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Consegui colocar uma bandeira LGBTQIA+ em um lugar de destaque

Jovem do olhar sensível para fazer leituras do cotidiano e dos sujeitos, co-criador do Maria Cult e repórter do Gay Blog Brasil, este é Deivid Pazatto. Santa-mariense de nascença, jornalista de formação e ativista LGBTQIA+ na

A 36ª edição do Jornal ABRA vai circular amanhã

O jornal ABRA, produzido pelos alunos do 2° semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (Unifra), começa a ser distribuído amanhã, 04. Os pontos de distribuição serão os conjuntos da Unifra e outros lugares

Em circulação a edição 35 do jornal ABRA

O jornal Abra chegou e já está disponível para quem quiser mergulhar na realidade de Santa Maria, retratada pelos acadêmicos do curso de jornalismo do segundo semestre da Unifra. Ele traz muitas histórias que representam e

Em busca de aceitação, oportunidade e qualidade de vida

Geórgia Fröhlich e Fernando Cezar Eles têm no Brasil a esperança de uma vida tranquila e a oportunidade de boas condições. Eles deixam rotina, costumes, familiares e amigos e trazem consigo muita bagagem de cultura e

Jovem do olhar sensível para fazer leituras do cotidiano e dos sujeitos, co-criador do Maria Cult e repórter do Gay Blog Brasil, este é Deivid Pazatto. Santa-mariense de nascença, jornalista de formação e ativista LGBTQIA+ na vida profissional e pessoal, está sempre se reinventando em sua trajetória. 

Gravação do programa Janela Audiovisual. Foto: Arquivo pessoal

Deivid foi bolsista pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) na Universidade Franciscana (UFN), o jornalista relembra o início de sua trajetória como acadêmico em 2015 com muito entusiasmo: “Eu lembro que a gente tinha aulas, com cerca de 42 alunos, então era muita gente, fazíamos um auê aqui dentro do curso, os estúdios lotavam”. Ele ingressou na graduação focado em trabalhar com televisão, pois: “quando era criança sempre ficava na frente da TV e pensava que eu podia fazer aquilo da minha vida depois que eu saísse do ensino médio. Como poderia trabalhar na televisão? Foi aí que surgiu o jornalismo”.  

No começo da Universidade decidiu que queria se encontrar, por isso optou por fazer parte do Laboratório de Produção Audiovisual (LaProa), atual Laboratório de Produção Audiovisual dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda (LabSeis), onde começou a desenvolver alguns projetos na televisão. Entre estas atividades está o Toca da Raposa, programa sobre variedades desenvolvido pelos acadêmicos. Participou ainda do programa ‘Janela Audiovisual’, ao lado de Paola Saldanha, onde os estudantes apresentavam alguns filmes produzidos na disciplina de Cinema. Também atuou como repórter da Agência CentralSul, onde era colunista e teve a oportunidade de produzir sua primeira reportagem com uma personalidade conhecida no país inteiro, o cantor de queernejo, gênero musical emergente no Brasil que traz o sertanejo na perspectiva do público LGBTQIA+; Gabeu, artista indicado ao Grammy Latino com o álbum ‘Agropoc’ (2021) na categoria ‘Melhor álbum de música sertaneja’. Ele também relembra sua participação no Jornal ABRA: “Eu lembro que fiz uma pauta sobre a parada LGBTQIA+ da cidade, que acabou sendo capa do ABRA. Então eu fiquei muito feliz porque eu consegui colocar uma bandeira LGBTQIA+ em um lugar de destaque”.

Um episódio que o marcou durante a graduação foi: “Em um dos últimos vestibulares que participei da cobertura, estava cobrindo pela rádio. Sempre é realizado algumas perguntas para a Reitora Iraní Rupolo. O professor Gilson, que era quem coordenava as atividades da rádio, me deu uma dica sobre qual assunto abordar. Eu formulei então o questionamento e quando o realizei percebi que todos os repórteres ficaram me olhando”. Ele comenta que na hora não entendeu, mas depois percebeu que foi uma pergunta chave que todos queriam fazer naquele momento.

