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Música

Programa da Rádio Web UFN tem nova temporada

Clique aqui para ouvir a matéria. Lançada no último dia 03, a nova temporada do Programa Brasilidade trouxe, no primeiro episódio, a carreira e a vida da cantora gaúcha Elis Regina. Segundo Miola, idealizador do programa,

Naquela mesa

Já não tenho mais certeza de que dia era aquele. Sexta-feira? Talvez sábado. Não tenho como lembrar, já fazia dias que não saia de casa ou sequer abria as janelas. Minha única obrigação e prazer naqueles

VocaPampa: a música tradicionalista com o canto a cappella

Se baterias, baixos e guitarras demandam esforço das bandas que sobem e descem dos palcos, alguns grupos possuem apenas uma missão: estar com as vozes afinadas. O canto a cappella tem suas origens na prática do canto

Conheça os músicos selecionados para produção de videoclipe

Depois de lançar uma chamada para selecionar  músicos e/ou bandas para a produção de um videoclipe, a turma da disciplina de Produção Audiovisual II do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) teve a

Duas faces sobre o viver da música em Santa Maria

O Calçadão de Santa Maria serve como palco para muitos artistas que olharam para o local como oportunidade de reconhecimento. É o caso de Marcelo Demichelli, de 38 anos, que em novembro completará 5 anos cantando

O lugar da produção musical independente na região

Desde a invenção do fonógrafo, criado em 1877 por Thomas Edison, até a simplicidade que um aparelho reprodutor de áudio possui atualmente, a música passou por diversos processos evolutivos em sua distribuição e execução. Mesmo assim,

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Da esquerda para à direita, Rubens Miola Filho e Ian Lopes, durante gravação do Programa Brasilidade.
Foto: Lucas Acosta/Arquivo Brasilidade

Lançada no último dia 03, a nova temporada do Programa Brasilidade trouxe, no primeiro episódio, a carreira e a vida da cantora gaúcha Elis Regina. Segundo Miola, idealizador do programa, a nova versão traz também algumas novidades: “Pretendemos trazer pelo menos um convidado a cada episódio, fazendo com que nossos ouvintes também possam participar do programa de forma mais direta. ”

A primeira edição deste ano contou com a participação de outros dois estudantes do curso de Jornalismo, Luiza Silveira e Nelson Bofill. “Foi uma experiência muito boa! Acho que apesar do nervosismo, foi um baita conhecimento poder participar. Acredito que a possibilidade de fazer parte de um programa de rádio é uma das muitas oportunidades que o curso nos oferece e que realmente acrescentam na nossa vida. ”, relata Bofill.

Para a estudante de Jornalismo, Luiza Silveira, esta também foi uma oportunidade de muito aprendizado: “Desde quando o Rubens e o Ian deram a ideia do programa, acreditei que fosse uma boa e, desde então, comecei a ouvir para apoiar meus amigos. Foi a primeira atividade na rádio que fiz fora do período de aula, uma experiência nova e de muito aprendizado. ”

O que é o Brasilidade?

Programa no formato Podcast que aborda assuntos voltados à música brasileira. Produzido pelos acadêmicos de Jornalismo, Rubens Miola Filho e Ian Lopes, e supervisionado pelo professor e jornalista, Carlos Alberto Badke, o programa vai ao ar a cada 15 dias, no perfil da Rádio Web UFN, na plataforma de áudio Spotify. A cada episódio, o programa traz a história, vida e carreira de um artista, buscando exaltar a cultura brasileira, sobretudo dos músicos do país.

“Tentamos usar o nosso gosto pessoal como guia para acharmos a melhor opção. Comentamos sobre a vida do artista, o estilo, alguns álbuns ou músicas mais conhecidas. Na última temporada, escolhemos assuntos que tínhamos um domínio maior, mas nessa (temporada) começamos com alguém que não temos tanto conhecimento, a cantora Elis Regina. ”, complementa Lopes, apresentador do programa.

Da esquerda para à direita, Rubens Miola Filho, Lucas Acosta e Felipe Perosa.
Foto: Alam Carrion/Arquivo Brasilidade

Para Miola, o Brasilidade é importante na sua vida porque é uma forma de falar de algo que gosta, com pessoas que gosta, com um objetivo em comum: exaltar a cultura brasileira. “O aprendizado jornalístico que a gente ganha com o tempo, como apuração, pesquisa, edição, apresentação, condução de uma entrevista, embasamento cultural e posicionamento político, são muito engrandecedores. Eu amo gravar o Brasilidade e pretendo fazer até me formar, depois espero que alguém de bom coração possa assumir o manto junto com o Ian, para eu deixar o programa em boas mãos. ”, afirma Miola.

Os apresentadores ressaltam ainda que estão sempre abertos a sugestões de pauta e que para os ouvintes que queiram participar do programa, basta entrar em contato com a produção da Rádio Web UFN e solicitar a participação.

Já não tenho mais certeza de que dia era aquele. Sexta-feira? Talvez sábado. Não tenho como lembrar, já fazia dias que não saia de casa ou sequer abria as janelas. Minha única obrigação e prazer naqueles dias era pesquisar e escrever sobre qualquer tema que eu fosse capaz de pensar. Eu lembro que entre um texto e outro, começou a tocar a música “Naquela Mesa” na rádio, a eterna representação de uma perda tão dolorosa e, ao mesmo tempo, tão natural. Comecei então a pesquisar sobre a música, ia ser meu novo tema pelos próximos dias.

Minha primeira descoberta já foi uma desilusão, a canção não foi escrita por Nelson Gonçalves. Na minha ignorância musical, que vezes se apresenta como uma dádiva, vezes como uma maldição, eu sempre imaginei o cantor sentado sozinho em uma mesa de um bar lotado, acompanhado apenas de um copo de whisky onde os gelos já derreteram, vestindo um casaco que não saia do armário há décadas e uma calça muito comprida. Ele mexia impaciente em um velho relógio de pulso, que a esta altura não funcionava mais, o que não era um problema, afinal, o tempo já não importava, enquanto ajustava os óculos que compensavam a falta de visão, consequência dos anos passados, e escrevia suas lástimas em um guardanapo sujo.

Eu nunca me aprofundei muito nesse assunto, mas tenho certeza que se eu me envolvesse um pouco mais, só poderia chegar a uma conclusão daquela noite. Conhecendo a grandiosidade de Nelson Gonçalves, imagino que após abraçar o luto, o cantor provavelmente acenderia um cigarro, pegaria um violão e exporia os seus pesares para todos os presentes, interpretando a mais bela canção que os brasileiros tiveram o privilégio de escutar. Por consequência, não haveria homem, mulher ou criança no recinto que fosse capaz de contemplar tamanha obra e não se encontrar em prantos.

Mas não. Minha imaginação me enganou por todos estes anos. Na verdade o compositor é Sérgio Bittencourt, uma homenagem feita no dia do falecimento do seu pai, em um guardanapo; ao menos essa parte eu acertei. Por um breve momento, eu lembro de esboçar um sorriso, chegava a ser engraçado pensar como um sentimento tão terno, que sempre existiu e sempre existirá, foi retratado de forma tão simples, capaz de transcender gerações; afinal, a autoria pode ser de Bittencourt, mas o sentimento é universal.

Foto: Alec White/ Pixabay

Desde que começou a pandemia do novo coronavírus, vários setores do comércio tiveram que fechar as portas para impedir a circulação do vírus. Com isso, muitas empresas passaram por dificuldades financeiras, corte de gastos e demissões.

Neste cenário, verifica-se  que inúmeras escolas de música estão se adaptando ao “novo normal”, buscando novas soluções e metodologias para manter seus serviços ativos. É o caso da escola Musiartes, uma das mais antigas escolas de música de Santa Maria e  que, no mês de maio último, teve uma baixa de 35% no número de alunos, acarretando dificuldades financeiras em todos os setores.

