Apaixonados por fotografia, fotógrafos, estudantes, professores da área e interessados pela arte tiveram a oportunidade de ouvir e ver um dos mais renomados fotógrafos do mundo, que está em exposição até maio na capital gaúcha. O fotógrafo Sebastião Salgado esteve, na última sexta-feira, dia 14, no salão de Atos, para comemorar o aniversário de 80 anos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) . Na aula magna, em um salão completamente lotado, ele contou sobre sua trajetória de vida, seu amor pela arte fotográfica, suas longas jornadas por todo o mundo e sua exposição que está em Porto Alegre.
De acordo com Sebastião Salgado, a fotografia não contempla somente apertar um botão, mas usar toda a trajetória técnica e pessoal do profissional.
“Um fotógrafo não fotografa somente com uma câmera, fotografa com a vida inteira dele, fotografa com o pai e com a mãe, fotografa com a sua origem, fotografa com o aparato de ideias que ele têm, fotografa com sua ética, fotografa com sua vida”, entende.
Desta forma Sebastião Salgado compartilhou momentos de sua vida, desde a infância em uma fazenda no interior de Minas Gerais. Com 18 anos se mudou para Vitória-ES, onde iniciou a faculdade de Economia e, posteriormente, a militância política junto a movimentos de esquerda. Naquele período conheceu a esposa e companheira Lélia Wanick Salgado.
Em 1967, com a forte repressão do regime militar decidiu abandonar o país. Foi morar na França e Inglaterra. Em Paris, Lélia apresentou a primeira câmera fotográfica para Sebastião, dando início a uma nova carreira que o tornou referência mundial. O primeiro contato com o aparelho foi revelador:
“Pela primeira vez na minha vida eu olhei através de um visor e daquele momento minha vida mudou. Eu tinha uma outra maneira de me relacionar com as pessoas, de me relacionar com a paisagem, de me relacionar com as coisas. Eu tinha a possibilidade através daquele visor de parar a realidade e poder ver ela depois”, contou o fotógrafo.
Outro fato citado pelo carismático Sebastião foram as primeiras fotos, nas viagens a trabalho pela Organização Internacional do Café, quase sempre entre Londres e cidades da África. Foi nesta época que largou a vida de economista e foi viver somente da arte fotográfica.
Ao expor imagens das obras anteriores – “Trabalhadores” e “Êxodos”, “Gênesis” – Sebastião Salgado confessou ao público que estava prestes a largar a fotografia após a exposição “Êxodos”, pois o impacto foi muito grande após presenciar cenas de fome, genocídios e atos de crueldade. Foi quando decidiu voltar para fazenda onde morava quando era pequeno e iniciou um projeto de reflorestamento na região. Lá, teve a ideia de fazer o seu atual projeto, “Gênesis”.
“O que eu fui ver com a ideia do Gênesis são os 46% do mundo que não estão urbanizados e que nós temos a obrigação de preservar. Eu tive durante oito anos com a Lélia e com uma pequena equipe a oportunidade de ir ao planeta, de me sentir parte desse planeta. Me sentir um animal como os outros animais”, explicou o fotógrafo.
Após a aula magna, o fotógrafo e sua esposa responderam perguntas do público. Segundo Laura Fabricio, professora de fotografia do Centro Universitário Franciscano, a aula vai reforçar o que acredita e ensina sempre aos seus alunos, “Com o que ele falou eu mantenho uma linha de pensamento que vou levar para o resto da vida como profissional, no caso de ensinar fotografia e mesmo como fotógrafa”, explicou. A professora ainda reforçou a ideia de Sebastião Salgado que afirmou que é preciso amar o que se faz, sendo em qualquer área que seja.
Exposição em cartaz – Após passar pela Europa, o projeto “Gênesis” está em Porto Alegre. A exposição está na Usina do Gasômetro e vai ficar até 12 de maio. Contém 245 fotos de 2004 até 2012, em continentes como a Africa, Ásia, América, Oceania e Antártica. A curadora é a própria esposa do Sebastião Salgado, Lélia Salgado.