Gravação de matéria para o telejornal Luneta. Foto: Arquivo pessoal

Teve também experiências como estagiário enquanto ainda estava cursando a graduação, entre elas estão seu estágio Agência Guepardo, que ficava localizada na Incubadora da UFN, onde teve a oportunidade de desenvolver um pouco mais de suas habilidades no Photoshop. Da mesma forma integrou a equipe do Diário de Santa Maria, onde atuou como repórter da editoria de política. “Esse tema é algo que eu sempre gostei desde pequeno. Pude vivenciar três meses nesta editoria onde trabalhavam, eu e a Jaqueline Silveira, que era editora na época, auxiliava ela em muitas atividades. Desde notas, sondagem, entrevistas com os candidatos, pois era na época de eleição. Eram mais de cinquenta políticos, entre deputados estaduais e federais da região central. Fui atrás do contato de todas as pessoas e fiz uma listagem para conseguirmos conversar com eles”, relata o jornalista.

Deivid trabalhou em seu Trabalho Final de Graduação (TFG) com a temática ‘Pabllo Vittar: a mídia hegemônica na construção do corpo Queer’, onde ele explicou mais a fundo sobre como compreender a construção do corpo queer e da cultura drag queen bem como as relações de poder que se estabelecem em produtos audiovisuais da mídia hegemônica. Pabllo Vittar surge como objeto de análise, por compreendermos a artista como um corpo queer, devido a sua arte drag queen e a performatividade de gênero, entre outros elementos que perpassam seu corpo. “Eu via que havia abordagens muito erradas de como ela era tratada pela imprensa. Em diversos meios de comunicação era colocada em situações desconfortáveis. Claro que algumas drags têm os seus pronomes já estipulados para serem usados. Mas quando a gente imagina uma está personificada no feminino e então se espera que alguns pronomes sejam usados”, relata o jornalista. 

Após formado em 2018,  ingressou no curso de Especialização de Estudo de Gênero na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) teve um tema similar ao de seu TFG, porém sendo desta vez voltado para o Município. ‘As referências culturais e estéticas na cena drag queen de Santa Maria (RS): Uma análise em um contexto de transição geracional’,  foi direcionado para a cidade no intuito de mostrar a cena Drag que teve uma época nas palavras de Deivid efervescente, onde: “Tinha alguns bares no Bairro Rosário que realizavam festas das drag queens, muito pelo fato de estar bombando aqui no Brasil. Então quis dar esse segmento para explorar um pouco mais o que era esta cultura no Município, por isso abordei estas as referências estéticas e culturais”. 

 Deivid Pazatto e Paola Saldanha na 1ª edição do Prêmio Maria Cult. Foto: Renan Mattos

Ele que a partir da cadeira de jornalismo cultural sentiu interesse sobre esta área do jornalismo, após formado idealizou, juntamente com a também egressa Paola Saldanha, um projeto voltado para o tema, porém com o foco local e independente, sendo este a Maria Cult. “A Maria nasceu para dar voz aos artistas independentes que estavam começando. Seja música, artes visuais, artes cênicas, entre outras áreas. Em janeiro de 2020 comecei a pensar em desenvolver alguma atividade jornalística, pois, já estava a praticamente um ano sem fazer nada. Construí um esboço e lancei a ideia para a Paola. Lembro que durante a faculdade a gente conversava sobre fazer alguma coisa juntos. Então realizamos algumas reuniões e fomos construindo o projeto”, explica Deivid. No dia 20 de janeiro realizamos o lançamento do Maria Cult no Instagram e Facebook, inicialmente era apenas uma agenda cultural, porém agora é um produto de jornalismo independente de Santa Maria. 

Durante sua trajetória também surgiu a oportunidade de trabalhar para o Gay Blog Brasil, maior portal de notícias LGBTQIA+ do país. “Eu lembro que estava mexendo no Linkedin, dia 20 de setembro, dia do gaúcho. Onde então vi uma vaga para esse trabalho remoto, na hora eu enviei meu currículo. No mesmo dia já realizei uma entrevista e no outro já estava trabalhando. Desde 2021 estou trabalhando no Gay Blog BR, por mais que seja um trabalho remoto, já tive a oportunidade de entrevistar muitas personalidades”, comenta ele. Suas matérias também tomaram proporções nacionais chegando até a serem replicadas em sites como UOL e Estadão. O namorado de Deivid, Lucas Yuri, relata que a trajetória dele até aqui é de alguém que: “Sabe onde quer chegar e os espaços que quer ocupar, levando sempre voz, visibilidade e oportunidades para todos os públicos”. 

Perfil produzido no 1º semestre de 2023, na disciplina de Narrativa Jornalística, sob orientação da professora Sione Gomes.

