“As gay, as bi, as trava e as sapatão tão tudo organizada pra fazer revolução!”. Entoando gritos de protesto e levantando cartazes, milhares de pessoas ocuparam as ruas de diversas cidades do Brasil contra a liminar concedida pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal. A decisão judicial permite que psicólogos ofereçam terapias de reversão sexual para LGBT’s.
Em Santa Maria, não foi diferente. Por volta das 14h30min, do dia 23 de setembro, manifestantes começaram a chegar na Praça Saldanha Marinho, o ponto de encontro para um ato público contra a “Cura Gay”. A manifestação foi organizada pelo Coletivo Voe, grupo de ativistas atuantes na cidade em defesa dos direitos LGBT’s.
Na praça, os manifestantes confeccionaram cartazes e pintaram seus rostos. As seis cores do arco-íris coloriram o espaço público e deram início a uma caminhada pelas principais ruas da cidade. Entre um grito e outro, eles pediam por respeito. O apoio a causa era mútuo e foi a partir daí que o estudante Henrique Pivetta Viero, 20 anos, teve a ideia de comunicar o Coletivo Voe para o ato público. “Após ler a notícia, fiquei indignado. Logo fui para as redes sociais e escrevi um texto de repúdio, onde recebi muito apoio de outros LGBT’s”, comenta.
E não foi só o Henrique que ficou tomado por indignação com tamanho retrocesso. A homossexualidade foi despatologizada pela Organização Mundial da Saúde em 1990. De lá pra cá, a população LGBT ganhou e ocupou espaço, mesmo rodeado por preconceito. Durante muito tempo sofreu represálias e ainda continua sendo oprimida. “O homossexual é estimulado a se esconder desde cedo. Quando descobrimos nossa identidade, a sociedade vem e diz: vocês não podem ser assim”, diz o estudante. Henrique já sentiu a mesma dor que muitxs outrxs meninxs sofreram. A sociedade o disse que era errado ser quem realmente ele era.
Mas quem é essa sociedade para querer nos curar ou dizer quem devemos ser? É a mesma que mata a cada 25 horas um LGBT? Que assassinou cruelmente 343 pessoas em 2016, entre elas Dandara e Itaberly? Reprimiu, espancou, apedrejou? Os dados são do Grupo Gay da Bahia, a associação mais antiga do Brasil que luta pelos direitos LGBT’s.
Essa mesma sociedade agora tenta nos curar e também tentou nos calar, com o fechamento da mostra Queer Museu, sobre diversidade sexual, exposta no Santander Cultural, em Porto Alegre. A única cura que queremos é a do preconceito, pois não vamos mais aceitar opressão, muito menos ficar dentro do armário. Ocupamos espaços e resistimos! Quando colocamos a cara no sol, em lugares “não apropriados para LGBT’s” (leia-se: cheio de conservadores), mostramos que existimos e que somos pertencentes a uma comunidade.
Temos nossa própria história, qualidades, defeitos e estamos logo ali. Somos seu vizinho, amigo, colega, irmão, filho. Estamos em todos os lugares. Não quero ser aceito, eu quero respeito! Mas em tempos TEMERosos, de tanto desamor e preconceito, ainda há esperança de dias melhores. “É importante ele crescer sabendo que as diferenças são naturais, e que existem vários tipos de expressões, sejam elas de gênero ou religiosa”, contou a professora Marta Nunes, que levou o seu filho, Francisco, de 8 anos, para participar do ato público. Se toda a família fosse como a de Marta, talvez não seríamos tantas vítimas nesse país.
Em 1969, a revolta de Stonewall, em Nova York, mostrou que temos força. A partir de uma série de represálias da polícia contra LGBT’s, a comunidade se libertou e enfrentou a opressão. Sabemos que somos poderosxs, e não vai ser a “Cura Gay” que vai tirar o nosso brilho. Estamos aí: na TV, no rádio, na internet. Estamos em todos os lugares. Isso se chama: re-pre-sen-ta-ti-vi-da-de.
Pabllo Vittar arrastou milhares de pessoas para cantarem suas músicas num palco secundário do Rock In Rio, um dos maiores festivais musicais do Brasil. Além disso, foi a primeira Drag Queen a subir no palco principal – como convidada da cantora Fergie -, levando o público a loucura. A história de descoberta e transição de um homem trans é contada na maior emissora de televisão do país. Liniker, Johnny Hooker, Linn da Quebrada… Uma nova geração LGBTQ+ que veio para derrubar padrões. Parece pouco? Pra gente, não! Cada espaço ocupado pode não ser uma grande revolução, mas é um empurrãozinho para que sejamos percebidos e representados. Temos brilho próprio e estamos cada vez mais poderosíssimxs. Aliás, o nosso rainbow é power!
Deivid Pazatto, acadêmico do 6º semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano. Militante da causa LGBTQ.
				
Deivid Pazatto, acadêmico do 6º semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano. Militante da causa LGBTQ.




