Nesse verão fui passar alguns dias no litoral, fazia três anos que não ia. Talvez uma das coisas mais inspiradoras para alguém que goste de escrever seja sentar na areia e escutar o barulho das ondas quebrando no mar. A maresia não sai do nariz, impregna no corpo. Crianças dando seus primeiros passos em direção a imensidão do mar, a água salgada, fria, atingindo milhares de seres humanos ao mesmo tempo, em um abraço, um carinho que a maioria espera o ano inteiro para receber.
Como em um filme observo em câmera lenta as coisas acontecerem, a água derrubando os muros de um castelo de areia, os pais catam conchas para seus filhos, a menina sai da água chorando, depois de ser tocada por uma água viva. Enquanto escrevo, sou vigiado por uma pandorga em forma de morcego, que sobrevoa os guarda-sóis, ao mesmo tempo em que todos batem palmas pelo abraço forte do pai no filho perdido, que lhe esperava na guarita dos salva-vidas, número 77.
Antes de voltar para casa contemplo uma última vez o mar, tento imaginar os lugares onde ele pode nos levar, em como somos pequenos no universo. A água molha meus pés e me pego a pensar no que realmente lembraremos no fim da nossa existência, eu me lembrarei de coisas como sentar na areia da praia e ouvir o barulho do mar.
Fabian Lisboa é acadêmico de jornalismo na UFN e um apaixonado pelo mar.