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Fogo na Amazônia

É até difícil de acreditar que um grupo de pessoas foi capaz de definir um “dia do fogo”; mais difícil ainda é imaginar quais as reais intenções. A Polícia Federal ainda está investigando o caso, mas

A solitude em tempos conectados

O celular despertou. Você acordou, destravou o alarme, deslizou a tela e começou a rolar o feed. Após alguns minutos, entre ver notificações, responder conversas e ver o que seus amigos fizeram na noite passada, você

O efeito RuPaul’s Drag Race e a ascensão das Drag Queens

RuPaul’s Drag Race é um reality show estadunidense apresentado pela drag queen RuPaul. Desde 2009 na televisão, a cada edição um grupo de drag queens dos Estados Unidos é selecionado para a disputa. Na competição elas

Os buracos da cidade são velhos conhecidos

Que os buracos não são mais novidade, todos os santa-marienses sabem. Esse assunto faz parte do cotidiano há muitos anos. Se pesquisarmos pelos sites e jornais da região, veremos que esse assunto é um velho conhecido.

Qual o seu estilo? É sustentável?

A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, aos poucos, algumas empresas começaram a perceber a necessidade de mudança. Tem surgido novas marcas  preocupadas com o impacto ambiental e a ética, mas

Por que fazemos o que fazemos?

Sempre fui uma pessoa do jornalismo, apesar de ter demorado para perceber. Algo sobre o tempo no jornalismo sempre me incomodou. Adianto que o incômodo era totalmente enquanto leitora. A posteriori, como jornalista, as coisas mudaram

Julho é o novo mês da sobrecarga da Terra

A cada ano a data da sobrecarga da Terra tem sido mais cedo. Desde a década de 1970, a demanda anual de recursos excede o que a Terra pode se regenerar. Usamos o equivalente a 1,7

Consumir de forma sustentável é uma necessidade

O conceito de sustentabilidade ainda é bastante discutido e passou a ser utilizado de forma banalizada nos últimos anos. O significado está relacionado com a sobrevivência envolvendo recursos naturais, desenvolvimento econômico e a própria sociedade. A

A leveza de ser

Há um clima de cansaço crônico pairando no ar. Um clima de fog denso e de dias cinzentos que pesam o ar e obscurecem os pensamentos. É na política, é no trabalho, é na vida… as

É até difícil de acreditar que um grupo de pessoas foi capaz de definir um “dia do fogo”; mais difícil ainda é imaginar quais as reais intenções. A Polícia Federal ainda está investigando o caso, mas é fato que no dia 10 de agosto de 2019 os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) identificaram um aumento significativo de incêndios no estado do Pará. As regiões com maior aumento de fogo têm proximidade, não por acaso, com uma rodovia, a BR-163, das cidades Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu.

A fumaça da região também foi identificada pelos satélites da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, a NASA – agência do Governo Federal dos Estados Unidos. As imagens da NASA confirmam que é o período de incêndio mais ativo desde 2010 e que, desde julho, tem aumentado significativamente.

A situação é tão surreal que o “convite” para a ação foi publicado no jornal local (de Novo Progresso, PA). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, conhecido como IBAMA, e o Ministério Público afirmam que informaram o governo federal, mas nada foi feito. Não houve prevenção, não houve sequer o aumento de fiscais na região no período. O IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), principais órgãos ambientais, fazem parte da lista das instituições que já estão com orçamento ameaçado devido aos últimos bloqueios orçamentais anunciados pelo governo. Ambos correm o risco de não ter recursos suficientes até o fim deste ano.

É preciso deixar claro que incêndios não são naturais do ecossistema da maior floresta tropical do mundo. Apesar do período de seca, os fogos são provocados por humanos, acidentalmente ou propositadamente. O número de incêndios registrados subiu mais de 82% em 2019 comparado com o mesmo período do ano passado, segundo dados do INPE.

Empresas internacionais já começaram a se mobilizar com boicote a compra de couro brasileiro em forma de protesto contra os incêndios na Amazônia. A gigante cadeia americana VF Corporation – dona da Vans, Kipling, Timberland, The North Face, Napapijri, entre outras marcas – declarou que enquanto não houver segurança sobre a fonte da matéria-prima do Brasil não vai compactuar com esse mercado.

Amazônia em chamas. Foto: Ria Sopala/ Pixabay

As manifestações chamaram a atenção para a grave situação da Amazônia a nível mundial. Mas de acordo com estudos do Programa de Queimadas do INPE, o Cerrado, bioma que cobre um quarto do território nacional brasileiro, teve 30% de todos focos os registrados este ano. Situação tão ou mais grave está o bioma Pantanal que teve registro de aumento de 334% no número de incêndios, entre 1º de janeiro a 11 de setembro, deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. O estado do Mato Grosso, que abriga os biomas da Amazônia, Cerrado e Pantanal, tem número de incêndios superior ao do estado do Pará e decretou em agosto, estado de emergência.

Ao contrário do que se tem argumentado pelo governo, existe correlação entre desmatamento e queimadas. A estiagem na região também está mais branda do que nos anos anteriores e as queimadas nos estados de Rondônia e Roraima aumentaram mais do que o dobro do que o ano passado. Dados do INPE, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e da Universidade Federal do Acre, revelam que entre os dez municípios que registraram maior número de incêndios, sete deles também estão na lista dos municípios com mais alertas de desmatamento.

Segundo informações da Procuradoria-Geral da República, algumas das áreas queimadas em 2019, na Amazônia, já tinham registro no Ministério Público Federal por exploração ilegal entre 2016 e 2017, e os “desmatadores” notificados na Justiça. Ou seja, apesar das notificações continuam a explorar, desmatar e a queimar as mesmas áreas.

Além disso, a partilha de informação nas redes sociais tem disseminado grande volume de conteúdo. Contudo, é preciso esclarecer que a Amazônia não é o pulmão do mundo e não pertence somente ao Brasil. O território da floresta está, além do Brasil, no Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, a área corresponde a 5,5 milhões de km².

Foto:Pioordozgoith/Pixabay

A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade, abriga o maior rio do mundo, tanto em extensão quanto em volume de água, que é o Amazonas. Estima-se que cerca de 20% da água doce do planeta circulam na bacia amazônica. A importância das árvores é inegável, em condições normais, elas retiram gás carbônico (CO2) e devolvem oxigênio (O2), processo conhecido como fotossíntese, a manutenção da floresta é fundamental para o clima, mas a floresta consome quase todo o oxigênio que produz. Já as algas marinhas, no mesmo processo de fotossíntese, devolvem para a atmosfera volume muito maior de O2, elas podem assim ser consideradas o “pulmão do mundo”. A principal ameaça contra as algas atualmente é o aquecimento das águas marinhas e a poluição.

