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pandemia

Eventualmente morta no sofá

Há quem diga que o sofá era seu autocuidado, que chegar em casa, sentar e desfazer sua armadura emocional era comum. Atualmente ele se tornou sinônimo de descontentamento, o que era apenas para o final do

O pior inimigo

Quando penso em inimigos, em especial nas nefastas circunstâncias que estamos (e até mesmo fomos impostos), lembro de uma passagem de “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche. Na descrição exausta do Zoroastrismo, é dito: Mas o pior

O depois da tempestade

Tenho notado certa esperança nesses últimos dias. Muito disso se deve pelo fato de que inúmeras pessoas estão sendo vacinadas contra o novo coronavírus. Se você ver o noticiário, vai notar alguns acontecimentos atípicos, como repórteres

À espera do abraço

Neste ano que passou, aprendemos a dar sorrisos com os olhos, a sofrermos com a falta de abraços. A distância foi como ferro em brasa que marca a pele, machuca, incomoda por um tempo, mas, aos

Pandemia transformou a convivência familiar

O ano é 2019, mês de dezembro. Na televisão, notícias vindas da cidade de Wuhan, na China, relatavam o surgimento de um vírus que afetava os pulmões, causava pneumonia e, inevitavelmente, causava a morte. O que

Aquela saudade

Nos dias de GreNal era aquele agito. Vizinho gremista tirando sarro do colorado, amigo colorado alfinetando gremista e as estampas dos times passeando pela cidade. Conquistaram um título tão almejado? Partiu comemorar na Avenida Presidente Vargas?

O convívio com a espera

No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados

Há quem diga que o sofá era seu autocuidado, que chegar em casa, sentar e desfazer sua armadura emocional era comum. Atualmente ele se tornou sinônimo de descontentamento, o que era apenas para o final do dia, se transformou no dia inteiro. E como funciona quando o seu refúgio se torna o seu momento de profunda reflexão? Muitos afirmam que a mente vazia é a oficina do diabo.

 Atualmente, esse looping do sofá para a cama se tornou frustrante. Você se sente vivo? Quando eu digo vivo – é importante lembrar – eu naturalmente quero dizer o “antigo vivo”, o vivo pré-corona, o vivo 2019, que não tem absolutamente nada a ver com o “vivo de atualmente”, digamos quando não importa mais sentir e sim, estar.

 Antes da pandemia do novo coronavírus, o sofá significava o que ele significava. Agora, não. Agora, o sofá, assim como cada um de nós, têm dentro de si outra camada, outro conteúdo, outra densidade. Portanto, a rotina está sendo ressignificativa, e todos nós, sem exceção, estamos sendo obrigados a nos adaptar.

 Às vezes, acordo disposta e produtiva, e, em outras, dispersa e errante. E tenho de confessar, o sofá faz parte das duas fases. Eu, aqui da minha quarentena privilegiada de Alegrete, não tenho como conhecer seu estado de espírito, como também não conheço seu estado civil e muito menos seu estado de saúde. No entanto, há uma coisa a seu respeito que eu talvez saiba, e é sobre isso que me arrisco aqui: você está em casa, e possivelmente, no seu sofá.

 Apesar desse assento repleto de almofadas, às vezes ser enjoativo, ele pode ser considerado um companheiro. Você consegue chorar no seu sofá, consegue sorrir nele, consegue namorar, e até mesmo sonhar. Mas você não consegue viver. Assim, cabe falarmos que o contrário da vida não é a morte, o contrário da vida é o desencanto. E se você se encontrar eventualmente morto no seu sofá, eu compreendo, esses dias são frequentes. Porque você parou, o mundo parou, e parar não significa mais lazer, significa desencantamento.

 Essa conclusão sugere, que mesmo enfrentando esses meses dramáticos e apocalípticos, se sentir assim é inevitável, mas continuar assim é opcional.

Por Vitória Gonçalves é acadêmica do curso de Jornalismo na UFN e repórter-aprendiz na Agência Central Sul de Notícias.

