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Santa Maria, RS, Brazil

Riograndense representa as dificuldades do futebol no interior

A história do futebol tem cerca de 150 anos. Em Santa Maria, um grupo de amigos ferroviários fundou o Football Club Rio-Grandense em 1912. Hoje o clube ocupa a décima colocação entre os mais antigos do Rio Grande do Sul e a quadragésima posição no Brasil.

Durante esses 106 anos, foram conquistados vários títulos, destacando o vice-campeonato gaúcho em 1921. Hoje o Riograndense Futebol Clube, com seu verde, vermelho e branco, está localizado na zona norte da cidade e seu estádio chama-se Eucaliptos. O mascote do time é o periquito.

O maior rival do Riograndense é o Esporte Clube Internacional, com quem faz o clássico “Rio-Nal”. O clube alvirrubro teve início em 16 de maio de 1928, e assim como o periquito, conquistou vários títulos. Nesse ano, chegaram as semifinais da divisão de acesso, perdendo a vaga do Gauchão 2019 para a equipe do Pelotas. Mesmo sem o tão sonhado acesso, a direção decidiu jogar no segundo semestre desse ano a Copa Wianey Carlet, e está em busca da classificação. O Inter SM, nunca fechou as portas, apesar de passar por algumas crises financeiras, algo normal para times do interior.

Ao contrário do coirmão , após muitos anos jogando a divisão de acesso, em 2016 o Riograndense foi rebaixado para a terceira divisão. No ano seguinte, já atuando nessa competição, desistiu no meio do campeonato, sendo punido pela Federação Gaúcha de Futebol com uma suspensão de 2 anos sem poder atuar profissionalmente, mais multa.

Esta é a terceira vez que o Periquito fecha as portas. Na primeira vez, permaneceu fechado de 1979 a 1984, alegando dificuldades financeiras e fechou as portas novamente entre 1986 e 1998 pelo mesmo motivo.

Clássico Rio-Nal no Estádio dos Eucaliptos. Foto: Divulgação/Riograndense

Sabemos que fazer futebol no interior é quase que um desafio diário, tanto para atletas e funcionários, como para presidentes. Jogadores muitas vezes amargam baixos salários, vivendo em situações precárias nos alojamentos, distantes da família, entre outras dificuldades.

Para os dirigentes, manter um clube em atividade também não é tarefa fácil. A falta de dinheiro e de patrocinadores, as burocracias, os problemas com torcidas e até a falta delas em dias de jogos, com poucos sócios pagantes, tudo influencia as crises nos clubes e até mesmo o fechamento. Foi o caso do Riograndense.

A ex-presidente do clube, Norma Rolim, que ainda é uma fiel torcedora, lembra que o Riograndense sempre teve problemas em suas gestões, mas, mesmo assim, garante que “era tudo gratificante”. Ver o estádio lotado, a torcida incentivando, tanto em ´´casa´´, quanto nas viagens são algumas das cenas mais inesquecíveis para ela. Norma procura relembrar só de coisas boas, pois ficava mais no estádio, do que em casa com a própria família. A ex-presidente do Periquito lamenta o momento que o clube passa, e é com grande tristeza que vê o time do coração com as portas fechadas, desclassificado e com dificuldades para recomeçar.

Ser jogador é o sonho de vários meninos, porém, a vida cheia de glamour e dinheiro – que muitos dizem ser de jogadores de futebol – passa longe da realidade da grande maioria. Salários baixos, desemprego, datas festivas longe da família, são algumas das dificuldades que atletas do futebol do Brasil passam.

Cléverson Rosário dos Santos, 34 anos, jogador do Esporte Clube Pelotas, destaca que entre os problemas de jogar no interior, se destaca a falta de estrutura e poucos recursos dos clubes. Além de o calendário ser muito apertado (pouco tempo de jogos).

Por esses motivos, é inevitável não pensar em desistir, e isso ocorreu com ele, ano passado, quando sofreu uma lesão e teve que ficar parado por 9 meses. Cléverson teve que arcar com seu tratamento e com ajuda de terceiros, que conheceu por lugares onde passou e jogou, pois, o clube em que estava naquele momento não o ajudou. Mas o amor pelo futebol e pela profissão fazem-no superar todas essas barreiras.

Algumas dessas dificuldades, Talison Silva, 31 anos, conhecido como Tôtto, que jogou esse ano pelo Avenida de Santa Cruz do Sul e pelo Gaúcho de Passo Fundo, conhece bem. Ele comenta que entre os maiores problemas está a falta de estrutura dos clubes, e as dificuldades financeiras. Esta última, por exemplo, Tôtto encontrou também em 2010, quando jogou pelo Riograndense.