A Parada LGBT de Santa Maria é um dos eventos cobertos pelos alunos produtores da 36ª edição do jornal Abra. Foto: arquivo ACS

O jornal ABRA, produzido pelos alunos do 2° semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (Unifra), começa a ser distribuído amanhã, 04. Os pontos de distribuição serão os conjuntos da Unifra e outros lugares do bairro N. S. do Rosário, como pontos de comércio e sinaleiras, além do centro da cidade. Quem entregará os jornais à população serão os próprios alunos, participando de todas as etapas do processo de produção jornalística.

A 36ª edição produzida durante o mês de novembro aborda três grandes eventos que ocorreram em Santa Maria, a Feisma, a Parada LGBT de Santa Maria e a Romaria da Medianeira. Além disso, traz diversas matérias sobre equipes e projetos esportivos de diferentes modalidades que atuam na cidade e uma matéria sobre a Árvore de Natal da praça Saldanha Marinho.

As redações, reportagens e fotografias que foram feitas por 26 alunos tiveram orientação dos professores Laura Fabrício, Maurício Dias e Rosana Zucolo, das cadeiras, respectivamente, de Fotografia de Imprensa, Jornalismo Digital e Jornalismo I.

Algumas matérias desta edição do ABRA já estão disponíveis na Agência CentralSul.

Foto: Arquivo Agencia Central Sul.

O jornal Abra chegou e já está disponível para quem quiser mergulhar na realidade de Santa Maria, retratada pelos acadêmicos do curso de jornalismo do segundo semestre da Unifra. Ele traz muitas histórias que representam e evidenciam lugares, atitudes e comemorações ao retratar a cidade.

Com temáticas variadas, traz os 110 anos da Vila Belga, a tradicional Feira do Livro, os brechós da cidade e a Associação dos colecionadores de carros antigos,  reportado pelos acadêmicos do curso de jornalismo

O jornal está disponível na sala de pauta da Agência Central Sul, no prédio 14 da sala 716 C, do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano.

O jornal têm como professores responsáveis: Laura Fabrício ( Fotográfia de Imprensa); Maurício Dias( Jornalismo Digital I) e Rosana Cabral Zucolo (Jornalismo I). A diagramação é do Francesco Ferrari e as fotos e reportagens de Gabriele Braga, Juliana Brittes, Mariana Tabareli , Valéria Auzani Trombini e Juliano Dutra.

 

 

13407633_1117227075006885_311724104_nGeórgia Fröhlich e Fernando Cezar

Eles têm no Brasil a esperança de uma vida tranquila e a oportunidade de boas condições. Eles deixam rotina, costumes, familiares e amigos e trazem consigo muita bagagem de cultura e força de vontade. Buscam um lugar para sobreviver, um lugar para colaborar e ser feliz. Buscam um lugar de crescimento, que possam ser respeitados e acolhidos.

De acordo com o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil possui atualmente cerca de 9 mil refugiados reconhecidos, de 79 nacionalidades distintas. Os principais grupos são compostos por nacionais da Síria (2.298), Angola (1.420), Colômbia (1.100), República Democrática do Congo (968) e Palestina (376).

A incerteza do futuro e o medo com a realidade dos seus países fez com que o mundo atual vivesse em um cenário de imigração muito peculiar. Alguns são movidos pela necessidade de escapar da miséria; outros estão fugindo da violência e perseguição. Com jornadas perigosas estima-se, segundo a Anistia Internacional, que pelo menos 23 mil pessoas tenham perdido suas vidas tentando chegar à Europa desde 2000 entre crianças, adultos e idosos.

Além dos que cessam a sua peregrinação quando as fronteiras fecham-se na sua frente, há os que chegam ao seu destino, mas contam com a violação de seus direitos descobrindo que a segurança não está ao seu alcance.

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O haitiano Frantzy Fanfan atua na Biblioteca do Centro Universitário Franciscano (Foto: Fernando Cezar)

O haitiano Frantzy Fanfan, 30 anos, está em Santa Maria desde 2014 e planeja ficar até dezembro de 2017 para concluir seus estudos. Membro da congregação dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul, buscou no Brasil a oportunidade de realizar a faculdade de Filosofia em seu pós-noviciado – tempo dedicado à renovação dos votos e ao estudo de filosofia e teologia.

Fanfan trabalha na Biblioteca do Centro Universitário Franciscano (Unifra) no período da manhã e estuda na instituição à tarde. Fluente em francês e créole (línguas oficiais de seu país), além de inglês e português, conta que pretende utilizar os aprendizados para ajudar a população haitiana.