Segundo o CEO da empresa, Henrique Schneider, a escola não estava preparada para esse tipo de acontecimento e teve que enfrentar inúmeros desafios, desde a questão financeira até a adaptação para aulas remotas. Schneider explica que no começo a interação aluno e professor foi difícil, porque a opção naquele momento era usar aplicativos como Zoom e Whatsapp. Além disso, outros problemas dificultavam as aulas remotas, tais como a conexão instável e os aplicativos pesados. No entanto, o ponto mais delicado, segundo ele, foi o fato do aluno não estar presente para tirar suas dúvidas.

Tal cenário mudou quando a escola aderiu à metodologia da Keep On Playing,  empresa de educação musical que atua em parceria com diversas escolas de música no país, disponibilizando seu método de ensino e material didático em seus cursos. A ideia é oferecer cursos direcionados para cada tipo de aluno, tendo em vista que cada estudante  possui uma preferência e objetivo. Além disso, a empresa possui uma ferramenta de visualização de progresso, na qual o aluno acompanha, passo a passo, a sua trajetória no instrumento.

Foto: T Dube/Pixabay

Além da metodologia da Keep On Playing, a  Musiartes adotou uma plataforma online de ensino para melhorar o aprendizado dos alunos. A plataforma está disponível no site da escola, e faz com que o aluno não precisa baixar aplicativos para acessar as aulas. Ela consiste em disponibilizar material didático (cifras, partituras, letras) aulas gravadas e especializadas em um ambiente virtual próprio para cada aluno.

Segundo Mirian de Oliveira Tavares, professora de violino da escola, a pandemia causou uma infinidade de desafios. Entre eles, a adaptação dos professores e alunos à nova metodologia, o uso obrigatório de máscaras, as questões das bandeiras de distanciamento social – quando estava laranja, trabalhavam presencialmente e vermelha, remotamente.  No entanto, segundo a professora, isso não afetou o aproveitamento dos alunos. Ela afirma que ” os alunos correspondem bem. Há rendimento e buscamos realizar o sonho deles de tocar um instrumento e aprender as músicas que gostam”.

Ainda de acordo com o CEO da empresa, a Musiartes foi uma das primeiras empresas da cidade a possuir o plano de contingência aprovado, oque fez com que as buscas pela escola aumentassem consideravelmente. Para Henrique Schneider as expectativas para o futuro são promissoras.  Segundo ele ,  “o cenário está melhorando, então, vamos sair mais fortes porque nós aprendemos com a pandemia, tendo que criar novos cursos e flexibilizações”.

Henrique diz também que as ” expectativas para 2021 são que (a empresa) tenha bons resultados. Até melhores do que antes, por conseguirmos nos  reinventar e, ao mesmo tempo, criar novas possibilidades. Hoje não temos aquela barreira local; estamos conseguindo expandir até mesmo para outros estados. Portanto, nossa perspectiva é de crescimento,”conclui.

Texto de autoria de Rubens Miola Filho, produzido na disciplina de Produção da Notícia

Grupo VocaPampa, em apresentação ao vivo, Foto: arquivo pessoal

Se baterias, baixos e guitarras demandam esforço das bandas que sobem e descem dos palcos, alguns grupos possuem apenas uma missão: estar com as vozes afinadas. O canto a cappella tem suas origens na prática do canto gregoriano, que não exige o auxílio do órgão ou de qualquer outro instrumento, sendo executado apenas por vozes de monges ou clérigos que formavam o grupo de cantores.

Muitas vezes os cantores desciam do presbitério e se punham a cantar em uma capela lateral da igreja, daí a origem da expressão. Essa forma de arranjo musical vem sendo executado por artistas de diversos estilos diferentes, o que lhe confere popularidade.

As músicas cantadas a cappella se modernizaram com a entrada da percussão vocal, o chamado beatbox, com a modificação do papel do baixo, que não só canta a letra como é responsável pelo grave do ritmo, e os cantores ganham trabalho no quesito extensão vocal e/ou sons imitáveis.

No Rio Grande do Sul existem diversos grupos a cappella, e em nossa cidade não seria diferente. Aqui temos o grupo VocaPampa, composto por seis integrantes, que juntos, encontraram uma forma de realizar o sonho de cantar. Todos os componentes são graduados em Música pela Universidade Federal de Santa Maria.

O grupo foi formado em 2016, a partir do desejo de um dos componentes, o músico e professor Josemar Dias, possuir o desejo de trazer para o coração do Rio Grande essa forma de canto, criando a identidade do grupo, que possui um repertório de músicas nativistas e originais.  Josemar, já conhecendo os demais componentes a partir do Departamento Tradicionalista Gaúcho Noel Guarany, projeto de extensão da UFSM, convidou os demais cantores a se unirem a ele. Sendo assim, atualmente o VocaPampa é formado pelos seguintes músicos: Ediana Larruscain, soprano; Gabriel Zeppe, contratenor; Josemar Dias, tenor; Lucas Siduoski e Julio Cezar Pires, Barítono;Matheus Lameira, Baixo. (Vídeo música Céu, Sol, Sul, Terra e Cor – VocaPampa).

O grupo VocaPampa preparou um arranjo inédito desta canção “Céu, Sol, Sul, Terra e Cor” retratando a cultura do Rio Grande do Sul. O vídeo conta com mais 7 mil visualizações no Youtube. Confira no vídeo como a mágica acontece:

Conversamos com alguns integrantes que nos contaram das suas experiências e trajetórias musicais, e explicaram como são definidas as vozes nas partituras.

Jornalismo Cultural – Você sempre quis cantar desde criança? Quando surgiu o amor pela música?

Matheus Lameira (baixo)  – Comecei os estudos em música aos 5 anos através do método Suzuki, aqui em Santa Maria, aprendendo violino, meu instrumento principal de trabalho. Até chegar à faculdade (com 17 anos) nunca tinha explorado a minha voz. No Curso de Licenciatura em Música comecei cantando no Coral Universitário, onde fui conhecendo melhor o trabalho vocal.

JC – Qual a tua formação? Quais projetos trabalhou antes de entrar no VocaPampa e quais possui agora fora do grupo?

ML – Sou licenciado em Música pela UFSM. Antes do VocaPampa toquei na Orquestra Sinfônica de Santa Maria. Atualmente, além do VocaPampa, sou regente de três corais (Coral Allan Kardec, Coral Nativista do CTG Sentinela da Querência e Coral Vozes do Vagão, do Colégio Militar); sou educador musical no colégio Nossa Senhora de Fátima, professor de violino e violoncelo na AMEART (Tupancireta), diretor do musical do CTG Sentinela da Querência e administrador do grupo Cadenza – Assessoria Musical (para eventos em geral).

JC – Como você se sente em relação ao sucesso e a notoriedade que o grupo vem ganhando ultimamente?

ML – Sinto-me grato à todas as pessoas que abraçam o VocaPampa e reconhecem o trabalho vocal a capella que é realizado, pois esta cultura ainda está em fase de crescimento no Brasil.

JC – Um dos diferenciais do grupo é a música tradicionalista. Como que você percebe essa questão no trabalho do VocaPampa?

ML – Por nós fazermos músicas nativistas e regionais do Rio Grande do Sul, isso acaba sendo um dos selos do VocaPampa. Embora a gente tenha canções de Natal, um show de Natal, canções de rock, pois já participamos de dois festivais de rock em Porto Alegre.

JC – O VocaPampa também anda por outros meios, mas o selo que traz a identidade do grupo e a música nativista e regional. O que acaba sendo um diferencial pela dificuldade de encontrar para grupos a cappella no Brasil, no Rio Grande do Sul, ou até mesmo, aqui em Santa Maria e que ainda faça esse estilo de música.

JC –Você sempre quis cantar desde criança? Como que surgiu a sua experiência musical?

Josemar Dias (tenor) Tudo surgiu de um desejo pessoal, muito ligado com a minha experiência musical desde os meus 10 anos de idade, na cidade. Pelas minhas oficinas de canto coral no colégio, que durou toda a minha adolescência até o terceiro ano do ensino médio, onde eu participei dessas oficinas. Então, meu contato com o grupo vocal aconteceu desde muito cedo.

JC – Como que surgiu a ideia de criar um grupo a cappella?

