Marina Colasanti é uma das escritoras brasileiras mais premiadas, com 6 prêmios Jabuti e mais de 50 obras publicadas no Brasil e exterior ao longo da carreira. Ela, inicialmente formada em artes plásticas, que também atuou como jornalista no Jornal do Brasil, esteve no Livro Livre, na Feira do Livro, nesta última segunda-feira, 6 de maio.
Com muito entusiasmo e bom humor, Marina, que já está com 82 anos, instigada pelo professor homenageado Pedro Brum Santos, começou falando sobre sua relação com o tempo, já que para ela, nessa idade é comum conviver com a ideia da morte com a qual ela diz lidar muito bem.
O principal assunto discutido na noite foi a literatura e o feminino. Marina falou sobre a presença das mulheres na literatura e afirmou que homens geralmente não compram livros escritos por mulheres ou exemplares quem tenham a palavra “mulher” no título. Ainda, criticou que as mulheres não estão incluídas junto aos nomes dos grandes poetas brasileiros, citando Adélia Prado como exemplo. Segundo ela, as mulheres “não fazem parte do duelo entre os machos”, isso se deve a uma estrutura cultural que se desenvolve entre os homens que foram educados para “ignorar a mulher porque ela não faz parte desse jogo”.
Marina sempre esteve as voltas com a literatura feminina e feminista. Ela diz que teve o “privilégio de organizar a cabeça de tantas mulheres e tantas jovens ideias que estavam fermentando” no período da ditadura militar, quando escrevia para a Revista Nova. Segundo ela, mulheres que haviam se exilado na época por questões políticas, entraram em contato com grupos feministas e quando voltaram sabiam como agir e organizar os movimentos.
Ainda, sobre o tema, questionada pelo professor Pedro se pode se falar que a escrita possui gênero, Marina ressaltou que sempre houve um questionamento sobre as características da escrita das mulheres e respondeu: “Eu vejo o mundo através dos meus olhos de mulher, analiso o mundo através do meu cérebro de mulher”. Ela aponta que a ciência comprovou que o cérebro da mulher não funciona como o dos homens, pois a mulher usa os dois lados, brincou. E diz saber que ao defender uma escrita do gênero feminino está colocando uma “bola de chumbo” sobre suas obras.
Ao fim da conversa, foi pedido a Marina que narrasse um de seus minicontos. De improviso, ela deixou o público boquiaberto e emocionado com a delicadeza de suas palavras e sua forma única de contar histórias.