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Santa Maria, RS, Brazil

A vez dos “memes”

Observatório da mídia CS-02

Eveline Grunspan e Francine Antunes

Uma das redes sociais mais populares e com mais acessos é o Facebook, nele curtimos, comentamos e compartilhamos tudo. Textos e imagens, principalmente, são os formatos mais compartilhados e tem mais capacidade de tornarem-se memes. Quando uma imagem fixa ou em movimento é utilizada com frequência para tratar de assuntos diferentes, com um tom engraçado ou até irônico, denominamos esse fenômeno como um meme.  
Além de compartilhar um meme o usuário pode também remixá-lo para produzir algo diferente. Seus significados podem ser alternados, mas a ideia original continua a mesma, se propagando em diferentes plataformas digitais. De acordo com a pesquisa de Eduardo Biscayno de Prá, aluno do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano, apresentado no Salão de Iniciação Científica sobre “MEMES: UMA PROPOSTA DE CATEGORIZAÇÃO TEMÁTICA”, a internet, potencializa a propagação destes memes, mas não é possível calcular seu alcance ou seu resultado, já que cada um entende aquela mensagem de acordo com o contexto em que está inserido.

Um exemplo recente que podemos citar é a imagem de John Travolta no filme Pulp Fiction de 1994. A história do gif criado com a imagem de Travolta trouxe a tona outras tantas possibilidades de remixagens, quando, o então criador do meme, disponibilizou o molde com o ator em um fundo verde. Todas essas mudanças de fundo utilizando o meme central são remixagens, que estão categorizados como fenômenos regidos pela cibercultura. A imagem teve uma uma grande audiência e um grande impulsionamento nas redes sociais, isso devido a Mídia Propagável, conceito utilizado por Henry Jenkins e Joshua Green, gerada por usuários que compartilham, comentam, curtem e também se apropriam da imagem remixando-a. Um outro exemplo de mídia propagável, de acordo com professor de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, Maurício Dias, é quando o próprio Facebook oferece a opção de adicionar à minha imagem de perfil um filtro ou moldura referente: a bandeira da França que está relacionada aos atentados, as cores da bandeira GLS, ou a bandeira do Brasil com lama representando o desastre em Mariana. Quando os usuários alteram suas imagens eles estão se identificando ou sentem-se comovidos com as situações que estão sendo apresentadas, e mesmo que indiretamente eles estão propagando isso. Caso contrário, se não fizessem uso desse recurso, seria apenas mais uma  ferramenta disponível e sem visibilidade.

Para diferenciar mídia propagável do termo viral, Jenkins e Green defendem a ideia do viral ser um termo errado quando usado para obter-se o sentido de disseminar e agregar, pois viral remete a palavra vírus, algo negativo, que você não quer receber. Logo podemos entender por viral aquela propaganda indesejada nas redes sociais, o spam nos e-mails ou as correntes que são repassadas entre usuários: “a gente não dissemina algo que a gente não gosta”, esclarece Dias.  

Algumas páginas como Gina Indelicada e Mustafary construíram suas identidades e se destacaram nas redes sociais, isso a partir de uma ligação entre o criador e os usuários da página. No caso da Gina Indelicada o criador Ricck Lopes explicou em entrevista à revista Época Negócios que antes de dar vida à Gina, ele fazia experimentações em uma outra página, na qual testava estratégias comunicacionais e de aproximação com o público da web. Fazendo isso ele percebeu os formatos que mais repercutiam, e assim, resolveu investir na produção de conteúdo ligado a figura representativa da marca de palitos de madeira. Diferente do personagem criado por Marco Luque. Mustafary: um personagem com gírias regionais baianas, entonação e aparência caricata, histórias cotidianas que  somando o conjunto de ações, construiu uma ligação entre telespectadores e internautas. O personagem foi apresentado no programa Altas Horas, na Tv Globo, e devido à audiência do programa passou a integram outras mídias como Youtube, Instagram e Facebook. O vídeo onde o baiano aparece com um cachorro em uma praia, gerou muitos memes, tais como o momento em que ele se refere ao cão como ‘serumaninho’. Esta expressão repercutiu nas mídias pois foi um gesto espontâneo de afeto entre uma pessoa e um animal. Esse cenário foi revertido no momento em que o cão começa a atacá-lo, e por meio de xingamentos totalmente opostos à forma delicada que iniciou o diálogo, acabou tornando a cena ainda mais cômica. De ‘serumaninho’ à ‘demônio’.

