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Novidade no cinema nacional : “2 coelhos”

“2 Coelhos” é um filme brasileiro lançado em 20 de janeiro de 2012, escrito e dirigido por Afonso Poyart, e caracteriza-se por elementos pouco comuns de se ver no cinema nacional.

Edgar (Fernando Alves Pinto) é um rapaz de vinte e poucos anos, classe media alta, morador de são Paulo capital. Cheio de ideias e planos frustrados para uma vida de sucesso e um passado que lhe condena por homicídio de uma mulher e uma criança por atropelamento, decide, após passar uma temporada em Miami, colocar um mirabolante plano em prática, pretendendo ficar rico. O plano pretende utilizar como peças chave o deputado Jader (Roberto Marchese), que no tribunal lhe ajudou a escapar impune de seu crime, e o criminoso Maicon (Marat Descartes), que frequentemente livra-se da justiça graças ao suborno de políticos influentes. A ideia inclui roubar o cofre público, mas tudo se torna mais complicado quando o dinheiro, após estar no local certo e na hora certa, acaba sendo roubado. Edgar, então, saí em busca do dinheiro duplamente roubado e, em sua caçada, se envolve com Júlia (Alessandra Negrini), uma promotora pública envolvida com todo o esquema, cujos laços com o passado de Edgar se estreitam cada vez mais.

O diretor e roteirista tem este filme como seu primeiro longa metragem e já se caracteriza como mais um talento brasileiro do tipo exportação. Afonso foi escalado para dirigir em Hollywood o próximo filme com Anthony Hopkins, Solace. Apesar de ser um aparente estreante, sua produtora publicitária, Black Maria, já vem de longa data com produções para famosas marcas, direção de clipes musicais para artistas populares no cenário brasileiro, e um curta metragem premiado no festival de Gramado.

Se comparado aos trabalhos anteriores, e até mesmo com todos os longas metragens já lançados no Brasil, 2 Coelhos é, sem dúvida, pouco convencional. Diferente de toda a produção nacional já lançada, o filme impressiona por trazer características hollywoodianas que vão desde o roteiro mirabolante até explosões e grandes efeitos especiais (muito bem feitos), capazes de torná-lo passível de uma consideração mais popular e menos cult, apesar dele nunca ter, de fato, se tornado um produto mainstrean.

A história narrada pelo protagonista de forma pouco linear nos joga os acontecimentos de uma maneira que, às vezes, chega a ser um pouco confusa. Felizmente toda a trama faz sentido nos minutos finais,  e é digna de arrancar grandes “ahhh bom” ou, simplesmente, caras de espanto da audiência. Não que se trate de algo extremamente profundo e complexo capaz de gerar surtos filosóficos. Pelo contrário. Porém a maneira como tudo se apresenta acaba formando uma grande colcha de retalhos, parte da graça do filme. Passada a euforia do desfecho é de se pensar se toda a confusão realmente torna tudo mais legal, ou se é apenas pretensão demais em parecer um filme inteligente.

Até o final do filme, o caminho é cheio de ação, diálogos boca suja (realistas, dado o contexto do filme), atuações acima de média, poucas e boas explosões, filmagens bacanas, tiroteios em câmera lenta, cenas artisticamente leves de sexo e flashbacks da personagem principal (Julia) livre leve e solta de biquíni à beira do mar.

As inspirações do diretor transparecem claramente em diversas cenas. Destaque para uma representação de síndrome do pânico com a atriz principal posta em uma realidade paralela, como um alter ego dentro de seu mundo mental, lutando contra seres em CG ao que lembra o filme Sucker Punch. Os trabalhos de  Fernando Meirelles, Christopher Nolan, Guy Ritchie e Tarantino são, certamente, outras fontes de criatividade para Afonso Poyart, sem contar as referencias a cultura nerd-pop bastante presentes. O personagem principal (Edgar) é um nerd autodeclarado, viciado em videogames e também um potencial gênio em engenharias experimentais e eletrônicos inovadores.

2 Coelhos veio com pretensão de ser um filme nos moldes de algo que chame a atenção no exterior. Talvez por ambição pessoal de Afonso em se restringir nesse aspecto e não dar muita atenção à repercussão no Brasil, ou talvez pela falta de marketing ao filme por parte de qualquer mídia vinculada a Globo, a produção de 4 milhões de reais acabou sendo pouquíssimo divulgada. Poucos conhecem ou sabem a respeito, garantindo uma reputação underground no que claramente deveria ser um lançamento de maiores abrangências. E para piorar, o lucro foi tecnicamente o mesmo valor gasto. A informação é tão pouca que mal se consegue saber ao certo por quanto tempo ficou em cartaz nos cinemas.

Um remake precoce em Hollywood já vem sendo cobiçado. Talvez só assim o original venha finalmente a ter o reconhecimento merecido. Não por ser um dos melhores filmes que se vai ver na vida, mas por toda a qualidade e diferenciais que o fazem merecer e muito ser visto e admirado. Não é todo dia que um filme estrangeiro, do ponto de vista americano, se torna um exemplo de qualidade técnica.