“O povo daqui tem a capacidade de ser muito acolhedor. Os brasileiros que eu conheci vivem em uma realidade de hospitalidade total. Não é uma hospitalidade obrigada por leis. A gente percebe que o povo acolhe com o coração, tem sensibilidade”, diz o haitiano.

Frantzy mora em uma casa de formação de freis de Santa Maria e, apesar das dificuldades com a nova cultura, está muito feliz com os amigos, os estudos e o trabalho. “A crise econômica é mundial. O Brasil está com problemas, mas existem muitas coisas boas aqui”, salienta o frei que planeja, no seu retorno, ajudar os irmãos haitianos, seja no hospital ou na escola para poder dar apoio a Porto Príncipe – cidade arrasada pelo terremoto em 2010.

Com os olhos cheios de esperança e dedicação completa a missão de frei, Frantzy Fanfan tem uma rotina intensa, conciliando o trabalho, o estágio, a faculdade e os compromissos como pós-noviciado. Planeja voltar ao Brasil para visitar e afirma que nunca vai esquecer os aprendizados que teve aqui. “No início foi um pouco complicada a adaptação com a língua e a cultura, mas para quem tem vontade, nada é difícil. Se a gente correr atrás tudo fica razoável, nós podemos tudo”, comenta.

Uma lição de força de vontade e esperança. Uma cultura diferente que tem muito a acrescentar aos brasileiros, mas, as boas histórias que Frantzy Fanfan vai levar do Brasil não acontecem em todos os casos de imigração. Racismo e xenofobia  – aversão a pessoas ou coisas estrangeiras – são atos corriqueiros no país, que atingem os imigrantes diariamente.

“A violência contra imigrante não é um fato isolado. Precisamos compreender toda a dinâmica de extrema vulnerabilidade e fragilidade do imigrante nesse processo e saber que a migração é um direito de todos, não é um delito”, afirma a professora Giuliana Redin, da Universidade Federal de Santa Maria.

  

Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional

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Migraidh auxilia refugiados (Foto: Georgia Fröhlich)

O Migraidh é um grupo de pesquisa e extensão, um projeto institucional que envolve professores, alunos e voluntários. A associação surgiu em 2013 por iniciativa da professora do Departamento de Direito da UFSM, Giuliana Redin. O grupo busca, através de pesquisas, compreender a realidade migratória para prestar assessoria aos refugiados. “Nós temos uma responsabilidade com o que pesquisamos. Nós estamos aqui em uma luta por direitos. Estamos aqui por uma ideia de coletividade e por isso nos sentimos tão bem em colaborar”, diz Luís Augusto Minchola, acadêmico da UFSM.

Coordenado pela professora Giuliana, o Migraidh apoia no processo de documentação e age diretamente com a adaptação dos imigrantes – em especial os senegaleses. Os alunos lideram os encontros semanais, que auxiliam no aprendizado da língua portuguesa, facilitando o processo de comunicação dos refugiados. “As aulas de português são uma resposta minha para a sociedade. Eu sinto que estou devolvendo o que recebo por estudar em uma universidade pública”, destaca Alessandra de Almeida, acadêmica da UFSM.

Souberou Diene é um dos senegaleses que participam das aulas semanais no Migraidh. Em busca de vida melhor, ele deixou família e amigos para conseguir ajudá-los com o dinheiro que recebe no trabalho aqui. “Eu deixei a minha vida lá no Senegal por uma vida melhor. Estou conseguindo ajudar. Todos os meses mando dinheiro para o meu pai, a minha mãe, a minha esposa e a minha filha. Ser imigrante é muito difícil, porque ficar longe da família é muito ruim”, diz Souberou.

O senegalês está em Santa Maria há pouco mais de um ano e pretende voltar para o Senegal em 2017. Nesse período Souberou trabalhou como servente de obra e mora junto com outros 5 senegaleses que conheceu aqui. Souberou diz que a ajuda do Migraidh é fundamental, e foi assim desde a chegada no Brasil. “Eu gosto das pessoas de Santa Maria, muitas delas ajudam. As pessoas do Migraidh entendem as dificuldades que a gente passa.”

Entre sorrisos simpáticos e fluência na língua portuguesa, Souberou sente-se feliz em Santa Maria. “Vou levar daqui conhecimento. Quando eu voltar para o Senegal tenho que fazer algo muito importante para o meu país com tudo que aprendi aqui”, comenta.