No caso das florestas, e dos demais biomas brasileiros, as ameaças são várias e as consequências vão além da perda da biodiversidade local e das povoações indígenas e ribeirinhas. “Quando uma grande árvore morre, a chuva na floresta muda” narrou a jornalista Sônia Bridi na série de reportagens “Terra, que tempo é esse?” que resultou no livro “Diário do Clima” (2012), “as árvores mortas, vão liberar carbono durante anos”. No livro “A vida secreta das árvores” (2017), de autoria do engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben, é possível entender a importância de um grupo de árvores e o quanto elas agem “em comunidade”, para quem tiver interesse em saber um pouco mais sobre esse processo.

O número de incêndios de 2019 aponta o crescimento nos últimos dez anos, mas não é recorde histórico (ao menos no primeiro semestre). São vários fatores que estão diretamente relacionados com o desmatamento. O pico histórico é em 1995 devido ao início do Plano Real – hiperinflação, aumento poder de consumo e corrida por ativos, basicamente por terras, especulação fundiária. O desmatamento cresceu entre 1997 e 2002 junto com o preço de matérias-primas, com destaque para o gado. O pico de 2004 estava relacionado com o preço de commodities. Em 2010, o maior problema foi a seca, mas também foram registrados incêndios em importantes parques florestais como o Parque Nacional das Emas, em Goiás e a Área de Proteção Ambiental Meandros do Rio Araguaia, na divisa de Goiás com Mato Grosso e Tocantins.

 Os níveis baixaram com recorde histórico em 2012 devido a dois fatores principais: restrição de crédito a produtores infratores e aumento da fiscalização do Ibama, segundo dados Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal, do INPE. A pesquisa comparou dados do “calendário do desmatamento”, relacionando períodos de chuva, atividades agrícolas, apesar de um aumento no valor das matérias-primas.

Em 2019, o Ibama registrou um terço a menos de multas a infratores ambientais comparativamente ao mesmo período do ano passado. Desta vez, ainda não há indícios de que a alta no desmatamento e incêndios tenha relação com alguma corrida para comprar terras nem ciclos econômicos do valor das matérias-primas, como carne de gado e soja. Resta aguardarmos o parecer e torcer para que seja feita alguma mudança, nem que seja através do apelo mundial.

 

 

 Por Alice Dutra Balbé,  doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

O celular despertou. Você acordou, destravou o alarme, deslizou a tela e começou a rolar o feed. Após alguns minutos, entre ver notificações, responder conversas e ver o que seus amigos fizeram na noite passada, você levanta. Prepara o café, tira uma foto da mesa, publica e, então, faz sua refeição. Ao sair de casa, coloca o celular no bolso. Na parada do ônibus confere as visualizações do seu último post. Durante o trajeto do ônibus, os olhos quase não acompanham o passar das informações que percorrem a tela. Na fila do banco, o sinal cai e uma sensação estranha faz você se sentir angustiado, ansioso. Por alguns minutos você está desconectado, sozinho. Mas será que antes disso você já não estava só?

A solidão é um tema que faz parte das nossas discussões. Seja uma reportagem na televisão, uma matéria de jornal, pesquisas acadêmicas, livros ou até no cerne de um comentário feito por algum amigo ou familiar. Fazemos parte de uma espécie gregária, ou seja, vivemos em grupo, em que é necessário para o nosso desenvolvimento e evolução viver em coletividade. Portanto, discutir nossa relação com os demais e conosco mesmo, nossos movimentos de aproximação e isolamento, fazem parte das nossas reflexões sobre a vida em sociedade.

Antes de nos sentirmos pertencentes a um grupo, é necessário sentirmos pertencentes a nós mesmos (Imagem: Getty Images)

Ao longo do tempo novos fatores e questões retomam esse assunto e nos últimos anos é possível observar que a solidão ganhou uma perspectiva de análise, ligada a uma nova forma de estabelecimento de vínculos, o virtual. Por meio das mídias sociais e dos avanços tecnológicos dos dispositivos móveis, vivemos um momento em que estamos a um toque de distância de qualquer pessoa, podendo ter centenas, milhares de seguidores e criar diversas conexões.

Segundo os dados disponibilizados pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) em 2018, o Brasil já chegou há mais de 42 milhões de domicílios com acesso à internet, totalizando mais de 120 milhões de usuários. O departamento ainda destacou que as principais atividades feitas online estão ligadas à comunicação, correspondendo 90%  a serviços de mensagens e 77% a mídias sociais.

A partir das nossas próprias experiências, somadas aos dados dessa pesquisa, sem dúvidas, podemos afirmar que nunca estivemos tão conectados assim uns com outros. Entretanto, uma das questões emergentes desse cenário é o quanto realmente estamos estabelecendo conexões reais com as outras pessoas e, principalmente, com nós mesmos.

Se você abrir uma nova guia no seu navegador agora e pesquisar “redes sociais+solidão”, irá encontrar inúmeros artigos e reportagens, denotando que institutos e pesquisadores já realizam investigações sobre essa relação. Entre esses nomes está o de  Sherry Turkle, professora de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia no Massachussets Institut of Technology (MIT) e doutora em Psicologia da Personalidade. Desde a década de 80 ela estuda os impactos subjetivos da tecnologia. Quando Sherry ingressou no MIT propôs um outro olhar sobre a ligação dos indivíduos com a tecnologia. A pesquisadora trouxe uma reflexão sobre como esses dispositivos ultrapassam a ideia de uma simples ferramenta de comunicação, mas alteram a forma de nos relacionar com os outros, conosco mesmo e com o meio em que vivemos.

Durante os mais de 20 anos de estudos, e quatro livros lançados sobre a temática, Sherry vem avançando sua reflexão acerca do nosso comportamento até o universo online, com as mídias sociais. Há uma preocupação não ligada, diretamente, ao avanços dos meios de comunicação, mas a forma como estamos utilizando esses dispositivos. Estamos perdendo nossa habilidade de estarmos sozinhos e de nos sentirmos bem nessa condição, tornando a solidão cada vez mais evidente.