Os estádios não podem receber público desde março de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus se instalou com força no Brasil. Já se passou mais de um ano e os clubes de futebol lamentam essa ausência. Os campeonatos retornaram suas atividades ainda em 2020, mas tanto o governo quanto a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sentem que ainda não é o momento mais seguro para o torcedor retornar aos estádios. 

Alguns estados até tentaram esse retorno, assim como o deputado estadual Romero Albuquerque, que apresentou à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), um projeto de lei que, caso aprovado, liberava o retorno das torcidas nos estádios de futebol. Essa proposta aconteceu em maio de 2021, solicitando a tramitação em regime de urgência do projeto que estabelece a entrada do público nos jogos.

A proposta do deputado determina que estádios e ginásios com capacidade de até 10 mil pessoas poderiam operar com até um quinto do público, mantendo distanciamento de 2 metros entre cada torcedor. Já em ambientes com a capacidade de menos de 10 mil pessoas, o distanciamento reduz para 1 metro, diante de uma limitação maior do público para um décimo da capacidade. 

A CBF já tem uma ideia de quando espera que isto possa acontecer no país. A entidade começa a trabalhar com a previsão de que, em setembro, os estádios possam começar a receber torcedores para as partidas do Campeonato Brasileiro e outras competições realizadas no país. Segundo Jorge Pagura, presidente da Comissão de Médicos de Futebol da entidade, durante participação no programa ‘Seleção SportTV’ do canal SporTV,  a data prevista é mesmo em setembro, mas ela pode mudar de acordo com os dados de disseminação da doença. 

Essa decisão somente será dada com base nos números determinados de incidência de casos, média móvel, taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e também a porcentagem de vacinados. 

Fora do Brasil a prática já é realidade 

 

Sob protocolos, as torcidas começam a voltar aos estádios no exterior. Em abril, ocorreu a final da Copa da Liga Inglesa, em Wembley, onde o Manchester City ganhou do Tottenham. O estádio recebeu quase 8.000 torcedores em mais um teste do governo britânico e das autoridades locais para avaliar o retorno do público em meio a pandemia da Covid-19.

A realidade de ver a torcida de volta aos campos, ginásios e nos principais eventos esportivos já não é novidade mundo afora. Ainda em abril, cerca de 51.723 pessoas estiveram no estádio Melbourne Cricket Ground, para acompanhar a um jogo de futebol australiano entre Carlton Blues e Collingwood Magpies. No estádio não havia obrigatoriedade do uso de máscaras. 

O gaúcho, natural de Caxias do Sul, Cássio Amaral, reside há 11 anos fora do Brasil e é torcedor do West Ham United, time do Leste de Londres, que conheceu em 2004 em sua primeira passagem pela capital inglesa. 

O calendário do futebol é diferente em relação ao do Brasil, praticamente toda a temporada 2020 e 2021 foi sem público nos estádios. O governo tentou realizar um teste em setembro do ano passado para todos os clubes poderem ter ao menos 2 mil pessoas por jogos, mas a alta no número de infectados e mortos cresceu muito, então não passou de um jogo. 

Em Londres houve uma queda significativa no número de óbitos, cerca de seis por dia no país inteiro, e menos de 200 infectados por dia. Essa queda foi resultado da forte campanha de vacinação na Inglaterra, onde 75% dos adultos já foram vacinados com a primeira dose e 35% dos adultos já fizeram a segunda dose. Esse fator possibilitou que o governo liberasse a presença do público para as duas últimas rodadas do campeonato, dando segurança aos torcedores.