JM – Quando eu fui para Santa Maria,  consegui trabalhar com os CTGs para trocar nas invernadas que tem como uma das suas características o trabalho vocal muito forte, já que utiliza bastante da voz para construir a música que embala os sonhos dos dançarinos. A partir disso eu conheci a maioria dos integrantes por experiências de convívio em ambientes tradicionalistas. Eu tive a ideia de convidá-los a formar o grupo que, na verdade, era uma ideia antiga minha, pois eu já acompanhava outros grupos a capella. Na época nem tinha o YouTube. Então a ideia surgiu dessa influência. Nós todos somos oriundos da Universidade Federal de Santa Maria, do curso de Música, e a gente acabou de se conhecendo lá e também pelo trabalho que nós desenvolvemos em entidades tradicionalistas.

JC – O que é o canto a cappella?

Ediana Larruscain  (soprano) – A cappella é um termo italiano que significa você fazer música, sem usar nenhum instrumento musical. A voz seria o único instrumento musical, que não precisa comprar. Então, fazer um grupo a capella tem esse sentido, um grupo musical, que não utiliza nenhum tipo de instrumento, que não seja a voz.

JC – Por que fazer um grupo a cappella?

EL – Eu me identifico como cantora. Eu toco teclado, violão e outros instrumentos musicais, mas o meu instrumento principal é o canto. Então, eu sou meio suspeita de querer fazer um grupo a capella porque, às vezes, a profissão do cantor é solitária, e até mesmo carrega uma grande responsabilidade. Imagina juntar várias pessoas, que tem uma grande responsabilidade de fazer musical e querem fazer música junto, que estão cansados dessa solidão… o grupo a capella é perfeito para a gente se unir e fazer música, que é o que a gente gosta de fazer.

JC – Um dos diferenciais do grupo é a música tradicionalista. Como que você percebe essa questão no trabalho do VocaPampa?

EL – A música gaúcha é uma das principais características que chama a atenção para o nosso grupo. Se você procurar outros grupos a capellas tem alguns com beatbox, que geralmente nesses grupos mais modernos, e tem grupos vocais aqui do Rio Grande do Sul, que usam um repertório variado. Partindo da música gaúcha para o pop, nacional, internacional, samba. O VocaPampa foca na música gaúcha e esse é um grande diferencial do nosso grupo.

JC – Você sempre quis cantar desde criança? Quando surgiu o amor pela música?

Gabriel Zeppe ( contratenor) – Eu nasci em uma família de músicos, então sempre tive esse contato com a música. Fui estimulado desde berço a ter essa disponibilidade musical. Então foi muito bom para mim, e algumas coisas foram muito fáceis por ter essa pré-disponibilidade musical. Eu canto há um bom tempo em função de que minha mãe e minha irmã sempre cantaram, meu pai também sempre cantou um pouco e eu sempre estava junto, então esse contato desde novo estimula como qualquer outra forma de aprendizagem. Eu comecei a cantar desde muito pequeno e comecei a participar de festivais, até que comecei a fazer aulas canto, de técnica vocal, onde meu professor, que estudava música na UFSM, me apresentou o curso. Foi então que eu pensei que era isso o que eu queria fazer, foi paixão à primeira vista. A partir daí eu comecei a me dedicar e estudar para entrar no curso. Dentre os demais estudos que tinha de canto, tinha o coral e uma orquestra. Eu comecei cantando no coral do SESI Santa Rosa. Eu morava com meus pais em Porto Lucena e ia até Santa Rosa para ter uma aula por semana. Em 2016, eu entrei no curso de licenciatura em Música na UFSM. A partir daí, eu comecei a cantar no coro da UFSM e  onde conheci o Josemar e a Ediana, que também cantavam no coro. Em 2017, eles me convidaram para entrar no VocaPampa. Também foi uma paixão à primeira vista, pois fui muito bem recebido e hoje eles são uma família para mim.

JC – Quais projetos trabalhou antes de entrar no VocaPampa e quais possui agora fora do grupo?

GZ – Além de cantar no VocaPampa, eu estava dando aulas, antes da pandemia, na extensão de música que a UFSM oferece, de canto, de técnica vocal e de grupo vocal. Além disso, aulas de canto particulares.

JC – Como você se sente em relação ao sucesso e a notoriedade que o grupo vem ganhando ultimamente?

GZ – Feliz, é um trabalho minucioso. São vários detalhes que precisam ser estudados e precisam de muita atenção para fazer a coisa acontecer. Como todos estudamos música, temos uma bagagem e queremos colocar tudo no VocaPampa, no trabalho que a gente faz. Isso requer bastante estudo e conhecimento, porque além de tudo eu aprendo muito com meus colegas, e isso é notável nas nossas músicas, é possível notar que temos um trabalho muito rico, tanto musical como interpretacional, que nós tentamos fazer da melhor forma. Eu acho que o nosso sucesso é em função disso, de fazermos da melhor forma possível, porque tudo aquilo que se coloca amor, dedicação, um grupo, uma unidade trabalhando em prol daquilo, sempre vai ter sucesso.

JC – Quais os planos para o futuro do VocaPampa?

GZ – O que eu espero é que o VocaPampa siga colhendo os frutos que ele já plantou ao longo de todos esses anos. O que eu acho admirável no VocaPampa, é a união, a qualidade musical e a amizade entre todo mundo. É isso que rege nosso trabalho e faz com que a gente colha todas as coisas boas que acontecem conosco. É isso que eu espero, sucesso e muitas coisas boas que virão.

Por Allysson Marafiga, Gabriele Braga e Mariama Granez, acadêmicos de Jornalismo da UFN – Universidade Franciscana. Matéria produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, com a orientação do Professor Bebeto Badke. 

 

Grupo realizou apresentação ao vivo no YouTube, arrecadou recursos para hospital e vai repetir mais ações em junho. Foto: arquivo do grupo

A pandemia do novo Coronavírus provocou uma mudança na sociedade, inclusive na área artística. Shows e jantar-bailes foram cancelados para atender uma das principais medidas de prevenção da doença: não proporcionar aglomeração de pessoas. Este cenário fez com que a rotina do Grupo Tchê Chaleira, de São Sepé, ganhasse novo ritmo. Isto porque o Grupo se inseriu ainda mais nas redes sociais e vem estreitando relacionamento com fãs e simpatizantes.

Exemplo disso foi a live realizada no YouTube no dia 15 de abril. Até o início de junho, a transmissão obteve quase 300 mil visualizações no total. O engajamento também ocorre no Facebook, especialmente com postagens sobre curiosidades do Grupo, músicas que fazem sucesso e chamada para a segunda Live #chaleirou no dia 21 de junho.

Para saber mais sobre as apresentações, ações solidárias e detalhes do sucesso Tô bebendo demais, que possui mais de 27 milhões de visualizações somente no Youtube, confira a entrevista com Roger Wegner, baixista Tchê Chaleira. Além dele, o Grupo é formado por Igor Freitas, guitarra e voz; Rhudi Espínola, bateria e voz; Mário Junior, vocalista; João Baldessari, gaita e voz; Jeferson Solner, gaita e voz, e Anderson Wegner, manager (agente musical).

Pablo Milani e Eduardo Schneider: O grupo realizou uma live com mais de três horas de duração no dia 15 de abril, em São Sepé. Como foi essa experiência, sem o público no salão de shows?

Roger Wegner (TC): A experiência foi muito interessante, pois foi a primeira vez que fizemos uma transmissão ao vivo pelo YouTube. Mesmo sendo acostumados a nos apresentar para grandes públicos durante mais de 23 anos, como ainda não tínhamos feito esse modelo de show, ficamos muito nervosos. Estávamos apreensivos com tudo mesmo, desde se a conexão estava legal, se os comentários do público estavam sendo positivos e se o cenário estava bonito. Mesmo assim, ocorreu da melhor forma possível. Colhemos bons frutos dessa primeira experiência.

PM e ES: No dia 8 de maio, foi feita a entrega da doação arrecadada pela vaquinha online no dia da live. Os recursos foram entregues para o Hospital Santo Antônio de São Sepé. O que significou este gesto solidário e qual lição fica?

RW (TC): Para nós significou muito, pois pudemos ajudar o hospital da nossa cidade, que embora seja pequeno, é muito organizado, e atende de uma forma muito profissional toda a nossa população. Como residimos em São Sepé, tem mais valor ainda, porque dessa forma pudemos, por consequência, ajudar conhecimentos, amigos, e até quem não conhecemos mas que dividem o município com a gente.

PM e ES: Vocês tem postado vídeos no Facebook falando sobre diversos assuntos que envolvem o Tchê Chaleira. Como e quando surgiu esta ideia e qual o objetivo?

RW (TC): Foi a forma que achamos para interagir mais com o nosso público, que devido a parada, acabou se distanciando dos bailes, e por consequência, de nós mesmos. Surgiu logo depois da live, porque vimos que o público precisava de interação contínua conosco. Então buscamos variar assuntos para cada vez mais engajar mais seguidores em nossas redes sociais.

Grupo recebe placa do Youtube por atingir marca de 100 mil inscritos. Foto: reprodução

PM e ES: Vocês consideram, então, que as redes sociais são ferramentas importantes para manter o vínculo entre integrantes do grupo e  o público?

RW (TC): Com certeza, pois hoje as redes sociais são a nossa TV aberta, a nossa rádio, não substituindo esses veículos de suma importância em qualquer carreira, mas servem como meio de expor aos olhos de todos de uma forma mais barata e justa.

PM e ES: A presença de vocês nas redes sociais já existia ou foi alternativa encontrada devido a pandemia do novo Coronavírus?

RW (TC): Sempre usamos as redes sociais para isso, porém como a live no YouTube foi a primeira vez. A live serviu para nos mostrar que é mais uma ótima ferramenta de divulgação do nosso trabalho.

PM e ES: Uma das principais fontes de renda de um grupo musical é o show. Com o cancelamento deste tipo de prática artística, ainda com prazo indefinido, como vocês planejam o futuro?

RW (TC): Planejamento em si é bem difícil de fazer porque não sabemos quando voltará tudo ao normal. Seguimos trabalhando em novas músicas e novos clipes para lançarmos quando tudo voltar.

PM e ES: Vocês pretendem fazer alguma música que reflita sobre a pandemia?

RW (TC): De momento ainda não surgiu.

PM e ES: Se porventura o cancelamento de shows ainda persistir por mais tempo em virtude da pandemia, o grupo pretende realizar outras lives para se aproximar dos fãs e ao mesmo tempo ajudar aos necessitados?

RW (TC): Com certeza. Teremos  no dia 21 de junho, em nosso canal do YouTube, que tem como beneficente o Lar das Vovozinhas de Santa Maria. Na oportunidade, iremos fazer a festa anual que o pessoal sempre organiza em junho para ajudar as vovozinhas, porém a festa será por nossa conta online. Quem quiser doar é só assistir a live e fazer a sua parte através do QR Code que estará disponível, bem como, um telefone para doações diretas. (N.R.: a entrevista foi realizada no final de maio)

 Do sul para o Brasil: Tô Bebendo Demais é sucesso no país

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Indo além de questões relacionadas a pandemia do novo Coronavírus, é impossível não perguntar sobre a música Tô Bebendo Demais, que possui mais de 27 milhões de visualizações somente no YouTube. Se acrescentar Facebook e Spotify, o número é de quase 38 milhões.

PM e ES: Como vocês destacam o sucesso dessa música na trajetória do grupo?

RW (TC): Foi o maior sucesso da história do Tchê Chaleira sem sombra de dúvidas. Nos elevou a um patamar muito alto, proporcionando ao Grupo espaços e conquistas inimagináveis. Através desse sucesso participamos de programas em rede nacional, como Programa do Ratinho e Raul Gil, além de ser a primeira banda do sul a alcançar a marca de 100 mil inscritos no Youtube, recebendo assim, a placa de premiação por esse número alcançado. Com tudo isso, a Tô Bebendo Demais foi um marco, não só para o Tchê Chaleira mas para toda a música do sul, pois ela ficou em primeiro lugar no nosso estilo durante dois anos e meio nas rádios de todo o sul, em um mercado que não dava espaço para as músicas de bandas, e sim para o estilo sertanejo. Então acredito que esse foi o feito que a Tô Bebendo Demais fez em prol de toda música do sul.

PM e ES: Por fim, quais são as referências ou influências do grupo?

RW (TC): Todas as bandas, inclusive algumas que não são do nosso estilo. Fica difícil citar uma ou cinco, pois sempre buscamos admirar os mais variados estilos para formar o nosso.

Por Pablo Milani e Eduardo Schneider, acadêmicos do curso de Jornalismo da UFN.  Matéria produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, orientada pelo professor Carlos Alberto Badke.

 

Divulgação UniArtes Foto: Facebook

Durante a tarde de sábado, 19, integrantes da comunidade acadêmica e de Santa Maria terão como opção para o final de semana a última edição do UniArtes. O evento acontecerá das 14h as 17h, no hall do prédio 15 do Conjunto III da Universidade Franciscana (UFN). Desta vez, as atividades serão em comemoração ao mês das crianças e a São Francisco, com a benção dos animais e variadas atrações para os pequenos.

O evento, que tem como objetivo promover lazer e momento de encontro entre acadêmicos e egressos, funcionários e a comunidade santa-mariense, terá música, artesanato e espaços de alimentação. Durante a tarde ainda haverá apresentação do grupo germânico Immer Lustig, a Brinquedoteca e o Cientista Aprendiz Kids destinado às crianças e a presença do projeto [Com] Vida que irá realizar uma exposição fotográfica do bairro Rosário.

Confira a programação:

14h – Abertura e Momento de Espiritualidade conduzida pela Pastoral Universitária
14h30 – Apresentação do grupo Musencanto
15h – Oficina de Slime
15h30 – Apresentação do grupo de folclore germânico Immer Lustig
16h – Apresentação Musical com o acadêmico do Curso de Letras, Maico Rosa

Além das atividades que estão programadas, será realizada a benção dos animais e uma oficina de desenho e construção de mapas mentais. O evento é gratuito e aberto a todos.

Foram selecionadas 4 das 75 músicas inscritas. Foto: Imagem de Ryan McGuire por Pixabay

Depois de lançar uma chamada para selecionar  músicos e/ou bandas para a produção de um videoclipe, a turma da disciplina de Produção Audiovisual II do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) teve a difícil tarefa de selecionar 4 das 75 músicas inscritas.

As inscrições contemplaram 16 gêneros e subgêneros musicais, sendo que os com maior número de inscritos foram o rap (12), o rock (9), trap (7) e pop (6). João Paulo Antunes, um dos alunos da turma, comenta que quando decidiram fazer o formulário, não havia muita expectativa de inscritos. O resultado impressionou!

“A seleção foi divertida por ver o quanto de diversidade e pluralidade existe em nossa cidade, mas, acima de tudo, enriquecedora. Ver novos estilos, gêneros e artistas é sempre bom e oxigena o que pensamos sobre onde moramos. No fim, escolher alguém é saber que estaremos dando uma grande ajuda para um artista local e que ambos vão ser recompensados de alguma forma”, cometa ele. Sabrina Bianchi Soares frisou que a maioria dos inscritos eram desconhecidos da turma: “é muito legal perceber que Santa Maria, sim, possui grandes músicos que na maioria não são conhecidos”.

Além do número de inscritos, a variedade de composições e de estilos dificultou a seleção. Para João, “vários artistas têm um conteúdo muito bacana e que merecia ter uma história contada e ilustrada em clipe ou então algo que pudesse mostrar a essência do som que fazem”. Contudo, como a disciplina possui 14 estudantes, foram selecionadas 4 músicas que são:

Sete Mares, da banda Arteja – gênero pop rock

Look Around , de Rafa Recchia – gênero hiphop/rap

Trip, de Juca – gênero trap/rap

Velhos discos, da banda Nevoero – gênero blues rock

Agora, os próximos passos são contatar os artistas e fazer os roteiros. “Espero que saia um trabalho que possa fazer diferença na estrada profissional do músico ou da banda e que possamos aprender juntos durante o processo”, empolga-se Sabrina.

A proposta audiovisual será inteiramente elaborada e executada pelos alunos durante o mês de outubro, sob orientação da professora Neli Mombelli e com suporte Alexsandro Pedrollo, diretor de fotografia da instituição.

Cantor Marcelo Demichelli apresentando seus covers no Calçadão. Foto: Allysson Marafiga

O Calçadão de Santa Maria serve como palco para muitos artistas que olharam para o local como oportunidade de reconhecimento. É o caso de Marcelo Demichelli, de 38 anos, que em novembro completará 5 anos cantando no centro da cidade.  Ele conta que faz shows instrumentais em festivais de rock, formaturas e casamentos, mas, no dia-a-dia, escolhe um repertório variado de músicas populares que tem grande reconhecimento do público adulto. “Valorizar quem faça músicas autorais e músicas com conteúdo, não só com ritmo dançante, faz um pouco de falta para que o artista ganhe reconhecimento regional e nacional”, comenta Marcelo, que consegue viver da música.

Uma outra face da música na cidade ganha destaque com artistas que estão investindo no seu trabalho autoral por meio da internet. Um exemplo é o estudante de Publicidade e Propaganda Eduardo Agostta, de 20 anos, que já possui três músicas na plataforma Spotify e pretende fazer mais um lançamento no final de setembro.

Veja abaixo o relato do cantor Eduardo Agostta sobre o início de sua carreira e o mercado musical da cidade.

Matéria produzida por Gabriela Flores Neto, na disciplina de Produção da Notícia do curso de Jornalismo da UFN.

 

Desde a invenção do fonógrafo, criado em 1877 por Thomas Edison, até a simplicidade que um aparelho reprodutor de áudio possui atualmente, a música passou por diversos processos evolutivos em sua distribuição e execução. Mesmo assim, um componente sempre apareceu na emissão das obras musicais: o selo fonográfico. Selos fonográficos são marcas usadas no lançamento de músicas gravadas em fonogramas, que podem ser discos de vinil, fitas cassete, cd’s ou videoclipes e mp3. Esses selos representam organizações como editoras, gravadoras ou produtoras, que são empresas dedicadas a trabalhar em conjunto com artistas na construção de suas carreiras.

Com dez anos de caminhada na produção cultural, Gadea Produções é a empresa que reúne o portfólio das produções realizadas pelo produtor cultural Leonardo Gadea. Recentemente, ele lançou o Selo Gadea, que oferece curadoria para distribuição digital a artistas independentes e bandas do Rio Grande do Sul e arredores. Hoje, Gadea se reconhece como um ativista na cultura, atuando no cenário da música produzida no Sul do Brasil, em atividades como direção de produção para gravações até espetáculos, webséries, documentários e videoclipes.

O produtor Leonardo Gadea entra em detalhes sobre a produção cultural:

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Editoras, gravadoras e produtoras

A editora é a empresa responsável por registrar e administrar obras musicais. Assim, sua obrigação é garantir a geração de receita pela divulgação e promoção das músicas, assim como realizar a distribuição da receita dos valores recebidos pelo ECAD, devido aos direitos autorais das pessoas envolvidas nas composições lançadas pela firma. Enquanto esse trabalho é feito pela editora, a gravadora é a empresa que transforma a obra musical em um fonograma para a publicação posterior. Uma gravadora pode ter seu próprio estúdio ou contratar uma produtora de áudio para realizar a produção.

Ao envolver profissionais como artistas, produtores musicais, compositores e instrumentistas, gravadoras são empresas que produzem e lançam músicas e/ou videoclipes com atenção voltada aos processos de captação, mixagem e masterização. Além desses serviços, as gravadoras também podem ser responsáveis pela promoção dos lançamentos, pelos serviços de publicidade e da efetuação de vendas dos fonogramas, assim como a resolução de questões jurídicas.

A produtora de áudio é a empresa que realiza serviços como jingles e trilhas sonoras para filmes, jogos ou séries. Tanto em uma gravadora como em uma produtora de áudio, quem arca com os custos para a fixação da obra musical em um fonograma, além do trabalho de gravar a obra musical em um fonograma e/ou audiovisual, é o produtor.

Nas grandes gravadoras –  protagonistas no cenário mainstream – os selos são subdivisões de uma matriz, com foco em nichos musicais específicos para  facilitar o desenvolvimento dos trabalhos. Enquanto isso, selos independentes transformam editoras, gravadoras e produtoras em uma mesma empresa, que se torna responsável pela captação, produção, mixagem e masterização das músicas, com o mesmo nome para o selo, a editora, a gravadora e a produtora.

Selos independentes no Brasil.

Selos independentes

Como empresas autônomas, todo ou maior parte do capital está nas mãos da pessoa dona do selo. No caso de artistas autônomos, há maior liberdade para a criação das composições, além da possibilidade de escolha de em quais gêneros e estilos se aventurar, assim como produzir e gravar suas músicas com o exercício da licença poética.

Com a redução dos custos dos materiais necessários para se criar um estúdio, muitos artistas se tornam produtores musicais, assim como produtores musicais se tornam artistas. Esse é o caso do Marcus Manzoni, que já lançou quatro álbuns e dois singles como cantor e compositor, e participou de uma coletânea internacional de um selo da Itália.

Em conversas no estúdio com os integrantes da banda Aerogramas chegou-se ao consenso de que faltava um meio de divulgação das bandas que eram produzidas na cidade e na região. “Faltava algo que levasse essas bandas adiante, e que as gravações daquele estúdio ou gravações em geral do meio independente da região, fossem levadas adiante, não parassem após a banda gravar e publicar para as pessoas. Naquele momento a gente se deu conta de que faltava um espaço a mais, que tivesse uma assessoria de imprensa, que levasse as músicas para as rádios e meios de comunicação, que fizesse a mídia social, etc. Foi a partir daquele momento que a gente viu que devia ser criado um selo fonográfico”, explica.

Manzoni fundou o selo independente Ué Discos em 7 de julho de 2014, reunindo os serviços oferecidos por editoras e gravadoras na mesma empresa. O selo musical Ué Discos hoje já conta com mais de cinquenta lançamentos e mais de vinte artistas lançados do Brasil e de alguns países do exterior também, como da Argentina, Itália, Portugal e Uruguai. Entre artistas e bandas autorais, estão Aerogramas, Bombo Larai, Matungo, San Diego e Vespertinos.

Marcus desenvolve uma história dos lançamentos da Ué, mencionando que em 2015, a gravadora lançou uma banda chamada Weird, da Itália, e  uma artista mulher , Armaud, que canta e também é da Itália; em 2016, o selo lançou o disco Vamo Matungá!, de Vandré La Cruz  de Porto Alegre, mas atualmente mora em Montevidéo, no Uruguai. A banda El Sonidero & Fanfarria Insurgente, uma banda da Argentina, localizada em Buenos Aires, entrou na equipe da gravadora em 2017.

Marcus divulga mais um artista lançado pela Ué Discos, o cantor e compositor de Portugal chamado Jass Carnival. “Hoje ele reside em Porto Alegre, está fazendo um doutorado na capital”, Manzoni menciona. Ele continua dizendo que foi através dessa estadia dele aqui no Rio Grande do Sul que ele conheceu a música dele, conversou com ele e lançou as suas músicas pela Ué Discos.

A Ué Discos possui com a parceria do Zás Estúdio Criativo, produtora de áudio de Marcus em que são realizadas as produções de artistas de Santiago e região. Como produtor musical, Manzoni é responsável por realizar as gravações, coordenar os músicos e cantores no processo criativo, fazer a supervisão da mixagem e também da masterização.

Segundo Manzoni, que trabalha há quinze anos com áudio em Santiago, o papel do produtor musical é guiar o artista para onde ele deseja ir com suas músicas. “O artista tem a ideia e o produtor musical faz a ideia acontecer, da forma que o artista imagina. Eu sempre peço um briefing antes do trabalho, para que eu possa saber o que ele está pensando e onde ele quer chegar no resultado final”, declara.