Há alguns anos, o ambiente virtual proporcionava uma interação temporária. Após algum tempo conectados, fazíamos logout e voltávamos a nossa rotina no espaço físico. Atualmente, o real e o online ocupam o mesmo espaço em nosso dia a dia. Há situações em que o cibernético se sobrepõe ao offline. Conforme Sherry, um dos fatores pelos quais as pessoas preferem o contato virtual está ligado ao poder que temos, literalmente, nas nossas mãos de nos apresentarmos aos outros. Estamos no controle do que iremos mostrar, de que forma iremos fazer isso, realizando um recorte de nós mesmos. Trabalhamos como editores, utilizando filtros, escrevendo e reescrevendo textos antes de responder a mensagens. “Podemos acabar nos escondendo uns dos outros, mesmos que estejamos conectados uns dos outros constantemente”, enfatiza a estudiosa.

Imagem de Jose Antonio Alba por Pixabay

Assim, nos tornamos mais vulneráveis no contato real com outras pessoas. No mundo concreto não temos tempo para editar o retorno, tudo ocorre em tempo real, as respostas são instantâneas. E são nesses momentos que realmente conhecemos o outro e nós mesmos, nos momentos em que gaguejamos, ficamos sem respostas, tropeçamos nas palavras. Além disso, o contato físico é vital para nós, seres gregários. Um abraço, um beijo, um aperto de mãos libera hormônios importantes, como a ocitocina – ligada a sensação de segurança e bem estar, estimulada ainda no útero materno. O toque, o afeto são importantes para nossa saúde corporal e mental.

Com isso, cada vez mais isolados dos vínculos físicos, sentimos a necessidade de receber atenção de alguém, e as redes sociais surgem como uma forma de nos mostrarmos a muitas pessoas, de não nos sentirmos sozinhos, de que estamos sendo ouvidos. Assim, a demanda pelo compartilhamento de nossas experiências para serem validadas cresce. Nos pequenos momentos em que nos percebemos sozinhos, sentimos uma sensação desconfortável, de ansiedade, abandono e o celular surge como uma ferramenta que irá nos salvar da terrível companhia de nós mesmos.

O estar sozinho ganhou um peso negativo na sociedade conectada. Estabelecemos nosso próprio isolamento. Os momentos em que estamos sozinhos deveriam ser momentos de autoconhecimento e auto reflexão, de nos conhecermos melhor, desfrutar da nossa companhia. Essa perda de habilidade acaba também respingando na forma como nos relacionamos com os outros, pois buscamos em nossas conexões pessoas, apenas, para suprir nossa sensação de solidão. “Esperamos mais da tecnologia e menos do outro[…]A tecnologia nos atrai mais quando estamos vulneráveis. E nós somos vulneráveis. Estamos sozinhos, mas receamos a intimidade”, disse Sherry Turkle durante uma palestra no TED Talks.

Confesso que conheci o termo solitude há poucos anos, mas o conceito já era familiar. Alegria e prazer em estar sozinho, sem sentimento de falta, mas de realização, plenitude. Desfrutei somente da minha companhia inúmeras vezes. Lembro que há algum tempo isso era incrível, me sentia bem, contemplava dos mais simples momentos até grandes reflexões só. Entretanto, experimentar essa mesma sensação tem sido cada vez mais difícil e percebo que outras pessoas também passam pelo mesmo. Li inúmeros relatos, inclusive, nas mídias sociais, sobre esse sentimento de desconexão, de não se sentir mais pertencente a um grupo ou espaço, ligado ou não ao isolamento físico, mas a sensação de estar deslocado, a solidão.

As mídias sociais podem ser grandes pontes de ligação e estabelecimento de diferentes conexões. O ponto crucial aqui é busca pelo equilíbrio. Inclusive, é possível visualizar um movimento de diálogo entre as pessoas sobre a solidão. Em grupos de conversas, tweets, posts no Facebook e Instagram o questionamento sobre o próprio uso dessas redes vem ganhando espaço. Não será com um toque que uma chave virará e tudo passará a ser diferente, mas precisamos iniciar um processo de percepção, reflexão e ação. Nossa relação com as mídias sociais e dispositivos de comunicação ainda é recente. Não podemos abandonar a solitude, pois os movimentos de interiorização são importantes para nosso autoconhecimento e para uma boa qualidade de nossas conexões com os demais.

 

 

Paola Saldanha é egressa do curso de Jornalismo da UFN. Acredita em uma narrativa com protagonismo de diferentes vozes e espaços, uma leitura plural de vidas plurais

RuPaul’s Drag Race é um reality show estadunidense apresentado pela drag queen RuPaul. Desde 2009 na televisão, a cada edição um grupo de drag queens dos Estados Unidos é selecionado para a disputa. Na competição elas são submetidas a provas que testam desde suas habilidades com maquiagem e figurino, até o talento com a dança, atuação e canto. A vencedora recebe um prêmio em dinheiro e o título de “America’s Next Drag Superstar”. Desde a sua estreia, há 10 anos, RuPaul já elegeu 16 artistas que receberam a tão sonhada coroa do universo drag.

O programa já exibiu 11 temporadas regulares, além do RuPaul’s Drag Race All Stars, spin-off que dá uma segunda chance as ex-competidoras e teve a sua 5ª temporada gravada recentemente. A proposta de Drag Race se tornou um sucesso nos EUA e fora dele. Efeito disso é a ascensão da cultura drag, chegando em lugares nunca antes ocupados. Historicamente marginalizadas, hoje as drag queens conquistam cada vez mais espaço na mídia e versões do reality show despontam em outros países.

A responsável pelo programa, RuPaul, além de apresentadora, é modelo, cantora, compositora, atriz e escritora. A drag queen pode ser considerada umas das grandes responsáveis em popularizar a arte do tranformismo no mundo contemporâneo. Desde sua primeira aparição como modelo, ela já protagonizou grandes campanhas publicitárias, lançou livros, linhas de maquiagem, perfumes e até barra chocolate. Também foi a primeira drag a ter um programa na televisão, o The RuPaul Show, transmitido pela VH1 entre 1996 e 1998.

Em 2009, depois de uma pausa de mais de 10 anos como apresentadora, RuPaul volta a televisão. Com o reality show RuPaul’s Drag Race, ela leva aos telespectadores a arte drag, proporcionando um novo olhar para a cultura pop LGBTQ+. O programa também promoveu debates sobre questões de gênero, política, família e outros aspectos que perpassam a comunidade queer.