Percebemos nos dois casos que tudo pode ser um meme. A fala do baiano, as palavras utilizadas e sua caracterização. O tom humorado da mulher indelicada que é sincera e tem resposta para tudo. Esses fatores são conhecidos pelo público, formando um contrato de leitura entre a página e os usuários, como explica Dias: “sabendo que a personagem se denomina indelicada, sei que se eu enviar uma pergunta idiota vou acabar recebendo uma resposta direita e ‘indelicada’. Sei a proposta da página, então não vou me sentir agredido ou desrespeitado, porque eu entendo como funciona este contrato”.  É importante destacar novamente que os memes apenas existem quando são propagados pelas mídias, nem todo o conteúdo produzido com a intenção de virar um meme, se torna um.

De certa forma, todos podemos nos apropriar das ferramentas que a internet oferece, e temos todas as mídias em nossas mãos para criar conteúdo. O que difere esse conteúdo de um meme é justamente a forma como ele se dissipa na rede, em forma de frases curtas, imagens engraçadas, atitudes nas quais nos identificamos e queremos compartilhar com outras pessoas. E é assim que essa rede de compartilhamento cresce. A internet oferece isso, com a possibilidade de reconfiguração e mutação de sentidos, através de uma evolução histórica em diferentes quesitos: seja na linguagem, no comportamento de uma comunidade ou geração, nos valores regionais, etc. A cibercultura reúne todos esses fenômenos, gerando ainda mais possibilidades de recriação, seja de quem pensa e forma o produto, quanto de quem o recebe e o transforma.

eveline

 

Eveline Grunspan,  21 anos, natural de Santa Maria. Acadêmica de jornalismo, no Centro Universitário Franciscano, atualmente cursa cadeiras do sexto semestre.

Frab

Francine Antunes, 21 anos, acadêmica de Jornalismo admira o poder das palavras. Valoriza a atitude do bom jornalista que relata com humanidade os fatos. Acredita que sua transformação como sujeito somente é possível devido a cada história ouvida e compartilhada.

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Eveline Grunspan e Francine Antunes

Uma das redes sociais mais populares e com mais acessos é o Facebook, nele curtimos, comentamos e compartilhamos tudo. Textos e imagens, principalmente, são os formatos mais compartilhados e tem mais capacidade de tornarem-se memes. Quando uma imagem fixa ou em movimento é utilizada com frequência para tratar de assuntos diferentes, com um tom engraçado ou até irônico, denominamos esse fenômeno como um meme.  
Além de compartilhar um meme o usuário pode também remixá-lo para produzir algo diferente. Seus significados podem ser alternados, mas a ideia original continua a mesma, se propagando em diferentes plataformas digitais. De acordo com a pesquisa de Eduardo Biscayno de Prá, aluno do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano, apresentado no Salão de Iniciação Científica sobre “MEMES: UMA PROPOSTA DE CATEGORIZAÇÃO TEMÁTICA”, a internet, potencializa a propagação destes memes, mas não é possível calcular seu alcance ou seu resultado, já que cada um entende aquela mensagem de acordo com o contexto em que está inserido.

Um exemplo recente que podemos citar é a imagem de John Travolta no filme Pulp Fiction de 1994. A história do gif criado com a imagem de Travolta trouxe a tona outras tantas possibilidades de remixagens, quando, o então criador do meme, disponibilizou o molde com o ator em um fundo verde. Todas essas mudanças de fundo utilizando o meme central são remixagens, que estão categorizados como fenômenos regidos pela cibercultura. A imagem teve uma uma grande audiência e um grande impulsionamento nas redes sociais, isso devido a Mídia Propagável, conceito utilizado por Henry Jenkins e Joshua Green, gerada por usuários que compartilham, comentam, curtem e também se apropriam da imagem remixando-a. Um outro exemplo de mídia propagável, de acordo com professor de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, Maurício Dias, é quando o próprio Facebook oferece a opção de adicionar à minha imagem de perfil um filtro ou moldura referente: a bandeira da França que está relacionada aos atentados, as cores da bandeira GLS, ou a bandeira do Brasil com lama representando o desastre em Mariana. Quando os usuários alteram suas imagens eles estão se identificando ou sentem-se comovidos com as situações que estão sendo apresentadas, e mesmo que indiretamente eles estão propagando isso. Caso contrário, se não fizessem uso desse recurso, seria apenas mais uma  ferramenta disponível e sem visibilidade.