Ricardo Pereira é um dos membros do coletivo e selo musical independente 907Corp, onde atua como mestre de cerimônia, beatmaker e produtor musical. Assim como Manzoni, Pereira acredita que o papel do produtor seja induzir o que vai ser da música, desde o início no processo da criação do som até os processos finais, de edição, mixagem e masterização. “No cenário do RAP, o produtor é quem cria a história para o MC escutar o instrumental e escrever a letra. Ele vai escutando a música e o que está sendo cantado para ter uma ideia do que pode ser feito no processo de finalização da obra”, declara.

Um dos membros do coletivo é Eduardo Rodrigues, MC conhecido como VDNV ou VIDANOVA. Questionado sobre o início de sua trajetória no rap, declara que começou através da poesia, a parte que mais o interessou até que encontrar o ritmo. “Depois se formou o ritmo e a poesia foi quando deu aquele baque, sabe? Quando tu sente a emoção, a energia daquilo que tu tá fazendo, que tu sente que tu ama. E aí consegui ver que era isso que eu tava almejando”, relata Rodrigues.

Em referência a quais os motivos para trabalhar com música, afirma que vai mais pela questão do amor. “Acaba sendo como uma forma de trabalho porque a gente tem que sobreviver no mundo, mas é mais pelo amor”, esclarece. Segue o depoimento dizendo que prefere buscar sua forma de sobrevivência fazendo o que ama do que fazendo algo que não sinta prazer, que não sinta tesão. É a gente tentar correr atrás do nosso sonho, seja ele qual for.

Outro MC da 907Corp, Lucas Martins, conhecido pelo nome artístico Lilhouse, declara que escreve com o livre arbítrio, de compor, de que as suas letras sempre vão mudar alguém. Ele relata que a música salvou sua vida, e acredita que pode salvar a vida de outras pessoas também. Lucas diz ter sido muito depressivo e viu que poderia sair dessa escrevendo, compondo. Viu também que não era o único a passar pela depressão, e que a música pode mudar muita vida, então se jogou nisso. “Comecei a rimar pros outros, comecei a mostrar para os outros e sempre me apoiaram, diziam que era massa, que gostavam de ouvir aquele tipo de rima, aquele tipo de mensagem”, afirma.

Questionado sobre o trabalho de um MC, garante: “É sempre tá junto com a música, sempre tá presente com aquilo… Tu tá jogando tua vida naquilo, não é um trabalho muito fácil mas é um trabalho que leva tempo, e sempre tem alguém que vai tá ali contigo, vai tá te ouvindo, vai curtir o teu trabalho, então acho válido isso”.

Dentro do coletivo, a estudante de publicidade Camilla Xavier é responsável pela cobertura fotográfica e audiovisual, além de fazer a assessoria de comunicação da equipe. Além da Camilla, há o Yuri Marques que auxilia no marketing, através da fabricação de ilustrações para a equipe, de cuidar das edições e da distribuição digital.

Segundo Camilla, o trabalho de assessoria requer referências para a execução do trabalho. “Quando fui começar a fazer a assessoria do selo, procurei bastante referência musical no cenário do rap nacional, que eu achei que se encaixava no estilo dos guris. A partir daí, pensei em uma estratégia e montei o cronograma, organizando a agenda com shows, lançamentos de clipes e de músicas”. Além disso, a estudante também organiza a programação para fazer posts nas redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, e pensa em uma estratégia para fazer os patrocínios, que tipo de patrocínio fazer e qual valor investir, assim como pensar em que público atingir”.

Os mestres de cerimônia (MC’s) e beatmakers da 907Corp falam sobre suas trajetórias, vivências e os motivos para fazer música no vídeo a seguir:

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Tratando da distribuição dos lançamentos da Ué Discos, Manzoni explica: “A distribuição é feita através da nossa parceira com a Tratore, uma empresa de São Paulo que é especializada em distribuição digital”. Segundo ele, depois que o artista gravou o álbum, é realizada a masterização e são enviados os arquivos com a melhor qualidade para a Tratore, empresa responsável pela distribuição em mais de 150 plataformas.

Em relação à divulgação e promoção dos lançamentos, Marcus afirma que a distribuição dos discos se desenvolve com o envio do press release para uma lista de contatos da comunicação da empresa, que contém blogs, influencers, sites, jornais, zines, etc.

Um cantautor

Vandré La Cruz. Foto: arquivo pessoal

Vandré La Cruz, o cantautor conhecido Matungo, descreve que faz música mestiça –  uma mistura de ritmos da região com ritmos populares. “O mágico da mestiçagem musical, desse rótulo, é que um boliviano e uma italiana podem estarem fazendo música mestiça, mesmo apresentando coisas completamente diferentes, desde que estejam ali coisas do seu chão misturado a outras”, assegura.

Questionado sobre porque decidiu trabalhar com música, contesta que nunca decidiu atuar na área. O cantautor afirma que trabalhar com música dá muito trabalho, girar por aí dá muito trabalho, assim como convencer as pessoas a te escutar dá muito trabalho.

Ele esclarece que, há muitos anos, decidiu que a música não lhe daria gastos. Sua vivência na música banca a si mesma, possibilita viagens, possibilita conhecer pessoas e lugares. “Gosto muito de fazer música. É uma necessidade física, mental e sentimental minha seguir fazendo música. Então sigo fazendo, do meu jeito, no meu tempo”, conta.

Respondendo sobre a ligação com a Ué Discos, Vandré relata: “Alguém me mostrou o disco do Marcus Manzoni. Ouvi, gostei e escrevi. Ele tinha um selo, conhecia a Bombo Larai, eu estava por gravar meu disco, conversamos e a coisa foi”. Afirma que recomendaria a qualquer artista independente uma parceria com um selo. Conclui que a Ué Discos foi importante em seu caso, pois colocaram as músicas nas plataformas de um jeito bonito e profissional.

Em relação ao seu projeto Matungo, Vandré afirma que começou com a necessidade de dizer coisas que não havia espaço na Bombo Larai, seu projeto anterior. “Na Bombo eu compunha para um grupo. A música tinha que falar por todos. E tinham coisas que eu queria falar. Então num primeiro momento foi isso. Depois somou-se a oportunidade e a vontade de morar no Uruguai. Então botei o Matungo na mochila e me fui. De lá pra cá tem o disco, uma ida até a Bolívia para receber um prêmio e muitas outras coisas. Atualmente estou com um segundo disco para ser gravado, e estamos estudando com algumas parcerias a melhor forma de fazer acontecer”, relata.

João Antônio Feijó é um músico integrante da banda San Diego. Descreve que é vocalista e compositor, e encontrou na música uma forma de expor as suas vivências e suas angústias, dentro da banda San Diego. Indagado sobre o que o levou a trabalhar com música, diz que não foi uma escolha, mas sim algo que o acompanhou durante toda a vida. “A partir do final da adolescência, tive vontade de externar isso por meio de uma banda autoral, que eu sempre pensei que fosse a melhor maneira ou a forma mais legítima de se fazer música”, conta. Sobre a banda, Feijó elucida que a San Diego começou sem a intenção de tocar as músicas compostas posteriormente.

Feijó declara que a composição dos sons começou de maneira despretensiosa, com as gravações das músicas ocorrendo em um quarto. O apanhado de músicas compostas se tornou o ep Full Storage, lançado pela Ué Discos em 24 de agosto de 2016. Conforme Feijó, a banda começou como uma expressão artística ao vivo em 2017. A partir daí a banda amadureceu, músicas de bandas anteriores dos integrantes que não tinham destino foram reutilizadas pela banda. Essas músicas foram aproveitadas na composição do segundo EP do conjunto, “Oito Anos”, lançado em 22 de agosto de 2018.

Em relação a produção das músicas da San Diego, Feijó afirma que quem tem mais visão de produção é o Guilherme, é a pessoa que lidera. “Nos dois discos, foi ele que puxou o carro da produção e que sabia o que a gente tinha que fazer. Claro que haviam discussões, mas ele mostrou um caminho bem certo do que a gente deveria seguir nas gravações”, expressa.

O músico afirma que a banda é bem calma, sem pressa e sem ambição, são trabalhos introspectivos e calmos, feitos emseu próprio tempo, mas que os membros da San Diego gostam muito e as pessoas que ouvem também se identificam. “Como todo mundo é cheio dos afazeres, é bem difícil tu se dedicar exclusivamente para a música, assim como é difícil arranjar um tempo para se dedicar ao processo criativo da música”, explica.

João afirma que a conexão com a Ué Discos é uma relação bem familiar, uma amizade que resultou no lançamento dos dois discos da banda pelo selo. Desde antes do surgimento da San Diego, a ligação com a gravadora já estava desenvolvida. “A Ué Discos se tornou um caminho muito apropriado pelo fato de que o Manzoni é amigo de longa data do Guilherme Brum, e a Aerogramas, banda do Rodrigo Nenê, também trabalha com o selo”, acrescenta.

Sobre o trabalho de um cantor, Feijó relata que seria tentar ser o mais verdadeiro possível no que se canta. Na opinião do vocalista, é o trabalho mais fácil. Mesmo com a questão de ter que se aproximar do público para fazer a frente, ele acredita que o trabalho do compositor é muito mais difícil, por depender de um estado mental de criatividade. Isso é a parte mais difícil de qualquer banda que dependa de composições, segundo Feijó. Sobre o processo de composição, ele afirma que só consegue criar em um estado de ócio, em um momento que não tenha que se preocupar com trabalho ou com a universidade. “A criação tem que ser uma coisa totalmente espontânea”, afirma.

Quanto ao trabalho de um cantor e compositor, ou cantautor, Vandré acredita que assim como todo e qualquer artista, é uma pessoa com a sensibilidade para absorver os sentimentos e angústias do seu tempo e transformá-las em arte, para devolver para a sociedade uma ferramenta para ajudar na compreensão do que somos e para que servimos como ser humano e como sociedade.

Dados sobre a distribuição digital via streaming

Pete Linforth por Pixabay

De acordo com o relatório da International Federation of the Phonografic Industry (IFPI), a média mundial de crescimento de vendas em 2018 em comparação com 2017 foi de 9,7%, enquanto a média brasileira chegou aos 15,4%, superando o crescimento mundial. Segundo a pesquisa, o Brasil está na décima posição em comparação com o mercado mundial, alcançando um montante de vendas de US$298,8 milhões.

O relatório feito pela organização engloba vendas físicas, qualquer faturamento gerado por meio da distribuição dos fonogramas em meios digitais, os direitos de execução pública para os produtores fonográficos e intérpretes, além dos valores gerados pela sincronização das músicas gravadas em obras audiovisuais ou publicitárias.

No Brasil, o relatório da federação é divulgado pela Pro-Música Brasil Produtores Fonográficos Associados, uma associação que reúne as gravadoras em atividade no Brasil. Conforme o presidente da associação Pro-Música, Paulo Rosa, o mercado brasileiro de músicas gravadas segue a tendência que iniciou em 2015 no mundo, do crescimento e recuperação das receitas fonográficas pelo streaming digital de áudio e vídeos musicais.

Em relação a 2017, o ano de 2018 teve um aumento de 46%, enquanto o crescimento mundial foi registrado em 34%. O número de assinantes de streaming de música subiu 45%, e alcançou 255 milhões de usuários. No Brasil, em relação com o ano de 2017, esse mesmo número era de 176 milhões de usuários. No ano de 2018, foram gerados US$ 207,8 milhões no setor de streaming. Enquanto US$ 151,6 milhões são originários das assinaturas mensais, US$ 18,8 milhões são da publicidade nas plataformas de streaming de áudio operantes no país.

Com planos em conjunto como, por exemplo, um para várias pessoas de uma mesma família e um para universitários, o Spotify oferece serviços com redução de custo para pessoas que queiram assinar o serviço. Além dessa possibilidade no Spotify, também temos a mesma opção no Deezer, enquanto o TIDAL não oferece esse serviço.

As assinaturas estão com crescimento de 53% enquanto a publicidade nas plataformas está com crescimento de 25%. Em contrapartida, as vendas físicas caíram -69% e os downloads pagos -39%. Esse crescimento das assinaturas mensais dos serviços de streaming demonstra o aumento do interesse do consumo musical via meios digitais, que pode ser explicado devido a facilidade de consumir música sem ocupar espaço nos aparelhos utilizados – o caso de quando são realizados downloads pagos.

 

O grupo Monsta X fará sua segunda apresentação no Brasil em 19 de julho deste ano.Divulgação: Revista KoreaIn

Cabelos coloridos, brincos e um estilo único são alguns dos elementos componentes dos MVs (music videos, ou clipes musicais) de música pop coreana, mais conhecido como K-Pop. Com milhões de fãs pelo mundo e movimentando bilhões de dólares com escolas para formação de ídolos, como são chamados os cantores do gênero, a indústria coreana dita tendências na vida de seus adoradores.  

A versão moderna do pop sul-coreano surgiu em 1992 com o grupo Seo Taiji & Boys. O sucesso garantiu a inserção de elementos estrangeiros às músicas e ao material audiovisual, bem como a entrada coreana no mercado de entretenimento internacional, com programas de televisão e novelas.  

Em 2012, logo após o lançamento da música Gangnam Style do rapper PSY, a arrecadação de 3,4 bilhões de dólares foi considerada a maior exportação da Coréia do Sul pela revista Times. De fato, PSY inaugurou a explosão incisiva dos grupos de K-Pop fora dos limites do país, entrando para o Guinness Book como o MV mais visto da história, com 700 milhões de views. 

Os solistas BoA, considerada a “rainha do K-Pop”, e Rain – o show man cantor, ator, dançarino e designer sul-coreano – também foram responsáveis por esse aumento de visibilidade, somando recordes em vendas digitais e shows internacionais.  

Em meados de 2011 novos grupos começaram a ser formados pelas agências de entretenimento. Entre os nomes de maior repercussão no cenário atual estão BTS, Monsta X, EXO e Black Pink.   

 EMPRESAS DE ENTRETENIMENTO  

 Os ídolos são agenciados por empresas com regras próprias. Elas são responsáveis pela divulgação e tudo o que envolva a vida pessoal dos artistas fora das câmeras. Os jovens aspirantes a cantores chegam a passar até dez anos em processo de treinamento antes de serem lançados no mercado, seja como solistas ou membros de grupos.  

Programas de sobrevivência se tornaram populares na escolha de jovens talentos. Win – Who is next?, criado pelo CEO da YG Entertainment, separou 11 garotos em dois times que competiam entre si em apresentações de canto, dança e composição. Os vencedores debutaram como o grupo Winner formado, atualmente, por quatro integrantes. O mesmo aconteceu no reality No Mercy, que reuniu 12 trainees da Starship Entertainment em batalhas individuais e em grupo. Sete rapazes foram escolhidos para compor o grupo Monsta X, um dos queridinhos do público brasileiro.  

Em entrevista ao site UOL Entretenimento, Natalia Pak e Érica Imenes, coautoras do livro “K-Pop: Manual de Sobrevivência” (Gutenberg, 2017) comentam sobre o processo de escolha dos ídolos e da competitividade do mercado. “Quando o artista passa em uma audição em alguma agência, geralmente leva de 2 a 5 anos de treino até que esteja preparado para debutar”, afirmou Natalia.  

“Quando um grupo consegue estrear, mesmo depois de muitos anos como trainees, eles encontram pela frente uma agenda apertada, muito trabalho, nenhum descanso, distância da família e dos amigos”, acrescenta Érica.   

 KPOPPERS  

O termo serve para identificar os fãs, subdivididos em uma infinidade de fandoms espalhados pelo planeta. Aparentemente frios e isolados do restante do mundo, os fãs coreanos são considerados os mais enérgicos em relação à cobrança que exercem e sofrem, indiretamente, de seus amigos e familiares. Atores, cantores, dançarinos, ninguém escapa aos olhos aguçados das sasaengs (as stalkers coreanas), as quais chegam ao cúmulo de contratar serviços de taxistas para seguir os famosos. O stalk intenso gera a necessidade de viver em função do ídolo e isso acaba influenciando fãs a tomarem atitudes extremas, como hackear câmeras de segurança de prédios e escrever cartas com sangue e dedicatórias macabras.  

“Conheci o K-Pop em 2017, por influência de uma amiga. O primeiro grupo com o qual tive contato foi BTS”, conta a estudante de Jornalismo Emily Mayer. Aos vinte anos, Emily passou a pesquisar mais sobre a cultura e costumes coreanos depois de entrar nesse universo. O tema a levou a conhecer canais no YouTube e outros fãs que se tornaram parte de seu círculo de amizade. 

Ainda de acordo com Emil o preconceito sofrido pelos fãs, principalmente em cidades como Santa Maria, nas quais esse gênero musical não é tão conhecido, é um assunto que deve ser levado à discussão. “Os geeks já sofrem por conta de seus gostos, se juntarmos isso ao fato de gostarem de K-Pop, ou J-Pop (pop japonês), a estigmatização é muito grande. Ouvimos perguntas do tipo: ‘como vocês podem gostar de uma indústria que explora as pessoas?’”, desabafa.  

“Grande parte das pessoas não consegue entender o estilo dos homens coreanos, o que gera opiniões machistas e homofóbicas”, ressalta Mariana Teixeira, estudante de Artes Visuais da UFSM. “É muito difícil achar fãs de K-pop aqui em Santa Maria e é até mesmo complicado tocar no assunto. Nunca se sabe que tipo de reação as pessoas vão ter”, completa. 

Expandindo o olhar sobre a questão, pode-se notar que a alta cobrança coreana é uma questão cultural. A necessidade de mostrar-se capaz de ocupar espaços de destaque em um mundo bastante ocidentalizado e com enormes potências como os Estados Unidos e a China, se manifesta por meio da pressão exercida sobre todas as camadas sociais. Há grande investimento em educação, principalmente de nível básico na Coréia, e os estudantes costumam sacrificar seus poucos momentos de lazer na tentativa de conseguir as melhores notas e, consequentemente, os melhores empregos na indústria nacional. 

 VINDAS AO BRASIL  

Os grupos Beast, 4Minute, Super Junior, BTS, SHINee, B.A.P, VIXX e os solistas HYUNA e G.NA já estiveram em solo brasileiro.  

O primeiro a marcar presença em solo nacional foi o MBLAQ, em 2011, como jurado de um concurso cover de K-Pop. O K-Pop Cover Festival consistia no envio de vídeos, seguido pela seleção regional, que ocorreu em São Paulo, e pela disputa em nível mundial, sediada na Coréia. O evento ocorreu em local público, no dia 7 de setembro de 2011.  

BTS no tapete vermelho do Billboard Awards 2018. Da esquerda para a direita: Jin, Jungkook, V, RM, Suga, Jimin e J-Hope. Divulgação: Dispatch

A turnê Wings foi aberta em São Paulo, no dia 19 de março de 2017. Em sua terceira passagem pelo Brasil, o grupo BTS lotou o CitiBank Hall com a venda de ingressos esgotada em poucas horas.  

O grupo K.A.R.D promoveu uma sessão de autógrafos no Teatro da PUC-RS, em Porto Alegre, no dia 23 de setembro daquele ano. Formado pela DSP Ent. e um dos poucos grupos mistos existentes, é composto por quatro integrantes: BM, J.SephJiWoo e SoMin 

O FENÔMENO BANGTAN SONYEONDAN 

Formado pela agência Big Hit Entertainment, o grupo Bangtan Sonyeondan, mais conhecido como BTS, conquistou o gosto do público e venceu as barreiras internacionais.  

RM (nome artístico de Kim Namjoon), Jin (Kim Seokjin), V (Kim Taehyung), J-Hope (Jung Hoseok), Suga (Min Yoongi), Jimin (Park Jimin) e Jungkook (Jeon Jungkook) são os integrantes do grupo mais popular de K-pop da atualidade.  

Desde a estreia, com a música No More Dream, em 2013, os rapazes já acumulam premiações de nível internacional, incluindo prêmios do Billboard Awards e participações no Grammy.    

Recentemente o grupo discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas. Os  rapazes falaram em prol do lançamento do programa “Generation Unlimited” (“Geração sem limites”), uma parceria com a UNICEF, cujo objetivo é aumentar as oportunidades e investimentos para crianças e jovens, entre 10 e 24 anos. 

Em um trecho do discurso Namjoon encoraja os jovens a se amarem, cultivarem o amor próprio: “Não importa quem você seja, de onde você venha, sua cor de pele, sua identidade de gênero, apenas fale! Encontre seu nome e sua voz, falando por si próprio”. 

Até mesmo o presidente Coreano, Moon Jae In, parabenizou os rapazes pelo sucesso do álbum Love Yourself: Tear, que estreou no topo da lista da Billboard 200. Jae In também destacou a importância do sucesso do grupo para a propagação da cultura coreana e para a visibilidade do país.  

 DEPRESSÃO E TRANSTORNOS ALIMENTARES  

A questão de saúde mental no país também vem sendo criticada por profissionais da área. Em entrevista a Forefront Suicide Prevention, o psiquiatra Jin-Hee desabafou sobre a dificuldade de discutir tal assunto na Coréia. “Aqui, se você está sofrendo de depressão, ou qualquer outro distúrbio psicológico, é considerado ‘fraco’”. Isso explica a alta taxa de suicídios entre os k-idols e os próprios jovens coreanos. Cerca de 40 suicídios são registrados por dia no país que tem o maior índice dentre os países desenvolvidos.  

O vocalista do grupo SHINee, Kim Jong-hyun de 27 anos, cometeu suicídio em 2017. Em uma carta de despedida, Kim deixou claro que a principal razão de sua desistência foi a alta pressão que sofria e o agravamento de sua depressão.  

O último caso foi o do rapper Kim Dong Yoon, do grupo Spectrum, que tinha apenas 20 anos, no fim de julho de 2018. A causa da morte ainda não foi esclarecida. Também neste ano o líder do grupo 100%, Seo Min-woo, foi encontrado morto em seu apartamento em Seoul. Aos 33 anos, o cantor não sofria de problemas de saúde e suspeita-se que a causa da morte tenha sido overdose.  

 Outros idols já declararam passar por problemas semelhantes, como é o caso da líder do SNSD, Taeyeon, e Heechul, do grupo Super Junior. Suga, integrante do BTS, resolveu compartilhar sua luta contra a depressão, fobia social e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) na faixa solo The Last. A música conta a história de sua vida e dos obstáculos que enfrentou até alcançar o sonho de ser rapper.   

Os transtornos alimentares também são problema recorrente na rotina dos ídolos. A cantora IU revelou ter sofrido de bulimia, devido à sobrecarga e insegurança. O problema se agravou quando a jovem fez sua estreia, aos 15 anos, período no qual começou a sofrer crises de ansiedade, acabando por descontar na comida.   

A pressão, sentida pela cantora e por vários outros artistas, deriva do exigente padrão coreano de beleza. Homens e mulheres de pele clara são bem vistos socialmente, assim como pessoas mais magras e altas. Os olhos devem ser grandes e com pálpebras duplas, o rosto, fino e com maxilar bem desenhado. Não é atoa que a maioria dos k-idols costuma passar por cirurgias plásticas antes da estreia, ou durante a carreira. Não bastasse a pressão de se encaixar nesses requisitos, os artistas coreanos ainda são conhecidos por seu perfeccionismo e pelas incessantes horas de treinamento, o que leva muitos à exaustão após o término de suas apresentações.  

Por outro lado, a maioria dos fãs utiliza as músicas como forma de terapia, como é o caso da jovem Erika Macedo, de 19 anos. “O K-Pop me ajuda demais num sentido psicológico principalmente com a minha ansiedade, eu também fico muito mais feliz e animada quando escuto os grupos que gosto”, desabafa. “Esse gênero também me deu a oportunidade de fazer novas amizades com pessoas de todo o Brasil e também de conhecer uma cultura nova”, completa.  

Reportagem de Evelin Bitencourt, para a disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana durante o 1º semestre de 2019. Orientação: Profª Carla Simone Doyle Torres.