Os envolvidos com o Migraidh sabem que ainda há muito a ser feito, mas ao verem a diferença que fazem na vida de cada senegalês sentem-se úteis e no caminho certo. “Santa Maria deveria comemorar a chegada de pessoas de outras partes do mundo, elas tem muito a contribuir com a nossa formação cultural e educacional”, declara Amanda da Cruz, acadêmica da UFSM.

“É muito tocante quando um imigrante nos mostra fotos de familiares que ficaram lá. Como a foto da filha de um deles que já está fazendo um ano e ele ainda não a conheceu”, relata Giuliana, que lamenta a falta de programas voltados à questão migratória em Santa Maria. “A ideia é que sejam implementadas questões institucionais no município e que essas pessoas tenham a oportunidade de estudar e viver em boas condições”, comenta.

“A migração não é um problema de segurança e não pode ser considerada como um”, afirma a professora Giuliana.

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), todos os imigrantes devem usufruir, pelo menos, dos mesmos direitos e da mesma assistência básica que qualquer outro estrangeiro residindo legalmente no país. Incluindo assim, direitos fundamentais que são inerentes a todos os indivíduos. Os refugiados gozam dos direitos civis básicos, incluindo a liberdade de pensamento, a liberdade de deslocamento e a não sujeição à tortura e a tratamentos degradantes.

De igual modo, os direitos econômicos e sociais que se aplicam aos refugiados são os mesmos que se aplicam a outros indivíduos. Todos devem ter acesso à assistência médica. Os adultos devem ter direito a trabalhar e nenhuma criança deve ser privada de escolaridade.

Com direitos assegurados em qualquer parte do mundo os imigrantes refugiados teriam condições de recomeçar suas histórias, com qualidade de vida e dignidade. Poderiam assim, juntar-se novamente a suas famílias, seja retornando ao seu país de origem ou os agregando à nova cultura. Uma troca de experiências e vivências poderia ser responsável pelo crescimento de ambas as partes e fazer da ‘multiculturalidadeum impulso para o desenvolvimento social e econômico.

Contudo, casos como o de Alan Kurdi, menino refugiado sírio de três anos cujo afogamento na Turquia virou símbolo da crise migratória continuam acontecendo. A tentativa de chegar a outro país para escapar de guerras, perseguições e pobreza é um caminho árduo, desafiador e incerto. Famílias são separadas, torturadas, ignoradas. A busca pela vida segue seus dias com olhos que veem esperança, com entusiasmo que procura oportunidade e com sonhos de quem quer apenas cumprir seus deveres e garantir seus direitos.

A aceitação dos brasileiros cai quando o assunto é acolher refugiados na própria casa

Segundo pesquisa realizada pela ONG Anistia Internacional, a receptividade do público a refugiados foi medida em 27 países, e o Brasil ficou em 18º lugar no ranking elaborado pela consultoria GlobeScan.

Gráfico

O chamado Refugees Welcome Index (Índice de Receptividade a Refugiados, em tradução livre) listou os países em uma escala de 0 a 100, onde 0 significa que todos os entrevistados recusariam a entrada de refugiados e 100, a aceitação desses imigrantes no próprio bairro ou casa.

O índice do Brasil foi 49, à frente apenas de Argentina (48), África do Sul (44), Nigéria (41), Turquia (39), Quênia (38), Polônia (36), Tailândia (33), Indonésia (32) e Rússia (18).

Os países mais receptivos ao acolhimento de refugiados entre os 27 pesquisados foram China (índice 85), Alemanha (84) e Reino Unido (83).

Globalmente, uma pessoa em cada 10 abrigaria refugiados na própria casa. O número chega a 46% na China, 29% no Reino Unido e 20% na Grécia, mas cai para 1% na Rússia e na Indonésia. 17% do total de entrevistados disseram que recusaria a entrada de refugiados em seus países.

Thayane Rodrigues e Lucas Amorim

13407633_1117227075006885_311724104_n“Numa cidade muito longe, muito longe daqui. Que tem problemas que parecem os problemas daqui”, cantou o rapper Marcelo D2. Em resumo: não importa o local, os problemas sempre existem e em Santa Maria isso não poderia ser diferente.

Fernando da Rocha, de 48 anos, pai de dois filhos de 15 e 19 anos, é marido de Silvana da Rocha, de 45. Ela trabalha em uma farmácia na Tancredo Neves, que fica á uns 25 minutos de caminhada de onde mora. A rua, que está com a maioria dos postes queimados há meses, já fez com que os moradores procurassem a prefeitura e a AES SUL para que o problema fosse resolvido, mas até então nada foi feito. Em decorrência disso, mesmo tendo que ir trabalhar só às 8h da manhã, Fernando acorda todo dia às 5 horas, junto com a mulher, os dois tomam café e Silvana sai para trabalhar, às 5h30min. Do portão Fernando avisa: “me liga assim que chegar lá, vou esperar. Bom dia!”.