O sucesso do reality foi imediato nos Estados Unidos, alcançando altos índices de audiência. Nos últimos anos o programa ganhou algumas versões fora do país. A primeira foi em 2015, o The Swicht Drag Race, no Chile, que já contabiliza com duas edições. Em 2018 foi a vez da Tailândia com o Drag Race Thailand, que finalizou a segunda temporada esse ano. Em outubro, estreia a primeira temporada do Reino Unido, o RuPaul’s Drag Race UK, que será apresentado por RuPaul. Além desses países, o Canadá e a Austrália já confirmaram as suas versões, sem datas de estreias definidas..

Esses números retratam o quanto RuPaul expandiu a cultura drag queen nos últimos anos. Nas redes sociais, grandes fanbases são formadas. As drag queens, campeãs ou não de suas edições, são tratadas como verdadeiras celebridades. No Instagram, por exemplo, cerca de 25 ex-competidoras já ultrapassaram o número de 1 milhão de seguidores. Em 2018, o programa ganhou o Emmy de melhor programa de reality, uma das maiores premiações da televisão mundial.

No Brasil, a difusão de Drag Race pela internet, provocou um novo olhar para essa arte. Efeito disso são as inúmeras drag queens que despontaram na internet, televisão e na música após o sucesso do programa no país. Pabllo Vittar é um exemplo desse fenômeno. A drag contou em entrevista que se montou pela primeira vez após assistir o reality. O sucesso de Pabllo no país, desencadeou um novo nicho musical, o Drag Music. Gloria Groove, Aretuza Lovi e Lia Clark também são algumas drag queens cantoras que surgiram a partir desse efeito.

RuPaul’s Drag Race impactou e modificou a forma de enxergar essas artistas. Se hoje o Brasil é um dos maiores consumidores da arte drag, RuPaul é uma das grandes responsáveis por esse feito. O sucesso de Pabllo e de outras drag queens na música, por exemplo, é um reflexo da ascensão da cultura drag. A influência do reality pode até ser vista como um processo de globalização nesse meio. A partir do programa, a arte foi ressignificada, servindo como uma referência para a expressão de habilidades e comportamento. Drag queens “nascem” a partir de RuPaul’s Drag Race.

Esse efeito da ascensão drag no Brasil, pode ser visto em Santa Maria também. Ao fazer uma busca nas redes sociais, encontrei cerca de 50 perfis de drag queens que atuam por aqui. Comparado às grandes cidades e levando em conta o contexto de um município interiorano, Santa Maria pode ser considerada um reduto drag. Há alguns anos atrás, esse número era bem reduzido.

A celebração da arte drag queen no mundo, está apenas começando, na medida em que a cada dia o reality ganha novos fãs. RuPaul’s Drag Race já está há 10 anos nos Estados Unidos, e só agora ganhou versões em outros países. O programa serviu como um espaço para consolidar a arte drag por lá, expandindo para outros lugares aos poucos. Hoje a cultura drag alcançou prestígio inimaginável há algum tempo, para um comunidade que sempre foi marginalizada.

RuPaul’s Drag Race, assim como Pabllo Vittar aqui no Brasil, são símbolos da conquista e da visibilidade da cultura LGBTQ+ na mídia. Esse processo de consolidação da arte drag ainda é recente, mas desponta como a legitimação de um movimento. Ser drag queen está além da maquiagem e das roupas, mas é um ato político e de resistência frente a uma sociedade conservadora e heteronormativa.

Deivid Pazatto é jornalista egresso da UFN, pós-graduando em Estudos de Gênero na UFSM e militante do movimento LGBTQ+. Foi repórter da Agência Central Sul e monitor do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa) durante a graduação.

Que os buracos não são mais novidade, todos os santa-marienses sabem. Esse assunto faz parte do cotidiano há muitos anos. Se pesquisarmos pelos sites e jornais da região, veremos que esse assunto é um velho conhecido.

São buracos que foram abertos por conta de descuidos com a rua ou para manutenções. Quem não esquece deles são os moradores, que precisam conviver com o problema que afeta a rotina de todos na cidade.

Um exemplo de descaso foi na rua Demétrio Ribeiro, no bairro Duque de Caxias, onde os moradores pintaram com tinta branca 199 buracos, sinalizando-os como uma forma de protesto, chamando a atenção das autoridades para o problema. Eles têm protocolos abertos na prefeitura, mas sempre ficam sem respostas concretas de uma data para os reparos.

Os anos passam, a administração do município muda, mas os buracos continuam lá, apenas trocam de lugar ou de tamanho. Em uma entrevista concedida ao vivo no programa Jornal do Almoço no dia 17 de maio, aniversário de Santa Maria, o prefeito da cidade falou sobre os problemas de asfaltamento e as medidas que estavam sendo tomadas pela prefeitura para resolver esse problema.

Ele disse que a prefeitura trabalha na recuperação de diversas ruas. Tudo bem, podemos perceber os operários trabalhando pelas ruas. Mas, o que está sendo feito de forma emergencial, “tapando buracos”, irá resolver o problema?

Não é tão caro assim manter mais equipes e gastar um pouco a mais de massa asfáltica para manter as ruas em condições de trafegar. Existe a possibilidade de cortar verbas de outras áreas e até mesmo diminuir gastos com os Cargos em Comissão (CCs) para comprar mais asfalto.

Isso ajudaria a diminuir os danos materiais causados aos motoristas, como pneus estourados e rodas amassadas. As crateras podem causar sérios acidentes e colocar vidas em risco. De imediato irá ficar bom, mas com o tempo, as chuvas e o tráfego de veículos, abririam novas crateras, fazendo com que o trabalho realizado seja perdido e o dinheiro utilizado jogado fora. Não merecemos ostentar o título de cidade dos buracos, afinal de contas nós somos a Cidade Cultura, Cidade Universitária e Coração do Rio Grande.

Redação: Maristela Santos

Texto opinativo produzido para a disciplina de Jornalismo II sob a orientação do professor Carlos Alberto Badke

A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, aos poucos, algumas empresas começaram a perceber a necessidade de mudança. Tem surgido novas marcas  preocupadas com o impacto ambiental e a ética, mas ainda muitas empresas utilizam do greenwashing – termo em inglês para “lavagem verde” – para agradar consumidores mais desatentos. Essa estratégia utiliza de termos da área da sustentabilidade, ou “eco”, para enganar o consumidor, sem cumprir na prática. Não é fácil se desvencilhar de estratégias como essas. Por isso, mais uma vez, a melhor escolha passa pela conscientização na compra.