Para diferenciar mídia propagável do termo viral, Jenkins e Green defendem a ideia do viral ser um termo errado quando usado para obter-se o sentido de disseminar e agregar, pois viral remete a palavra vírus, algo negativo, que você não quer receber. Logo podemos entender por viral aquela propaganda indesejada nas redes sociais, o spam nos e-mails ou as correntes que são repassadas entre usuários: “a gente não dissemina algo que a gente não gosta”, esclarece Dias.  

Algumas páginas como Gina Indelicada e Mustafary construíram suas identidades e se destacaram nas redes sociais, isso a partir de uma ligação entre o criador e os usuários da página. No caso da Gina Indelicada o criador Ricck Lopes explicou em entrevista à revista Época Negócios que antes de dar vida à Gina, ele fazia experimentações em uma outra página, na qual testava estratégias comunicacionais e de aproximação com o público da web. Fazendo isso ele percebeu os formatos que mais repercutiam, e assim, resolveu investir na produção de conteúdo ligado a figura representativa da marca de palitos de madeira. Diferente do personagem criado por Marco Luque. Mustafary: um personagem com gírias regionais baianas, entonação e aparência caricata, histórias cotidianas que  somando o conjunto de ações, construiu uma ligação entre telespectadores e internautas. O personagem foi apresentado no programa Altas Horas, na Tv Globo, e devido à audiência do programa passou a integram outras mídias como Youtube, Instagram e Facebook. O vídeo onde o baiano aparece com um cachorro em uma praia, gerou muitos memes, tais como o momento em que ele se refere ao cão como ‘serumaninho’. Esta expressão repercutiu nas mídias pois foi um gesto espontâneo de afeto entre uma pessoa e um animal. Esse cenário foi revertido no momento em que o cão começa a atacá-lo, e por meio de xingamentos totalmente opostos à forma delicada que iniciou o diálogo, acabou tornando a cena ainda mais cômica. De ‘serumaninho’ à ‘demônio’.

Percebemos nos dois casos que tudo pode ser um meme. A fala do baiano, as palavras utilizadas e sua caracterização. O tom humorado da mulher indelicada que é sincera e tem resposta para tudo. Esses fatores são conhecidos pelo público, formando um contrato de leitura entre a página e os usuários, como explica Dias: “sabendo que a personagem se denomina indelicada, sei que se eu enviar uma pergunta idiota vou acabar recebendo uma resposta direita e ‘indelicada’. Sei a proposta da página, então não vou me sentir agredido ou desrespeitado, porque eu entendo como funciona este contrato”.  É importante destacar novamente que os memes apenas existem quando são propagados pelas mídias, nem todo o conteúdo produzido com a intenção de virar um meme, se torna um.

De certa forma, todos podemos nos apropriar das ferramentas que a internet oferece, e temos todas as mídias em nossas mãos para criar conteúdo. O que difere esse conteúdo de um meme é justamente a forma como ele se dissipa na rede, em forma de frases curtas, imagens engraçadas, atitudes nas quais nos identificamos e queremos compartilhar com outras pessoas. E é assim que essa rede de compartilhamento cresce. A internet oferece isso, com a possibilidade de reconfiguração e mutação de sentidos, através de uma evolução histórica em diferentes quesitos: seja na linguagem, no comportamento de uma comunidade ou geração, nos valores regionais, etc. A cibercultura reúne todos esses fenômenos, gerando ainda mais possibilidades de recriação, seja de quem pensa e forma o produto, quanto de quem o recebe e o transforma.

eveline

 

Eveline Grunspan,  21 anos, natural de Santa Maria. Acadêmica de jornalismo, no Centro Universitário Franciscano, atualmente cursa cadeiras do sexto semestre.

Frab

Francine Antunes, 21 anos, acadêmica de Jornalismo admira o poder das palavras. Valoriza a atitude do bom jornalista que relata com humanidade os fatos. Acredita que sua transformação como sujeito somente é possível devido a cada história ouvida e compartilhada.