Amigos. Vizinhos. Comunidade. Com mais de 30 anos de fundação, a Cohab Santa Marta, conjunto habitacional localizado no bairro Juscelino Kubitschek, guarda memórias dos seus primeiros dias. Entre 13.730 habitantes, de acordo com o censo de 2010, os moradores mais antigos relembram histórias da região.
“Aqui não tinha posto, não tinha igreja, não tinha escola. Só existia o centro comunitário. Eu cheguei pela parte da tarde e fiquei sabendo que era o primeiro morador, porque a Cohab veio fotografar. No segundo dia era bonito de ver as pessoas chegando na Cohab. Uns chegavam com a mudança no carro de mão, outros de carroça, outros de caminhão, uns com uma mochila nas costas”, conta Santo Mesquita de Almeida, 68 anos. O primeiro morador a chegar na Cohab recorda a construção da escola Augusto Ruschi e as festividades que ocorriam no Centro Comunitário. “O Centro Comunitário se localizava onde era o postinho de saúde. Era bem movimentado, faziam festas de aniversário e casamento, além do surgimento do CTF (Centro de Tradições Folclóricas) que começou lá”, completa.
Alcy Guterres, 79 anos, e sua esposa Eva Sueli de Oliveira, 87 anos, chegaram ao bairro há mais de 35 anos vindos de São Martinho da Serra. “Nós viemos em 28 de setembro de 1980. Nessa quadra aqui fomos os primeiros que chegamos. Todos os dias chegava uma mudança. Eu tenho até hoje o jornal que fui sorteado”, revela Alcy. O casal explica que na época havia muita dificuldade, sem mercados e postos de saúde perto, além de não haver linha de ônibus regular. Contudo, aos poucos o local foi desenvolvendo-se. “Aqui faltava água, era muita gente e ela não tinha força para subir, veio uma seca grande e nós íamos buscar água em um artesiano perto da Coca-Cola. As mulheres, para lavar roupa, tinha umas sanguinhas lá embaixo, na divisa da Nova Santa Marta com o Alto da Boa Vista. Se juntavam umas seis mulheres, levavam merenda e passavam o dia lavando roupa e, de tardezinha, vinham com as roupas prontas”, comenta o aposentado.
A igreja católica Santa Marta foi fundada logo após a estruturação da Cohab. “Quando chegamos, a primeira preocupação era ter uma comunidade católica. Na época, nós rezávamos missa no ambulatório médico, onde hoje é a APAE”, relata Alfredo Paiva de Almeida, 66 anos. O morador explica que a construção da igreja foi há cerca de 32 anos com a ajuda do padre Cláudio Dalbon, missionário do norte da Itália. “A nossa igreja já serviu de creche, durante uma reforma, como ambulatório médico e também acolheu o pessoal sem teto”, completa.
Praça Amigos do Dorival
Junto a inauguração do conjunto habitacional, já existia uma praça que circundava as quadras 7, 8, 9 e 10 da região. Em 2006, sob a Lei 4928/ 06 foi oficializado o nome Amigos do Dorival. “O nome da praça foi decidido em uma reunião da coordenação do pessoal da praça, porque Dorival era uma pessoa que estava sempre brincando e rindo e quando, ele faleceu, foi unânime a decisão do nome”, comenta Alfredo.
Durante anos os próprios moradores tomaram conta do local, realizando a manutenção, além da instalação de uma cancha de bocha e churrasqueiras. “Um domingo nós estávamos tomando mate e falei para Seu Pedro, meu vizinho, sobre a sujeira da praça. Nós queríamos comprar uma máquina e um cabo para cuidar daqui. Então saímos, visitamos todos os vizinhos em volta da quadra e não teve nenhum que não quisesse colaborar. Hoje a prefeitura faz, mas por anos fomos nós que lutamos por tudo”, relembra.
Na comunidade era realizado festejos, como o dia do vizinho e dia da criança. “Eu lembro que em um domingo, 12 de outubro, conseguimos apoio da Universidade (UFSM), e troucemos brinquedos e balas para as crianças. Era uma diversão”, recapitula Alfredo.
Em três décadas de história, a Cohab Santa Marta guarda com carinho os momentos de união vividos. As casas que, no início, eram todas iguais, modificaram-se ao passar do tempo. “Hoje as festividades não acontecem mais, pois muitos companheiros nossos já faleceram”, completa Alfredo. Apesar de dificuldades que o bairro ainda possui, a comunidade acredita em amanhã melhor. “Eu nunca perco a esperança. As coisas podem e tem como melhorar”, finaliza Alfredo.