Caroline Comassetto, Larissa da Rosa, Natalia Zuliani, Tayná Lopes e Thayane Rodrigues
As discussões cotidianas são diretamente influenciadas pela prática jornalística, por meio de construções de realidades pautadas pela mídia. Desde a hierarquização das informações apuradas até os critérios de noticiabilidade, define-se o que será discutido e comentado socialmente.
Segundo este raciocínio, da teoria do agendamento, as notícias pautam nosso cotidiano. Assim se forma a realidade social, baseada na dimensão valorativa que cada meio de comunicação carrega, influenciando na construção da subjetividade humana. Da mesma forma, a esfera social pauta o meio midiático. A opinião pública possui forte presença no jornalismo, mesmo com a hegemonia midiática estabelecida pelo monopólio das grandes empresas de comunicação.
Durante um mês – da primeira quinzena de maio à primeira quinzena de junho de 2016 -, realizamos uma sondagem com a população santa-mariense, semanalmente, para a disciplina de Políticas de Comunicação do curso de Jornalismo, contabilizando os dados e analisando de forma comparativa com a mídia local. O foco desta pesquisa foi a infraestrutura da cidade de Santa Maria, contemplando questões cotidianas da população, gestão municipal e abordagem midiática. No recorte analisado, o relacionamento público-mídia é movido pelas duas partes: a dinâmica social é influenciada pela prática midiática, assim como a mídia é guiada pelo viés da opinião pública.
Em diversos bairros da cidade coletou-se informações de 80 participantes, de 17 a 76 anos e profissões variadas. A maioria caracterizou como péssima e ruim a infraestrutura da cidade. Trata-se aqui da iluminação, acessibilidade, calçadas, asfalto e ciclovias. Foi apontado como maiores problemas o asfalto, o calçamento e a iluminação. O asfalto por causar danos aos carros, aumentar o tempo de percurso e gerar engarrafamentos e acidentes. As calçadas por interferir na acessibilidade e no percurso de pedestres. E a iluminação por provocar aumento da violência e sentimento de insegurança.
Os principais veículos de comunicação locais que os entrevistados consomem são o Diário de Santa Maria (online e impresso), A Razão (impresso) e o programa televisivo Jornal do Almoço local, que noticiaram sobre asfaltamento, calçadas, obras, acidentes e bloqueios/desvios. O grande número de jovens entrevistados, provavelmente por sua relação com a internet e as redes sociais, fez com que a sondagem trouxesse o Diário de Santa Maria online como principal fonte de informação local. Apenas 11 pessoas disseram não consumir nenhum tipo de notícia sobre esse assunto durante o tempo apurado.
Considerando que o agendamento se dá de vários modos, segundo o pesquisador Antonio Hohlfeldt, a influência do agendamento por parte da mídia depende do grau de exposição a que o receptor está exposto. Além disso, depende também do tipo de mídia, da relevância e interesse que este receptor venha a emprestar ao tema, sua necessidade de orientação ou sua falta de informação, ou, ainda, seu grau de incerteza.
Assim, analisando as respostas dos entrevistados de acordo com o que foi noticiado, nas semanas das entrevistas, nos meios de comunicação consumidos pelos mesmos, concluiu-se que, no caso da infraestrutura municipal, a teoria do agendamento acontece. Com exceção daqueles questionamentos que foram respondidos com base na experiência cotidiana dos entrevistados, que estavam menos expostos ao agendamento da mídia em função do não consumo ou consumo raso de notícias e/ou usavam do senso comum para afirmar tópicos negativos sem argumentação factual. Este senso comum é gerado pela falta de exploração e profundidade da mídia sobre a infraestrutura municipal – prova é que foram veiculadas mais notícias sobre estradas, de responsabilidade estadual/federal, do que sobre ruas da cidade, gerando uma abordagem que provoca a banalização das notícias sobre a infraestrutura municipal.
O processo inverso também ocorre: a opinião pública pauta a atividade jornalística. Podemos constatar isso em função da dinâmica organizacional das notícias veiculadas, nos meios analisados, que ocorreu posteriormente à análise das informações e apontamentos da população sobre a infraestrutura na sondagem realizada.
Assim, nossa sondagem e análise corroboram com a teoria do agendamento social, bem como indicam que o processo de agendamento midiático ocorre no âmbito local, pois as informações ouvidas na rua foram basicamente as expostas nos veículos, e vice-versa.
Como afirma João Pissara, a mola principal para a democracia é a opinião pública. A comunicação deve montar a agenda de discussão da sociedade de maneira menos valorativa e mais asséptica possível, afinal a coletividade se alimenta das impressões dos meios de comunicação de massa e é papel da mídia dar espaço à esfera pública, afinal a força da mídia está não só no que ela veicula, mas também – e principalmente – no que ela não veicula.
Jornalistas são agentes políticos com poder de construção de realidade. As mídias sabem criar o senso comum da sociedade e podem levar a opinião pública a reproduzir seus interesses particulares, e não necessariamente o interesse público. É preciso saber até onde vai a construção da realidade e onde começa o agendamento intencional do senso comum de acordo com a dimensão valorativa do veículo, até onde a mídia se pauta pela opinião pública e até que ponto ela pauta a opinião pública.