os dois saíam juntos à noite e acabavam brigando, Julia era deixada para fora de casa e tinha que dormir na rua.
Eu não podia conversar com ninguém. Fiquei um ano e meio sem falar com meus amigos. Tomava tapa na cara, chute, empurrões contra móveis, paredes e, algumas vezes, chegaram a acontecer agressões de formas mais sérias, me deixando marcas e machucando muito”, narra.

O namorado também quebrou o celular dela várias vezes durante as discussões e, não raro, jogava os pratos na parede quando ela se recusava a comer alguma coisa. A violência física começou no início do Ensino Médio.

“Uma vez eu estava na minha casa com ele e começamos a brigar dentro do quarto. Meu avô ouviu, tentou abrir a porta, mas meu namorado tinha nos trancado lá dentro e me ameaçava o tempo todo. Eu voltava do colégio e ele estava dormindo. Eu cozinhava, lavava a louça para ele. Perdi a essência do que eu era, não era mais ninguém, minha alma não estava mais. Eu era só um corpo presente… a namorada do fulano”, relembra com angústia.  “A violência psicológica foi a pior. Ele dizia o tempo todo que ia me abandonar e que eu nunca iria encontrar alguém que me amasse”.

Julia passou dois anos com o rapaz que a proibia de sair, enquanto ele saía todo o final de semana. E  quando Julia saía, era humilhada em público. “Ele me puxava pelo cabelo, arrastada, por causa de ciúmes. Além disso, a agressão psicológica era sutil e regular … o pior era a naturalização disso dentro do ambiente familiar em que eu me inseria. Eu era a ‘louca’ ‘’, afirma.

Quando finalmente ela conseguiu sair do relacionamento destrutivo, estava muito machucada, com marcas pelo corpo. Uma amiga – aquela amiga que está sempre ao lado – tomou providências. Julia conta que teve muitos problemas com o término do relacionamento. Começou a tomar muitos remédios, desenvolveu crise de pânico, ansiedade. A relação com a própria mãe estava muito frágil, porque ela não aceitava ver a filha naquele estado.
“Essa minha amiga, então, me disse: ‘-nós vamos lá buscar tuas coisas, e tu vai terminar. Se tu voltar para ele, eu nunca mais falo contigo’. Nesse dia eu fui conversar com ele. Começamos a discutir. Mais uma vez ele me empurrou contra um guarda-roupa. As portas quebraram e eu entrei praticamente para dentro do cômodo com a força do empurrão. Então, peguei minhas coisas e fui embora. Depois disso eu conseguir retomar, dificilmente, minha vida. Eu não tinha mais vida, sofria violência. E o processo de voltar a minha vida, com meus amigos foi muito difícil. Eu pensei: para onde eu vou? E agora? Minha casa não era mais minha casa. Minha vida foi tomada de mim”.

Julia nunca denunciou as agressões por medo de não acreditarem nela. “Eu estava muito dentro de mim. Tão dentro que  nem eu  me encontrava. Tem momentos dos quais eu não me recordo. Minha memória, às vezes, tem falhas, problemas para me lembrar daquilo, porque é algo que me traz muita dor. E eu acho que recalquei isso, inconscientemente”. 

Por Amanda Souza

Maria da penha (Série de reportagens)-01No último semestre de 2016, 1961 ocorrências de violência doméstica foram denunciadas na Delegacia de Polícia para Mulher  de Santa Maria. Delas, 950 viraram inquéritos policiais remetidos ao judiciário. Já as medidas de proteção solicitadas à vítima foram 568. A média são vinte ocorrências por dia. Os números são preocupantes, porque indicam também que há um percentual alto de agressões não denunciadas.

A delegada Débora Dias explica que a patrulha Maria da Penha da Brigada Militar faz ronda semanal, as denúncias são analisadas e eles vão até a casa da vítima verificar a situação, principalmente nos casos já com medida protetiva. Feito o Boletim de Ocorrência, são dados os encaminhamentos necessários, testemunhas são ouvidas, instauração do inquérito e medidas protetivas. “Temos 48 horas para encaminhar o inquérito, tudo depende da autorização da mulher, o judiciário tem 48 horas para deferir ou não as medidas”, explica Débora. “É sempre dificultoso o inquérito de violência doméstica, pois as testemunhas não dão depoimento, temos que insistir para trazer as pessoas, e se elas não quiserem, principalmente da família, elas não falam mesmo. E quando não existem marcas físicas, é difícil termos provas”, salienta a delegada. E isso causa desistências.