Isso acontece porque a forma que o casal encontrou de manter um ao outro mais tranquilos sobre a própria segurança foi criar o hábito de entrar em contato toda vez que Silvana chega no serviço. “Funciona assim,” explica Fernando, “desde que a nossa rua ficou com esse problema de iluminação eu simplesmente não conseguia dormir direito, preocupado com a Silvana e os perigos que o escuro geralmente reserva para uma mulher andando sozinha na rua de madrugada. Foi então que eu tive a ideia de acompanhá-la até o trabalho. Fazíamos o trajeto até a farmácia juntos e depois eu voltava pra casa e esperava até a hora de ir trabalhar também. Mas em um dia desses, na volta eu caí em um buraco e acabei machucando a perna. Na hora fiquei pensando no que ia fazer com a Silvana, foi aí que decidimos contar o tempo que normalmente ela levava pra chegar até o trabalho. Feito isso, passei a deixar que ela fosse sozinha, com a condição de que quando desse o tempo, iria ligar pra confirmar se estava tudo bem. Isso acabou se tornando um hábito e até hoje sempre deu certo.”.

A história de Fernando e Silvana é, infelizmente, o reflexo de uma cidade abandonada. A infraestrutura de Santa Maria carece de atenção já faz muito tempo, e ultimamente, mais do que nunca esses problemas têm influenciado na vida dos moradores. As ruas escuras são os locais preferidos para a prática de furtos, e quem precisa passar por esses locais para voltar pra casa ou ir trabalhar se vê constantemente com medo até da própria sombra.

Mariana de Souza, estudante de cursinho, pretende fazer o ENEM esse ano pela primeira vez. Ela quer tentar uma vaga na área da saúde da Universidade Federal daqui de Santa Maria. “Eu não sei se nunca reparei antes, ou se só agora que ficou pior, mas a cidade está completamente abandonada. Durante a semana toda vou para o cursinho de ônibus, o caminho do centro até a parada é bem barulhento e movimentado, mas perto do meu bairro, Perpétuo Socorro, é bem diferente, não se vê ninguém na rua e o único barulho que se ouve é o do ônibus velho passando pelas ruas mal conservadas. Provavelmente porque é tudo muito escuro e perigoso hoje em dia… Acho que essa é a pior parte”, afirma a adolescente de 19 anos.

Os problemas da cidade podem ser classificados como crônicos, ou seja, eles não podem ser resolvidos rapidamente, pois carecem de uma atenção e estudo especialmente focados nas necessidades de cada região, coisa que não acontece. E ainda sim, continuam constantemente se multiplicando. Isso faz com que a população tenha que se adaptar com a realidade que é oferecida, completamente distorcida da que é prometida em períodos de eleição. Pode se dizer até que esse é um problema que fincou raiz por aqui, o desafio que fica para a próxima gestão municipal é grande: como diminuir a sensação de insegurança na cidade? Talvez começando pela questão de iluminação.

Iluminação, ou falta dela

Todo mundo já combinou com o pai ou parente de ligar avisando a hora que estava saindo da festa, casa do amigo ou faculdade, porque o fato das ruas serem escuras e perigosas à noite, principalmente para os jovens, é algo que vive preocupando a cabeça dos pais, que não descansam enquanto o filho não está seguro em casa.

É o caso de Emiliano Rosa, de 56 anos, seu filho, quase formado em história na UFSM ainda deixa o pai preocupado toda vez que sai de casa à noite. “Não importa a idade que eles tenham, a gente sempre vai se preocupar com a segurança e bem estar dos nossos pequenos”, afirma, “mesmo depois de grandes.” Emiliano mora com a mulher e o filho no bairro Camobi, em uma rua de difícil acesso quando chove. A situação piora ainda mais todo dia, quando anoitece. Isso porque a quadra toda não tem um poste de iluminação em funcionamento. Ele conta que diversas reclamações já foram enviadas para a secretaria de infraestrutura da cidade, mas a única coisa que é feita na região é uma ação que ele e os moradores chamam de “tapar o sol com a peneira”.

De tempos em tempos uma patrola é enviada para o local, geralmente durante a parte da tarde, “faz barulho, levanta poeira, joga um pouco de pedra e terra e vai embora. Uma semana depois que chove, tudo volta a ser do mesmo jeito de sempre”, conta Emiliano, que também disse que diversas reclamações à respeito dos postes sem luz já foram feitas, mas nada foi resolvido. “A gente fica com medo quando o filho sai de noite, mesmo sabendo que é uma pessoa responsável e que se cuida, tanto é que eu reconheço o som do carro dele vindo lá na esquina, e já saio pra fora pra ficar cuidando enquanto ele estaciona. Nunca se sabe os perigos que uma rua escura esconde”, conta o aposentado.

De certa forma, iluminação é um fator que afeta diretamente a sensação de segurança, ou não, que um lugar transmite para quem por ele passa. Uma rua escura e silenciosa, por exemplo, é o pior cenário que uma jovem vai descrever se for indagada sobre qual é o pior lugar em que ela consegue se imaginar, sozinha. Nada de florestas desertas, casas antigas abandonadas, sala de espera do dentista. O lugar que mais assusta é onde constantemente ouvimos histórias sobre pessoas que foram assaltadas voltando pra casa tarde da noite e sozinhas.

Contos de terror assustam, e muito, mas a realidade consegue ser ainda mais aterrorizante, pois é onde diariamente as pessoas precisam conviver. “Às vezes a Silvana olha pra mim antes de sair de casa e diz que vai ficar tudo bem, eu fecho os olhos e penso: amém”, conta Fernando da Rocha, que também diz que se sente pouco esperançoso de que a situação de sua rua melhore logo. “Talvez por estarmos em ano de eleições, vários dos candidatos passem aqui pelo bairro cantando promessas de uma cidade melhor, mais bonita e segura. E a gente que mora aqui vai acreditar, é o que dá pra fazer… Torcer pra que um dia realmente melhore”.

Capital dos Buracos

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Moradores sinalizaram buraco na Rua Tuiuti esquina com a Rua Appel (Fotos: Thayane Rodrigues)

É como Heitor Miguel, taxista há mais de 20 anos na cidade considera o lugar que mora desde que nasceu. “Nunca saí daqui, cresci junto com a cidade, esse ano ela comemorou 158 anos e eu 60. É vergonhoso vê-la desse jeito, completamente abandonada, caindo aos pedaços. Dá a sensação de que trabalho dia e noite, pago impostos sobre tudo e esse dinheiro simplesmente some! Não se vê melhoria nenhuma na cidade”, conta ele. Heitor morou no bairro Patronato a vida toda, e nunca sentiu necessidade de se mudar por nenhum motivo, “é um lugar bom de morar, conheço todo mundo e não me lembro de ter tido problemas com iluminação. A única coisa que precisa de cuidado são as ruas, sejam elas pavimentadas, de paralelepípedo, ou de terra mesmo, pois estão péssimas”.

O taxista também conta que a única atitude que a prefeitura toma à respeito das reclamações feitas pelos moradores é enviar uma patrola para o local e fazer o desnivelamento das ruas, preenchendo assim os buracos, e em seguida, uma máquina nivela novamente a rua. O que acontece é que essa solução não resolve os problemas no local, apenas os disfarça por um curto período de tempo. “É a fábula da máquina de pavimentar ruas do prefeito. É como ele lida com os problemas dos que nele confiaram a tarefa de recuperar a cidade: ele joga um pouco de terra em cima, manda as máquinas tapa-buraco passar e quer que a gente acredite que ele está realmente resolvendo a situação, mas todo mundo sabe que não. A gente vê, os resultados estão aí pra quem quiser ver, esse método não funciona, algo sólido precisa ter feito!”.

Todo mundo tem, ou então conhece alguém cuja rua fica inacessível quando chove. A questão dos buracos na cidade é tão antiga quanto a tradição de visitar Santa Maria e ir ao shopping onde ficam os estandes dos antigo ‘camelôs’, ou a Vila Belga. Nunca a situação esteve tão ruim quanto atualmente, não se trata mais de apenas buracos, são ruas em péssimo estado de conservação, locais onde a pavimentação está se desfazendo. Passar por esses lugares de ônibus requer que o passageiro que está de pé se segure firme pra não cair e aquele que está sentado, se segure mais ainda, pra permanecer sentado.

Pra quem dirige, passar por ruas esburacadas é uma tarefa ainda mais complicada, pois exige que o motorista ponha em prática toda a sua habilidade em fazer baliza para desviar das piores crateras. De carro, todo buraco pelo qual o pneu passa sem que o motor bata no solo é acompanhado de um suspiro de alívio por quem está dirigindo. De moto é preciso atenção redobrada, do contrário, as chances de levar um tombo são enormes. Passar por uma rua esburacada pra quem dirige é calçar o pé no freio e dirigir com o dobro de cautela, afinal, qualquer descuido pode resultar em grande prejuízo.

