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Romaria

A fé que move fiéis em direção a Santa Maria

Talvez um dos maiores mistérios da humanidade seja a fé. Ainda que não se tenha comprovação científica ou evidência da existência de milagres e curas, essa força que brota do mais íntimo do ser humano é

Medianeira: devoção que se mantém há décadas

Todos os anos, no segundo domingo do mês de novembro, a fé, a devoção e a graça tomam conta de Santa Maria, é o dia da padroeira do Estado, Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças.  

A fé moveu milhares em Santa Maria

250 mil pessoas, segundo a Brigada Militar,  foi o número de romeiros que caminharam os 2,2 KM da Catedral Metropolitana até a Basílica da Medianeira, na procissão à padroeira do Estado, Nossa Senhora Medianeira, na manhã

As doceiras da Mãe Medianeira

Desde o dia 26 de outubro as  tradicionais doceiras da Mãe Medianeira, como se denominam, estão fabricando doces para os milhares de romeiros que todos os anos vem de todos os lugares para pagar promessas, ver

Fiéis de todo estado manifestaram sua devoção na 74ª Romaria da Medianeira. Foto: Matheus Jardim

Talvez um dos maiores mistérios da humanidade seja a fé. Ainda que não se tenha comprovação científica ou evidência da existência de milagres e curas, essa força que brota do mais íntimo do ser humano é capaz de comover e mover pessoas. E não foi diferente na 74ª Romaria Estadual de Nossa Senhora Medianeira, realizada no dia 12 de novembro, em Santa Maria. Esta edição é realizada no Ano Mariano, celebrado pela Igreja Católica no Brasil em comemoração ao centenário da aparição de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, e aos 300 anos de surgimento da imagem de Nossa Senhora Aparecida, no rio Paraíba do Sul, no Sudeste do Brasil.

Nem o forte calor impediu a participação dos fiéis na procissão, que culminou em missa campal no Santuário Basílica de Nossa Senhora Medianeira. Agradecimento por graças alcançadas, pagamento de promessas e tradição familiar são os principais motivos que trouxeram mais de 300 mil fiéis a Santa Maria, incluindo caravanas de outros estados. Exemplos como o de João, deficiente visual de Belo Horizonte, que há 33 anos participa da Romaria da Medianeira. João Eduardo dos Santos, 50 anos, acompanha a procissão junto ao veículo que carregou a imagem da Mãe Medianeira pelas ruas da cidade. O próprio arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rupert, reconhece a devoção de João. “É mais fácil o bispo não estar presente do que seu João faltar a uma romaria”, afirma em tom de brincadeira.

Há romeiros que contam suas curas pela Mãe Medianeira e comparecem anualmente desde então. Um deles é Dirceu Canabrava, 68 anos. Ele foi operado de úlceras no intestino grosso e no fígado. No entanto, como precisava manter os cinco filhos e a esposa, trabalhou logo após a operação, e adquiriu hérnia em função disso.

“A minha hérnia tinha tamanho semelhante ao de uma bola de bocha”, comenta. Ele fez os exames, marcou a cirurgia e aguardou três anos por falta de leito. Veio, então, a Romaria pedir pela cura, mesmo com dúvidas quanto ao milagre. Após a procissão não sentiu mais dor e garante que a hérnia desapareceu.

Preparativos para a festa da Romaria da Medianeira. Fotos: Jéssica Marian/ LABFEM

Todos os anos, no segundo domingo do mês de novembro, a fé, a devoção e a graça tomam conta de Santa Maria, é o dia da padroeira do Estado, Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças.  

A fé em Virgem Maria nasceu com os cristãos lá nos primórdios e até hoje renova esperanças e tem a devoção colocada a prova. No país, o culto à Medianeira iniciou-se aqui em Santa Maria na década de 30, espalhando-se depois por todo o Rio Grande do Sul.

A primeira romaria à Medianeira aconteceu em 1930, mas apenas em 1942 ela foi considerada a padroeira do Estado, proclamada pelo Arcebispo Metropolitano Dom João Becker.

A fé pode ser vista um mês antes da romaria e é através dos voluntários que crença se mantém viva. Desde o dia 22 de outubro as tradicionais doceiras, conhecidas como “Doceiras Mãe Medianeira”, estão produzindo doces e cucas para os milhares de romeiros que vem á Santa Maria do próximo domingo (12).

Maria Inês Gaspareto, faz parte do grupo de voluntárias à 30 anos e é uma das coordenadoras do grupo. Ela conta que o grupo se mantém firme e forte há décadas,  e que algumas voluntárias estão pagando promessas, outras pedindo graças e também tem aquelas que só estão agradecendo pela vida.

A coordenadora conta que entre os doces mais comercializados estão o de batata doce e abóbora. A produção de cucas gira em torno de 1.000 a 1.200 cucas, que normalmente são vendidas todas antes do domingo de romaria. Cecília Zanini é voluntária há 50 anos e explica que começou a participar do grupo após da morte da sua mãe que sempre participou e foi uma das primeiras voluntárias da mãe Medianeira.

