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Rindo entre crises e paranoias – as nossas e as da Camila Fremder

O banho sempre foi um bom lugar para pensar né? Acho até que havia uma comunidade no Orkut para quem gosta de pensar durante o banho. Ok, havia uma comunidade para tudo no Orkut. Mas a questão é que bons pensamentos surgem no banho, ideias geniais, a lista do mercado e algumas paranoias. O problema é que pensar no banho não tem sido uma opção muito sustentável. Melhor juntar o canudo de inox, o copo reutilizável e as ecobags e ir procurar um novo lugar para pensar. A minha opção tem sido o ônibus, afinal 40 min em um percurso de 11km é um bom momento para pensar “#%#%$%, o que eu estou fazendo com a minha vida? O que está acontecendo com o mundo? Será que todo mundo está pensando a mesma coisa?”. Fique à vontade para escolher o meio de transporte mais ou menos precário de sua preferência. Cuidado com os patinetes.

O podcast está disponível no Spotify e não precisa ter conta premium para ouvir. Imagem arquivo pessoal Camila Fremder

Foi em um momento destes, olhando pela janela do ônibus há 30 minutos e sem parecer sair do lugar, que estava ouvindo o podcast “É nóia minha?”, da Camila Fremder. Que companhia seria melhor para as minhas viagens do que as paranoias de outras pessoas?

Camila é escritora, roteirista e agora podcaster. Em 2013, junto com a Jana Rosa, a autora publicou o livro “Como ter uma vida normal sendo louca” – meu primeiro contato com ambas. Anos depois, em 2015, a dupla publicou um novo livro intitulado “Enfim 30: Um livro para não entrar em crise”. A última publicação da autora foi o “Adulta sim, madura nem sempre: Fraldas, boletos e pouco colágeno”, de 2018. Todos os títulos são temperados com o bom humor e tiradas perspicazes, que também estão presentes em cada episódio do podcast e em tudo que a Camila faz. Dos livros aos stories intimistas contando que está prestes a começar o novo livro e o bebê Arthur está dormindo.

Depois de 9 km no ônibus, uma sinaleira congelada no vermelho e várias nóias depois, eu decidi que precisava conversar com a Camila Fremder. Escrevo muito sobre crises por aqui e apesar das tentativas de escapar do assunto, algo sempre surge. Por que não conversar com quem está refletindo sobre crises, comportamento e mudanças sociais? Alguém quer dar um palpite sobre qual é o tema do livro que ela está escrevendo?

Com vocês, Camila Fremder:

Como surgem as inspirações para as pautas do podcast?

São coisas que eu paro para pensar, que tenho curiosidade de conversar com outras pessoas e até já conversei em algum almoço ou mesa de bar. Também são temas que eu acho importante debater no momento, como os episódios que falam sobre leitura e rede de apoio. Eu senti uma necessidade de falar sobre rede de apoio, pois comecei a perceber que as pessoas não têm essa cultura, que eu vi em outros grupos. Essa cultura da rede de apoio é muito forte entre as mulheres negras e nós temos muito o que aprender.

As pessoas estão tendo mais crises esse ano?

Eu não sei. Acho que esse ano a gente está com mais motivos para entrar em crise. Muita coisa acontecendo na política e no governo, coisas tristes. Complicado falar sobre política, mas acho que está muito ligado. O momento econômico está complicado, todo mundo fica mais apreensivo e de repente não está fechando a conta. Mas eu acho que tem um lado muito positivo na crise. As pessoas começam a se reinventar e foi o que falamos no podcast sobre leitura. As editoras encontraram na crise uma necessidade de buscar outras formas de vender.

O lado bom da internet é a paranoia compartilhada?

Eu acho maravilhoso a internet! Eu jogo lá a minha nóia e quando vejo tem um monte de gente que compartilha a mesma nóia, então a gente não se sente sozinho.  Sobre o episódio do podcast “Todo mundo tem crush imaginário?”, um monte de gente falou que só elas inventavam papo imaginário com o Selton Mello. Acho que é um alivio para as pessoas quando eu lanço uma nóia dessas, que a maioria das pessoas teria vergonha de falar. Não pode ter medo de se sentir julgado. Lógico, tem as outras pessoas que falam “nossa, acho que você pirou!”. Eu acho sempre divertido.

Qual paranoia você eliminaria da vida sem dó?

Eu eliminaria as nóias de preocupação. Quando vira mãe você fica muito preocupada das coisas darem certo. Programei uma viagem de fim de semana com o Arthur, dai antes de dormir fico pensando “E se ele ficar resfriado? E se for picado por um bicho? E se ele bater o dente?”. Esse tipo de pensamento aparece muito quando você é mãe. Preciso fazer um podcast sobre paranoias absurdas. Será que todo mundo tem medo de estar em um date e peidar?

Por qual crise todas as pessoas deveriam passar uma vez na vida?

Eu sou mega a favor das crises! Meu próximo livro, que vai ser publicado ano que vem, vai ser sobre crise. É na crise que a gente cresce, se reinventa e sai de uma situação de desconforto. Sou super a favor de passar por elas, eu passei por várias! Tirando crises de pânico, sempre tento ver algo positivo.