A escolha de quem teria esse pequeno privilégio foi por meio de um processo de seleção. No caso do Cássio, o West Ham United, cujo estádio possui capacidade em torno de 65 mil sócios, com cadeiras cativas, foi realizado um sorteio onde apenas 20 mil torcedores foram selecionados. “Por mais que  sejamos portadores de cartões de acesso, o clube enviou por e-mail os ingressos, que poderia ser adicionado a carteira virtual do telefone, assim evitando qualquer tipo de contato na entrada. Recebemos o teste do COVID-19, no qual deveríamos apresentar a negativa antes do jogo”, comenta Cássio. Além disso, na chegada ao estádio, já há 500 metros havia um posto de triagem onde se passava por uma fiscalização, com a medição da febre e checagem da negativa do teste.

Cassio e sua filha voltando aos estádios pós pandemia. Imagem: arquivo pessoal

Com base na situação atual e no surgimento de novas variantes, Cássio ressalta que não se sente mais seguro, porém o campeonato retorna somente em agosto, o que pode trazer mudanças caso toda a população adulta já tenha se vacinado e a variante indiana controlada. 

Quem sofre também com a ausência da torcida são os clubes que acabam tendo uma perda significativa ligada a sua questão econômica. Reabrir os portões iria minimizar o prejuízo dos clubes de futebol no país, que se repetirá em 2021 e em suas competições. No ano passado, por exemplo, o Flamengo deixou de ganhar cerca de R $100 milhões sem receber torcedores no Maracanã. O Palmeiras também teve queda na receita de aproximadamente R $75 milhões com os portões do Allianz Parque fechados. 

De acordo com a proposta da CBF para o retorno, os torcedores só poderão voltar quando os estados da federação, com equipes em competições nacionais, não tiverem restrições para o retorno do público. Desse modo, a expectativa é que deva demorar, tendo em vista as dimensões continentais do Brasil e as diferentes realidades que cada região vive na saúde pública e na esfera política.

O alto índice de pessoas sedentárias no mundo todo, que já era preocupante, foi agravado ainda mais pela pandemia do novo coronavírus. Até cinco milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população fosse mais ativa, calcula a Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançou, no final de 2020, novas diretrizes sobre atividade física.

Conforme o documento, é recomendado de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana para os adultos, incluindo aqueles com doenças crônicas ou incapacidade. Para crianças e adolescente a média é de 60 minutos por dia.

Como explica o profissional de Educação Física, Gustavo Silva de Oliveira, “o esporte é um tipo de atividade física, trazendo assim, consigo, seus benefícios, como redução do estresse, controle do peso, melhora do condicionamento físico e melhora do sistema imune e cardiorrespiratório”.

Sendo assim, para garantir um estilo de vida mais saudável, diversas pessoas iniciaram a prática de algum esporte em meio a pandemia, principalmente modalidades individuais ou que exigem um grupo pequeno de participantes. A corrida de rua é um dos que se destacam na atualidade, principalmente pelo fato de poder ser praticado por todas as faixas etárias e não exigir um ambiente específico.

Corrida de rua é um dos esportes individuais que mais ganhou adeptos durante a pandemia | Foto: mega-studio/freepik

“Procuro sempre praticar onde não há circulação de pessoas. Então não costumo correr em pistas, e sim em rodovias ou estradas de chão. Por ser um esporte individual, possui diversos lugares em que pode ser praticado ao ar livre, longe de aglomerações. Então é simples de adaptá-lo durante a pandemia”, relata a sargento e atleta Ana Amaral.

Bom exemplo desta adaptação são as provas de corrida, que desde o início da pandemia estão suspensas. Sendo assim, houve um aumento nas competições virtuais, onde o participante, monitorado por um relógio com GPS ou aplicativo de celular, tem determinado período de tempo para concluir a atividade. Posteriormente, o arquivo é enviado para a organização para análise e validação.

No que diz respeito as vantagens identificadas ao praticar corrida de rua, Ana elenca que “uma das principais é a redução da chance de desenvolver doenças que o sedentarismo ocasiona, como cardíacas, obesidade, pressão alta e depressão, e o fortalecimento do sistema imunológico”. E acrescenta: “É muito bom fazer exames de rotina e verificar que tudo está normal, sem alteração. Sem falar na perda de gordura corporal e a bem estar físico”.