Consumir é um ato político (não partidário) que envolve escolhas éticas com relação à produção, às condições de trabalho – do plantio até a confecção das peças, a legislação trabalhista e o comércio justo. O maior volume de informação fez crescer o número de consumidores mais exigentes e, com isso, mais oportunidades de emprego. Tem crescido a adesão ao mercado de roupas de segunda-mão, a procura por produtos menos poluentes ou que reaproveitem sobras de tecido e, ainda, que não prejudiquem os animais. A tecnologia também tem permitido desenvolver novos tecidos a partir de fibras vegetais como calçados, utilizando fibra de abacaxi e plástico retirado do mar.

Além disso, novos movimentos relacionados com o consumo tem se tornado mais conhecidos como o minimalismo. O termo se disseminou, principalmente, a partir do documentário lançado em 2015 pelo Netflix Minimalismo: um documentário sobre as coisas que importam (do original Minimalism: A documentary about the important things, direção de Matt D’avella), sobre dois amigos americanos (Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus) que mudaram o estilo de vida. Apesar de o minimalismo ser um conceito muito abrangente e que cada pessoa pode encontrar uma identificação, ou seja, o que é essencial para cada um, tem sido bastante discutida a relação com o vestuário. Assim, surgem outros termos como o “armário-cápsula” e muitos mitos e estereótipos envolvendo esse estilo.

A consultora de Estilo e Imagem pela Universidade Complutense de Madri, Mariê Perini explica que quando se fala em consumo sustentável “além de se ter consciência dos produtos que estamos comprando e da origem deles, saber aproveitá-los ao máximo, levando em consideração o tempo de vida útil deles, é de extrema importância”. Mariê refere que estamos passando por um momento de ressignificação nessa questão ambiental que vai além dos compradores e já chega, inclusive, a grandes cadeias produtoras como a Zara, que tem uma proposta de readequação prevista até 2025.

A indústria do fast fashion – a área que mais explora e polui – ao produzir várias coleções por temporada a baixo-custo, estimula ainda mais o consumismo. Atualmente, outras ferramentas como compras online, as redes sociais, as novelas, entre outros fatores, também contribuem para o “desejo de compra”. Mas será que precisamos de tantas peças? Ao ser questionada sobre qual o segredo para um “bom guarda-roupas”, Mariê não hesita: “O maior segredo de todos eu costumo dizer que é o autoconhecimento! Saber o que você gosta e o que não gosta, saber se aquela peça faz sentido pra sua realidade diária, saber se ela é versátil dentro do seu guarda-roupa, se ela coordena com outras peças que você já tem. O ter muitas peças não significa absolutamente nada se você não souber coordenar as peças entre si e não souber fazer um bom uso delas. Um bom guarda-roupa coordenado pode se fazer de 30/40 peças. O meu trabalho é justamente sobre a questão do autoconhecimento, do consumo consciente”.

Ao se falar em números, muita gente se assusta com a proposta de redução nas peças. A consultora ressalva que qualquer pessoa, em qualquer profissão, pode ter um armário-cápsula pois podem ser criadas combinações para auxiliar na hora de se vestir de maneira mais rápida. Mariê cita o empresário Mark Zuckerberg, um dos fundadores do Facebook, como exemplo de armário-cápsula, ele usa apenas dois tons de cinza nas suas camisetas. O principal fator é a economia de tempo na hora de se vestir buscando “objetividade e praticidade”. Desta forma: “Pensa-se em um número x de peças se a cliente pedir (ex. eu quero um armário-cápsula com 40 peças). Vale lembrar que nesse número não entram acessórios e calçados. Sempre levando em consideração que as peças se coordenem entre si. Essa é a base e também a definição. Para que isso funcione o ideal é que as peças sejam de melhor qualidade e, consequentemente, de maior durabilidade. Isso não significa que a cliente não possa comprar. O ideal é que ela “atualize” esse armário por estação, considerando inverno/verão”.

A imagem que ficou mais conhecida de Steve Jobs (co-fundador da Apple, falecido em 2011) é usando a camiseta preta, mas um armário-cápsula também não precisa ser monocromático ou de tons pasteis. Esse é outro mito que tem sido bastante difundido, por essa razão o trabalho de consultoria é definido pela Mariê como “uma jornada de autoconhecimento. Trazendo consciência e entendimento de quem ele é/quer ser. Sua essência, suas características, suas qualidades, para que se sinta seguro e confortável com a imagem transmitida, para assim fazer escolhas mais assertivas e sustentáveis”.

Os exemplos citados são de grandes executivos para mostrar que depende da imagem que se quer passar, até mais do que do poder aquisitivo. O movimento Lixo Zero, por exemplo, é outro que tem como foco reduzir o consumo e investir tempo e dinheiro em questões “mais importantes”, produzindo menos lixo. No Brasil, um dos representantes dessa ideia é o projeto Menos1Lixo, o qual produziu uma websérie voltada para o armário-cápsula, disponível no YouTube, mostrando todo o processo de transição.

Há várias formas de repensar a imagem, mas também de entender o processo de conscientização, de repensar costumes, da transformação que possível, e que vai da consciência de cada um.

 

 

Alice Dutra Balbé,  doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

Gino Crescoli por Pixabay

Sempre fui uma pessoa do jornalismo, apesar de ter demorado para perceber. Algo sobre o tempo no jornalismo sempre me incomodou. Adianto que o incômodo era totalmente enquanto leitora. A posteriori, como jornalista, as coisas mudaram em partes.

Fui uma leitora de revistas quinzenais que demoravam para chegar nas bancas próximas de casa. A leitura era um momento especial e aguardado na rotina. Da espera pela nova edição, a conclusão da leitura e recomeço do ciclo. Na mesma época, as publicações começaram a disponibilizar o conteúdo na internet. Muitas amigas sabiam que não havia necessidade de “gastar dinheiro” com versões impressas, pois em poucos dias o mesmo texto estaria disponível online. Porém, para mim sempre foi muito mais do que o consumo das matérias por um instante. A leitura nunca expirava ao fim dos quinze dias. Em diversos momentos me peguei folheando revistas “antigas” e “ultrapassadas”.

Nos primeiros períodos do curso de Jornalismo senti o incômodo voltando e pensava “por que faremos o que faremos?”. Claro que a tendência natural é se culpar, questionar o que há de errado em nós e duvidar das próprias escolhas. “Será que eu sirvo pra isso?”.

Só consegui entender o que sentia quando, no terceiro semestre, tive contato com o conceito da “estrela de sete pontas”, do Felipe Pena. Foi no jornalismo literário e na ideia de perenidade que me encontrei. Ali sim havia um propósito para o que eu sentia e o que me levou a escolher a profissão.

