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O futuro do lembrar

 

A educação ‘abre’ caminhos. Foto: Lavignea Witt.

No geral, me considero sortuda por algumas coisas. E uma delas é por lembrar da minha infância. Como é bom reviver alguns momentos na minha memória, em especial os tempos de escola. Lembro de muitas ocasiões. Dos dias de aula, das brincadeiras, das tarefas em casa. Como era bom poder ir para escola e viver toda a experiência do aprendizado com meus colegas e professores. Infelizmente, essa não é a realidade de milhares de alunos desde março de 2020. Com o surgimento da pandemia, as aulas presenciais foram suspensas e gestores e educadores do mundo inteiro buscam os melhores caminhos para tentar manter a troca de conhecimento e as relações sociais entre todos. A maioria dos alunos participa das aulas através de videochamadas. Outros recebem as atividades impressas em casa ou buscam na escola. E muitos não conseguem usufruir de nenhuma das opções. O que era básico, agora é privilégio. 

Apesar de lembrar da minha infância de modo feliz, não tenho somente lembranças boas do meu tempo de escola. Lembro também das minhas dificuldades. Matemática era algo terrível para mim. Aquela mistura de números e letras me assusta até hoje. Além das aulas presenciais, tentava sanar todas minhas dúvidas em casa, com a ajuda dos meus pais ou de professores particulares. Hoje, um estudante do ensino fundamental, que tem dificuldade em alguma matéria, soube que precisa de muita dedicação e organização para aprender através do universo digital. E se não possui acesso à internet, o trabalho é dobrado. Os professores precisam adaptar novas formas de ensinar e novas formas de fazer o conteúdo chegar até esses alunos. Uma crise que ‘forçou’ milhares de estudantes e professores a se abrirem para o novo. 

E essa batalha não é somente de dois lados. Os pais, que dispõe do privilégio de trabalhar em home office, vivem essa rotina junto com eles. Mas nem tudo é vantajoso. Trabalhar, cuidar da casa e ajudar os filhos. Parece algo simples, mas demanda muito esforço. A suspensão das aulas presenciais devido ao isolamento criou novos hábitos e comportamentos dentro das relações familiares. A sobrecarga de atividades e as preocupações do dia a dia tem contribuído para angústias e aflições. Parece que estacionamos em março de 2020. 

Olhando para esse panorama de dificuldades, podemos assegurar que muitos efeitos desse momento permanecerão. E não me refiro apenas às estruturas ou processos de aprendizagem, mas sim à valorização. Ir à escola era rotina, e agora, assim como quase tudo, terá um novo sentido. Quando o ensino voltar a ser presencial, o hábito irá dar lugar a ressignificação. A forma de aprender não será mais a mesma, assim como a relação entre todos que se envolvem com o ambiente escolar. É certo afirmar que a pandemia também proporcionou e proporciona momentos de reflexão. 

Em seu livro, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, Carl Sagan afirmou: “Num mundo em transição, tanto os estudantes como os professores precisam ensinar a si mesmos uma habilidade essencial — precisam aprender a aprender.” A chave está aí. Não sabemos o que nos espera pela frente. O importante será aproveitar os ensinamentos que esse momento tem imposto para saber lidar com os imprevistos da melhor maneira. E que esses alunos tenham a mesma sorte de lembrar dos seus tempos bons de escola assim como eu. 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli. 

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A educação ‘abre’ caminhos. Foto: Lavignea Witt.

No geral, me considero sortuda por algumas coisas. E uma delas é por lembrar da minha infância. Como é bom reviver alguns momentos na minha memória, em especial os tempos de escola. Lembro de muitas ocasiões. Dos dias de aula, das brincadeiras, das tarefas em casa. Como era bom poder ir para escola e viver toda a experiência do aprendizado com meus colegas e professores. Infelizmente, essa não é a realidade de milhares de alunos desde março de 2020. Com o surgimento da pandemia, as aulas presenciais foram suspensas e gestores e educadores do mundo inteiro buscam os melhores caminhos para tentar manter a troca de conhecimento e as relações sociais entre todos. A maioria dos alunos participa das aulas através de videochamadas. Outros recebem as atividades impressas em casa ou buscam na escola. E muitos não conseguem usufruir de nenhuma das opções. O que era básico, agora é privilégio. 

Apesar de lembrar da minha infância de modo feliz, não tenho somente lembranças boas do meu tempo de escola. Lembro também das minhas dificuldades. Matemática era algo terrível para mim. Aquela mistura de números e letras me assusta até hoje. Além das aulas presenciais, tentava sanar todas minhas dúvidas em casa, com a ajuda dos meus pais ou de professores particulares. Hoje, um estudante do ensino fundamental, que tem dificuldade em alguma matéria, soube que precisa de muita dedicação e organização para aprender através do universo digital. E se não possui acesso à internet, o trabalho é dobrado. Os professores precisam adaptar novas formas de ensinar e novas formas de fazer o conteúdo chegar até esses alunos. Uma crise que ‘forçou’ milhares de estudantes e professores a se abrirem para o novo. 

E essa batalha não é somente de dois lados. Os pais, que dispõe do privilégio de trabalhar em home office, vivem essa rotina junto com eles. Mas nem tudo é vantajoso. Trabalhar, cuidar da casa e ajudar os filhos. Parece algo simples, mas demanda muito esforço. A suspensão das aulas presenciais devido ao isolamento criou novos hábitos e comportamentos dentro das relações familiares. A sobrecarga de atividades e as preocupações do dia a dia tem contribuído para angústias e aflições. Parece que estacionamos em março de 2020. 

Olhando para esse panorama de dificuldades, podemos assegurar que muitos efeitos desse momento permanecerão. E não me refiro apenas às estruturas ou processos de aprendizagem, mas sim à valorização. Ir à escola era rotina, e agora, assim como quase tudo, terá um novo sentido. Quando o ensino voltar a ser presencial, o hábito irá dar lugar a ressignificação. A forma de aprender não será mais a mesma, assim como a relação entre todos que se envolvem com o ambiente escolar. É certo afirmar que a pandemia também proporcionou e proporciona momentos de reflexão. 

Em seu livro, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, Carl Sagan afirmou: “Num mundo em transição, tanto os estudantes como os professores precisam ensinar a si mesmos uma habilidade essencial — precisam aprender a aprender.” A chave está aí. Não sabemos o que nos espera pela frente. O importante será aproveitar os ensinamentos que esse momento tem imposto para saber lidar com os imprevistos da melhor maneira. E que esses alunos tenham a mesma sorte de lembrar dos seus tempos bons de escola assim como eu. 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli.