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Santa Maria, RS, Brazil

Gripe: vacinar ou não?

Crianças são parte do grupo de risco. Foto: arquivo ACS

Metade de 2018 e, entre oscilações climáticas,  enfrenta-se rápidas variações do frio ao calor. Haja saúde que aguente. A garganta começa a doer, o nariz amanhece trancado. E agora? A rotina não para. Ainda é preciso ir trabalhar e as crianças não podem faltar aula. O governo anuncia: vacinas já estão disponíveis em seus postos para os grupos prioritários. Em contraponto, grupos antivacinação são claros sobre sua posição. Não é a primeira vez que discussões a respeito da vacina tomam forma e, nos últimos anos, elas voltaram à tona.

Afinal, as pessoas estão tomando a Vacina Tríplice Viral menos ultimamente?

A vacinação é, historicamente, uma divisora de opiniões. O Brasil é considerado uma referência mundial no que tange à imunização, já que a maior parte da população do nosso país tem acesso a ela gratuitamente. Ao mesmo tempo, para muitas pessoas, ela é uma forma de controle da indústria farmacêutica, a segunda maior do mundo, e apresenta riscos à saúde que podem estar relacionadas a transtornos como o autismo e até a morte.

A Revolta da Vacina (1904)

Revolta da Vacina (1904), charge de Leônidas. Acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro (RJ).

Uma das primeiras e, talvez, a mais conhecida pelo público, a Revolta da Vacina ocorreu no início do século XX, no Rio de Janeiro. Foi um movimento popular que durou seis dias de vários conflitos urbanos violentos, com embates entre forças do povo, militares e policiais. O motivo? A campanha do governo comandada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, que estabelecia a imunização contra a varíola como obrigatória.

Grande parte da população era formada por camadas com menor poder aquisitivo e muitos analfabetos. Na época, desinformada, não conheciam o procedimento de uma vacinação ou sequer seus efeitos positivos, o que gerou uma onda de pânico e resultou em um numeroso grupo que se negou à imunização pública.

Prédios públicos foram depredados, trilhos de bondes, o principal transporte da época, foram arrancados  e várias pessoas feriram-se durante os embates. O governo decretou estado de sítio na capital carioca, e suspendeu a campanha. Pouco depois retomou-a, passou a investir em informação e esclarecimento prévio e, segundo dados oficiais, em um curto período a varíola foi erradicada do Rio de Janeiro.

O caso Wakefield (1998)

Em  1998, um ano após a ciência apresentar ao mundo a Ovelha Dolly, Andrew Wakefield, ex-cirurgião e ex-pesquisador britânico, publicou na revista The Lancet, especializada na área da medicina, o polêmico artigo MMR vaccination and autism, onde relacionava como efeitos colaterais da vacina tríplice, realizada para prevenir sarampo, caxumba e rubéola, com sintomas  que iam do desenvolvimento de uma síndrome intestinal até o surgimento de sintomas de autismo, em crianças.

No Brasil, a notícia também repercutiu e várias mães deixaram de vacinar seus filhos. Pouco tempo depois, a própria ‘The Lancet’ desmentiu o artigo. O autor, perdeu sua licença de exercer a profissão em 24 de maio de 2010, junto com seu colega e co-autor John Walker-Smith. Ambos foram condenados por má conduta profissional. Wakefield afirma que a cassação foi uma tentativa da indústria farmacêutica de silenciá-lo.

Século XXI: redes sociais e fake news

A internet facilitou muito a vida no século XXI. O surgimento das redes sociais aproximou pessoas em diferentes extremos do planeta e o smartphone permitiu ter computador, televisão, rádio e outros aparelhos em um único modelo que cabe no bolso da calça. Entretanto, contribuiu para que as rotinas de vida e trabalho se intensificassem. Permitiu também que qualquer um fizesse circular materiais que desmascaram grandes empresas ou governos corruptos, algo difícil de encontrar veiculado em grandes mídias tradicionais, como emissoras televisivas, por exemplo.

Mas também, abriu espaço para que pessoas mal intencionadas lançassem notícias pouco fundamentados, apuradas ou mentirosas que acabam por influenciar milhares de pessoas ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts  (MIT), atestou que as fake news se espalham cerca de 70% mais rápido que as verdadeiras. A partir de 2015 notícias falsas em relação a vacinação tem vindo a tona. Entre elas, um revival do artigo científico publicado por Andrew Wakefield em 1998. Usuários desavisados acabam por repassar para contatos antes de verificar a veracidade ou procedência da informação.

Em maio de 2017, o Estadão publicou em sua plataforma online uma reportagem que narra o quanto os grupos antivacinação têm ganhado força nas redes sociais. Só em cinco grupos do Facebook reunem mais de 13 mil pessoas. Todos eles são alimentados com o conteúdo de blogs, muitos deles, estrangeiros, que veiculam notícias cujo conteúdo associa com efeitos colaterais a doenças como o autismo.

Como alternativa para a imunização, sem precisar tomar vacina para a gripe, pais utilizam chás, óleos, homeopatia e demais substâncias e nutrientes encontrados em alimentos. Sobre isso, a enfermeira Ana Lúcia Motta, responsável pela Vigilância em Saúde Epidemiológica de Santa Maria, revela que os hábitos alternativos são saudáveis. Porém, não substituem a vacina tradicional. Ela chama atenção para a importância da vacinação. Em especial, para crianças e idosos.

Vacinações em Santa Maria (2018)
 

Campanha de vacinação segue até dia 22/06. Foto: João Vilnei/ arquivo ACS

As campanhas de vacinação em todo o território nacional priorizam anualmente os grupos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. São eles Crianças, entre 0 e 5 anos, trabalhadores da saúde, gestantes, puérperas, ou seja, mulheres que deram a luz há menos de 45 dias, indígenas, idosos e professores. A meta anual é imunizar pelo menos 90% de cada um dos grupos  até o inverno. Segundo a Vigilância em Saúde Epidemiológica de Santa Maria, os resultados locais do ano passado foram satisfatórios.

Os registros da campanha de vacina Tríplice Viral em Santa Maria, em 2017, marcam 94,11% dos trabalhadores de saúde como imunizados. Já as gestantes ficaram abaixo da média. Apenas 84,15%. As puérperas caem mais ainda nos resultados ao marcar 71,07%. Já os indígenas estão com 85,96%. O índice volta a subir com os idosos em 94,21% e ultrapassam a marca nos professores, que chegaram a  104,29%. Entre crianças de 0 a 5 anos o resultado não foi satisfatório, apenas 71,07%. Foram então abertas as vacinações para crianças de 5 a 9 anos, com 20.488 pessoas vacinadas e do sistema prisional, com 979 pessoas, entre detentos e funcionários.

Vê-se que apenas três grupos prioritários  atingiram a meta de 90%. Entretanto, a categoria Professores ultrapassou o limite estipulado. Passa dos 100%. Consequência de professores de outras cidades que aproveitaram para realizar a imunização em Santa Maria. Foi possível também abrir a vacinação para outros grupos.

Já no ano de 2018, o ritmo da vacinação diminuiu, apesar da campanha. Os últimos resultados da vacinação  divulgados pela Vigilância em Saúde Epidemiológica no último dia 14 de junho indicam que a população procura os postos de saúde depois dos apelos e da prorrogação do prazo da vacinação que vai até o próximo dia 22.

Resultado da campanha de vacina Tríplice Viral em Santa Maria (2018), até o dia 14/06.

Grupos Vacinados
Trabalhadores da Saúde 87,27%
Gestantes 74,23%
Puérperas 111,06%
Indígenas 106,45%
Idosos 89,66%
Professores 72,10%
Crianças (0 – 5) 51,63%
Crianças (5 – 9) 16.949 pessoas.
Sistema Prisional 1.055 pessoas.

Segundo dados da Vigilância em Saúde, os postos estão recebendo pessoas de outras cidades, como no caso dos indígenas e  e das puérperas, que já ultrapassaram a marca dos 100%. Os números podem crescer, já que jornada deste ano não chegou ao fim. Um fato curioso é o de que, tanto no ano passado quanto neste, os trabalhadores da saúde aderiram totalmente à campanha. Com efeitos para o bem ou mal-estar, a vacina continua disponível gratuitamente pelo governo brasileiro. Tomá-la ou não é uma decisão pessoal.

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Científico.

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Crianças são parte do grupo de risco. Foto: arquivo ACS

Metade de 2018 e, entre oscilações climáticas,  enfrenta-se rápidas variações do frio ao calor. Haja saúde que aguente. A garganta começa a doer, o nariz amanhece trancado. E agora? A rotina não para. Ainda é preciso ir trabalhar e as crianças não podem faltar aula. O governo anuncia: vacinas já estão disponíveis em seus postos para os grupos prioritários. Em contraponto, grupos antivacinação são claros sobre sua posição. Não é a primeira vez que discussões a respeito da vacina tomam forma e, nos últimos anos, elas voltaram à tona.

Afinal, as pessoas estão tomando a Vacina Tríplice Viral menos ultimamente?

A vacinação é, historicamente, uma divisora de opiniões. O Brasil é considerado uma referência mundial no que tange à imunização, já que a maior parte da população do nosso país tem acesso a ela gratuitamente. Ao mesmo tempo, para muitas pessoas, ela é uma forma de controle da indústria farmacêutica, a segunda maior do mundo, e apresenta riscos à saúde que podem estar relacionadas a transtornos como o autismo e até a morte.

A Revolta da Vacina (1904)

Revolta da Vacina (1904), charge de Leônidas. Acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro (RJ).

Uma das primeiras e, talvez, a mais conhecida pelo público, a Revolta da Vacina ocorreu no início do século XX, no Rio de Janeiro. Foi um movimento popular que durou seis dias de vários conflitos urbanos violentos, com embates entre forças do povo, militares e policiais. O motivo? A campanha do governo comandada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, que estabelecia a imunização contra a varíola como obrigatória.

Grande parte da população era formada por camadas com menor poder aquisitivo e muitos analfabetos. Na época, desinformada, não conheciam o procedimento de uma vacinação ou sequer seus efeitos positivos, o que gerou uma onda de pânico e resultou em um numeroso grupo que se negou à imunização pública.

Prédios públicos foram depredados, trilhos de bondes, o principal transporte da época, foram arrancados  e várias pessoas feriram-se durante os embates. O governo decretou estado de sítio na capital carioca, e suspendeu a campanha. Pouco depois retomou-a, passou a investir em informação e esclarecimento prévio e, segundo dados oficiais, em um curto período a varíola foi erradicada do Rio de Janeiro.

O caso Wakefield (1998)

Em  1998, um ano após a ciência apresentar ao mundo a Ovelha Dolly, Andrew Wakefield, ex-cirurgião e ex-pesquisador britânico, publicou na revista The Lancet, especializada na área da medicina, o polêmico artigo MMR vaccination and autism, onde relacionava como efeitos colaterais da vacina tríplice, realizada para prevenir sarampo, caxumba e rubéola, com sintomas  que iam do desenvolvimento de uma síndrome intestinal até o surgimento de sintomas de autismo, em crianças.

No Brasil, a notícia também repercutiu e várias mães deixaram de vacinar seus filhos. Pouco tempo depois, a própria ‘The Lancet’ desmentiu o artigo. O autor, perdeu sua licença de exercer a profissão em 24 de maio de 2010, junto com seu colega e co-autor John Walker-Smith. Ambos foram condenados por má conduta profissional. Wakefield afirma que a cassação foi uma tentativa da indústria farmacêutica de silenciá-lo.

Século XXI: redes sociais e fake news

A internet facilitou muito a vida no século XXI. O surgimento das redes sociais aproximou pessoas em diferentes extremos do planeta e o smartphone permitiu ter computador, televisão, rádio e outros aparelhos em um único modelo que cabe no bolso da calça. Entretanto, contribuiu para que as rotinas de vida e trabalho se intensificassem. Permitiu também que qualquer um fizesse circular materiais que desmascaram grandes empresas ou governos corruptos, algo difícil de encontrar veiculado em grandes mídias tradicionais, como emissoras televisivas, por exemplo.

Mas também, abriu espaço para que pessoas mal intencionadas lançassem notícias pouco fundamentados, apuradas ou mentirosas que acabam por influenciar milhares de pessoas ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts  (MIT), atestou que as fake news se espalham cerca de 70% mais rápido que as verdadeiras. A partir de 2015 notícias falsas em relação a vacinação tem vindo a tona. Entre elas, um revival do artigo científico publicado por Andrew Wakefield em 1998. Usuários desavisados acabam por repassar para contatos antes de verificar a veracidade ou procedência da informação.

Em maio de 2017, o Estadão publicou em sua plataforma online uma reportagem que narra o quanto os grupos antivacinação têm ganhado força nas redes sociais. Só em cinco grupos do Facebook reunem mais de 13 mil pessoas. Todos eles são alimentados com o conteúdo de blogs, muitos deles, estrangeiros, que veiculam notícias cujo conteúdo associa com efeitos colaterais a doenças como o autismo.

Como alternativa para a imunização, sem precisar tomar vacina para a gripe, pais utilizam chás, óleos, homeopatia e demais substâncias e nutrientes encontrados em alimentos. Sobre isso, a enfermeira Ana Lúcia Motta, responsável pela Vigilância em Saúde Epidemiológica de Santa Maria, revela que os hábitos alternativos são saudáveis. Porém, não substituem a vacina tradicional. Ela chama atenção para a importância da vacinação. Em especial, para crianças e idosos.

Vacinações em Santa Maria (2018)
 

Campanha de vacinação segue até dia 22/06. Foto: João Vilnei/ arquivo ACS

As campanhas de vacinação em todo o território nacional priorizam anualmente os grupos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. São eles Crianças, entre 0 e 5 anos, trabalhadores da saúde, gestantes, puérperas, ou seja, mulheres que deram a luz há menos de 45 dias, indígenas, idosos e professores. A meta anual é imunizar pelo menos 90% de cada um dos grupos  até o inverno. Segundo a Vigilância em Saúde Epidemiológica de Santa Maria, os resultados locais do ano passado foram satisfatórios.

Os registros da campanha de vacina Tríplice Viral em Santa Maria, em 2017, marcam 94,11% dos trabalhadores de saúde como imunizados. Já as gestantes ficaram abaixo da média. Apenas 84,15%. As puérperas caem mais ainda nos resultados ao marcar 71,07%. Já os indígenas estão com 85,96%. O índice volta a subir com os idosos em 94,21% e ultrapassam a marca nos professores, que chegaram a  104,29%. Entre crianças de 0 a 5 anos o resultado não foi satisfatório, apenas 71,07%. Foram então abertas as vacinações para crianças de 5 a 9 anos, com 20.488 pessoas vacinadas e do sistema prisional, com 979 pessoas, entre detentos e funcionários.

Vê-se que apenas três grupos prioritários  atingiram a meta de 90%. Entretanto, a categoria Professores ultrapassou o limite estipulado. Passa dos 100%. Consequência de professores de outras cidades que aproveitaram para realizar a imunização em Santa Maria. Foi possível também abrir a vacinação para outros grupos.

Já no ano de 2018, o ritmo da vacinação diminuiu, apesar da campanha. Os últimos resultados da vacinação  divulgados pela Vigilância em Saúde Epidemiológica no último dia 14 de junho indicam que a população procura os postos de saúde depois dos apelos e da prorrogação do prazo da vacinação que vai até o próximo dia 22.

Resultado da campanha de vacina Tríplice Viral em Santa Maria (2018), até o dia 14/06.

Grupos Vacinados
Trabalhadores da Saúde 87,27%
Gestantes 74,23%
Puérperas 111,06%
Indígenas 106,45%
Idosos 89,66%
Professores 72,10%
Crianças (0 – 5) 51,63%
Crianças (5 – 9) 16.949 pessoas.
Sistema Prisional 1.055 pessoas.

Segundo dados da Vigilância em Saúde, os postos estão recebendo pessoas de outras cidades, como no caso dos indígenas e  e das puérperas, que já ultrapassaram a marca dos 100%. Os números podem crescer, já que jornada deste ano não chegou ao fim. Um fato curioso é o de que, tanto no ano passado quanto neste, os trabalhadores da saúde aderiram totalmente à campanha. Com efeitos para o bem ou mal-estar, a vacina continua disponível gratuitamente pelo governo brasileiro. Tomá-la ou não é uma decisão pessoal.

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Científico.