Mas o que é perenidade hoje? O que fazemos – ou deixamos de fazer -, o que contamos e o que vivemos irá permanecer? Que ações merecem o cuidado do olhar de quem vê a narrativa do hoje sendo relevante no futuro?

Houve um tempo que, com certa frequência, se ouvia dizer que os erros são mais lembrados que os acertos. Hoje, infelizmente, acredito que tão pouco lembramos dos dois. Não há mais hoje. Cada mísero momento do presente é ignorado na busca por um futuro. Uma posteridade que nunca chega, pois ela se aniquila quando muda o nome de Hoje para Agora.

Então, por que fazemos o que fazemos? Por onde andam e por quanto tempo vão permanecer as histórias que queremos contar?

Enquanto isso, em Santa Maria, pessoas pedem justiça para que a “Kiss” não se repita. Em outros lugares, 242 é só um número. Daniela Arbex escreveu sobre a nossa história. Sobre várias delas. Através do mosaico construído por Arbex, sabemos que o dia 27 de janeiro de 2013 se repete todos os dias e noites. Obrigada, Daniela.

O que faz nossa memória? O que é preciso em um acontecimento para que ele seja inesquecível? Se na esfera privada é difícil identificar, talvez no coletivo seja impossível identificar ou criar uma fórmula capaz de impedir o esquecimento. A nossa memória também é política?

Pelo mundo todo pessoas gritam “Marielle, presente!”, mas por quanto tempo serão ouvidos? Mesmo antes do assassinato da vereadora deixar de ser “factual” alguns diziam que é necessário superar. “Daqui alguns dias ninguém mais lembrará”. Lembraremos. Espero.

O que Gay Talese pensaria sobre os conceitos de “Fama e anonimato” em tempos de Instagram?

Tantos livros sobre a Segunda Guerra Mundial, tantas denúncias sobre os horrores causados pelo Nazismo. E para quê? Mesmo com todos os relatos, alguns mal informados e “maus”, tentam distorcer a realidade. Não importa o quando tentem, puxem, estiquem e virem do avesso. Essa história só se dobra para a direta.

Em 2015, a jornalista Svetlana Aleksiévitch ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Entre as obras de Svetlana está o livro “Vozes de Tchernóbil” que conta as histórias de quem viveu e morreu na zona afetada pelo acidente nuclear. São relatos de dor, descaso, superação, lições para o futuro e esquecimento. Muito esquecimento, afinal para quantos de nós essas vozes chegaram? Você ouviu alguma delas por aí? Algumas delas estão na série “Chernobyl”, disponível no serviço de streaming da HBO.

O mesmo parece acontecer com “Hiroshima”, de John Hersey, que na data de publicação mostra a realidade não antes revelada aos americanos sobre os danos causados pela bomba que “salvou suas vidas”. O livro mudou a perspectiva da população americana sobre o ataque nuclear. Mas hoje alguém ainda se importa? Ou estamos há anos percorrendo um caminho sombrio que parece levar para o mesmo destino? Resta saber quem contará os próximos capítulos.

Em meio ao caos instaurado ao redor do mundo, uma jovem democracia que sofre nas mãos de velhos padrões, o meio ambiente que opera no cheque especial, etc. De todas as perguntas sem respostas, há aquela que se destaca. Por que fazemos o que fazemos?

Será que vamos dar conta de tornar as narrativas do hoje perenes até o futuro? Ou vamos perder a perenidade do nosso tempo para suprir a necessidade de ser instantâneo?

 

Arcéli Ramos é jornalista egressa da UFN. Repórter da Agência Central Sul em 2015. Com pesquisas na área jornalismo literário e linguagem, hoje também estuda “Pesquisa de tendências”. É colaboradora na New Order, revista digital na plataforma Medium, e produz uma newsletter mensal

 

Muro em Lisboa. Foto: arquivo pessoal Alice Balbé

A cada ano a data da sobrecarga da Terra tem sido mais cedo. Desde a década de 1970, a demanda anual de recursos excede o que a Terra pode se regenerar. Usamos o equivalente a 1,7 Terras para fornecer os recursos e absorver nossos resíduos, ou seja, mais do que um ano e meio para compensar o que usamos em um ano. Na prática significa que estamos sobrecarregando as capacidades de regeneração através da exploração excessiva de florestas (e desmatamento), poluição, escassez de água doce, erosão do solo, perda da biodiversidade e da emissão de mais dióxido de carbono.

No ano 2000, o Earth Overshoot Day foi atingido em outubro. Onze anos depois o mês de setembro tornou-se o limite. Desde 2012 já tem sido demonstrado em agosto. Agora em 2019, a nova data é 29 de julho. No entanto, essa medida refere-se a média mundial. É preciso ainda considerar a média por cada país. Maio foi o mês da sobrecarga para vários países europeus como a Alemanha (dia 3), Suíça (dia 9), França (dia 14), Itália (dia 15), Inglaterra (dia 17), Grécia (dia 20) e Portugal (dia 26). A sobrecarga no Brasil, pelo menos ainda este ano, mantém a média mundial, no mês de julho. Em 1970, a data da sobrecarga era marcada em dezembro, ou seja, a mudança ocorreu em menos de meio século.

A Organização Não-Governamental Global Footprint Network  calcula o Dia da Sobrecarga da Terra, conhecido como Overshoot Day, utilizando o cálculo da Pegada Ecológica. Além dos dados, a ONG propõe conscientizar para um estilo de vida mais sustentável (o que depende também de políticas públicas) e lançou a campanha nas redes sociais chamada #MudarAData em www.overshootday.org/steps-to-movethedate.

Um projeto pioneiro envolvendo centros de investigação locais e a Global Foortprint Network (GFN) foi lançado este ano em Portugal. O Projeto Pegada Ecológica dos Municípios Portugueses utiliza a metodologia da pegada ecológica da Global Foortprint Network (GFN) e une a GFN, a Associação Sistema Terrestre Sustentável, a ZERO, e a Universidade de Aveiro, com a Unidade de Investigação GOVCOPP. O projeto envolve seis municípios nesta fase inicial: Almada, Bragança, Castelo Branco, Guimarães, Lagoa e Vila Nova de Gaia.

A pegada ecológica envolve hábitos em torno da alimentação, transporte, consumo, energia e moradia. Para calcular a sua pegada ecológica pode utilizar o site: http://www.pegadaecologica.org.br/2015/index.php. A estimativa atual é que até 2030 serão necessários três planetas, será que não está mais do que na hora de uma mudança de hábitos?

