Redes sociais e a ascensão política da direita no Brasil
A capacidade que o artifício tecnológico tem de impactar o consenso da opinião pública e unir as pessoas em prol de causas de interesse é gigantesca, sobretudo, nos dias atuais.
A capacidade que o artifício tecnológico tem de impactar o consenso da opinião pública e unir as pessoas em prol de causas de interesse é gigantesca, sobretudo, nos dias atuais.
Os níveis de natalidade em Gilead são quase inexistentes, parte da população de mulheres não consegue manter uma gestação saudável ou tem dificuldades para a concepção de um filho.
Mercedes Sosa, Luiz Carlos Borges, Violeta Parra, Teresa Parodi e Elis Regina. A evolução constante é essencial na música, mas são as referências que moldam a presença e o posicionamento do artista. E isso, Shana Müller
O Masterchef foi criado por Franc Roddam em 1990 em uma temporada piloto. O programa foi lançado somente em 2005 pela BBC, e hoje em dia o formato está adaptado em mais de 40 países. Em
Eu errei. Confesso. Me iludi e iludi com quem conversei ou quem leu meus textos. Faz parte de quem vive e sobrevive ao futebol. Mas não chorei. É o esporte mais traiçoeiro que existe. Um jogo
Viver nesse período de pandemia com as medidas protetivas incorporadas no nosso cotidiano tem sido um desafio. Parece que alguns hábitos são mais fáceis de serem absorvidos; o uso da máscara sempre, a higienização constante das
Não é de hoje que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem imensa importância sobre os principais estudos científicos do Brasil. Ao longo dos anos gerou diversos avanços e corroborou com a permeabilidade da ciência em solo
Nos últimos meses o termo “masculinidade” e suas discussões me chamaram atenção. Comecei a pesquisar sobre a temática e até participar de rodas de conversa sobre essa questão que atinge diversas esferas da sociedade: a masculinidade
O Joaquin Phoenix me pegou desprevenida. Fazem uns dois meses que assisti o filme no qual ele estrela como o Coringa, numa noite, num cinema quase vazio. Não havia mais do que vinte pessoas. Não tinha expectativa
Alice Dutra Balbé Há muito pouco tempo dizia-se que a pauta ambiental não era notícia no quotidiano. As razões para isso são várias e a primeira é categorização de uma pauta “ambiental” em uma seção separada
A Agência CentralSul de Notícias faz parte do Laboratório de Jornalismo Impresso e Online do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria/RS (Brasil).
O primeiro turno das eleições municipais chegou ao fim nas regiões brasileiras. E como dizia o filósofo pré-socrático Aristóteles, “O homem é por natureza um ser político”, ou seja, a capacidade de se inserir em sociedade e consequentemente participar da vida política consistem em aspectos intrínsecos à existência humana. Segundo ele, seres humanos são seres sociais por essência e a vida política é crucial para a realização plena de suas potencialidades. No momento em que se convive em sociedade, os indivíduos têm a oportunidade de aprimorar suas habilidades, estabelecer laços, vínculos, expor ideais e convicções, além de aprender e buscar conviver da forma mais harmônica possível de modo conjunto.
As disputas de hegemonia são oriundas de uma tarefa política a partir do cotidiano vivido pelos cidadãos que constituem uma determinada comunidade. As iniciativas políticas se fundamentaram perante os inúmeros períodos da história em um conglomerado de ideias e modos de desenrolar as ações dentro da sociedade, sendo assim defendidas e compartilhadas por determinados grupos, materializando-se em dualidades e posições adversas entre partes da população.
Assim, analisando o contexto político brasileiro, quanto mais se aproxima o processo eleitoral, torna-se mais perceptível o fervor mexendo com os comportamentos, discursos e posturas da sociedade brasileira. Cada pesquisa, cada articulação de bastidores, cada discurso exposto por candidatos ou pré-candidatos, traz repercussão nos diversos espaços presenciais e ou virtuais tomados por defesas e posicionamentos eufóricas apaixonadas.
Aliás, o uso de maneira arquitetada e planejada do advento da internet e das redes sociais também têm gerado um reflexo significativo na política contemporânea. A capacidade que o artifício tecnológico tem de impactar o consenso da opinião pública e unir as pessoas em prol de causas de interesse é gigantesca, sobretudo, nos dias atuais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) Tecnologia da Informação e Comunicação, publicada em agosto deste ano, 92,5% dos lares brasileiros possuíam acesso a internet em 2023, aumento de 1 ponto percentual em relação a 2022. Ainda de acordo com o Instituto, os idosos também estão cada vez mais conectados com a internet, a porcentagem subiu de 24,7% para 66% das pessoas com mais de 60 anos que possuem acesso à internet no país entre 2016 e 2023. O acréscimo em relação a 2022 foi de 3,9 pontos percentuais. Além disso, nas zonas rurais, o índice de conectividade aumentou de 78,1% em 2022 para 81 % em 2023.
Questões relacionadas ao meio político, que originalmente eram discutidas em ambientes específicos e se restringiam a representantes, membros e entidades formais, hoje estão ao alcance de boa parte da população. Hoje em dia, a internet permite que as pessoas estabeleçam redes de conexões com quem coaduna dos mesmo princípios e posicionamentos sobre as mais diversas temáticas e no caso da política não é diferente. Por isso, essas transformações próprias da era digital sugerem readaptações no modo de se fazer política e, portanto, surge a necessidade de se reinventar para conseguir atingir a população.