 

 

Arcéli Ramos é jornalista egressa da UFN. Repórter da Agência Central Sul em 2015. Com pesquisas na área jornalismo literário e linguagem, hoje também estuda “Pesquisa de tendências”. É colaboradora na New Order, revista digital na plataforma Medium, e produz uma newsletter mensal

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O banho sempre foi um bom lugar para pensar né? Acho até que havia uma comunidade no Orkut para quem gosta de pensar durante o banho. Ok, havia uma comunidade para tudo no Orkut. Mas a questão é que bons pensamentos surgem no banho, ideias geniais, a lista do mercado e algumas paranoias. O problema é que pensar no banho não tem sido uma opção muito sustentável. Melhor juntar o canudo de inox, o copo reutilizável e as ecobags e ir procurar um novo lugar para pensar. A minha opção tem sido o ônibus, afinal 40 min em um percurso de 11km é um bom momento para pensar “#%#%$%, o que eu estou fazendo com a minha vida? O que está acontecendo com o mundo? Será que todo mundo está pensando a mesma coisa?”. Fique à vontade para escolher o meio de transporte mais ou menos precário de sua preferência. Cuidado com os patinetes.

O podcast está disponível no Spotify e não precisa ter conta premium para ouvir. Imagem arquivo pessoal Camila Fremder

Foi em um momento destes, olhando pela janela do ônibus há 30 minutos e sem parecer sair do lugar, que estava ouvindo o podcast “É nóia minha?”, da Camila Fremder. Que companhia seria melhor para as minhas viagens do que as paranoias de outras pessoas?

Camila é escritora, roteirista e agora podcaster. Em 2013, junto com a Jana Rosa, a autora publicou o livro “Como ter uma vida normal sendo louca” – meu primeiro contato com ambas. Anos depois, em 2015, a dupla publicou um novo livro intitulado “Enfim 30: Um livro para não entrar em crise”. A última publicação da autora foi o “Adulta sim, madura nem sempre: Fraldas, boletos e pouco colágeno”, de 2018. Todos os títulos são temperados com o bom humor e tiradas perspicazes, que também estão presentes em cada episódio do podcast e em tudo que a Camila faz. Dos livros aos stories intimistas contando que está prestes a começar o novo livro e o bebê Arthur está dormindo.

Depois de 9 km no ônibus, uma sinaleira congelada no vermelho e várias nóias depois, eu decidi que precisava conversar com a Camila Fremder. Escrevo muito sobre crises por aqui e apesar das tentativas de escapar do assunto, algo sempre surge. Por que não conversar com quem está refletindo sobre crises, comportamento e mudanças sociais? Alguém quer dar um palpite sobre qual é o tema do livro que ela está escrevendo?

Com vocês, Camila Fremder:

Como surgem as inspirações para as pautas do podcast?

São coisas que eu paro para pensar, que tenho curiosidade de conversar com outras pessoas e até já conversei em algum almoço ou mesa de bar. Também são temas que eu acho importante debater no momento, como os episódios que falam sobre leitura e rede de apoio. Eu senti uma necessidade de falar sobre rede de apoio, pois comecei a perceber que as pessoas não têm essa cultura, que eu vi em outros grupos. Essa cultura da rede de apoio é muito forte entre as mulheres negras e nós temos muito o que aprender.

As pessoas estão tendo mais crises esse ano?

Eu não sei. Acho que esse ano a gente está com mais motivos para entrar em crise. Muita coisa acontecendo na política e no governo, coisas tristes. Complicado falar sobre política, mas acho que está muito ligado. O momento econômico está complicado, todo mundo fica mais apreensivo e de repente não está fechando a conta. Mas eu acho que tem um lado muito positivo na crise. As pessoas começam a se reinventar e foi o que falamos no podcast sobre leitura. As editoras encontraram na crise uma necessidade de buscar outras formas de vender.

O lado bom da internet é a paranoia compartilhada?

Eu acho maravilhoso a internet! Eu jogo lá a minha nóia e quando vejo tem um monte de gente que compartilha a mesma nóia, então a gente não se sente sozinho.  Sobre o episódio do podcast “Todo mundo tem crush imaginário?”, um monte de gente falou que só elas inventavam papo imaginário com o Selton Mello. Acho que é um alivio para as pessoas quando eu lanço uma nóia dessas, que a maioria das pessoas teria vergonha de falar. Não pode ter medo de se sentir julgado. Lógico, tem as outras pessoas que falam “nossa, acho que você pirou!”. Eu acho sempre divertido.

Qual paranoia você eliminaria da vida sem dó?

Eu eliminaria as nóias de preocupação. Quando vira mãe você fica muito preocupada das coisas darem certo. Programei uma viagem de fim de semana com o Arthur, dai antes de dormir fico pensando “E se ele ficar resfriado? E se for picado por um bicho? E se ele bater o dente?”. Esse tipo de pensamento aparece muito quando você é mãe. Preciso fazer um podcast sobre paranoias absurdas. Será que todo mundo tem medo de estar em um date e peidar?

Por qual crise todas as pessoas deveriam passar uma vez na vida?

Eu sou mega a favor das crises! Meu próximo livro, que vai ser publicado ano que vem, vai ser sobre crise. É na crise que a gente cresce, se reinventa e sai de uma situação de desconforto. Sou super a favor de passar por elas, eu passei por várias! Tirando crises de pânico, sempre tento ver algo positivo.

 

 

Arcéli Ramos é jornalista egressa da UFN. Repórter da Agência Central Sul em 2015. Com pesquisas na área jornalismo literário e linguagem, hoje também estuda “Pesquisa de tendências”. É colaboradora na New Order, revista digital na plataforma Medium, e produz uma newsletter mensal