Às vezes acho que as pessoas falam porque não gostam de ouvir o próprio silêncio. Bate, tem ruído, ecoa por dentro. E sempre que alguém fala pouco, eu penso o quanto essa pessoa escuta. É por isso que eu sempre gostei de ler os jornais. A gente lê em silêncio, mas, pensando bem, até que se escuta. No fundo tem uma voz que se ouve. A gente diz que não vê, mas enxerga tanta coisa. A gente diz que não quer, mas até sente medo de ter. A gente também nega, até o fundo, que não aguenta mais e só quer gritar. A gente diz tudo bem, sem estar. Às vezes a gente fala sem se escutar. A gente diz mais, mas isso não é ficar. A gente fica mesmo por se importar. A gente ama, sem falar. E quando fala não consegue mais ficar em silêncio.
Julia Trombini é jornalista escorpiana egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.