É nítido que nos últimos anos a ideologia de direita ascendeu politicamente no Brasil. A capacidade de mobilização popular das lideranças conservadoras é um fenômeno que vêm crescendo a cada ano no cenário político brasileiro, muito por conta da figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi capaz de despertar identificação na população com seus ideais e posicionamentos, consolidando uma rede de apoiadores em grande escala no país. E sim, as mídias sociais possuem papel fundamental em um cenário político cada vez mais permeado pelas batalhas digitais, onde o engajamento de integrantes da direita prepondera em relação à esquerda.
Essas transformações sugerem readaptações no modo de se fazer política. E parece que as lideranças ligadas à direita souberam se reinventar nesse quesito. Prova disso é que o PL, sigla de Bolsonaro, foi o partido que elegeu o maior número de prefeitos nas 103 maiores cidades do país. A legenda fez dez prefeitos nos principais centros urbanos do país, sendo seguida pelo União Brasil, que fez nove.
Conforme levantamento realizado pela Equipe do Observatório das Eleições 2024, em iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC), o percentual da direita para o uso do Instagram conta com 105.190 usuários (49,8%), do Facebook, com 87.421 (41,4%), e do TikTok, com 7.971 (3,8%) e é muito similar ao uso das mesmas redes pela totalidade de candidatos das eleições 2024. O fator determinante para essa semelhança se deve, em partes, ao fato de que a maior parte dos candidatos que têm redes sociais se encontram à direita do espectro político. O centro e a esquerda acumulam, cada um, menos da metade do número de redes sociais quando equiparados aos partidos da direita. O maior uso das redes pela direita é ratificado numericamente nas imagens abaixo.
Em se tratando do panorama das eleições municipais, além da confirmação de força do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que articulou as chapas e apostou na juventude de candidatos a prefeitos, outras candidaturas apresentaram a possibilidade de alternativas políticas para os eleitores de direita nos grandes centros do país. Aliadas com as pautas da direita, mas não apoiadas diretamente pelo ex-presidente, as candidaturas de Cristina Graeml (PMB), em Curitiba, que acabou indo para o segundo turno, e Pablo Marçal (PRTB) que, apesar de ficar de fora do segundo turno em São Paulo, deixa o pleito com capital de votos para 2026, foram destaques dessa primeira etapa da corrida eleitoral.
É importante ressaltar que nos casos de Curitiba e São Paulo, os postulantes ao pleito que receberam o apoio formal do ex-presidente, Eduardo Pimentel (PSD) e Ricardo Nunes (MDB) terminaram o primeiro turno das eleições na primeira colocação. Em Curitiba, Pimentel, teve 33,51% dos votos válidos, já na capital paulista, Nunes terminou o primeiro turno na primeira colocação com 29,48% dos votos válidos.
Além disso, a direita teve resultados significativos em outros dois grandes centros urbanos do país, como em Belo Horizonte, com Bruno Engler (PL), que ficou na dianteira da disputa com 34,38%, muito impulsionado pela influencia do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que inclusive foi o mais votado nacionalmente nas eleições de 2022, e em Fortaleza, uma das principais capitais do nordeste, com André Fernandes (PL), conquistando um reduto onde historicamente não tinha um quadro favorável.
Para vereador, a sigla também obteve votações expressivas na capital paulista, com Lucas Pavanato, que inclusive foi o vereador mais bem votado do país, com 161.386 votos, e no Rio de Janeiro, com Carlos Bolsonaro, que fez 130.480 votos e foi o segundo colocado no quadro geral para o cargo no país.
Com isso, percebe-se que maneiras de atingir a população adotadas pelas lideranças de esquerda são falhas quando aplicadas no cenário político atual e isso se reflete nos resultados. Claramente existe um distanciamento significativo das lideranças de esquerda no país no que se refere ao diálogo e a comunicação com a população de maneira geral. Por outro lado, é possível inferir que o discurso das lideranças de direita busca seguir uma vertente retórica que abrange questões que vão além da politica de etiqueta e que somados a questão estratégica do engajamento nas redes sociais conseguem adentrar com muito mais impacto na filosofia de vida da população brasileira.
Após um atentado terrorista contra o presidente dos Estados Unidos da América e grande parte do pleito político, uma facção católica instaura um regime totalitário baseado nos regramentos do Antigo Testamento, ceifando os direitos das mulheres e dos grupos minoritários da nomeada República de Gilead. Após alguns dias do atentado, a segurança nacional do novo governo inicia uma captura das mulheres férteis do país e June Offred, protagonista da série, é capturada em uma tentativa de fuga para o Canadá e posteriormente entregue ao Comandante Fred Waterford para servi-lo como “handmaid”, ou seja, uma mulher cujo único propósito é dar filhos ao homem no poder.
Os níveis de natalidade em Gilead são quase inexistentes, parte da população de mulheres não consegue manter uma gestação saudável ou tem dificuldades para a concepção de um filho. Outra realidade apresentada são os fetos que nascem sem vida ou não resistem aos primeiros minutos pós-parto, consequência gerada pelos altos níveis de poluição do país. Os alimentos com agrotóxicos, os gases poluentes sendo mantidos na atmosfera e a plantação de insumos em terra artificial foram expoentes para o aumento significativo da taxa de infertilidade. Os Comandantes de Gilead assumem o poder com o intuito de “repopular” a sociedade de maneira com que as mulheres que já tiveram filhos anteriormente sejam forçadas a cumprirem com seus “instintos maternos” e usarem seus úteros para salvar a população americana.
Logo no primeiro episódio, June tenta fugir com sua filha e marido, porém os guardiões da segurança do país a capturam e levam para um Centro de Treinamento onde ela e outra mulheres serão instruídas de como se comportar na casa de seus Comandantes e como agir quando estiverem em sociedade, bem como deverão seguir suas vidas dali em diante. Um dispositivo é colocado nas orelhas das mulheres para servir de rastreador, tal qual fazem com animais silvestres na natureza. A imprensa foi exterminada, assim como os livros e qualquer material de leitura existente da cidade. Grandes fogueiras foram erguidas em praça pública para queimar o restante de história que ainda existia, um passado que deveria ser esquecido pelo bem de todos e que não seguia as novas ideologias do país.
June passa por diversas situações durante sua vida exilada em Gilead, usa as memórias que tinha da filha como forma de lutar e sair daquele regime. Durante os episódios, ela relembra de momentos com o marido, com a melhor amiga Moira que também foi capturada, tenta elaborar estratégias para fugir e buscar ajuda de outro país, pois sem imprensa nenhuma verdade era mostrada ao mundo. As mulheres eram violentadas diariamente e precisavam conviver com isto, pois quem as defenderia? Quem poderia ajudar a contar a verdade?
No Brasil, temos uma situação análoga acontecendo, a Câmara dos Deputados aprovou em junho, em regime de urgência, o Projeto de Projeto de Lei 1904/24, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e outros 32 parlamentares, que equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas ao homicídio simples, com pena de até 22 anos tanto para a gestante quando para quem tentar ajudá-la. O procedimento é autorizado no país em apenas três casos: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto, todos com o consentimento da mulher. A proposta prevê penalizar a mulher que sofreu violência sexual com mais anos de reclusão do que a pessoa que praticou o ato, onde no Brasil a pena máxima é de 10 anos. O projeto precisa passar pelo Senado e pela sanção presidencial
Para a bancada que defende o Projeto de Lei, a vida de um feto que foi gerado através de uma violência tem mais valor do que a pessoa que foi violentada, restando duas opções para a vítima: ser presa pelo crime de aborto ou ser obrigada a continuar com a gravidez. O tema gerou discussão em vários grupos sociais, que se manifestaram através das redes sociais e foram às ruas para se posicionar contra ou a favor da aprovação. Em Gilead, o governo institucionalizou a violência contra a mulher, a punição para quem não gerasse filhos seria a morte, apedrejamento ou banimento para áreas radioativas.
Na República, qualquer movimentação feita contra a continuação da gravidez, seria devidamente punida e exposta para os demais da sociedade como forma de demonstrar o que não deve ser feito. No Brasil, a vítima será presa e julgada por escolher o que fazer com o próprio corpo. Se colocarmos ambas as narrativas próximas da outra, seria difícil julgar o que é ficção ou realidade?
The Handmaid’s Tale é uma série dirigida por Reed Morano, com roteiro de Bruce Miller. Integrando o elenco principal da primeira temporada: Elizabeth Moss, Joseph Fiennes, Samira Wiley, Ann Dowd, Max Minghella, Madeline Brewer, Alexis Bledel, Yvone Strahovski e O-T Fagbenle.
Texto produzido pela acadêmica Michélli Silveira na disciplina de Narrativa Jornalística, no primeiro semestre de 2024 do curso de Jornalismo, sob supervisão da professora Glaíse Bohrer Palma.
Imagens: Divulgação
Mercedes Sosa, Luiz Carlos Borges, Violeta Parra, Teresa Parodi e Elis Regina. A evolução constante é essencial na música, mas são as referências que moldam a presença e o posicionamento do artista. E isso, Shana Müller tem de sobra.
Já tendo se consagrado como uma das mais importantes vozes femininas no cenário regional, Shana Müller está oficialmente comemorando seus 20 anos de carreira da melhor forma possível: encantando o público. Na última quinta-feira (03) teve início, em Santa Maria, sua turnê Canto da América, onde revisita e homenageia alguns dos artistas sul-americanos que, desde sua infância, formam sua base musical.
Mantendo sua identidade gaúcha, a cantora entretém o público enquanto visita alguns dos ritmos mais característicos da América Latina. Para isto, ela conta com o apoio de uma banda de talento invejável, seja no solo de piano durante o intervalo, na percussão e violão extremamente característicos nas canções interpretadas, no bandoneón marcante das músicas castelhanas, ou no acompanhamento das segundas vozes que complementam a cantora. Entre tango, bolero, zamba, milonga e chacarera, a artista exalta alguns dos maiores nomes femininos de estilos musicais tão diferentes dos que são consumidos hoje em dia.
Ainda que suas músicas mais características façam falta, é natural que, em uma data tão marcante como 20 anos de carreira, seja necessário voltar ao começo e expressar o respeito àqueles que nos inspiram. Entretanto, é indiscutível a relevância deste show que ainda será apresentado em diversas cidades do estado até dezembro e está com ingressos à venda. Apesar de ser ideal para o público de mais idade, que pode apreciar e relembrar canções tão singulares, esta turnê é essencial para que o público mais novo seja introduzido à diversos estilos musicais característicos de culturas tão próximas e, ainda assim, tão pouco conhecidas e valorizadas pelas atuais gerações.
