Na noite de quinta-feira, 9 de maio, quem esteve no palco do Livro Livre foi a escritora e jornalista Adriana Negreiros. A seu lado, a também jornalista do Diário de Santa Maria, Pâmela Matge. Adriana é paulista de nascença, mas criada no Ceará. A autora do livro Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço, conta a saga de Maria Gomes de Oliveira, a cangaceira mais famosa da história nordestina.
Adriana explica que cresceu ouvindo sua avó contar histórias sobre os cangaceiros e sobre como vivia com medo, porque eles eram grupos armados que cometiam crimes e violências por onde passavam. O mais conhecido foi Lampião, marido de Maria Bonita, de quem todos contam as histórias, porém, a escritora revela que surgiu a curiosidade pessoal, histórica e jornalística de como seria o ponto de vista de Maria Bonita, o que logo se tornou sua missão feminista.
A história diz que Maria era casada com um mulherengo impotente que sempre a traía, e que quando ela reclamava disso, ele a agredia. O que a tornava uma mulher transgressora de quem todos falavam, era o fato de que Maria Bonita também traia o marido e falava para quem quisesse ouvir que preferia estar com um homem valentão. Foi quando Lampião chegou na cidade de Maria e foi recebido pelo pai dela. Logo parou nos ouvidos de Lampião que ela queria ir embora com os cangaceiros. Lampião concedeu seu desejo. Segundo a jornalista, Maria Bonita queria fugir da situação ruim em que estava e o único jeito que encontrou foi o de se colocar em outra.
Já no cangaço, Adriana afirma que os homens eram os mais vaidosos. Eles exibiam seus chapéus e bolsas enfeitados do mesmo jeito que exibiam suas mulheres. Quanto mais enfeitada a mulher, mais poderoso era o homem. Como a água era escassa, era guardada para a higiene feminina. Já os homens, depois de estuprarem diversas mulheres e contrair doenças, não se lavavam tanto, pois as doenças eram um símbolo de virilidade.
A escritora também comenta que apesar de Maria Bonita ser vista como feminista hoje em dia, no cangaço não era bem assim. Ela era uma transgressora em relação ao comportamento das mulheres da época, mas não tinha a união com outras mulheres que o feminismo defende. Maria Bonita, diferente das outras que haviam sido sequestradas ainda quando crianças, queria estar lá.
Havia uma regra dentro do cangaço de que se a mulher traísse, ela deveria morrer, independente de se ela fosse estuprada ou não. Adriana conta que a mulher do cangaço mais feia era chamada de Cristina, e que certo dia alguém suspeitou que ela estivesse tendo um caso com o cantor e animador do grupo. Quando perguntada sobre isso, Maria Bonita disse que Cristina devia morrer, mesmo sem provas. Adriana explica que não é plausível que exijam dessas mulheres um ato feminista, pois elas eram vistas como objetos ou acessórios pelos homens, e como criminosas pelos policiais. Elas não sabiam o que era se unir contra alguma coisa.
A jornalista acrescenta sobre a falta de informações sobre as mulheres no cangaço, e que a principal informação encontrada era sobre as pernas de Maria Bonita. Mesmo nas crônicas dos cangaceiros ou pela imprensa da época, as mulheres eram narradas como se estivessem lá atrapalhando o tempo inteiro. As fontes só falavam da história dos homens.
Por fim, Adriana diz que no livro pode escrever como a nordestina que é. Também acredita que entre Lampião e Maria Bonita havia um pouco de amor, pois nos registros fotográficos ele sempre a colocava em destaque, coisa jamais feita por cangaceiros que enxergavam a mulher como enfeite. E, apesar de todo o massacre cometido por ele, não há registros de violência em relação a ela.
A escritora afirma que a pesquisa e produção do livro a transformou. Foi entendendo a vivência destas mulheres e estudando sobre filosofia que Adriana pôde afirmar que “feminismo é uma causa urgente e necessária”. Ela, que vem de uma época em que não se falava em feminismo, hoje fica feliz em poder dizer com orgulho que é feminista, e diz acreditar que se Maria Bonita vivesse hoje, possivelmente o seria também.
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