Primeiros dias pós-Carnaval, dias em que volta aquela sensação de recomeço. “Agora vai!” E hoje também inicia minha colaboração mensal aqui na Agência Central Sul. É no embalo dos (re)começos que proponho resgatar algumas reflexões sobre “autocuidado”, termo que será recorrente durante o ano.
O autocuidado está em pauta desde os últimos meses de 2018, aproximadamente quando a situação política no Brasil deu os primeiros indícios de qual caminho iria tomar. Foram inúmeros textos e vídeos produzidos sobre o assunto durante o período. Porém, com a chegada de 2019 parece que algo se perdeu. Logo nos primeiros dias, 2019 trouxe notícias que ninguém estava pronto para receber. As perspectivas e rotinas de autocuidado que estavam em pauta extraviaram-se em meio a tanto lixo tóxico, lama, racismo, mortes e tantos outros crimes. Mas se com o fim do carnaval o ano começa de novo, e dessa vez para valer, talvez seja uma nova chance para resgatar o processo de autopreservação.
Autocuidado não é sobre só usar máscara hidratante e colocar pepinos nos olhos, mas pode ser também. O processo pode ser muito mais simples e barato do que isso. É importante estar atento também para que tipo de cuidados estamos sendo conduzidos para não cairmos na lógica do consumo. Autocuidado é um ato político. É sobre encontrar meios de permanecer inteiro e não permitir ser engolido pelas crises que vão surgir nos próximos anos. Cuidar de si é estar preparado e forte para quando chegar a hora de agir.
“Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o elástico em volta da cabeça e, depois,auxilie os outros, caso necessário”. Quem já viajou de avião certamente ouviu essas instruções ou, talvez, as tenha visto em alguma série ou filme. Mas a questão que eu trago aqui é: você precisa estar saudável para poder cuidar dos outros, caso necessário. E quais práticas podem ser incluídas no seu dia a dia?
Beber mais água. Água pura, por favor.
Comer mais comida de verdade e menos industrializados.
Ter contato com a terra. Cuidar das plantas, plantar uma árvore ou cultivar uma horta em casa. É possível mesmo para quem mora em apartamento.
Ver os amigos. Não espere o próximo aniversário para estar perto de pessoas importantes.
Sair sem rumo. Você não precisa esperar ter algo para resolver fora de casa.
Consumir mais literatura e todos os tipo de arte. Elas elevam nossa sensibilidade e empatia.
Ocupar as ruas. Passamos muito tempo em frente as telas absorvendo acontecimentos ruins de todas as partes do mundo. Várias vezes sai e pensei “ué, mas não está tudo um caos!”. Em algum lugar ainda há paz.
Fazer terapia. Ainda é um privilégio, mas existem diversos lugares, como universidades, que oferecem atendimento gratuito. Não espere uma crise para buscar ajuda profissional.
Em uma sociedade que nos cobra constante produção, os momentos dedicados ao cuidado de si soam como privilégio. Para uma parte das pessoas é sim um privilégio, pois elas
não precisaram reivindicar o direito de cuidarem de si. Se você já pratica esses cuidados, pode ser uma boa hora para ajudar quem ainda não conseguiu.
Arcéli Ramos é jornalista egressa da UFN. Repórter da Agência Central Sul em 2015. Com pesquisas na área jornalismo literário e linguagem, hoje também estuda “Pesquisa de tendências”. É colaboradora na New Order, revista digital na plataforma Medium, e produz uma newsletter mensal.