Portanto, apenas posso agradecer por estar presente para aplaudir de pé este momento tão marcante na carreira da cantora. E que venham mais 20, 40, 60 anos…
O Masterchef foi criado por Franc Roddam em 1990 em uma temporada piloto. O programa foi lançado somente em 2005 pela BBC, e hoje em dia o formato está adaptado em mais de 40 países. Em setembro de 2014 a versão brasileira do talent show, o Masterchef Brasil, entrou no ar nas emissoras brasilerias pela Band TV. Atualmente o programa está em sua 10º edição comemorativa com o slogan Uma década de paixão. No programa participam desde cozinheiros amadores a profissionais, idosos e crianças.
No ano de 2021, a 8ª temporada amadora contou com uma proposta diferente devido a pandemia da COVID – 19. Os participantes ficaram isolados em um hotel e só poderiam sair para as gravações. O programa contou com apenas três provas em grupo e uma final gravada, todas sem a presença do público. Segundo divulgação da época, o objetivo era atrair uma nova audiência, por meio do uso da plataforma de rede social Tik Tok.
Segundo um estudo chamado “A cozinha pós – moderna do Masterchef Brasil: Social TV e mídia que se propaga no Twitter” de Mateus Vilela e Thauana Martins, publicado em 2016, o principal modus operandi na época era a rede social Twitter, usada de forma abrangente para criar um novo tipo de vínculo entre o emissor (Masterchef) e o receptor (telespectador). Por meio da plataforma a ideia era gerar memes com os chefs e os participantes, possibilitar a opinião do público e até mesmo liberar conteúdos exclusivos, o que tornou o programa cada vez mais atraente para o público brasileiro. Além disso, o estudo também destaca que, devido ao barateamento dos aparelhos de TV, assistir televisão foi se tornando solitário e aos poucos foi sendo repaginado e potencializado pelas redes sociais. Isso de fato conecta o programa à Teoria da Recepção que apresenta por meios dos estudos de Stuart Hall que programas de televisão eram entregues de maneiras diferentes a cada telespectador seja o que fosse que estivesse na sua tela, mas isso dependia muito da esfera da sociedade em que este cidadão estava inserido.
A reinvenção dentro do TIK TOK
Em 2021, o Masterchef Brasil buscou alcançar uma nova geração de adolescentes e jovens, a chamada geração Z (crianças nascidas entre 1995 e 2010) que nasceram em meio a popularização da internet e são 100 % conectadas às redes sociais. Ao olhar a partir da perspectiva do marketing, o programa foi inteligente ao trazer a atriz Isabella Scherer, filha do Xuxa Scherer, e dois ex-participantes do Masterchef Júnior, Eduardo e Daphne, que ao longo do programa se conectaram de maneira genuína com os jovens que acompanhavam enquanto crianças, e agora como adultos, a sua trajetória na culinária. Uma das provas mais emblemáticas da temporada teve como principal objetivo recriar o clássico de nove famílias brasileiras de diferentes estilos e culturas presentes no Brasil, o que firmou de vez a identidade brasileira do Masterchef que, devido a pandemia, precisou se reinventar para não perder o público que não só estava agora em frente à TV, mas que também estava ativo nas redes sociais do programa.
Produzido na disciplina de Teorias da Comunicação no 1º semestre de 2024, sob supervisão da professora Camilla Klein.
Eu errei. Confesso. Me iludi e iludi com quem conversei ou quem leu meus textos. Faz parte de quem vive e sobrevive ao futebol. Mas não chorei. É o esporte mais traiçoeiro que existe. Um jogo que parecia simples, pelo menos antes de começar, já que, durante, o nervosismo tomou conta e o ar de que algo daria errado era nítido.
Uma Croácia tranquila sendo atacada por um Brasil que não ameaçava tanto. Muito por falta de criatividade, muito por falta de sangue nos olhos ou até mesmo vontade de estar em uma semifinal de Copa. Depender de um lapso de habilidade de um jogador não serve para uma seleção que tem 5 mundiais, mas foi assim o jogo.
Neymar resolveu. Ou parecia que tivesse resolvido. Em uma jogada brilhante, deixou até o goleiro para trás e abriu o placar. Gritos, comemoração, um sentimento que passou rápido com o único chute que a seleção europeia acertou na meta, e foi gol.
Um banho de água fria, que virou uma enchente com o apito final. Pênaltis. Quando é o teu time não é nada legal ou emocionante, é simplesmente horrível e sofrível. Rodrygo fez com que mais água gelada caísse sobre os torcedores brasileiros, errando o primeiro. Marquinhos completou o banho com a bola na trave. Croácia classificada.
Agora só em 2026. Agora sem Tite. Agora, talvez, sem Neymar. Poucas certezas e muitas dúvidas caminham junto com a delegação brasileira depois da derrota. O ciclo pré-Copa já começou e o trabalho precisa ser forte, o hexa não pode escapar mais uma vez.
Viver nesse período de pandemia com as medidas protetivas incorporadas no nosso cotidiano tem sido um desafio. Parece que alguns hábitos são mais fáceis de serem absorvidos; o uso da máscara sempre, a higienização constante das mãos e a tecnologia mediando nossas atividades profissionais. O mais difícil, na minha vida, foi enfrentar o distanciamento familiar, social, dos meus alunos e colegas. Afinal, eu gosto de gente, do convívio, do afeto e da sensibilidade de saber estar junto, com diferenças e afinidades, mas junto.
Então, surgiu o meu desafio de enfrentamento da pandemia. Obviamente, em primeiro lugar, preservar a saúde, não me contaminar nem a minha, familiar nem tão pouco o coletivo, mas cultivando um mínimo de alegria, de felicidade e esperança no futuro. Preciso dessa esperança, sou virginiana, gosto de planejamento, de organização, de metas e como lidar com essa imprevisibilidade.
Foi um mergulho interior, de solidão, meus três filhos são casados e têm suas famílias constituídas. Busquei competências emocionais para dar suporte aos longos dias e intermináveis finais de semana. Para tanto, pedi ajuda a livros, músicas, filmes, culinária, trabalhos manuais, orações e o que foi fundamental – um olhar atento ao próximo, aos mais necessitados e fazer minha parte para minimizar tanto sofrimento . Estender a mão para quem precisa é transformador.
Agora, com as duas doses da vacina no braço, sem pressa, percebo que os movimentos da vida começam a florescer. Noticias de Nova York contam da vida voltando ao normal. E me dou conta que esse momento foi realmente transformador.
A leitura do livro Longe da Árvore, Pais, filhos e a busca da identidade, de Andrew Solomon, aborda exatamente esse entendimento emocional de conviver com a diversidade de momentos, de épocas e de gente. Conviver com a frustração. O livro resgata o fortalecimento de laços afetivos entre as famílias com crianças especiais, que nasceram longe da árvore, ou seja, não são como diz o ditado; A fruta não cai longe do pé. Cai sim….e aprende-se com as diferenças.
Nesse sentido, a cultura da pandemia tem efeitos. Afinal, cultura é tudo aquilo que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. E ela revela-se no modo de falar, de sentar, de ler um texto , de comer , de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa com a arte. Entendo, que cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica o nosso olhar. (João Paulo Paes, 1926-1998).
Sim, 15 meses de distanciamento social modificou meu olhar. Exigiu competências emocionais que desconhecia. Mergulhei no meu íntimo, tive perdas e tive ganhos e tenho renovadas esperanças, tipo o Dom Quixote, quando ele diz: Sabe, Sancho, todas essas tempestades que acontecem conosco são sinais de que em breve o tempo se acalmara; por que não é possível que o bem e o mal durem para sempre, e segue-se que, havendo o mal durado muito tempo, o bem deve estar por perto. Tomara…
Por Sibila Rocha
Jornalista , Professora da UFN cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Não é de hoje que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem imensa importância sobre os principais estudos científicos do Brasil. Ao longo dos anos gerou diversos avanços e corroborou com a permeabilidade da ciência em solo nacional, embora saiba-se que nos últimos anos, abalos na política governamental foram suficientes para desvalorizar o que foi construído ao longo dos anos.
O Instituto Fiocruz foi fundado no dia 25 de maio de 1900 pelo cientista e médico, Oswaldo Cruz. Desde então, operou em prol do desenvolvimento de estudos que pudessem colaborar com o crescimento científico no país. Dentre as marcas deixadas pela instituição, consagraram-se: inauguração do Laboratório do Serviço Especial de Profilaxia da Febre Amarela (pela Instituição Rockfeller) em 1937; construção de laboratórios de tecnologia em produtos biológicos, em 1976; Laboratório Central de Controle de Drogas, em 1981; criação da Superintendência de Informação Científica, em 1986; isolamento do vírus da aids (HIV), em 1987; recebimento do prêmio mundial em saúde pública, em 2006.
Tendo em vista todos triunfos obtidos, percebe-se no momento atual uma desestrutura histórico social no Instituto, acarretada pela nova base estatal. Mas por que há de se considerar isto? Por meio da trajetória de pesquisas jornalísticas atuantes nos avanços de estudos da ciência, o Instituto Fiocruz quebrou barreiras do que se diz respeito às descobertas da área. Foi renomado como um dos principais órgãos científicos do país, a partir das tentativas de aproximação da ciência com as pessoas.
Parte de todo progresso deve-se aos investimentos que, compulsoriamente, foram realizados de modo constante, após a Ditadura Militar vivida no país. Época esta que remete a um dos períodos mais árduos experienciados pelo setor, já que na época muitos cientistas foram obrigados a abandonar seus cargos, enquanto outros impedidos de trabalhar em qualquer órgão que recebesse apoio governamental.
Por outro lado, no final da década de 80, o Instituto Fiocruz voltou a receber certa valorização nacional, após fim da Ditadura Militar. Investimentos foram recapitulados e novas fundamentações foram estabelecidas, a fim de ressaltar o âmbito científico frente ao povo. Porém, a partir da década de 90, as editorias voltadas à política e esporte ganharam espaço na mídia, o que dificultou a ciência permanecer entre os tópicos mais buscados pelo povo.
Após o governo Lula assumir o poder no começo dos anos 2000, a Fiocruz seguiu recebendo altos investimentos a fim de alavancar a ciência nacional e formar relações internacionais. Essas que auxiliaram a Fundação a tornar-se renomada mundialmente.
Após a nova ordem governamental de 2018, com a posse do presidente Jair Bolsonaro parte dos investimentos voltados à área científica foram cortados. Fator este que impossibilitou uma parcela do que era destinado à ciência, permanecesse como base das aplicações financeiras.
Mesmo com toda situação vivenciada, estudos continuaram sendo realizados. E mesmo com as dificuldades reportadas, a rede celebrou em 2020, 120 anos de contribuições científicas nos setores da ciência e saúde ao povo brasileiro. Em pouco menos de dois meses, também foi inaugurado o Complexo Hospitalar para atender pacientes com diagnósticos graves da Covid-19, o que consequentemente, assegura a organização como referência da Organização Mundial da Saúde (OMS), para as Américas. De fato, um grande progresso numa época em que houveram pouquíssimos investimentos.
No decorrer dos últimos meses, a Fiocruz passou a adotar novas responsabilidades sobre o ensaio clínico Solidariedade, da OMS. Este tem como foco, analisar quatro possibilidades de tratamentos para o vírus da Covid-19. Neste âmbito, três áreas estão envolvidas. São elas: coordenação do Instituto nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI); Arrecadação de parte dos medicamentos de Farmanguinhos (Instituto de tecnologia em fármacos); Apoio da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz).
Além das pesquisas, usualmente, a instituição promove palestras e debates sobre a Covid-19, com intuito de disseminar conscientização coletiva e abordar os acompanhamentos nos estudos realizados. O portal tornou-se mais do que nunca, um dos principais canais informativos do Brasil, com foco específico à ciência e saúde. Um dos pontos mais interessantes, é o alto índice de compartilhamentos de conteúdos voltados à estudos de medicamentos, tratamentos, hospitalizações e cursos de extensão para entendimento da área. Alguns destes disponibilizados como notícias, enquanto outros como podcasts.
O instituto mostra com o tempo, que além de promover a viabilização de dados às pessoas, o foco passa a ser também, no processo de entendimento das mesmas. Um exemplo que pode ser dado, são nas divulgações de acompanhamento dos estudos sobre a doença. Nestas, encontram-se interconexões noticiosas, onde diferentes publicações são relacionadas por meio de ferramentas no site, bem como por hiperlinks, a fim de gerar uma linha de raciocínio para usuários que não costumam acessar o site. Dentre algumas pesquisas, destacam-se: ‘Risco de exposição de profissionais da saúde”; “Mapeamento de hábitos da população brasileira durante o isolamento social” e “Circulação do Covid-19 nas Américas e Europa, sem detecção governamental”.
A partir de todas especificações, percebe-se a responsabilidade adotada pela fundação, que mesmo com menos verba e passando por um surto mundial, atua como um dos principais canais informativos de ciência da América Latina, além de corroborar com o desenvolvimento de vacinas para combater a Covid-19. Talvez este seja mais um passo que propicie a compreensão, do quão importante a ciência é para o mundo.
Matéria produzida para a disciplina de Jornalismo Científico.
Nos últimos meses o termo “masculinidade” e suas discussões me chamaram atenção. Comecei a pesquisar sobre a temática e até participar de rodas de conversa sobre essa questão que atinge diversas esferas da sociedade: a masculinidade tóxica. E quando escrevo masculinidade tóxica, me refiro a ela em diferentes perspectivas: relacionamento, comportamento, emoções, sociabilidade, entre outras questões que ferem o individual e o coletivo.
Essa toxicidade começa logo cedo, na formação enquanto indivíduo homem, e nos obriga a ter um comportamento forte, viril e rígido, forçando a colocar de lado tudo que equivale ao feminino. A sociedade machista e masculinista nos exige a ser homem, mas não qualquer homem. Tem que ser “Homem com H maiúsculo”. Mas afinal, o que é ser homem? O que é um homem? Que homem é esse?
Passei a me questionar ainda mais sobre essas questões, depois de assistir o documentário O Silêncio dos Homens, uma iniciativa do site Papo de Homem, lançado recentemente. O filme aborda um ponto importante: o silêncio das emoções, que nos são retiradas logo na infância, com a famosa frase “homem não chora”. Além disso, nos mostra que esse silêncio é a raiz de diversos problemas, como a violência doméstica, o suicídio, alcoolismo, depressão e o vício em pornografia. Também apresenta que apenas três em cada 10 homens possuem o hábito de falar sobre seus medos e dúvidas com amigos.
De certa forma, soa até estranho dizer que os homens são silenciados, devido a nossa construção histórica, onde o homem sempre é colocado no topo da cadeia social. E me refiro justamente a maneira como os homens são criados, tendo que mostrar firmeza a todo instante. Não podemos agir com comportamentos ligados ao feminino, devemos ter um bom emprego, ser o líder da família, flertar com mulheres, não chorar, gostar de futebol e por aí vai. Essas são só algumas atitudes, ou melhor, obrigações do que parece ser uma “cartilha” para se tornar um homem. Ah! E se você falhar em alguma delas, pronto, logo você é rotulado de “viado”. E no ideário da masculinidade tóxica, “viado” não é homem.
Essa construção de ser masculino, se naturalizou com o patriarcado e a dominação com ele trazida. O homem sempre foi visto como símbolo de poder, logo, tudo que se associa ao feminino é colocado um ou mais degraus abaixo. Nós, homens, somos ensinados a buscar por uma hipermasculinidade, a fim de manter a dominação dos homens sobre as mulheres e, também, de homens sobre homens, causando danos para ambos. Dessa forma, o homem acaba fortalecendo a manutenção de seus privilégios, a partir do momento em que não se coloca aberto para refletir seus comportamentos.
Falar sobre masculinidade é perceber o quanto ela interfere no comportamento masculino e os seus impactos no coletivo. O movimento surge como forma de repensar o papel do homem na sociedade, de escutar, de mostrar suas vulnerabilidades e de entender que ser homem está além da supervalorização de características, sejam físicas ou culturais, associadas ao masculino. Por isso, faço um convite especialmente aos homens: assistam ao documentário O Silêncio do Homens e vamos refletir sobre nossas práticas masculinas.
Assista ao documentário “O Silêncio dos Homens”, com direção de Ian Leite e Luiza de Castro. O filme é fruto de um projeto que ouviu mais de 40.000 pessoas sobre questões de masculinidade.
[youtube_sc url=”https://youtu.be/NRom49UVXCE” title=”O%20silêncio%20dos%20homens”]
Deivid Pazatto é jornalista egresso da UFN, pós-graduando em Estudos de Gênero na UFSM e militante do movimento LGBTQ+. Foi repórter da Agência Central Sul e monitor do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa) durante a graduação
O Joaquin Phoenix me pegou desprevenida. Fazem uns dois meses que assisti o filme no qual ele estrela como o Coringa, numa noite, num cinema quase vazio. Não havia mais do que vinte pessoas. Não tinha expectativa nenhuma, pois nunca tinha assistido filme sobre essa personagem. Fui pega de surpresa com esse Coringa, pela personagem ali construída, por Joaquin Phoenix e seu Arthur Fleck. Pensei imediatamente em escrever para colocar em dia as colunas no site, mas não pude. Escrever implica se expor. Escrever implica criar, estar aberto para a criação. Precisei gestar.
Depois do tempo passado, não queria fugir do filme (ou seria da personagem?), pois ele me comoveu. A humanidade descarnada daquele sujeito, a falta de amor sufocante no entorno dele, sua mãe narcísica e enclausurada em narrativas repetitivas e profundamente nefastas. Não se trata de considerá-lo vítima, mas reconhecer nele uma humanidade frágil, distorcida, alucinada e má. Mas a maldade não se restringe a uma personagem, de certa forma é a linguagem geral do filme. A vilania é a tônica desse conjunto de personagens: os sujeitos que o ridicularizam e o espancam de forma gratuita, os playboys cruéis no metrô, o apresentador de tv e seu incansável apetite para humilhar seus interlocutores, os senhores da cidade e seu nefasto descaso pelos pobres… Não soa familiar?
Todavia, nesse profundo mergulho no lado sombrio do humano, a solução da tensão pela emergência de um assassino insensível é frágil e decepcionante! É justamente ali, naquele ponto que o filme vira quadrinhos. Daquele momento em diante a narrativa adquire outro tom, de um escracho de maldade. Arthur Fleck sucumbe à sombra do Coringa e do impositivo fim da personagem, conforme o destino desenhado nas versões anteriores do vilão. A fantasia da vingança como a redenção é uma guinada rápida e acaba perdendo o ritmo inicial daquela narrativa humanizada, os ditames do HQ se impõem. Arthur Fleck poderia ter outro fim: um sanatório, um romance, a infelicidade infinda, a morte. Mas não, o Coringa encerra a imaginação e o fim é previamente definido: Gotham City, Bruce Waine e a trajetória que se segue, precisa acontecer para se conectar com as histórias que lemos na década de 80 e 90.
Pessoalmente, creio que a genialidade da interpretação de Joaquin abre e fecha o filme, tanto que a personagem que ele cria ultrapassa o filme, é maior que o Coringa, é passível de existir e por isso perturba. Há uma característica em especial que ele explora e que se destaca e, talvez por isso, amedronte ainda mais – Arthur expõe a cultura do ‘looser’ de uma posição incômoda – a de alguém que deixa de aceitá-la e revida. Experiências aterrozizantes que a sociedade dos EUA tem vivido recorrentemente.
A ‘cultura do fracassado’, do ‘looser’, tem sido um produto de exportação do cinema enlatado americano desde os anos 80. E é essa uma ideia muito cruel porque estimula as pessoas a se colocar num lugar de comparação, num exercício que só produz frustração. Uma ação de perversidade pura, a verdadeira vilania: comparar o incomparável – a vida de cada uml!… As trajetórias individuais que dentro das distintas sociedades e tempos históricos nos quais elas se desenrolam com irrepetível unicidade! Se o self–made-man é a narrativa do sucesso, seu avesso é o ‘looser’? Direito e avesso do capitalismo?
De fato, se há loosers somos todos nós que conseguimos manter a violência banal (material e simbólica) como uma linguagem corrente; que desmoralizamos a solidariedade e a cooperação como elementos mediadores das nossas relações. Não estaria passando da hora de colocarmos em questão a ideia de que o ‘bom sujeito’ é aquele que tem sucesso porque conjuga todos os verbos na primeira pessoa do singular?
Não nos enganemos, a mensagem da sociedade do ‘sucesso’ e que serão poucos os escolhidos em meio à multidão excluída. Um produto dileto do império da ‘escolha’ frente a um mundo que carece de comunhão. De fato, Joaquin foi incrível, porque elevou a narrativa à reflexão.. Bravo!
Paula Jardim Bolzan, historiadora e antropóloga, professora na UFN
Alice Dutra Balbé
Há muito pouco tempo dizia-se que a pauta ambiental não era notícia no quotidiano. As razões para isso são várias e a primeira é categorização de uma pauta “ambiental” em uma seção separada quando o ambiente é o todo. A pauta ambiental acaba sempre se restringindo ao factual – como, de forma geral, é o jornalismo – tendo também o foco no trágico. Não houve uma mudança grande nesse sentido, contudo, a pauta ambiental passou a ser frequente no noticiário, especialmente no Brasil. Ainda defendo que não é preciso um chapéu de editoria “ambiente”, mas, sim, uma cobertura de jornalismo especializado que apresente o contexto da situação.
Anos de discussão em torno da preocupação mundial desde o Dia da Terra de 1970; a publicação do estudo Limites do crescimento, em 1972, pelo Clube de Roma, que é considerado um marco na história do pensamento ambientalista; o Relatório de Brundtland de 1987; diferentes conferências como a Rio-92 e Rio+20; publicações do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC, desde a formação em 1988), e as Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que já vai na 25ª edição; até a imagem da Terra vista da Lua realizada em 1969 tem sido questionada.
O significado da expressão “desenvolvimento sustentável”, definindo que o desenvolvimento é necessário, mas não deve comprometer a capacidade de recursos para as gerações futuras, introduzida no relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tem sido cada vez mais importante. Esse documento é mais conhecido como Relatório de Brundtland – pois a conferência foi presidida pela então primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland. Hoje é necessário ainda mais ressaltar quando é uma mulher que está à frente de iniciativas.
As notícias ruins se propagam mais, como já dizia Nelson Traquina e são elas que ajudam a expor o problema e provocar ação também. Acidentes como a explosão do reator nuclear Three Mile Island em 1979, o desastre de Chernobyl e o vazamento de produtos químicos no Rio Reno, em 1986, foram importantes para a comunicação ambiental e as primeiras mudanças na legislação internacional. Mas ainda é preciso que realmente se faça mais para mudar as políticas ambientais. O mais difícil disso tudo é a compreensão de que um valor monetário para compensação do dano ambiental não resolve, mas é, no mínimo, a única alternativa para tentar inibir ações, regulamentar e investir no local afetado, seja com limpeza, replantio, recuperação de espécies, entre outros.
O derrame de petróleo ocorrido no litoral brasileiro em agosto, desse ano, fez lembrar outro dos maiores acidentes na história, ocorrido há 30 anos: o vazamento de crude (petróleo bruto) do navio Exxon Valdez, em 1989, no golfo do Alasca. Foram 40 milhões de litros de crude ao mar.
Em 2010, outro acidente marcou a história dos acidentes com petrolíferas ao causar a morte de 11 funcionários da empresa e o vazamento de 3,2 milhões de barris de petróleo no Golfo do México após a explosão da plataforma Deepwater Horizon, da petrolífera britânica BP. O acidente foi notícia recentemente justamente referindo o valor que a empresa teve que pagar: 65 bilhões de dólares “e a conta continua a aumentar” segundo reportagem publicada pela revista Época Negócios, em fevereiro de 2019.
A Reuters também fez um levantamento em 2015 referindo o aumento da morte de golfinhos, entre 2002 e 2009, de 63 por ano para 200 (por ano) a partir de 2010, em consequência do contato com petróleo. A agência americana NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration – identificou ainda, em um estudo de 2016, que a gestação dos golfinhos não chegavam ao fim em 80% dos casos devido à exposição e petróleo.
No caso brasileiro, ainda não se tem a total dimensão do problema. Aumentam as notificações de praias em que o petróleo é visto. Em 17 de novembro a conta ultrapassava 450 praias e as manchas atingiram o litoral do Espírito Santo. No jogo de empurra e acusações falsas sobre a origem do petróleo, ainda pouco se reflete sobre o dano ambiental. As manchas visíveis do mar ainda podem ser removidas da água, mas o maior problema é o petróleo em contato com animais, corais, mangues, o ingerido pelos animais e, ainda, por humanos nessa cadeia alimentar.
A responsabilização é primordial para que se tomem as medidas necessárias. No caso do vazamento do Golfo do México, a empresa ainda hoje responde. Mas no Brasil como isso vai funcionar?
O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana no estado de Minas Gerais, em 2015, liberou 40 milhões de metros cúbicos de resíduos da mineradora da Samarco que contaminou rios e mantou 19 pessoas. Três anos depois outro rompimento, da barragem de rejeitos da Mina do Feijão, no município de Brumadinho, no mesmo estado. O que realmente mudou de Mariana a Brumadinho? É fato que mais de 20 barragens estão em alerta em Minas Gerais, a maior parte delas sob responsabilidade da empresa Vale, que atuava em Brumadinho. Foram as universidades, moradores, organizações não-governamentais e técnicos de alguns órgãos que assumiram as atividades nos locais. Pouca coisa mudou para o caso do derrame de petróleo nas praias brasileiras, o agravante foi o Governo Federal acusar o Greenpeace de causar o derrame, assim como fez em agosto ao acusar ONGs pelas queimadas na Amazônia.
Segundo dados do INPE, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento aumentou cerca de 30% entre agosto de 2018 e julho 2019. No entanto, os maiores incêndios na Amazônia aconteceram em agosto. Foram 30.901 focos de incêndio registrados, segundo dados do Programa Queimadas do INPE em agosto e sabe-se que os incêndios seguiram no mês de setembro, 80% a mais do que em 2018, no mesmo período.
É preciso que esses fatos estejam na mídia. É preciso acompanhamento sobre os impactos hoje e a longo prazo, não podemos esquecer. Precisamos de respostas, precisamos de ações, precisamos de exemplos e conscientização.
Alice Dutra Balbé, doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal, jornalista egressa UFN.