[dropshadowbox align=”center” effect=”lifted-both” width=”500px” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]A Lei Maria da Penha surgiu após o Estado Brasileiro ser denunciado por negligência e omissão em relação à violência doméstica pela Comissão de Direitos Humanos, em 1998.  A história de Maria da Penha Maia Fernandes  que lançou um livro contando o que sofreu nas mãos de seu marido, Marco Antônio Heredia Viveros, chegou até a Comissão de Interamericana de Direitos Humanos. Maria da Penha ficou paraplégica depois de levar um tiro do marido que, ainda, tentou eletrocutá-la na banheira. Em 2006, o Congresso Nacional aprovou a Lei Maria da Penha, considerada pela Organização das Nações Unidas, a terceira melhor lei de prevenção contra agressão doméstica. A lei  determina que se estabeleça uma política pública que vise a coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretriz maior a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação[/dropshadowbox]

Débora Dias afirma que ninguém pode julgar vítimas em situação de violência doméstica (foto: Maria Luiza Viana/Laboratório de Fotografia e Memória)
Débora Dias afirma que ninguém pode julgar vítimas em situação de violência doméstica (foto: Maria Luiza Viana/Laboratório de Fotografia e Memória)

Há ocorrências em que a polícia sabe que a vítima corre risco de vida e, mesmo assim, ela desiste de seguir com o processo. Hoje, segundo Débora, aumentou o número de denúncias de ameaças e diminuiu o número de lesões corporais. No entanto, ainda há casos graves que, sempre de forma reiterada, as vítimas acabam indo mais de uma vez à delegacia com denúncias violentas. “Quando ocorre violência física, a vítima não pode mais retirar a queixa e  quando há provas contra o agressor, o processo segue mesmo que ela queira desistir”, afirma a delegada. Prisões preventivas são dadas quando a vítima corre risco. Então, é emitido o pedido, e o agressor fica preso até decisão do juiz.

“É muito difícil alguém nessa situação vir denunciar, pelo fato de ser alguém com quem se vive, dorme junto. E por ser tão complicado, elas acabam voltando para o marido e não se resolve nada”, afirma Débora. Além das agressões físicas, como socos, chutes, tapas, a delegada atenta para comportamentos que também são violência, como desmerecimento moral. A assistência jurídica trabalha junto à vítima quando são casos de separação, dissolução da união estável.

 

Gráfico Violência Contra Mulher-01

 

Rede de apoio

Na delegacia, ao realizar o Boletim de Ocorrência, a vítima recebe apoio psicológico  de uma equipe de estudantes de psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA), que atua em parceria com a Delegacia da Mulher desde 2014. O projeto visa o acolhimento das mulheres que são vítimas de violência doméstica.

“Há então esse encaminhamento para nossa equipe. A partir daí nós trabalhamos com o empoderamento das vítimas,  geralmente, durante o Boletim”, explica a coordenadora do projeto, Patrícia Rosso. “Temos que ouvir as demandas da vítima, pois ela sofreu aquela agressão e precisa falar, desabafar sobre”, diz a psicóloga.  Nada é forçado sobre a vítima. Os estagiários conversam sobre as melhores opções, mas não é imposto. Segundo Patrícia, não adianta dizer ‘você precisa se separar’. “O trabalho da psicóloga é encaminhar, dizendo das possibilidades para sair da situação, com condições de contar com auxílios sociais e com a polícia. Tudo depende do desejo, pois não podemos obrigá-la. É um trabalho de conscientização da vítima, para que ela veja que pode sair do relacionamento”, explica a coordenadora.

Quando o casal possui filhos, a vítima e as crianças vão para o acompanhamento psicológico. Sempre vai haver um dano emocional, alerta a psicóloga. “É algo individual, claro, e pessoal do indivíduo que cresceu sob essa situação, mas há possibilidades de se reproduzir esse comportamento posterior, como algo internalizado”.

Violência psicológica

Xingamentos, desqualificações. “Ah, porque tu não consegues nem cuidar dos filhos”, “quando eu saio de casa não sei o que tu fazes”, frases que a vítima ouve do agressor, são abusos domésticos, classifica Patrícia Rosso. A mulher não trabalha porque o marido não quer, e então ela depende financeiramente dele para qualquer coisa, dado algum tempo, ele começa a desqualificá-la moralmente. “Ela é muito sutil, abstrata, e causa um terror psicológico muito grande”, explica a psicóloga.

Inclusive, manter a mulher em uma dependência física e financeira também se classifica como violência psicológica, segundo Patrícia. Por exemplo, quando o agressor alimenta a ideia de que a mulher não tem condição de sair de perto dele, de se sustentar sem ele. E ele vai mantendo essa fantasia dentro da vítima.

 

Violência psicológica é uma das agressões mais fortes, segundo a psicológica (foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)
Violência psicológica é uma das agressões mais fortes, segundo a psicológica (foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)

A dependência emocional

A dependência emocional é muito grande em casos de violência e é uma das mais fortes sob a vítima, afirma Patrícia. Se a vítima tem filhos com o marido isso também pesa na hora da denúncia. Segundo a psicóloga, o vínculo emocional de afeto, das expectativas que se gerou sobre o relacionamento, causa grande dependência e pode ser um dos motivos para a vítima não se separar. É preciso analisar cada caso, pode-se estar falando de uma pessoa que vem de um histórico de violência familiar, que cresceu vendo esses abusos, vendo a mãe sendo agredida pelo pai, ressalta a coordenadora. Então ela passa a ‘normalizar’ isso inconscientemente. É o que a psicologia chama de transgeracionalidade.

“É uma dependência extrema do agressor que faz ela ter medo de voltar, ou não pode voltar, pois precisa estar em casa cuidando dos filhos, porque ele não gosta que ela saia. Algumas vítimas chegavam e diziam ‘hoje consegui fugir algumas horas e vir’”.

A violência não é tida como algo normal para a vítima, porém é como se ela tivesse internalizado que o homem manda e a mulher obedece e ele usa a força para isso. Para Patrícia, é algo cultural.

 

(Imagem: divulgação/MEC)
(Imagem: divulgação/MEC)

Mulheres que lutam contra a violência de gênero e contra a submissão na sociedade atual comemoraram com fervor o tema de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ocorrido nos dias 24 e 25 deste mês. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) divulgou no início da tarde de domingo, após o fechamento dos portões dos locais de prova, o tema da redação “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Contendo dados estatísticos sobre a violência e abusos sofridos pelas mulheres e a consistência dos mesmos, a cartilha com as informações foi compartilhada nas redes sociais, com alegria, por feministas e militantes.

A professora do laboratório de redação do Curso e Colégio Objetivo Maria Aparecida Custódio afirmou ao G1 que o tema não deixou dúvidas e opções para defender a violência, visto que vai contra as normas dos Direitos Humanos e do edital da prova. “No ano em que o Enem propôs movimento migratório, ele dividiu os candidatos. Alguns foram mais a favor, outros acharam que ia ter falta de emprego no Brasil. No ano passado, com o tema da publicidade infantil, os candidatos também ficaram um pouco divididos. Por um lado, a publicidade ajuda a aquecer a economia, estimula o consumo, gera empregos. E tem o outro lado, o do estímulo ao consumo desenfreado, de não contribuir para a formação de cidadãos conscientes”.

(Imagem: divulgação/O Roubo da Pitangueira)
(Imagem: divulgação/O Roubo da Pitangueira)

A organização online Think Olga, que visa o empoderamento feminino, comemorou com seus seguidores a escolha do tema. “Neste momento, são 7,7 milhões de pessoas discorrendo sobre um tema essencial, mas sempre tratado como uma questão menor. Quem acompanha a Think Olga já estava preparada (o) – não apenas para tirar boas notas, mas para criar um país mais igualitário e justo”. Bem como a página O Roubo da Pitangueira, que postou dados sobre a violência doméstica contra a mulher, e depoimentos de meninas que fizeram o Exame Nacional. A repercussão do tema está gerando vários debates online, nas páginas e grupos feministas.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional e Secretaria de Políticas para as Mulheres, dos 332.216 mil casos de denúncia de violência delatados às varas especializadas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, apenas 33,4% desses casos foram julgados.
Em um país onde o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, restringe os direitos da mulher vítima de estupro ao atendimento emergencial do Sistema Único de Saúde e ao procedimento de aborto em caso de gravidez, o tema foi uma pequena vitória. 7,7 milhões de pessoas pensando e argumento sobre essa realidade tão assustadora e com dados alarmantes. O Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil revela que, de 2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou 17,2%, com a morte de mais de 48 mil brasileiras nesse período.

Laura ressalta as discussões que o tema está gerando nas redes sociais (foto: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)
Laura ressalta as discussões que o tema está gerando nas redes sociais (Foto: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)

A feminista Laura Lena Bastos, estudante de Artes Visuais da UFSM, considera que o tema tem de ser discutido com urgência. “Acredito que, antes de mais nada, foi um tema muito próximo da vida dos participantes do Enem. E convenhamos, é uma realidade horrenda que vivemos todos os dias, foi de extrema importância tratar deste tema, já que muitas escolas e famílias se recusam a tratar. Foi um incentivo a todos e todas de enfrentar o assunto. A repercussão que ele deu foi ótima para a discussão de gênero”, comemora.
A universitária Júlia Fleck, do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, afirma que temos hoje um Congresso completamente conservador no comando do nosso país – o qual aceitou a proibição da venda de pílulas do dia seguinte, o que deveria ser direito de todas as mulheres. Isto, somado ao fato de que mulheres ainda continuam sendo mortas apenas por serem mulheres, o tema veio a calhar e se encaixou perfeitamente na atual situação do país. “O feminismo é algo que tem que ser discutido, ao passo que as pessoas, em sua grande maioria, têm uma ideia errada do que o movimento realmente se trata. O machismo mata. O feminismo pode salvar vidas”.

Por  Bruna Germani, acadêmica de jornalismo

Anualmente, são registradas aproximadamente quatro mil e 800 ocorrências na Delegacia da Mulher de Santa Maria. Segundo a responsável pela delegacia, delegada Débora Dias, 90% dos casos envolvem violência doméstica, e metade das denúncias são lesões corporais e ameaças, seguidas de calúnia e difamação.

Embora os índices registrados de violência doméstica já sejam altos, nem todos os casos são denunciados. A delegada explica que muitas mulheres são coagidas e têm medo de denunciar. Os crimes mais graves como estupros e homicídios, não apresentam um alto número de registros na cidade. No entanto, quando acontecem, desencadeiam verdadeiros dramas familiares.

O caso de homicídio mais recente em Santa Maria vitimou Márcia da Rosa Rodrigues, 35 anos, morta pelo ex-marido com duas facadas. O crime ocorreu em fevereiro e deixou cinco filhos sem a mãe. Segundo reportagem do jornal Zero Hora, a cada 38 horas uma mulher sofre atentado à vida no Estado. Em 51% dos casos, o homem mata por não aceitar a separação.

Os casos envolvendo violência contra a mulher em Santa Maria devem ser denunciados junto à Delegacia da Mulher, ou pelos telefones 197, 180, e 3222-9646.

 

 

Na tarde da próxima segunda-feira, 11 de novembro, a Diocese Sul Ocidental, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), realiza o lançamento da Cartilha de Prevenção e Enfrentamento à Violência Doméstica Contra as Mulheres. O texto foi desenvolvido pelo Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD). Através da cartilha, a Igreja pretende colocar-se à disposição das autoridades envolvidas diretamente com a causa para, junto a essas instituições, prestar auxílio às vítimas e agressores.

O encontro ocorrerá às 17h, no Restaurante Divino, localizado na Avenida Rio Branco, Centro de Santa Maria. Além do Bispo Diocesano, o evento terá como convidadas a Drª. Débora Dias, titular da Delegacia da Mulher do município, e a Reverenda Elineide Oliveira, vinda de Rondônia, que contará a experiência com mulheres vítimas de violência, as quais ampara em uma casa de apoio na cidade de Ariquemes, no estado de Tocantins.

Após a reunião, a Igreja oferece um coquetel aos participantes. A comunidade santa-mariense está convidada para o lançamento.