A comercialização dos doces começou na segunda-feira (06) e vai até o domingo de romaria. A orientação é de que quem deseja comprar doces e demais alimentos produzidos pelas voluntárias vá logo até o Parque da Medianeira, porque talvez no domingo os doces já tenham sido comercializados.

Neste ano, mais de 350 mil pessoas vieram para a procissão da 73ª Romaria Estadual da Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, que teve como lema: Mãe de Misericórdia, Rogai por Nós, intercedei a Deus por Nós. A Missa campal em frente ao Altar Monumento foi presidida por Dom Leomar Brustolin, bispo auxiliar de Porto Alegre.

A Romaria se caracteriza como o maior evento religioso do Estado do Rio Grande do Sul. A atriz e acadêmica de Publicidade e Propanda e de Jornalismo, Geórgia Fröhlich, 19 anos, participa da procissão desde que seu irmão veio morar em Santa Maria, há 5 anos.

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Procissão na Romaria da Medianeira. Foto: Arquivo.

“Eu sou católica desde que me conheço por gente e quando fui amadurecendo fui vendo a importância que a religião tem na minha vida. Ir na Romaria é mais uma maneira de aprofundar a minha fé, agradecer pelo ano e renovar os pedidos. Meus pais fizeram uma promessa que se o meu irmão passasse no vestibular pra medicina iriam em todas as romarias da medianeira até ele se formar. Então todos os anos eles vem pra SM na data”, acrescentou a atriz e estudante.

A procissão teve início às 8h30, em frente à Catedral Metropolitana. A imagem da Medianeira foi transportada em uma caminhonete da Brigada Militar. Em volta do veículo havia guardiões da imagem, brigadianos, religiosos e políticos.

Ivete Oliveira, cabeleireira, 57 anos, de Quaraí, participa da Romaria há quatro anos. ” Venho pois é uma forma de agradecer tanto pelas coisas boas quanto pelas ruins”, disse a cabeleireira.

“Eu gosto de participar por ver a união de tanta gente em nome da fé. Acredito que crer em algo bom é fundamental para enfrentarmos os desafios. Como a romaria é no final do ano, começo a me sentir preparada pra uma nova etapa, com esperança de que algo bom está por vir”, finalizou Geórgia.

 

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Milhares de romeiros se reuniram ao redor do Altar Monumento para realização da missa campal (Foto: Diego Garlet/Laboratório de Fotografia e Memória)

250 mil pessoas, segundo a Brigada Militar,  foi o número de romeiros que caminharam os 2,2 KM da Catedral Metropolitana até a Basílica da Medianeira, na procissão à padroeira do Estado, Nossa Senhora Medianeira, na manhã do último domingo.

Para Maria Clara Neves, 48, que fez a caminhada de pés descalços pela segunda vez, foi a maior Romaria que já presenciou e crê que a manifestação religiosa irá crescer mais ainda nos próximos anos. “Minha prece na última Romaria foi atendida, as pessoas estão renovando sua fé com tempo e cada vez mais irão vir agradecer a mãe Medianeira”, completou a romeira.

A missa campal rezada pelo bispo auxiliar de Aparecida, Dom Darci José Nicioli, reuniu os milhares de romeiros que não se importaram com o sol e demonstraram fortes manifestações de fé. Francisco Pereira, 68, que veio de Cachoeira do Sul para a Romaria, enfrentou o sol durante a procissão e a missa para agradecer a padroeira pela cura de pneumonia no fim do ano passado. “Passei por tempos difíceis e, graças a Medianeira, hoje estou bem, então vim agradecer”, conta o agricultor que diz ter pretensão de vir nas próximas Romarias também.“Enquanto a saúde permitir, irei sempre agradecer a Nossa Senhora”, afirma.

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As tradicionais doceiras da Mãe Medianeira na produção de doces. (Foto: Victoria Debortoli/Laboratório de Fotografia e Memória)

Desde o dia 26 de outubro as  tradicionais doceiras da Mãe Medianeira, como se denominam, estão fabricando doces para os milhares de romeiros que todos os anos vem de todos os lugares para pagar promessas, ver a santa ou só para comprar os famosos doces. Entre doces de batata, quindins, brigadeiros e cocadas, cerca de 40 voluntários estão envolvidos na produção das guloseimas, salgados e almoços.

– A gente fica das 6h45 até às 21h, 22h, depende de quanto tempo a cuca demora para crescer. Ela que manda no nosso tempo,  relata Marisete Gaspareto dos Santos, 50, que auxilia na coordenação da cozinha.

Neste ano, a venda de doces superou as expectativas. Foram confeccionados 35 mil unidades que estão quase esgotados. ”O que a gente teve de pessoal esse final de semana foi uma coisa atípica”, revela Marisete.

Hoje, faltando dois dias para a procissão, já não se tem muita escolha entre os doces.

“Já fazem cinco anos que eu e minha família moramos aqui em Santa Maria e, desde então, compramos os doces e participamos da romaria”,  afirma Manoel Augusto Barcelos de Deus, 59, militar da reserva, que estava comprando os doces na banca instalada no Parque da Medianeira, ao lado da Basílica.