Faça o teste, analise a sua pegada e questione-se. Qual seria o desempenho da sua cidade no cálculo da pegada, se existissem dados como do projeto de Portugal? Na sua casa ou seu bairro? Será que na sua cidade o tratamento de água e esgoto é adequada? Será que a produção de lixo não poderia diminuir? A coleta seletiva (ela existe?) é realmente eficiente? E o consumo e produção de energia? Qual o impacto das escolhas alimentares? Precisamos repensar hábitos, rotinas de casa e na rua. Precisamos repensar, reduzir, reutilizar e respeitar o ambiente, afinal fazemos parte desta Terra.

 

 

 

Alice Dutra Balbé,  doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

Orangotangos em extinção em Bornéus. Foto: E-smile/Pixabay

O conceito de sustentabilidade ainda é bastante discutido e passou a ser utilizado de forma banalizada nos últimos anos. O significado está relacionado com a sobrevivência envolvendo recursos naturais, desenvolvimento econômico e a própria sociedade. A base do conceito vem de uma expressão britânica chamada Triple Bottom Line constituído de três pilares: econômico, social e ambiental, em que para qualquer empreendimento ser viável precisa ser socialmente justo, ambientalmente responsável e economicamente lucrativo.

A versão mais difundida do termo está associada ao desenvolvimento sustentável, apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1987, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente. O documento ficou conhecimento como Relatório Brundtland, nome da presidente da conferência, a então primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland. A definição de desenvolvimento sustentável refere-se a “satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades” e está diretamente relacionado com o consumo.

As discussões da ONU foram consequência da publicação do estudo Limites do crescimento, em 1972, pelo Clube de Roma, considerado um marco na história do pensamento ambientalista. O livro foi o primeiro estudo sobre a possibilidade de esgotamento de recursos para a existência humana.

 Impacto da produção de alimentos baseada em monocultura

A cada ano diferentes tipos de alimentos são identificados como “super” alimentos e se tornam os “queridinhos” das dietas. No entanto, em muitos dos casos são produtos exóticos – pouco conhecidos ou produzidos em regiões específicas – em que o aumento da procura muda a economia da região produtora. Isto pode ter benefícios econômicos, mas também grande impacto ambiental.

Grão da Quinoa.Foto: Susana Martins/Pixabay

A quinoa, por exemplo, em 2013 foi declarada como Alimento do Ano pelas Nações Unidas, por meio da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO[1]). O que era um alimento tradicional da região dos Andes, produzido, principalmente, na Bolívia, Peru e Equador por pequenos agricultores e consumido na América do Central e do Sul, passou a ser produzido para exportação. O preço do grão para consumo local ficou elevado e mais moradores começaram a produzir visando lucro da exportação afetando outras atividades agrícolas. Estudos na região, divulgados pela própria FAO, identificaram a diminuição das variedades cultivadas e a degradação da terra nos três primeiros anos provocando a diminuição também de animais como as lhamas.

As consequências do crescimento desenfreado do consumo de determinados produtos são ainda maiores no caso do óleo de palma. Atualmente pesquisas já associam o consumo do óleo ao aumento de algumas doenças, revelando ainda o lado menos saudável. O óleo de palma é atualmente o óleo mais produzido no mundo e a indústria que causa maior destruição mundial de florestas tropicais. Utilizado em alimentos, cosmética, estética, produtos químicos e combustíveis, a produção óleo de palma ameaça pequenos agricultores, tribos nativas e animais como orangotangos[2] – metade da população de orangotangos de Bornéus, na Ásia, foi exterminada nos últimos 16 anos.

Palmeiras. Foto: Bishnu Sarangi /Pixabay

O Greenpeace (2018[3]) revelou, em relatório, que 130 mil hectares de floresta tropical foram desmatados de 2015 a 2018, sendo que 40% do desmatamento foi na Indonésia, na província de Papua. A exploração do óleo de palma afeta diferentes regiões do planeta e comunidades locais, como denuncia a Rainforest[4], emitindo elevada concentração de gases de efeito estufa, desde a produção ao transporte.

 Consumo de impacto positivo

Socialmente justo, ambientalmente responsável e economicamente lucrativo requer a valorização da produção local. Mas podemos pensar o incentivo ao consumo local em vários níveis e não necessariamente somente no nosso bairro. O turismo é um dos grandes exemplos quando se refere ao impacto do consumo local. Não é à toa que em muitas regiões os moradores têm protestado contra o turismo de massa. Neste sentido, priorizar o empreendedorismo local fortalece a comunidade e valoriza também a cultura.

A preferência por restaurantes locais e comidas de rua do que comer em fastfood internacionais. A hospedagem pode ser em pousada e alojamento local, ao invés de grandes redes hoteleiras. Na hora de comprar lembrancinhas, por exemplo, pode optar pelo artesanato local, o que vai dar ainda autenticidade ao produto e possibilitar o contato direto com os artesãos. Ações que contribuem para melhorar a experiência da própria viagem.

 Consumo consciente requer pesquisa

No âmbito do consumo de produtos de multinacionais procure sempre pelos selos de comércio justo. Existem diversas organizações mundiais como a Organização Mundial do Comércio Justo (WFTA -World Fair Trade Association) e o selo das Organizações Internacionais de Rotulagem do Comércio Justo (FLO Internacional – Fair Trade Labelling Organisations International).

No Brasil, a realização do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em 2003, é considerado o ponto de partida nas mobilizações, encontros e a construção de estratégias do campo da Economia Solidária. Na ocasião, se consolidou o Fórum Brasileiro da Economia Solidária[5]. No mesmo ano, foi surgiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), criada no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego.

O princípio da economia solidária é que os benefícios da atividade econômica estejam ao alcance dos trabalhadores, uma forma de organização da produção, consumo e distribuição da riqueza, caracterizada pela igualdade e valorização do humano, articulando as dimensões econômicas, políticas e sociais.

A cidade de Santa Maria é referência quando se trata de economia solidária e acolhe a realização da Feira Latino Americana de Economia Solidária e a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop comemorou 25 anos, em 2018) realizadas anualmente no mês de julho.

Além dos benefícios econômicos em se investir na produção local, é também mais sustentável ao reduzir o impacto dos transportes e, ainda, saudável consumir produtos da época e da região. Estima-se que em Santa Maria, por exemplo, existem em torno de 15 feiras de hortifrutigranjeiros e produtos coloniais. Pesquise sempre a melhor opção de acordo com as suas necessidades. Em diversas cidades é possível comprar cestas de produtos orgânicos até para entrega em casa ou no trabalho, surgindo, assim, novas oportunidades de negócio.

