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feminismo

Era uma vez…

Um reino onde mulheres se fazem ouvir, escolhem seus destinos, realizam seus sonhos e escrevem suas próprias histórias. Nesse reino, Rapunzel decidiu que queria conhecer o mundo, cortou suas longas tranças, fez uma corda com elas

O que você já deixou de fazer por ser mulher?

Talvez muitas pessoas se cansem de ouvir ou achem que a luta por igualdade de gênero é mera perda de tempo. Talvez quem não se coloca no lugar do outro ache que persistir e reivindicar direitos

O que o feminismo me ensinou e fez doer em mim

Creio que nunca fui uma pessoa com problemas para se definir quando se trata de determinadas convicções e ideais. Claramente, isso mudou com os anos e, hoje, eu repenso e penso novamente minhas próprias opiniões e

O futuro é feminino

“The Future Is Female” apareceu originalmente em uma camiseta feita em 1972 por Jane Lurie e Marizel Rios, donas da Labyris Books, a primeira livraria de mulheres em Nova York. Em 1975, a fotógrafa Liza Cowan clicou

É difícil ser mulher e falar de esporte

Foi durante a infância que criei relação com o esporte. Dentro de casa o assunto futebol sempre foi muito presente, no entanto, nunca tive influência familiar por qual time torcer, ou por qual esporte me interessar.

O que nos (des)encaixa?

O curso de Psicologia da Universidade Franciscana (UFN) apresentou na manhã de hoje,12,  uma performance artística alusiva ao dia internacional da mulher. A ideia de intervenções surgiu em uma disciplina optativa ministrada pela professora Monise Gomes

Dia Internacional da Mulher

Quando as mulheres, de todas as cores, se movimentam, a sociedade muda junto com elas.

Arquitetura apresenta filme seguido de debate sobre assédio

O documentário Chega de Fiu Fiu, foi exibido na tarde desta segunda-feira, 12, na UFN. A iniciativa do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFN apresentou junto com o Diretório Acadêmico da Arquitetura (DARQ), o filme da

O protagonismo feminino no #EleNão

O século XX foi marcado por guerras, extremismos e resistências. Foi neste período da história, que muitos paradigmas foram quebrados e pautas sociais começaram a ser discutidas, defendidas e amparadas por meio de leis na justiça.

Empoderamento feminino e sexualidade é tema de oficina na UFN

A oficina sobre Empoderamento Feminino e Sexualidade ocorreu no 1° Workshop da Fisioterapia na Universidade Franciscana na tarde desta quarta (5). Ministrada por Caroline Cavalheiro Fereira e Bianca Ourique, a oficina teve como foco assuntos relacionados à sexualidade

Imagem de Jonny Lindner /Pixabay

Um reino onde mulheres se fazem ouvir, escolhem seus destinos, realizam seus sonhos e escrevem suas próprias histórias. Nesse reino, Rapunzel decidiu que queria conhecer o mundo, cortou suas longas tranças, fez uma corda com elas e desceu da torre alta. Viajou, comeu e amou. Aproveitou cada segundo da sua vida, livre, leve e solta.

Outra mulher também vivia por lá, Branca de Neve, considerada uma princesa, sabia exatamente onde queria chegar. Usou sua determinação, junto com as habilidades dos seus fiéis escudeiros, os sete anões. Virou uma empresária de sucesso, rica e poderosa, a Dona do Pedaço.

Do outro lado do reino, Cinderela disse umas verdades para sua madrasta cruel e suas irmãs postiças. Se livrou do relacionamento abusivo que tinha com elas e suas sapatilhas de cristal tornaram-se tendência nos quatro cantos do reino. Assim, nunca mais precisou entrar em uma carruagem que virava abóbora.

Aurora, que era conhecida como a Bela Adormecida, cansou de esperar o príncipe encantado. Na verdade, essa espera em sono profundo a fez pensar sobre sua vida e suas escolhas. Quando acordou, dispensou príncipes encantados, para um belo dia conhecer a destemida princesa Anna, de um distante reino de gelo, para juntas encontrarem o amor e viverem felizes para sempre.

Outra notável personagem desse lugar era uma menina dos cabelos de fogo, princesa e sereia, chamada Ariel. Nessa história ela não trocou sua voz por um par de pernas. Ela usou a sua voz para defender os animais marinhos contra as ações dos seres humanos e virou uma famosa ativista ambiental.

Não podemos deixar de falar de duas mulheres fortes e guerreiras desde crianças. Lideres dos seus povos, admiradas e respeitadas, não só reconhecidas pela beleza, Pocahontas e Mulan.

E por último, mas não menos importante, da periferia do reino, Tiana, uma princesa negra, extremamente inteligente, que propaga o Black Power por onde passa, recrutando seguidores, exigindo respeito e igualdade, sempre embalada ao som do jazz e do blues.

Todas as mulheres citadas nessa história mudaram seus destinos já escritos, para simplesmente escolherem o que quiser para suas vidas. Que assim como elas, todas as mulheres possam escrever suas próprias histórias, sem aceitar nada menos do que a felicidade.

Por Fabian Lisboa, acadêmico do curso de Jornalismo da UFN

Imagem de Esa Riutta por Pixabay

Talvez muitas pessoas se cansem de ouvir ou achem que a luta por igualdade de gênero é mera perda de tempo. Talvez quem não se coloca no lugar do outro ache que persistir e reivindicar direitos básicos é banal. Nos meus textos anteriores, busquei reafirmar a importância do esporte feminino no Brasil e o abismo entre o futebol masculino e o feminino no país e no mundo. Já neste texto quero refletir contigo sobre desigualdade de gênero, e porque muitas pessoas não entendem que o machismo é o principal fator que prejudica a igualdade de gênero e o respeito ao próximo. E é no título desse texto que já começa a nossa reflexão: o que você já deixou de fazer por ser mulher?

Bom, eu já deixei de opinar sobre assuntos que entendia muito mais do que qualquer homem na minha roda de conversa, porque seria desacreditada se falasse, como já fui. Já deixei de usar uma roupa que queria, já deixei de ir e vir por medo, já me calei, mas hoje, não me calo mais.

Subindo um degrau de cada vez, reivindicando e colecionando conquistas importantes ao decorrer da história a luta pelo espaço de fala segue e seguirá até conquistarmos a igualdade. E um passo importante para tornar o futuro um tempo de direitos iguais e um mundo mais seguro para as mulheres é desconstruir a cultura machista  na qual crescemos, e que inúmeras vezes fez com que desacreditássemos em nós mesmas.

A base do machismo é a ideia errônea de que a mulher é um ser inferior, pertencente ao homem e que, por isso, ele tem autonomia sobre ela. Parando para pensar, é quase impossível acreditar que essa essência machista ainda se mantenha em pleno século XXI. O mais triste é dizer que sim, a cultura machista enraizada na sociedade persiste em diminuir as mulheres e criar uma disputa entre os sexos, entre nós na verdade.

Triste também é ver que uma parte do poder público alimenta a cultura machista e governa o país expondo ideias distorcidas sobre igualdade de gênero, colocando como incerta a credibilidade da luta por direitos. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, nós, mulheres, vamos levar mais de 100 anos para conseguir direitos iguais em todas as esferas.

Uma mudança de mentalidade é mais do que urgente, seja no meio esportivo, nas torcidas, no mercado jornalístico, dentro dos clubes e das federações. Me incomoda tanto a objetificação da mulher, seja no esporte ou em outra esfera social.

Um case meu mesmo exemplifica essa objetificação. Como uma amante do futebol faço parte de grupos sobre o esporte em algumas redes sociais e o número de mulheres, se comparado ao número de homens, é mínimo, no entanto ,existe um crescimento de interações e solicitações para fazer parte desses grupos. De dez notificações que recebo do grupo no meu perfil, nove são publicações de homens e sete dessas publicações contém a foto de alguma mulher ou torcedora. Os comentários são do mais baixo calão. Grupo que tem o intuito de debater, compartilhar notícias e discutir futebol objetifica e expõe mulheres todos os dias, incansavelmente. E tudo isso é tratado com naturalidade pela maior parte dos homens do grupo e se alguém (mulher ou homem) faz algum comentário crítico à postagem é “linchado” nas redes.

A naturalidade com que objetificação da mulher é tratada entristece, e quando é apontada e discutida, muitas vezes é dita como – problematização de tudo. Por essas e outras que o feminismo é o principal escudo das mulheres por direitos políticos, econômicos e sociais iguais.

O futuro é feminino?

Outra reflexão que deu origem à série documental produzida pelo Canal GNT, com três jornalistas, feministas e ativistas, Bárbara Bárcia, Claudia Alves e Fernanda Prestes que viajam em busca de pautas reveladoras de como é ser mulher em diferentes partes do mundo. A série tem cinco episódios, estreou no dia 6 de março às vésperas do dia internacional da mulher. Elas viajaram para a Islândia, pelo Paquistão e pelo Brasil, para entender a luta das mulheres por igualdade de gênero pelo mundo.

Os países visitados foram escolhidos de acordo com os dados divulgados anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, que apontaram a Islândia como o melhor país para se viver se você é uma mulher. Já o Paquistão se encontra no penúltimo lugar do ranking, na frente apenas do Iêmen. E o Brasil caiu cinco posições em 2018, e ocupa no momento um decepcionante 95º lugar em uma lista de 149 países.

Uma análise entre os países que se encontram nos extremos, para entender como é ser mulher onde os direitos se aproximam da igualdade e se distanciam ao mesmo tempo. A série está disponível no canal da emissora no Youtube. A análise, a crítica social e a reflexão são excelente, além de multiplicar o espaço de fala de inúmeras mulheres pelo mundo, sendo assim, reafirmando a luta por igualdade de gênero.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias

Benedikt Geyer/Pixabay

Creio que nunca fui uma pessoa com problemas para se definir quando se trata de determinadas convicções e ideais. Claramente, isso mudou com os anos e, hoje, eu repenso e penso novamente minhas próprias opiniões e posições o tempo todo – tenho a impressão de que todos estamos nesse processo. Por isso, não tive aquele problema que encontro em algumas mulheres,  sobre ser-feminista-mas-não-querer-ser-chamada-de feminista. Quando entendi o movimento, quando entendi  que algumas ideias perambulantes em  minha mente já estavam sendo expostas e discutidas, vi que isto tinha um nome.

Acredito que o ponto em que me coloquei como pessoa política e comecei a me movimentar nesse sentido, foi quando entrei para a faculdade. O curso de Comunicação Social permite – há quem se permita também – questionarmos e revermos alguns lugares nossos na sociedade. No Ensino Médio eu conversava brevemente sobre breves questões feministas com algumas amigas, mas recordo da faculdade ser um divisor de águas. Desde então, a minha vontade e o meu comportamento passaram a se voltar para o feminismo. Conheci mulheres maravilhosas também feministas, me descobri feminista com outras mulheres, compartilhei e aprendi (mais do que compartilhei) muito com quem já estava na militância. Mas, hoje, vamos falar um pouco da dor que envolve tal processo.

Ao longo do tempo, quanto mais eu mergulhava nas teorias e na prática em si,  mais me deparava com momentos dolorosos no caminho. Diversas mulheres, feministas comunicadoras, estão falando sobre o processo de desconstrução ser doloroso para todos, mas ele o é, principalmente, quando nota-se as pequenas e inúmeras violências que sofremos por reproduzir um comportamento condicionado. Sempre chega aquele momento em que há a descoberta de que, mesmo vítimas de uma opressão estrutural, também somos ensinadas a repetir, a aceitar e a oprimir. Enquanto mulher branca de classe média, reconhecer meu lugar de privilégio foi difícil.

Um dos períodos mais complicados para mim foi quando conheci outras mulheres do movimento feminista negro . Com elas fui aprendendo e desconstruindo – ainda estou – o racismo estrutural presente praticamente todos os dias (e como somos racistas!). Foi onde tive resistência para entender que havia lugares sobre os quais não caberia a mim falar, e sim ouvir, refletir, rever. Foi onde tive choques de realidade e compreendi ainda mais as inúmeras ramificações do movimento e da opressão. Outros períodos complicados vieram e virão, com certeza, com o tempo.

Absorver e trabalhar com feminismo também me trouxe angústias esmagadoras. Desde o início da graduação me envolvi com reportagens, projetos, textos e artigos sobre o movimento, gênero, misoginia e de todos esses conceitos que ouvimos saltitando por aí. Me envolvi pessoalmente de uma forma sensível com alguns trabalhos em especial e, além do sentimento de pertencimento, de amor e de cuidado para com outras mulheres, a raiva era profunda demais.  A raiva de perceber essa sociedade machista violenta, mas também a raiva de saber que eu mesma reproduzo comportamentos opressores e que me oprimem igualmente; de entender a forma como fui educada e a forma que a cultura em que vivo me modulou com diversos pontos tão violentos e prejudiciais para mim mesma- e para todas as mulheres que conheço. Se identificar isto dentro de mim foi doloroso, mudar, então, nem se fala!

O meu Trabalho Final de Graduação, do qual tenho só orgulho, me trouxe algumas noites sem dormir não só pela dificuldade em realizá-lo, mas porque o tema também foi esse: Gênero e feminismo. Me envolvi de uma maneira absurda que todos notaram e, ao concluir a faculdade, uma professora por quem tenho enorme carinho me disse para tomar cuidado com o tanto que me entreguei cegamente para isso, porque ela sabia e, hoje, eu sei, que é preciso preservar a minha saúde mental, minha paz comigo mesma, para poder me manter de pé na luta. Após formada foi que decidi começar a terapia – a melhor decisão que já tomei por mim -, e depois do período eleitoral me afastei das discussões em redes sociais, dos debates e das leituras feministas. Voltei a elas há algum tempo, e hoje me sinto um pouco mais forte para receber o impacto de um processo constante de aprendizado, escuta, carinho, dores, construções e reconstruções, ressignificação e movimento (sempre).

 

Amanda Souza é jornalista egressa da UFN, e colaboradora do site Todas Fridas e da Revista New Order

 

Texto e foto de Mariana Olhaberriet/LABFEM

The Future Is Female” apareceu originalmente em uma camiseta feita em 1972 por Jane Lurie e Marizel Rios, donas da Labyris Books, a primeira livraria de mulheres em Nova York. Em 1975, a fotógrafa Liza Cowan clicou sua namorada vestindo a camiseta para um projeto e desde então o slogan passou a ser usado por feministas. Atualmente, ele faz parte de um contexto muito maior, representa a luta diária das mulheres para ocupar espaços sociais e políticos. Marielle Franco era socióloga e foi vereadora da Câmara do Rio de Janeiro, pelo PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, e presidente da Comissão da Mulher do mesmo município. A representatividade feminina na política brasileira é bastante inexpressiva, por isso Marielle queria mudar esse quadro e entendia que a presença feminina em espaços como esses é importante para reduzir desigualdades. Marielle foi assassinada em março de 2018, deixando marcas e herdeiras.

Foram mulheres que organizaram e reuniram o maior número de pessoas em manifestações pelo Brasil durante o período eleitoral, desde os protestos de setembro de 2016. O registro fotográfico feito durante o ato “Justiça para Marielle”, no dia 14 de março passado, representa como vejo o futuro: uma sociedade com mulheres inspiradoras, que apoiam umas às outras, lutam por seus objetivos e, principalmente, não se calam diante aos erros que são tratados como banalidades, apenas por estarem enraizados na nossa sociedade e cultura. O futuro é feminino porque a luta de Marielle e tantas outras brasileiras é também a minha luta, enquanto mulher, na busca pela igualdade de direitos.

Foi durante a infância que criei relação com o esporte. Dentro de casa o assunto futebol sempre foi muito presente, no entanto, nunca tive influência familiar por qual time torcer, ou por qual esporte me interessar. Percebia uma certa resistência ao falar de futebol por parte dos homens com os quais eu convivia e escutava coisas do tipo:

– O que que tu sabe? Me diz a escalação do time então!

E sem me dar conta do que realmente estava acontecendo, dizia toda a escalação da dupla Gre-Nal, como se eu tivesse que provar, principalmente, para os meus colegas de escola, que eu sabia sobre o assunto e só assim eles iriam me respeitar. Todos os dias eu buscava informações e lia sobre a temática. Me informar era uma das maneiras de mostrar que o esporte não era apenas um mero interesse, mas a minha futura profissão.

Desde o início da vida acadêmica me interessei por uma das editorias que é composta majoritariamente por homens. Não foi fácil e não é fácil. O meu lugar de fala sempre foi abafado pelos meus colegas ou homens em que discutia esporte, principalmente futebol.

No país pentacampeão mundial no futebol masculino, o respeito e o reconhecimento para o público feminino tem muito a amadurecer. A presença de mulheres no futebol, seja praticando ou comentando, ainda busca uma maior afirmação no país do futebol. E uma das maiores dificuldades, dentre tantas, é desconstruir aos poucos o machismo tão predominante na nossa cultura.

Dentro da história do futebol mundial um ponto que chama atenção é primeira edição da copa do mundo feminina, que teve início 61 anos depois início do torneio masculino.

A falta de incentivo, de apoio e o preconceito presente na sociedade, vindos da cultura machista construída ao decorrer das décadas dificulta a vida de inúmeras mulheres que buscam seguir a carreira profissional dentro do futebol e de tantos outros esportes.

No Brasil,  a falta de visibilidade e patrocínio prejudicam o crescimento do futebol feminino. Sem falar na desigualdade de gênero presente no esporte e no jornalismo esportivo. Não será de um dia para o outro que o preconceito vai acabar, mas diariamente a luta por espaço e reconhecimento ajudam a desconstruir a ideia machista de que mulheres não podem gostar, praticar ou comentar esportes.

Um fato curioso e triste ao mesmo tempo aconteceu nas Olimpíadas de Londres, em 2012, ano em que pela primeira vez na história tivemos a participação de mulheres em todas as modalidades olímpicas.
As mulheres são diminuídas, criticadas, questionadas e suas opiniões e conhecimentos são colocados à prova diariamente. A união e a sororidade dentro do esporte sustentam a luta por igualdade de espaço, de fala e de direitos.

Meu interesse pelo esporte não diminui a cada questionamento ou preconceito que sofro, seja como jornalista ou torcedora, mas sim, aumenta cada vez mais. É claro que as brincadeiras e piadinhas que nos diminuem incomodam e causam repulsa por desconhecidos, colegas e até amigos. No entanto, precisamos cada vez mais refletir e debater dentro da sociedade o machismo e a conduta de inúmeros jornalistas e atletas que tentam esconder por trás de suas imagens a desigualdade de gênero presente em suas falas e atitudes.

[dropshadowbox align=”center” effect=”curled” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ] É difícil ser mulher, em todas as esferas da sociedade, é difícil ser mulher no esporte, é difícil ser mulher no jornalismo esportivo.[/dropshadowbox]

As equipes femininas precisam de espaço apropriado para treinar e desenvolverem seus trabalhos. O futebol feminino precisa de uniformes específicos e feitos sob medida para elas e não ficar com os restos dos times masculinos. As mulheres precisam de salários equivalentes aos homens para se manter e viver do esporte.

E foi pensando nisso que a Nike apresentou na última quinta-feira (14) em São Paulo, em um evento no Estádio do Pacaembu, um uniforme completo, desenvolvido especialmente para a seleção feminina de futebol…pela primeira vez na história. E além disso, a marca mostrou que se preocupa com o público feminino e anunciou suas principais iniciativas para romper barreiras e elevar o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil.

O projeto chamado Nike Futebol Clube, idealizado pela marca esportiva irá reunir jogadoras amadoras de futebol com três encontros semanais no Parque do Ibirapuera, com jogos e treinos para as atletas e amantes do esporte. E uma vez por mês, a empresa usará o Pacaembu para fazer a ação. O projeto é gratuito, todas estão convidadas e as inscrições poderão ser feitas através do site Nike.com/SP.

A iniciativa tem como sede a cidade de São Paulo, mas em todo o país mulheres praticam o esporte e lutam por espaço e igualdade. Esperamos que este seja o pontapé inicial para o crescimento do futebol feminino no país, junto do apoio de grandes empresas para a difusão do esporte no Brasil.

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias.

 

Wander Schlottfeldt é acadêmico de jornalismo na Universidade Franciscana e tem um talento nato para a charge! É dele a ilustração do texto de hoje.

Performance questiona o enquadramento social das mulheres. Fotos: Mariana Olhaberriet/LABFEM

O curso de Psicologia da Universidade Franciscana (UFN) apresentou na manhã de hoje,12,  uma performance artística alusiva ao dia internacional da mulher. A ideia de intervenções surgiu em uma disciplina optativa ministrada pela professora Monise Gomes Serpa, do curso de psicologia,  e que não está mais sendo ofertada. Diante disso, optou-se por continuar com as intervenções no  dia 8 de março para, segundo a professora, transformar a data em um dia de reflexões e discussões sobre o tema.

A ação reuniu estudantes e professores no hall do prédio 16.

“O que nos (des)encaixa?” é a terceira performance feita pelo curso e pelo Psicoarte, Grupo de Livre Experimentação e Criação Artística da Psicologia, e foi apresentado no hall dos prédios 16 e 17 do conjunto III da instituição.  A ação é voltada para mulheres e, como parte dela,  o grupo colocou caixas à disposição da comunidade acadêmica para que respondessem “O que você já ouviu, passou, sentiu por ser mulher?” . As respostas foram expostas em um mural no hall do prédio 16, e algumas frases foram lidas durante a performance. Ela permanece no local até amanhã, 13, quando será desmontada.

A performance alerta para o fato das mulheres não estarem sozinhas e divulga o Programa de Atenção Integrada em Psicologia (PAIP) que funciona no 2º andar do prédio 17.

Quando as mulheres, de todas as cores, se movimentam, a sociedade muda junto com elas.

Documentário sobre assédio foi exibido na UFN / Foto: Thayane Rodrigues

O documentário Chega de Fiu Fiu, foi exibido na tarde desta segunda-feira, 12, na UFN. A iniciativa do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFN apresentou junto com o Diretório Acadêmico da Arquitetura (DARQ), o filme da jornalista Juliana Faria,lançado em 2018. O filme mostra a rotina de três mulheres comuns, expondo as situações de assédio sofrido diariamente, na rua, no transporte público, na praia.

Em 2013 Juliana lançou uma campanha com o mesmo nome nas redes sociais contra o assédio que as mulheres sofrem nas ruas. A jornalista e, também, fundadora da ONG feminista Think Olga, criou o mapa do assédio, uma plataforma digital em que as mulheres podem compartilhar relatos de assédio e apontar os lugares onde eles ocorreram. Essa iniciativa tem o intuito de tornar as cidades mais seguras para as mulheres.

No seu depoimento, a jornalista conta que decidiu criar a campanha após presenciar um de assédio  numa coletiva de imprensa que cobria. Ela percebeu a naturalidade e a indiferença com que o fato foi tratado.  

Chega de Fiu Fiu   

Nos relatos, as mulheres dizem que o assédio não é uma simples cantada, como muitos pensam, e sim toda e qualquer intimidação, perseguição e constrangimento, que não respeite o espaço da outra pessoa pelo fato de ser mulher. Um ponto comum na fala das mulheres está relacionado a segurança e políticas públicas, ao medo de andar na rua, principalmente à noite e sozinha. “A cidade não foi feita para as mulheres, porque as mulheres não foram feitas para andar na cidade, elas foram feitas para ficar em casa, cuidar do marido e dos filhos. Este era o pensamento que imperava no mundo, até a Revolução Industrial. E é aí, que nasce o movimento feminista, para exigir os nossos direitos como cidadãs”, explica Margareth no documentário.

O documentário também apresenta o pensamento masculino sobre assédio, numa roda de conversa, alguns homens debatem sobre o que é assédio e como eles percebem estas situações. Todos concordam que assédio é interferir no espaço da mulher sem sua permissão, porém, reforçam os esteriótipos que as roupas das mulheres servem para elas “se mostrarem, como por exemplos as leggings e as roupas justas de academias”, como citado por mais de um integrante desta mesa redonda.

A filósofa Djamila Ribeiro falou sobre a objetificação do corpo da mulher, principalmente da mulher negra. “A violência e a sexualização da mulher negra está relacionada ao período colonial, que as mulheres eram escravas e eram vistas com o propósito de apenas procriar ou ser empregada”, esclarece.

 

Debate

Após a exibição do filme houve um debate entre os alunos presentes. Um dos tópicos da discussão foi o respeito ao espaço e ao corpo de cada pessoa. Entre os homens também foi evidenciado a existência dos estereótipos relacionados às mulheres e que o assédio diz mais a respeito da autoestima e padrões de masculinidade, do que do corpo da mulher. O acesso à informação e os movimentos feministas também foram assuntos debatidos, pois na sociedade contemporânea um comportamento preconceituoso não cabe mais. O alunos também opinaram sobre empoderamento feminino, políticas públicas, mercado de trabalho, relacionamentos abusivos e sororidade.

O século XX foi marcado por guerras, extremismos e resistências. Foi neste período da história, que muitos paradigmas foram quebrados e pautas sociais começaram a ser discutidas, defendidas e amparadas por meio de leis na justiça.

A luta por espaço e protagonismo feminino não é de hoje. Engana-se quem pensa que o feminismo é vitimismo das mulheres e que a igualdade de gênero é respeitada no Brasil e no mundo. Quando o assunto é conquistas sociais, elas sempre chegam primeiro para os homens, depois, por meio de luta, empoderamento e protestos, as mulheres conquistam o mesmo direito.

As mulheres brasileiras só conseguiram o direito de votar em 1932, por meio de manifestações e muitos protestos. Embora elas fossem maioria na sociedade, eram sucumbidas a aceitar que os homens mandassem nas famílias, no país e em suas decisões, sendo caladas e fadadas a serem belas, recatadas e do lar. Foi então, que em 1933, o Brasil elegeu a primeira Deputada Federal da história, Carlota Pereira de Queiroz. 77 anos depois, o Brasil elegeu foi eleger, pela primeira vez, uma mulher como Presidente da República. Dilma Rousseff, foi eleita em 2010, e assumiu o trono de presidente no dia 01 de janeiro de 2011.

Ontem, sábado,29, em Santa Maria, RS. Foto: Daniel Z. Guterres (cedida)

O direito a eleições diretas para presidente no Brasil é recente. Afinal, ele foi surrupiado em 1964, junto com a liberdade de expressão e de imprensa, no golpe que matou, torturou e sufocou o brasileiros por 21 anos. Esse, que com certeza, foi um dos períodos mais tristes e nefastos da nossa história.

Após essa explanação rápida da história, vamos falar sobre o dia de ontem: 29 de setembro de 2018. O dia que milhares de brasileiras saíram pelas ruas do Brasil e do mundo para protestar contra um candidato a presidente da república. Em um movimento democrático, plural e apartidário, as mulheres protagonizaram caminhadas de luta por direitos, igualdade e respeito.

Segundo dados do ministério dos Direitos Humanos, divulgados em agosto deste ano, de janeiro até julho, foram denunciados, pelo menos 547 tentativas de feminicídio, no Brasil, por meio do disc denúncia. Isso quer dizer que as mulheres ainda são mortas por serem mulheres. Nesta última semana, um grupo de homens que compartilhavam suas histórias de assédio em espaço público  Facebook foi descoberto. Vivemos uma sociedade que não aprendeu a enxergar além da burca e ainda culpa o comprimento da roupa da mulher pelo assédio e atentado sofrido.

Por mais direitos assegurados e amparados, ser mulher é sofrer diariamente o medo do assédio, seja no trabalho, na rua ou em qualquer ambiente.  Segundo reportagem da revista Super Interessante, da Editora Abril, o Brasil ocupa 152ª posição no ranking de representatividade delas no Congresso. Perdemos, inclusive para países cuja a cultura é mais severa para mulheres, como Afeganistão.

O que vimos nas ruas do país ontem, foi um grito de luta. Foi a força das mulheres dizendo basta a políticas e políticos machistas que não respeitam seus direitos básicos e as menosprezam por serem mulheres.

Conquistas são construídas por meio de pautas que desconstroem e fazem a sociedade crescer. Obrigado a todas as fraquejadas que, em uma só voz, gritaram para o mundo que o machismo não passará. #EleNão

Momento de reflexão na oficina sobre Empoderamento feminino e sexualidade no 1° Workshop da Fisioterapia na UFN. Crédito: Juliana Gonçalves/LABFEM

A oficina sobre Empoderamento Feminino e Sexualidade ocorreu no 1° Workshop da Fisioterapia na Universidade Franciscana na tarde desta quarta (5). Ministrada por Caroline Cavalheiro Fereira e Bianca Ourique, a oficina teve como foco assuntos relacionados à sexualidade da mulher.

“Qual foi a primeira vez que você sentiu prazer? Foi na infância?”. Reflexões como estas foram trazidas à tona durante a oficina. Também houve meditação guiada com velas, música suave e pensamentos para encontrar a Deusa interior.

As participantes apresentaram relatos sobre as primeiras experiências amorosas, inclusive sobre relacionamentos abusivos. Mulheres que, desde pequenas, foram ensinadas a servirem os homens, esquecendo do seu poder e prazer pessoal.