“O ciclismo é um vício e eu não quero largar esse vício”. Essas são as palavras do vice-prefeito de Formigueiro, Gilson Murilo Belmiro Severo, que, com 53 anos, aproveitou a pandemia para voltar a pedalar. “Eu diminui peso, perdi 10,2 kg. Eu tinha muito problema de insônia, hoje não tenho mais, eu durmo muito bem, me alimento bem”, conta.

E vai muito além da parte física. Severo explica que com a prática do esporte obteve melhoras na saúde mental: “a cabeça da gente funciona melhor, até para a questão de raciocinar eu sinto que tive uma melhora muito grande”.

Assim como a corrida de rua, o gosto pela bike cresceu durante a pandemia. O vice-prefeito relata que percebe um aumento muito grande na quantidade de pessoas adquirindo bicicletas. “Comece devagar, com muito cuidado, não queira fazer pedaladas muito longas no inicio. Devagar vai indo, vai indo, e você chega lá. É um ótimo exercício para todo o tipo de pessoa, seja ela nova, de meia idade, ou idoso, todos merecem e gostam de pedalar”, orienta.

Mas o aumento no número de atletas durante a pandemia não foi refletido em todas as atividades. Na musculação, por exemplo, o profissional de Educação Física Dioner Cardoso, que trabalha em uma academia, relata uma queda na procura pelo medo das pessoas contraírem o vírus, ainda que considere eficazes os protocolos de segurança, desde que cobrados e monitorados.

A musculação é “uma forma de manter a pessoa mais ativa quanto ao exercício físico e, portanto, também ajuda na melhora da imunidade, que é importante no combate ao vírus”, destaca Cardoso.

A microempresária Karol Dotto, que pratica o esporte, compartilha da mesma visão. “Procure uma academia que siga os protocolos e use sempre, de forma correta, a máscara e álcool gel, tanto nas mãos quanto nos aparelhos. Também é possível seguir um treino intenso em casa, o importante é se manter ativo, a imunidade agradece”, destaca.

Essa busca por esportes individuais foi comprovada por meio de um estudo realizado pelo Google, com base em pesquisas no buscador e atividades do Youtube, aliado a uma pesquisa da consultoria especializada Sport Track. Confira os principais dados no infográfico:

Elementos Gráficos: Freepik | Produção: Pablo Milani

 

Produção da disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Quando penso em inimigos, em especial nas nefastas circunstâncias que estamos (e até mesmo fomos impostos), lembro de uma passagem de “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche. Na descrição exausta do Zoroastrismo, é dito:
Mas o pior inimigo que podes encontrar será sempre tu mesmo; espreitas a ti mesmo nas cavernas e florestas.
 Ó solitário, tu percorres o caminho para ti mesmo! E teu caminho passa diante de ti mesmo e dos teus sete demônios!
A passagem, que provoca uma reflexão e ação sobre a nossa própria conduta no mundo, sobre a nossa existência e a relevância da alma para progredir, encontramo-nos abruptamente com o nosso pior inimigo: nós mesmos.
O efeito lupa da pandemia, que fez com que parte de nós trabalhássemos de casa, sentados na cadeira, olhos cansados na tela e dedos beirando à loucura do ato de digitar, encontramo-nos, mesmo que rodeados, com nós mesmos.
É como se tivéssemos um espelho de altura e largura imensuráveis em nossa frente: ao fixarmos o olhar, o reflexo põe-se a devolver, indiscretamente, a contemplação.
Quem somos?
É a pergunta hermética cravada em cada canto que a mente alcança. Quem nós somos quando vejo a minha espécie não fazendo jus à tradicional distinção entre racionalidade e irracionalidade?
É ubíquo o sentimento de tristeza ao vermos aglomerações, festas clandestinas, a máxima irresponsabilidade para com o outro?
Ponho-me novamente a pensar, quase na lógica de Zaratustra: é verídico que a linha que me diferencia minha espécie é uma suposta racionalidade autodenominada?
Minha alma e meu espírito se entristecem, de tal forma que o próprio ato de esperança, ação e reforma sociais, frente ao inimigo biológico, acaba no estado diminuto. Um choro preso, sufocado, sem esperança ou mesmo vontade.
Minha mente torna-se errática: então, somos racionais ou não?
A prova se concretiza: não sou capaz de vencer meus impulsos primários para o bem-comum?
De que sou feito, então?
Žižek, filósofo esloveno, dá-nos, talvez, um possível caminhos para as inquietações. Segundo ele, o que fornece concreto para a ação não é mais uma resposta simples. É, então, a capacidade de fazermos perguntas que não fazíamos antes.
A pergunta que talvez devêssemos fazer para a ação necessária ao vencimento do obstáculo atual é: quem é nosso pior inimigo?