[1] http://www.fao.org/home/en/
[2] https://www.bbc.com/portuguese/geral-44745555
[3] https://www.greenpeace.org/international/publication/18455/the-final-countdown-forests-indonesia-palm-oil/
[4]https://d3n8a8pro7vhmx.cloudfront.net/rainforestactionnetwork/pages/17708/attachments/original/1493246815/RAN_PepsiCo_Profits_Over_People_Planet.pdf?1493246815
[5] http://fbes.org.br/

 

 

Alice Dutra Balbé,  doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

 

 

As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão abertas até amanhã, dia 17 de maio. Mesmo que a incerteza seja algo muito presente nas provas de vestibular, esse ano ela ronda mais que vestibulandos e atinge desde os estudantes da pré-escola até mestrandos e doutorandos das universidades públicas do Brasil. O Enem é atualmente a prova que permite o ingresso de alunos ao ensino superior e, no ano passado, teve o menor número de inscritos confirmados desde 2011 – o que já é assustador refletir sobre a redução de 18% do número de participantes, e se torna ainda mais preocupante diante dos cortes de verbas da educação pública no país.

Protesto contra os cortes do governo federal que atinge universidades federais mobilizou milhares de pessoas no centro de Santa Maria ontem. Foto: Julia Trombini

No final de abril, o Ministério da Educação anunciou um corte de 30% nos repasses de verbas destinadas às universidades federais, em razão de um contingenciamento de R$ 5,9 bilhões no orçamento. Essa medida, denominada pelo secretário de Educação Superior como “bloqueio preventivo”, vai ao encontro das decisões do governo Bolsonaro em relação aos professores e a ao projeto denominado Escola sem Partido. Além disso, o presidente já declarou que pretende retirar verbas dos cursos de Filosofia e Sociologia.

Com esse objetivo posto, segundo ele, seria possível focar em áreas que gerem “retorno imediato”, como veterinária, engenharia e medicina, por exemplo. “A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”, aponta o presidente em um segundo tweet.

Em um palco de muitas contradições, a educação não parece ser um assunto que vá para os bastidores. O Ministério da Educação (MEC) também cortou 36% da verba da única escola federal de ensino básico nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e Duque de Caxias. O Colégio Pedro II, fundado em 1837 e que possui cerca de 13 mil alunos, teve um corte de 36,37% do orçamento de custeio previsto para este ano, o que ultrapassa R$ 18,5 milhões, e “terá implicações devastadoras”, segundo os diretores.

Aos se referir às universidades federais como balbúrdia, o Ministro da Educação desencadeou uma série de protestos em diversas cidades do país. Foto: JuliaTrombini

Mobilizar-se e ir para as ruas é o recurso último que a população tem para defender seus direitos e lutar contra retrocessos. Desta vez, a luta é pela educação. Sobretudo pela educação pública de qualidade! Um agente de transformação inegável. Por isso, não esqueçamos que a finalidade da educação é a de construção do ser social. Desde as criações humanas, das descobertas, das reflexões e dos aprendizados às gerações posteriores. Mais do que cortes que se apresentem como redução de gastos e não de investimentos, é provável que isso tudo custe caro em um futuro breve, em um país que diz não caber em seu orçamento algo tão primordial quanto a educação. Um país onde  115 milhões de brasileiros ainda não sabe ler e outros tantos milhões serão privados de estudar e de desenvolver as suas potencialidades. Afinal, diante do talho nas verbas do ensino público, talvez seja necessário um espetáculo de “balbúrdia” em âmbito nacional para que possamos conseguir lutar e garantir nossos direitos.

Julia Trombini é jornalista, escorpiana, egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.

Há um clima de cansaço crônico pairando no ar. Um clima de fog denso e de dias cinzentos que pesam o ar e obscurecem os pensamentos. É na política, é no trabalho, é na vida… as reclamações superam os sorrisos e o riso solto, os golpes emergem rapidamente, os tapetes são retirados, muitas mãos se somam  não só para gerar quedas nem liberar a poeira, mas para remexer na já existente, para acomodar melhor a poeira e os dejetos ali depositados. Para dar espaço a  outros, a novos rejeitos e a mais ocultações.

É assim, de poeira, de fogs, de brumas, de dejetos e de ocultações que parecem estar revestidos o tempo, o espaço e os dias. Um sombreamento gradual. As pessoas, (Elas mesmas!), aquelas que se deixam encobrir por essas sombras e por esses movimentos cinzentos, (re)organizam os trajetos e (re)orientam seus passos. Desviam-se de uns, aproximam-se de muitos outros. Um ir e vir de jogos de poder e interesses entrelaçados. Talvez não entendam ou não processem que ao se deixarem envolver estão entregando-se a um sistema que parece muito mais engolir do que encobrir, muito mais aprisionar do que libertar, muito mais afastar do que aproximar.

Há, sim, um cansaço permanente nas vozes e nos sentimentos das pessoas. Daquelas que ainda não se deixaram engolir… O corpo revela: caem os ombros, o olhar se perde, mas poucos entendem que aqueles que estão no meio do fog podem se queimar!  Não é fogo, é fumaça sufocante.

Esse quadro está sendo esboçado há tempos com crayon, com traços sutis que se acumulam e revelam-se, inesperadamente, nesse  acúmulo de linhas. Voltar é quase impossível!  Entrou na bruma, é para se ocultar! (não adianta a chuva para molhar… essa bruma é densa demais… seria, pois,  resultante de uma chuva ácida?)

As mãos que ajudaram a remover os tapetes já estão distantes e a  caminhada nesse percurso encoberto fica cada vez mais só. Solitária mesmo! Quem precisa de mãos, afinal? Quem tira tapete de um, tira de todos, quem oculta poeira aqui, oculta ali também… É assim que o cansaço se instala em quem fica de fora

Retirar o tapete já não adianta mais, não há mais mãos para ajudar a sair desse cinza que encobre o tempo, o espaço e os dias. E aqueles que não se deixaram envolver e encobrir, esses, talvez tenham um cansaço permanente, mas a consciência leve e o sorriso constante em seu interior. Ainda resta aos que estão cansados, a leveza do/de ser!

 

 

 

Najara  Ferrari Pinheiro é graduada em Letras(FIC) e Comunicação Social (UFSM), mestre em Estudos da Linguagem (UFSM) e doutora em Ciências da Comunicação (Unisinos).  Escreve para a ACS.