Por Rafael Carvalho, acadêmico do curso de Jornalismo da Unifra.

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Edgar (Fernando Alves Pinto) é um rapaz de vinte e poucos anos, classe media alta, morador de são Paulo capital. Cheio de ideias e planos frustrados para uma vida de sucesso e um passado que lhe condena por homicídio de uma mulher e uma criança por atropelamento, decide, após passar uma temporada em Miami, colocar um mirabolante plano em prática, pretendendo ficar rico. O plano pretende utilizar como peças chave o deputado Jader (Roberto Marchese), que no tribunal lhe ajudou a escapar impune de seu crime, e o criminoso Maicon (Marat Descartes), que frequentemente livra-se da justiça graças ao suborno de políticos influentes. A ideia inclui roubar o cofre público, mas tudo se torna mais complicado quando o dinheiro, após estar no local certo e na hora certa, acaba sendo roubado. Edgar, então, saí em busca do dinheiro duplamente roubado e, em sua caçada, se envolve com Júlia (Alessandra Negrini), uma promotora pública envolvida com todo o esquema, cujos laços com o passado de Edgar se estreitam cada vez mais.

O diretor e roteirista tem este filme como seu primeiro longa metragem e já se caracteriza como mais um talento brasileiro do tipo exportação. Afonso foi escalado para dirigir em Hollywood o próximo filme com Anthony Hopkins, Solace. Apesar de ser um aparente estreante, sua produtora publicitária, Black Maria, já vem de longa data com produções para famosas marcas, direção de clipes musicais para artistas populares no cenário brasileiro, e um curta metragem premiado no festival de Gramado.

Se comparado aos trabalhos anteriores, e até mesmo com todos os longas metragens já lançados no Brasil, 2 Coelhos é, sem dúvida, pouco convencional. Diferente de toda a produção nacional já lançada, o filme impressiona por trazer características hollywoodianas que vão desde o roteiro mirabolante até explosões e grandes efeitos especiais (muito bem feitos), capazes de torná-lo passível de uma consideração mais popular e menos cult, apesar dele nunca ter, de fato, se tornado um produto mainstrean.

A história narrada pelo protagonista de forma pouco linear nos joga os acontecimentos de uma maneira que, às vezes, chega a ser um pouco confusa. Felizmente toda a trama faz sentido nos minutos finais,  e é digna de arrancar grandes “ahhh bom” ou, simplesmente, caras de espanto da audiência. Não que se trate de algo extremamente profundo e complexo capaz de gerar surtos filosóficos. Pelo contrário. Porém a maneira como tudo se apresenta acaba formando uma grande colcha de retalhos, parte da graça do filme. Passada a euforia do desfecho é de se pensar se toda a confusão realmente torna tudo mais legal, ou se é apenas pretensão demais em parecer um filme inteligente.

Até o final do filme, o caminho é cheio de ação, diálogos boca suja (realistas, dado o contexto do filme), atuações acima de média, poucas e boas explosões, filmagens bacanas, tiroteios em câmera lenta, cenas artisticamente leves de sexo e flashbacks da personagem principal (Julia) livre leve e solta de biquíni à beira do mar.

As inspirações do diretor transparecem claramente em diversas cenas. Destaque para uma representação de síndrome do pânico com a atriz principal posta em uma realidade paralela, como um alter ego dentro de seu mundo mental, lutando contra seres em CG ao que lembra o filme Sucker Punch. Os trabalhos de  Fernando Meirelles, Christopher Nolan, Guy Ritchie e Tarantino são, certamente, outras fontes de criatividade para Afonso Poyart, sem contar as referencias a cultura nerd-pop bastante presentes. O personagem principal (Edgar) é um nerd autodeclarado, viciado em videogames e também um potencial gênio em engenharias experimentais e eletrônicos inovadores.

2 Coelhos veio com pretensão de ser um filme nos moldes de algo que chame a atenção no exterior. Talvez por ambição pessoal de Afonso em se restringir nesse aspecto e não dar muita atenção à repercussão no Brasil, ou talvez pela falta de marketing ao filme por parte de qualquer mídia vinculada a Globo, a produção de 4 milhões de reais acabou sendo pouquíssimo divulgada. Poucos conhecem ou sabem a respeito, garantindo uma reputação underground no que claramente deveria ser um lançamento de maiores abrangências. E para piorar, o lucro foi tecnicamente o mesmo valor gasto. A informação é tão pouca que mal se consegue saber ao certo por quanto tempo ficou em cartaz nos cinemas.

Um remake precoce em Hollywood já vem sendo cobiçado. Talvez só assim o original venha finalmente a ter o reconhecimento merecido. Não por ser um dos melhores filmes que se vai ver na vida, mas por toda a qualidade e diferenciais que o fazem merecer e muito ser visto e admirado. Não é todo dia que um filme estrangeiro, do ponto de vista americano, se torna um exemplo de qualidade técnica.

Por Rafael Carvalho, acadêmico do curso de Jornalismo da Unifra.