Quando criança eu pensava que com 18 anos eu já seria uma adulta responsável e com 25 eu ia ser praticamente uma idosa. Mas nada disso aconteceu, eu ainda não me considero uma adulta tão responsável assim, muito menos uma idosa e ainda choro olhando o filme do E.T.
Não lembro direito quando eu me dei conta que eu tinha crescido, acho que foi quando eu passei a entender sobre produtos de limpeza e plano de saúde. Ou talvez eu até hoje não saiba quando foi. É uma longa transição e a minha vida adulta veio junto com o morar sozinha. Não existe uma preparação para enfrentar a vida adulta, nem um manual que ensine a lidar com infiltração na casa do vizinho. Quando a gente vê nossos pais não estão mais lá e a sensação pode ser parecida com a de ter se perdido em um supermercado lotado. E ser adulta não é só a questão de independência financeira têm mil e outros dilemas em volta.
Troquei os tópicos de dez dicas para ser um adulto de sucesso ou como ser destacar na profissão dos sonhos pelo livro “Adulta sim, madura nem sempre”, da escritora Camila Fremder. É uma reunião de crônicas que de uma maneira bem humorada relatam os desafios de crescer e uma identificação de que não sou a única que está preocupada com boletos e também com o aquecimento global. Escolhi um trecho do livro que mais retrata esse louco crescimento.
“Um dia você é a jovem moderna que ouve música alta e incomoda a vizinha. Num piscar de olhos é você quem está interfonando para o porteiro e reclamando, aos berros, do som da garota que mora no andar de cima. O que aconteceu? Simples: a vida adulta chegou. Quer dizer, não tem nada de simples”.
Acredito que não vamos estar preparados para nenhuma fase da vida, nem vai vir um artigo nos salvar e ensinar o que fazer com as artimanhas que aparecem no meio do caminho. A vida vai e acontece e quando a gente vê o tempo foi passando. A diferença é que agora nós pagamos IPVA, mas ainda nos empolgamos com show da Sandy e Junior. Crescer é isso.
Silvana Righi é formada em jornalismo pela UFN e pós-graduada em Televisão e Convergência Digital pela Unisinos. Trabalha como roteirista e gosta de escrever com ironia. Passa a maior parte do tempo entre cinema, cachorros e livros.