 

 

 

Por Erick Kader Callegaro Correa, coordenador do curso de Letras da UFN.

Em direção ao pós pandemia. Foto: Lavignea Witt.

Tenho notado certa esperança nesses últimos dias. Muito disso se deve pelo fato de que inúmeras pessoas estão sendo vacinadas contra o novo coronavírus. Se você ver o noticiário, vai notar alguns acontecimentos atípicos, como repórteres de outros países que agora não precisam mais usar máscaras em determinados lugares públicos. É difícil não criar expectativa de melhora da pandemia com realidades como essa. Já estamos todos ansiosos pelo dia em que essas restrições terão fim. E como será o depois? 

É muito comum ouvir a expressão “antes da pandemia” em conversas sobre atividades que anteriormente eram consideradas normais. Ela confirma que, embora as limitações terminem com o tempo, nada será como antes. É provável que não tenhamos mais tanta liberdade e que as marcas deixadas por esse momento irão mudar as relações pessoais, profissionais, financeiras e etc. Tudo o que éramos e tudo o que vivíamos foi modificado. 

Lembro-me de quando tudo começou. Estava em uma rotina exaustiva. Era uma correria o dia inteiro, vivia no automático. Aí tudo parou! Deixamos um pouco de lado a vida acelerada. A maioria das pessoas começou a dar importância para coisas que consideravam banais. O “tudo bem?” virou o “como está se sentindo?”. Acabamos nos conectando de formas diferentes, sem que fosse algo corriqueiro e instintivo. Entretanto, aprendemos a acelerar novamente. Além disso, estamos tendo — exceto aqueles que nunca pararam de trabalhar de modo presencial — que lidar com o fato de que nossa vida gira em torno da nossa casa, indo e voltando entre cômodos. Muitas pessoas se encontraram no home office enquanto outras vão demorar para superar os transtornos causados por essa mudança. 

Em relação ao vínculo pessoal, ativamos nosso espírito comunitário. No início da pandemia, muitas pessoas ajudaram e foram ajudadas. Mesmo em uma situação ruim, muitos estenderam a mão aos outros. Porém, com o tempo, as coisas foram se modificando. As mesmas ações já não são mais tão comuns e outras que vão na contramão do que se recomenda estão se tornando constância, como as aglomerações, por exemplo. Algumas pessoas deixaram o momento ser tomado pelo egoísmo. Mas, esperamos que colaborações comunitárias continuem ocorrendo, porque sempre existe alguém que precisa de uma ajuda. 

Harper Lee, em seu livro “O sol é para todos”, afirmou: “Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela.” Se colocar no lugar do outro, que sempre foi algo difícil, se tornou fundamental durante a pandemia. Não vivemos as mesmas coisas e não temos os mesmos problemas. Ainda assim, muitas pessoas se mostraram empáticas com as realidades alheias, aspecto que espero adiante depois da pandemia. É mais fácil sobreviver à tempestade se temos alguém com quem contar nas horas difíceis. 