Depois de atuar em diversos clubes no RS e Brasil, Richard Santos resolveu buscar uma nova oportunidade fora do país, e atua na Rússia há três anos. Ele conta que já passou por situações de combinar salário por telefone ou e-mail e, quando foi assinar o contrato, a valor era menor, isso quando não atrasava e algumas vezes ou mesmo nem o recebia. Por conta disso, como acontece com vários jogadores, teve que ir para justiça com processos contra alguns clubes.

Além dos problemas vividos por Richard, complicações com acomodações e até com alimentação são muito frequentes na vida de muitos jogadores. Por essas entre outras dificuldades, ele não pretende voltar a jogar no Brasil e em 2019 irá jogar em Lisboa, Portugal.

Durante um clássico RioNal, foi preciso usar um colchão para filtrar a água da chuva, um dos desafios de jogar no interior. (Foto: Divulgação/InterSM).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 2018, foi eleito o novo presidente do Riograndense, Gilberto Pires. Ainda que nunca tenha pensado em assumir um cargo como esse, ele atendeu aos pedidos dos conselheiros do time esmeraldino. Pires encarou a tarefa porque, segundo ele, “poucos encaram o desafio de administrar um clube que não está em atividades profissionais atualmente”.

A intenção é, sim, voltar às atividades quando acabar a suspenção da FGF. No momento, a administração está tentando resolver problemas como a adequação do estádio, dentro do PPCI (Plano de Prevenção e Combate a Incêndios) e enquadramento dentro dos padrões de acessibilidade, segurança e conforto dos torcedores. Outra dificuldade a ser vencida é resgatar o quadro social (que já contou com 8 mil sócios, na época em que possuía piscinas), assim como a estrutura administrativa, a gestão financeira e contábil.

No momento, no estádio dos Eucaliptos, funciona apenas o complexo Locomotiva (quadra de futebol society, o bar em dias de jogos dessa quadra, e a academia), e Gilberto deixa um recado ao torcedor esmeraldino: “Convocamos todos os torcedores e simpatizantes do ‘periquito mais amado do Brasil’ para que nos deem todo o apoio, que este clube de 106 anos possa retornar ao seu lugar. Pois como única entidade ferroviária de Santa Maria não poderá se extinguir”.

 

Reportagem produzida por Luana Giacomelli, na disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da UFN, durante o 2º semestre de 2018, sob orientação da professora Carla Torres.

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A história do futebol tem cerca de 150 anos. Em Santa Maria, um grupo de amigos ferroviários fundou o Football Club Rio-Grandense em 1912. Hoje o clube ocupa a décima colocação entre os mais antigos do Rio Grande do Sul e a quadragésima posição no Brasil.

Durante esses 106 anos, foram conquistados vários títulos, destacando o vice-campeonato gaúcho em 1921. Hoje o Riograndense Futebol Clube, com seu verde, vermelho e branco, está localizado na zona norte da cidade e seu estádio chama-se Eucaliptos. O mascote do time é o periquito.

O maior rival do Riograndense é o Esporte Clube Internacional, com quem faz o clássico “Rio-Nal”. O clube alvirrubro teve início em 16 de maio de 1928, e assim como o periquito, conquistou vários títulos. Nesse ano, chegaram as semifinais da divisão de acesso, perdendo a vaga do Gauchão 2019 para a equipe do Pelotas. Mesmo sem o tão sonhado acesso, a direção decidiu jogar no segundo semestre desse ano a Copa Wianey Carlet, e está em busca da classificação. O Inter SM, nunca fechou as portas, apesar de passar por algumas crises financeiras, algo normal para times do interior.

Ao contrário do coirmão , após muitos anos jogando a divisão de acesso, em 2016 o Riograndense foi rebaixado para a terceira divisão. No ano seguinte, já atuando nessa competição, desistiu no meio do campeonato, sendo punido pela Federação Gaúcha de Futebol com uma suspensão de 2 anos sem poder atuar profissionalmente, mais multa.

Esta é a terceira vez que o Periquito fecha as portas. Na primeira vez, permaneceu fechado de 1979 a 1984, alegando dificuldades financeiras e fechou as portas novamente entre 1986 e 1998 pelo mesmo motivo.

Clássico Rio-Nal no Estádio dos Eucaliptos. Foto: Divulgação/Riograndense

Sabemos que fazer futebol no interior é quase que um desafio diário, tanto para atletas e funcionários, como para presidentes. Jogadores muitas vezes amargam baixos salários, vivendo em situações precárias nos alojamentos, distantes da família, entre outras dificuldades.