O quê todas essas histórias têm em comum? Um casal de moradores da zona oeste da cidade com um sistema de segurança próprio, uma estudante, um militar aposentado que mora em uma rua escura na zona leste, e um taxista que conhece a cidade de ponta à ponta? Essas pessoas, das mais variadas profissões e idades acabam por ter algo em comum forte o suficiente para uní-las em prol de algo muito maior do que elas: o local onde vivem. “Não há lugar melhor que o nosso lar” é uma conhecida frase dita pela Dorothy no filme “O Mágico de Oz” de 1939. Unidos, é somente dessa forma que mudanças são exigidas e acatadas. Quando uma parte da população se une em torno de um assunto que carece de atenção e faz com que as autoridades responsáveis tomem conhecimento disso, é somente nesse momento que alguma coisa poderá ser realmente feita.

Agentes da transformação

Em 2011, um grupo de moradores do Bairro Camobi se uniu para formar a Associação Comunitária Caras do Bem. Conforme o presidente Reinaldo Maia Vizcarra, tudo começou com o santa-mariense que se mudou para morar no Jardim Berleze e teve que procurar serviços públicos de água e luz. Ele notou que seus vizinhos também tinham dificuldades para ter esses atendimentos básicos e então começou a ajudá-los. A partir destas ações, mais alguns residentes da região iniciam a mobilização de auxílio aos vizinhos.

Em novembro de 2015, atendendo uma reivindicação dos moradores da Cohab Fernando Ferrari, a Associação promoveu uma operação para tapar, com concreto, os buracos da Avenida Rodolfo Behr, na entrada da Cohab, em Camobi. A ação durou toda a manhã. Os recursos para tapar os buracos foram obtidos com o lucro de uma festa à fantasia, promovida pelo grupo em 10 de outubro do ano passado. Com a venda de ingressos, bebidas e lanches os Caras do Bem compraram cimento, areia e brita, para diminuir o problema dos buracos na via.

Ainda em maio de 2015, eles foram chamados à Rua L, na Cohab Fernando Ferrari, em Camobi. Lá o grupo encontrou uma ponte em más condições de conservação, com possibilidade de ceder a qualquer instante. Então, foi organizado um risoto e com o lucro das vendas, compraram os materiais para reconstruir a pinguela. A nova estrutura de madeira foi entregue à comunidade depois desta iniciativa, que repercutiu por Santa Maria.

Reinaldo diz que há cinco anos o grupo trabalha para ajudar as pessoas a entenderem que elas têm que ser os agentes da transformação e nãoo ficarem esperando pelo Estado. “A ideia principal é disseminar o pensamento de que podemos retomar o poder de transformar, e deixar de sermos meros consumidores, assim voltando a sermos cidadãos” relata o jornalista. O presidente do Caras do Bem afirma que eles baseiam-se em três princípios constitucionais: o direito à segurança, o de ir e vir e a saúde.

 #AquiTemProblemaSM

       Moradores de Santa Maria foram convidados a participar da campanha pelo Facebook. A ação visa mapear os pontos de problemas na cidade, como buracos e falta de iluminação. Em menos de duas semanas, 60 pessoas apontaram locais com as mais diversas situações, incluindo trechos de assaltos recorrentes e esgoto a céu aberto. A campeã de reclamações foi a região centro, com 30 locais. Em segundo lugar ficou a região nordeste, com 14, seguida pela região leste com 12. Também tiveram apontamentos a região oeste, com três e a norte com uma.

       O mapa #AquiTemProblemaSM pode ser acessado abaixo. A partir desta iniciativa online, a intenção é entregar para as autoridades responsáveis o mapeamento das reclamações dos santa-marienses para auxiliar na solução dos problemas em Santa Maria. Durante construção desta reportagem, tentamos contato com a Secretaria de Infraestrutura, Obras e Serviços mas não obtivemos êxito.

 *Abra é um projeto interdisciplinar realizado pelos estudantes das cadeiras de Jornalismo I, sob a orientação da professora Morgana Machado, Fotografia de Imprensa, sob a orientação da professora Laura Fabrício, e Jornalismo I e Jornalismo e Mídias Sociais, ambas sob a orientação do professor Maurício Dias.