E como será o pós pandemia? Apesar das muitas teorias e tendências para o que vem depois, acredito que, pelo menos, alguns aprendizados devem ser levados para essa nova realidade. Um momento atípico e cheio de dificuldades que nos deu a oportunidade de revermos hábitos e desejos da nossa vida. Qualquer oportunidade, seja boa ou ruim, deve ser refletida e apropriada como experiência para as vivências que virão. O depois da pandemia está quase aí. Vivamos! 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli. 

Neste ano que passou, aprendemos a dar sorrisos com os olhos, a sofrermos com a falta de abraços. A distância foi como ferro em brasa que marca a pele, machuca, incomoda por um tempo, mas, aos pouco se torna como parte do nosso ser.

Se olharmos para cima, conseguimos enxergar nosso verdadeiro tamanho. Somos pequenos, ao mesmo tempo complexos, uma galáxia que orbita dentro do nosso universo particular.

Isso é viver, é não saber o que nos espera na próxima esquina, é dormir sem saber se vamos acordar, é acreditar que estamos aqui por um propósito. O ano mais difícil da nossa existência acabou. O Ano Novo chegou como um quarto escuro que adentramos com a luz apagada, sem saber o que vamos encontrar quando a luz se acender.

A única certeza que temos, é que seguiremos em frente, na espera de um abraço de quem se ama e contando os dias para sairmos por aí, livres, felizes, cantando e dançando, eternizando momentos. Como a vida tem que ser, como assim um dia foi, como logo ali voltará a ser.

 

Por Fabian Lisboa, acadêmico da UFN, formando em Jornalismo.

O ano é 2019, mês de dezembro. Na televisão, notícias vindas da cidade de Wuhan, na China, relatavam o surgimento de um vírus que afetava os pulmões, causava pneumonia e, inevitavelmente, causava a morte. O que se via eram pessoas caídas na rua sem que ninguém se atrevesse a chegar perto para prestar socorro. Mas isso é lá na China, uma realidade tão distante de nós. Na China, acontecem coisas estranhas, eu pensava.

Em fevereiro de 2020, é registrado o primeiro caso de covid no Brasil. A partir daí, a contaminação se espalhou rapidamente por todo o país. Primeiro, ficamos sabendo de casos nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas não tardou até aparecerem e se disseminarem casos em Santa Maria.

Como não havia muito conhecimento sobre o vírus e a doença causada por ele, fui dispensada do trabalho, juntamente com meus colegas. Ficar em casa sem saber o que estava por vir foi angustiante. E era preciso ficar, de fato, em casa, sair o mínimo possível, como é até hoje. Eu sentia medo de ir ao supermercado, à farmácia, ou seja, medo de desempenhar as atividades corriqueiras fora de casa. Depois, com mais conhecimento sobre o vírus, pude voltar ao trabalho, o que amenizou o medo e trouxe a falsa sensação de normalidade.

O mais difícil foi e está sendo ficar longe da minha família, que é bem numerosa e bastante unida. Sinto falta da convivência com minha mãe, que já tem idade avançada, e com meus irmãos e irmãs e sobrinhos e sobrinhas… Com todos eles, eu costumava me reunir com frequência, mas agora são apenas encontros rápidos e, literalmente, distantes, sem abraço, sem junção, sem caipirinha no mesmo copo, sem chimarrão.

Apesar de todas as coisas ruins que a pandemia trouxe: mortes, desemprego, fome, insegurança, saudade, teve o lado positivo, mas, infelizmente, para uma pequena parcela da população, na qual me incluo. Tive a oportunidade de aprender muito, principalmente no que se refere aos aspectos tecnológicos. Foi possível fazer cursos de forma on-line, seguir com o curso de Biblioteconomia, que faço na modalidade a distância, participar de reuniões por videoconferência, ou seja, as atividades profissionais, depois de um tempo, e acadêmicas seguiram normalmente, apesar das adaptações.

Ainda vivemos tempos de incertezas e de medo, mas, com a chegada da vacina, mesmo que de forma lenta, no Brasil, a esperança em dias melhores está renascendo.

 

 

Por Janette Mariano Godois, professora de Letras, atua no  Setor de Aquisição da Biblioteca da UFN

 

Na última sexta-feira, 4, com lotação máxima de leitos de UTI Covid-19, vídeos obtidos das redes sociais mostram centenas de pessoas aglomeradas e sem máscara de proteção facial, na Rua Nossa Senhora do Rosário, causando a revolta de quem mora na região.

Segundo os moradores das proximidades, as aglomerações, som alto e vandalismo têm sido frequentes no local, mas nas últimas noites isso se agravou.

  “Nas últimas quatro noites está sendo muito alarmante, o barulho excessivo, os carros com volume altíssimo, as motos com cano de descarga aberta. É um barulho constante até as 6h da manhã. Se vem a brigada militar ou fiscalização, eles dispersam e voltam”, comenta uma moradora que prefere não se identificar. “Em tempo de pandemia, é muito difícil pensar que haja tanta irresponsabilidade e uma sensação de poder que eles não vão se contaminar, que não vai acontecer nada. Porque a quantidade de pessoas que está se reunindo no local, é muito assustadora”, acrescenta. Outra moradora, que também prefere se manter no anonimato, ressalta o estado que amanhecem as ruas após as aglomerações noturnas. 

“Foram três tentativas para dispersar o pessoal, mas não foi o suficiente. De manhã as ruas estavam imundas, parecia época de carnaval”, salienta. 

[youtube_sc url=”https://youtu.be/vzhit-1mJ28″]

O vídeo que mostra a dispersão da última madrugada foi publicado pelo prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) nas redes sociais. Ele se posicionou sobre o ocorrido.

 IRRESPONSABILIDADE!

“Meus amigos, estou pedindo de coração, que todos olhem esse vídeo. Aconteceu ontem à noite, no Bairro Rosário. Assistam a irresponsabilidade de algumas pessoas, que acabam prejudicando uma cidade inteira. Santa Maria vive um dos piores momentos da pandemia! Somos cobrados diariamente e estamos sempre dialogando, buscando soluções, fiscalizando e vacinando, mas sem a conscientização de todos fica difícil. Um agradecimento especial, para a nossa força-tarefa da fiscalização, que terminou rapidamente com a aglomeração. Também, agradecemos todos os estabelecimentos que estão nos ajudando, cumprindo os protocolos. Não esqueçam, precisamos de todos nós cuidando de todos nós”, desabafou o prefeito Jorge Pozzobom nas redes sociais. 

Na terça-feira, 1, quatro pacientes morreram à espera de um leito em Santa Maria . Segundo a direção da UPA, a procura de atendimentos cresceu nas últimas duas semanas e nesta sexta, a cidade chegou a 690 vítimas de covid-19. Como afirmou o prefeito, “irresponsabilidade de algumas pessoas, que acabam prejudicando a cidade inteira”. 

COMO DENUNCIAR

Denúncias de descumprimento das medidas podem ser feitas à Guarda Municipal pelos números 153, (55) 99217-8122, 99167-4728 e 99167-8452 ( celulares, somente via WhatsApp).

Foto de JESHOOTS.com no Pexels

Nos dias de GreNal era aquele agito. Vizinho gremista tirando sarro do colorado, amigo colorado alfinetando gremista e as estampas dos times passeando pela cidade. Conquistaram um título tão almejado? Partiu comemorar na Avenida Presidente Vargas? Buzinaço e cantoria. Carros cruzando bandeiras nas janelas. Ruas lotadas de torcedores fiéis e apaixonados. A alegria era imensa. Nem a vovó do prédio, em frente a praça da locomotiva, ficava parada. Vamos assistir ao jogo e jogar uma sinuca? Claro! Junta o pessoal e bora para o bar. Ah, a saudade de uma aglomeração…

