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Santa Maria, RS, Brazil

A evidência

É irresistível comentar sobre o Dr. Dráuzio, novamente, no Fantástico deste domingo, dia 19.  Nesse programa ele mostrou um caso grave de intoxicação pelo uso de uma planta, que resultou em um transplante de fígado. Sua narrativa mostrava esforço para convencer o telespectador do perigo do uso de chás de plantas cuja eficácia terapêutica ainda não teve o aval da ciência, questão altamente relevante e foco da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O alerta do médico nesse sentido é procedente. O problema são as nuances do discurso, a parcialidade com que narra o drama – real – de uma usuária, beirando a gerar pânico até em roda de chá da tarde

Ora, os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre as intoxicações no Brasil. Segundo dados do SINITOX (2008) foram 26.384 (30,71%) contra 1.303 (1,52%) por plantas e destas apenas 1 (uma) intoxicação foi por uso terapêutico. Surpreende a informação dada no programa de que as plantas foram responsáveis três vezes mais por transplantes do que por medicamentos, mas não citam a fonte). Há necessidade de se aprofundar a pesquisa desses dados, buscando a forma de uso, a procedência, a indicação, afinal, muitas plantas medicinais são também classificadas como tóxicas. Ocorre que assim como acontece com o uso de  medicamentos, acontece com o uso de plantas: a intoxicação depende da dose e do processo de preparação/manipulação/produção, das substâncias envolvidas, da forma de uso, das condições do paciente, etc. Mesmo no preparo tradicional, onde também há regras a seguir, onde também há tecnologia.  E se tanto lutamos como farmacêuticos pelo uso racional de medicamentos, também devemos incluir as plantas medicinais nesse cuidado.

Portanto, o alerta peca não no mérito, mas no excesso e no alarmismo. Melhor seria se calcasse na informação do uso correto, como tanto faz outro programa da emissora, em vários episódios. Informação, aliás, que deveria estender-se aos entrevistados do Dr. Dráuzio, quanto ao conceito de “alopatia”, que no programa foi referido como antagônico ao adjetivo “natural” relacionando às plantas medicinais e fitoterápicos… Uma confusão que mostra a evidência mais uma vez do seu distanciamento do debate e dos avanços que temos tido na inserção da Fitoterapia no sistema de saúde. Aliás, distanciamento que Dr. Dráuzio está e que quer promover no debate, com sua parcialidade e desinformação técnica que se mostra virulenta quando acusa a Anvisa de ter aprovado “uma lista de 66 plantas e ervas para fazer chás, com as mais diversas e imprecisas alegações terapêuticas”…

Espera-se que no mínimo a Globo dê espaço para a réplica. A Anvisa e o Ministério da Saúde não podem deixar passar batido essa evidência de uso do espaço nobre para desconstruir o que tanto se lutou para construir.

Silvia Czermainski, farmacêutica e bioquímica, presidente da Comissão  Assessora  de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia .

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É irresistível comentar sobre o Dr. Dráuzio, novamente, no Fantástico deste domingo, dia 19.  Nesse programa ele mostrou um caso grave de intoxicação pelo uso de uma planta, que resultou em um transplante de fígado. Sua narrativa mostrava esforço para convencer o telespectador do perigo do uso de chás de plantas cuja eficácia terapêutica ainda não teve o aval da ciência, questão altamente relevante e foco da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O alerta do médico nesse sentido é procedente. O problema são as nuances do discurso, a parcialidade com que narra o drama – real – de uma usuária, beirando a gerar pânico até em roda de chá da tarde

Ora, os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre as intoxicações no Brasil. Segundo dados do SINITOX (2008) foram 26.384 (30,71%) contra 1.303 (1,52%) por plantas e destas apenas 1 (uma) intoxicação foi por uso terapêutico. Surpreende a informação dada no programa de que as plantas foram responsáveis três vezes mais por transplantes do que por medicamentos, mas não citam a fonte). Há necessidade de se aprofundar a pesquisa desses dados, buscando a forma de uso, a procedência, a indicação, afinal, muitas plantas medicinais são também classificadas como tóxicas. Ocorre que assim como acontece com o uso de  medicamentos, acontece com o uso de plantas: a intoxicação depende da dose e do processo de preparação/manipulação/produção, das substâncias envolvidas, da forma de uso, das condições do paciente, etc. Mesmo no preparo tradicional, onde também há regras a seguir, onde também há tecnologia.  E se tanto lutamos como farmacêuticos pelo uso racional de medicamentos, também devemos incluir as plantas medicinais nesse cuidado.

Portanto, o alerta peca não no mérito, mas no excesso e no alarmismo. Melhor seria se calcasse na informação do uso correto, como tanto faz outro programa da emissora, em vários episódios. Informação, aliás, que deveria estender-se aos entrevistados do Dr. Dráuzio, quanto ao conceito de “alopatia”, que no programa foi referido como antagônico ao adjetivo “natural” relacionando às plantas medicinais e fitoterápicos… Uma confusão que mostra a evidência mais uma vez do seu distanciamento do debate e dos avanços que temos tido na inserção da Fitoterapia no sistema de saúde. Aliás, distanciamento que Dr. Dráuzio está e que quer promover no debate, com sua parcialidade e desinformação técnica que se mostra virulenta quando acusa a Anvisa de ter aprovado “uma lista de 66 plantas e ervas para fazer chás, com as mais diversas e imprecisas alegações terapêuticas”…

Espera-se que no mínimo a Globo dê espaço para a réplica. A Anvisa e o Ministério da Saúde não podem deixar passar batido essa evidência de uso do espaço nobre para desconstruir o que tanto se lutou para construir.

Silvia Czermainski, farmacêutica e bioquímica, presidente da Comissão  Assessora  de Fitoterápicos do Conselho Regional de Farmácia .