Para os dirigentes, manter um clube em atividade também não é tarefa fácil. A falta de dinheiro e de patrocinadores, as burocracias, os problemas com torcidas e até a falta delas em dias de jogos, com poucos sócios pagantes, tudo influencia as crises nos clubes e até mesmo o fechamento. Foi o caso do Riograndense.

A ex-presidente do clube, Norma Rolim, que ainda é uma fiel torcedora, lembra que o Riograndense sempre teve problemas em suas gestões, mas, mesmo assim, garante que “era tudo gratificante”. Ver o estádio lotado, a torcida incentivando, tanto em ´´casa´´, quanto nas viagens são algumas das cenas mais inesquecíveis para ela. Norma procura relembrar só de coisas boas, pois ficava mais no estádio, do que em casa com a própria família. A ex-presidente do Periquito lamenta o momento que o clube passa, e é com grande tristeza que vê o time do coração com as portas fechadas, desclassificado e com dificuldades para recomeçar.

Ser jogador é o sonho de vários meninos, porém, a vida cheia de glamour e dinheiro – que muitos dizem ser de jogadores de futebol – passa longe da realidade da grande maioria. Salários baixos, desemprego, datas festivas longe da família, são algumas das dificuldades que atletas do futebol do Brasil passam.

Cléverson Rosário dos Santos, 34 anos, jogador do Esporte Clube Pelotas, destaca que entre os problemas de jogar no interior, se destaca a falta de estrutura e poucos recursos dos clubes. Além de o calendário ser muito apertado (pouco tempo de jogos).

Por esses motivos, é inevitável não pensar em desistir, e isso ocorreu com ele, ano passado, quando sofreu uma lesão e teve que ficar parado por 9 meses. Cléverson teve que arcar com seu tratamento e com ajuda de terceiros, que conheceu por lugares onde passou e jogou, pois, o clube em que estava naquele momento não o ajudou. Mas o amor pelo futebol e pela profissão fazem-no superar todas essas barreiras.

Algumas dessas dificuldades, Talison Silva, 31 anos, conhecido como Tôtto, que jogou esse ano pelo Avenida de Santa Cruz do Sul e pelo Gaúcho de Passo Fundo, conhece bem. Ele comenta que entre os maiores problemas está a falta de estrutura dos clubes, e as dificuldades financeiras. Esta última, por exemplo, Tôtto encontrou também em 2010, quando jogou pelo Riograndense.

Depois de atuar em diversos clubes no RS e Brasil, Richard Santos resolveu buscar uma nova oportunidade fora do país, e atua na Rússia há três anos. Ele conta que já passou por situações de combinar salário por telefone ou e-mail e, quando foi assinar o contrato, a valor era menor, isso quando não atrasava e algumas vezes ou mesmo nem o recebia. Por conta disso, como acontece com vários jogadores, teve que ir para justiça com processos contra alguns clubes.

Além dos problemas vividos por Richard, complicações com acomodações e até com alimentação são muito frequentes na vida de muitos jogadores. Por essas entre outras dificuldades, ele não pretende voltar a jogar no Brasil e em 2019 irá jogar em Lisboa, Portugal.

Durante um clássico RioNal, foi preciso usar um colchão para filtrar a água da chuva, um dos desafios de jogar no interior. (Foto: Divulgação/InterSM).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 2018, foi eleito o novo presidente do Riograndense, Gilberto Pires. Ainda que nunca tenha pensado em assumir um cargo como esse, ele atendeu aos pedidos dos conselheiros do time esmeraldino. Pires encarou a tarefa porque, segundo ele, “poucos encaram o desafio de administrar um clube que não está em atividades profissionais atualmente”.

A intenção é, sim, voltar às atividades quando acabar a suspenção da FGF. No momento, a administração está tentando resolver problemas como a adequação do estádio, dentro do PPCI (Plano de Prevenção e Combate a Incêndios) e enquadramento dentro dos padrões de acessibilidade, segurança e conforto dos torcedores. Outra dificuldade a ser vencida é resgatar o quadro social (que já contou com 8 mil sócios, na época em que possuía piscinas), assim como a estrutura administrativa, a gestão financeira e contábil.

No momento, no estádio dos Eucaliptos, funciona apenas o complexo Locomotiva (quadra de futebol society, o bar em dias de jogos dessa quadra, e a academia), e Gilberto deixa um recado ao torcedor esmeraldino: “Convocamos todos os torcedores e simpatizantes do ‘periquito mais amado do Brasil’ para que nos deem todo o apoio, que este clube de 106 anos possa retornar ao seu lugar. Pois como única entidade ferroviária de Santa Maria não poderá se extinguir”.

 

Reportagem produzida por Luana Giacomelli, na disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da UFN, durante o 2º semestre de 2018, sob orientação da professora Carla Torres.