Com a ajuda de uma muleta, caminha lentamente em direção à sala de estar de sua casa. Senta- se no sofá. Veste um conjunto de casaco e calça azul marinho e pantufas vermelhas. Cabelos quase completamente brancos. Esta é Olina Oliveira Lopes, 87 anos. Ela foi uma das convidadas a voltar no tempo e relembrar sua história no bairro do Rosário.
Vinda de Passo Fundo com marido e filhos, Olina se instalou no bairro Rosário há 60 anos. Segundo ela, “ainda não era um lugar bem habitado, não existia calçamento e algumas pessoas criavam umas vaquinhas”. Com o tempo, instalou um armazém, que funcionou por 20 anos, até meados dos anos 80. Seu marido, José Maria Lopes – com quem foi casada por 64 anos – ficou conhecido como “José Bananeiro”, pois “ havia um depósito de bananas na mercearia”, recorda ela.
Conforme Olina, o bairro foi se desenvolvendo aos poucos; primeiramente, com a pavimentação das ruas, o que aumentou o movimento. Hoje, o que mais chama a atenção é o crescimento no número de prédios. “Até pediram minha casa para construir um edifício, mas moro aqui há 60 anos e não vou sair agora”, garante a senhora.
Maria de Lourdes Toniolo, 62 anos, lembra que quando chegou ao bairro, em 1979 – para estudar no curso de Ciências Contábeis – o lugar era bem diferente. “Existiam apenas casas. Depois com a chegada do Educandário e mais tarde com a Unifra, o movimento aumentou. Agora são mais prédios, mais locais de comércio e serviços”, destaca Maria de Lourdes.
Quem também relembra sua história no Rosário é Doroty Bordin, 88 anos, que nasceu no bairro.
O bairro liga a periferia ao centro da cidade. Conforme Lori Salete Lopes de Bem, 72 anos, “o predomínio é de estudantes, principalmente depois da implantação do curso de Medicina na Unifra, mas a maioria dos moradores são antigos”.
A professora de educação especial aposentada é moradora há 60 anos. Ela conta que quando veio morar no Rosário havia somente oito casas na região. “A maioria dos moradores eram ferroviários. O bairro era estritamente residencial”, revela Lori.
Sergio da Silva Scheffer, 55 anos, também tem memórias antigas do local . Membro da quarta geração de uma família que trabalhou na viação férrea, ele lembra o período em que o transporte ferroviário era ativo na região.
Sérgio conta algumas curiosidades sobre esta época: “Na década de 50 havia um trem para transporte de passageiros. Ele era utilizado para o deslocamento de ferroviários e seus familiares. O trajeto percorrido pela composição corresponde a Avenida Borges de Medeiros até a oficina Edi Santos, atualmente conhecida como Km3, localizada na Rua Osvaldo Cruz”, relembra Scheffer.
Lori Salete destaca que o progresso não chegou em todo o bairro e que a região mais próxima do Centro Universitário Franciscano é a melhor desenvolvida. Para Sérgio Scheffer, uma possível justificativa para o desenvolvimento desigual do bairro seria o abandono da região em torno da linha férrea.“Há alguns anos predominava-se ferroviários nesta área. Com a extinção da Rede Ferroviária Federal, em 1997, o fechamento da oficina do km3, além da desabilitação da via férrea naquela região, houve o abandono”,conclui Scheffer.
Conforme Sérgio, após o abandono do local ocorreram invasões nesta área, o que criou pontos de difícil acesso, dificultando a segurança pública e refletindo em insegurança no bairro.
Reivindicações
Durante as entrevistas, foram levantados dois pontos principais com relação a melhorias no bairro. As moradoras denunciam a ausência de áreas de lazer e de policiamento.
Áreas de lazer – Uma das reivindicações é a falta de lugares de lazer. Lori diz que “quando tinha filhos pequenos, eles não tinham onde brincar. Hoje, eu não tenho um lugar para tomar chimarrão à tardinha”. Maria de Lourdes Toniolo lamenta que o único ponto para lazer, hoje se tornou perigoso. “Antigamente nos reuníamos na praça Hermenegildo Gabbi, até recolhíamos dinheiro dos moradores e pagávamos alguém para limpar. Porém, hoje é um lugar arriscado, destruíram tudo lá”, lastima Maria de Lourdes.
Policiamento – Das cinco entrevistadas, três colocaram a insegurança e falta de policiamento, como fatores negativos do Rosário. Olina conta que havia um posto de polícia no bairro há alguns anos, enquanto Maria de Lourdes Toniolo coloca que rondas eram realizadas na área. Contudo, as irmãs Maria de Lourdes Lopes e Maria dos Santos Lopes, de 78 e 94 anos, respectivamente, colocam o Rosário como um bairro calmo. “Aqui moram mais famílias, não tenho conhecimento de assaltos nesta região”, opina Maria de Lourdes Lopes.