Lembro-me da organização e programação que era para ir assistir ao GreNal. Parecia um evento. Quem chegasse antes, comprava carne e cerveja. Churrasco em casa ou cervejinha no bar, um desses dois era essencial. Movidos à paixão e amizades, restaurantes e ruas ficavam cheios de gremistas e colorados. Os bares se preparavam com telões e mesas extras quando as finais de campeonato acabavam em GreNal. Saía gol, eram abraços para todos os lados. Pessoas que não se conheciam comemorando juntas… ou com raiva da vitória do adversário. Mas muitas amizades surgiram nesses momentos mágicos. Agora parece que paramos no tempo. Não tem encontro de torcedores nas ruas. Não tem abraços coletivos em bares. Somente gritos de vitória de janelas e sacadas. Uma comemoração um pouco mais silenciosa, mas não menos apaixonada. Uma festa com menos participantes. Uma decoração de casa.

Mas estamos aqui, resistindo. Ansiosos pelo aval de liberação de torcidas, de aglomerações, de festa. O grito de gol está entalado na garganta dos apaixonados por futebol. Os braços aguardando ansiosos por abraços calorosos de felicidade. Esse clássico vai muito além da tradição. É uma junção de sentimentos que conecta pessoas diferentes pelo amor e orgulho da terra que habitamos.

Texto de Caroline Freitas.

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Perspectiva. Foto: Lavignea Witt.

No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados de angústia, preocupação, ansiedade, medo. A dúvida também fez parte deles. Muitos continuaram trabalhando normalmente, outros não. As aulas presenciais foram suspensas, depois voltaram e foram suspensas de novo. Algumas práticas foram liberadas e depois de algum tempo foram proibidas mais uma vez. As incertezas quanto às atividades presenciais perduram até hoje. 

Esse assunto sempre me lembra uma frase que muitas pessoas já devem ter lido desde que a pandemia começou: “Não estamos todos no mesmo barco, estamos todos sob a mesma tempestade.” Sim, vivemos realidades totalmente diferentes. Alguns precisam sair de casa todos os dias para manter seu sustento, enquanto outros saem em dias específicos para fazer algo que precisam. Agora que algumas escolas estão reabrindo para receber os alunos, fica a incerteza de comparecer às aulas, podendo colocar a saúde de todos no ambiente escolar em risco, ou continuar em casa na tentativa de manter o processo de aprendizagem. Estudantes de algumas faculdades tentam manter suas atividades práticas nas instituições, com vários protocolos sanitários e com o sentimento de que tudo mudou. 

E esse sentimento também reverbera nos encontros pessoais. Visitar amigos e familiares é andar com a insegurança ao lado. É preferível não colocar em risco a vida das pessoas que mais amamos. Então, muitos continuam com as reuniões virtuais, buscando suprir o afeto que antes era algo rotineiro. Pensar que é uma reclusão momentânea promove um certo conforto. É melhor estar em casa do que em um leito de hospital, sem poder receber visitas e com várias incertezas dentro de um quarto. 

Díficil. Árduo. Talvez essas sejam as palavras que mais chegam perto do que é viver essa situação. Conviver com pessoas é essencial, é o que todo ser humano faz. O exercício da vida é a convivência. Somos instantes, momentos, rodeados de pessoas que cruzam o nosso caminho. Pessoas essas que ficamos por anos abraçando, apertando a mão, conversando frente a frente. O que era realidade, se tornou lembrança. Estamos onde devemos estar e querendo algo inviável — por enquanto.  

Nos resta a esperança. Esperança de que estamos a poucos passos de que conviver com muitas pessoas seja algo comum de novo. De juntar toda a família no almoço de domingo. Sair com os amigos no fim do expediente para ir naquele restaurante especial. Comemorar o aniversário com todas as pessoas importantes da nossa vida. Viajar para qualquer lugar sem medo da experiência. Há pessoas que dizem que nada vai voltar a ser igual como antes, mas que bom que podemos sempre recomeçar. O importante agora é realizar o que podemos e esperar por uma nova contagem de dias. 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli.