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Os Sete Magníficos e a representatividade feminina na mídia

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Foto: Reprodução / Metrópoles \ Mulheres governantes de sete países têm enfrentado à Covid-19 com sucesso

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere, são países liderados por mulheres, a Alemanha, governada pela chanceler Angela Merkel, Taiwan, com a presidente Tsai Ing-wen, Islândia, com a primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, Finlândia, com Sanna Marin, Noruega, com Erna Solberg, Dinamarca, com Mette Frederiksen, e Nova Zelândia, com Jacinda Ardern. As matérias abordam aspectos geopolíticos que refletem em âmbitos culturais, de saúde e econômicos.

Os veículos escolhidos pela reportagem variam entre jornais independentes, tradicionais, grandes corporações e mídia alternativa. São eles BBC, Forbes, Catraca Livre, Metrópoles, CNN Brasil e Mídia Ninja.

Mas por que este tema?

A reportagem se perguntou por que o tema foi levantado e foi atrás da opinião de especialistas.

Marcia Veiga, mestre em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro da ONG Themis, de assessoria e estudos de gênero, explica que o fenômeno não é mera coincidência e que, embora não seja o motivo por completo, o gênero das líderes tem a ver com o sucesso do enfrentamento à pandemia:

“Ao estudar gênero, é possível compreender o que esses fatos trazidos à tona sinalizam”.

Elas serem do sexo feminino, por fatores culturais, facilita com que tenham um olhar mais aproximado da população, não sempre, mas na maioria dos casos, de acordo com a especialista.

“Todas as sociedades têm convenções sociais, entre elas, a expectativa de que meninas e mulheres serão mais frágeis e que a elas caberão os cuidados. Entre ocidentais, tudo que é considerado masculino são elementos mais valorizados e que sensibilidade é algo “menor” e menos importante”, diz Marcia.

A pesquisadora esclarece que estas líderes focam em ações de cuidado e prevenção, valorizando o ser humano e tratando áreas como saúde e educação como tão importantes quanto a economia:

“Enquanto Brasil e Estados Unidos declaram “guerra ao vírus”, as mulheres são pacifistas”.

Um caso que chamou atenção da especialista foi a abordagem trazida pela BBC acerca de atitudes da primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern. Antes da páscoa, ela realizou um discurso voltado às crianças, em mídia nacional, para acalmar os pequenos com relação à data, garantindo que “o coelho da páscoa faz parte dos serviços essenciais”.

“Traços femininos fundamentais em um governante, como o diálogo e o interesse pela opinião de todos, são comuns para elas. Após ouvirem a população, através de atitudes horizontais como esta, só então elas agem”, afirma a pesquisadora.

Sobretudo, coloca o ser humano como prioridade e centro da preocupação. Assim, os cidadãos se sentem participantes. Isso mostra a necessidade de colaboração de todos num período de crise, ainda conforme a especialista.

“Valorizar a diversidade, mantendo o cuidado e a horizontalidade de discursos é o caminho”, conclui Marcia.

Para ela, o jornalismo tratar destes assuntos é cumprir o papel primário da profissão, de encontrar fatos e trazê-los à tona, nada mais do que retratando a realidade:

“Não havia como não perceber a existência deste fato. Além disso, hoje, há mais mulheres jovens e informadas nas redações e em chefias dos veículos jornalísticos. Então, o entendimento de que isso significa algo relevante é mais comum. Talvez a mídia não aprofunde os temas, ainda tendo muito o que avançar, mas, ao menos, publicam”.

A professora de psicologia Graziela Miolo, explica que as mulheres já crescem se adaptando à cultura machista já imposta e implantada na sociedade:

“Elas enfrentam dificuldades para se legitimar em posições habituais aos homens e precisam conquistar os espaços onde desejam estar. Qualquer lugar fora do lar não é para elas, principalmente na liderança e ainda mais fortemente no campo da política. Por isso, são mais inventivas e preparadas para demandas inusitadas”.

A reinvenção das mulheres faz parte de uma constituição psíquica, histórica, política e social, segundo a Graziela. Por isso, esta criatividade com a qual a mulher cresce a auxilia a se adaptar e encontrar recursos e saídas para grandes e inesperados problemas, como uma pandemia, desenvolvendo habilidades para conquistar seu lugar no espaço público, de ser e estar no mundo.

“As mulheres têm habilidades psíquicas que tornam esta administração mais fácil por terem mais recursos criativos para lidarem com as crises”, diz a professora.

Para ela, este momento é de sair do padrão tido como o certo e criar novas formas de governar e enfrentar conflitos, característica do feminino:

“A mídia aborda a questão do gênero de forma massificada, sem questões mais específicas, trazendo “as mulheres”, ao invés de “a mulher”, não dando conta de observá-la. Ainda observamos o discurso que prevalece a posição do homem, mas não é difícil de se compreender, em função de estar dentro de uma cultura embasada em uma linguagem que prioriza um discurso machista, que é estrutural”.

Por: Gabriele Bordin
Texto produzido na disciplina de Jornalismo Internacional, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana. Orientação: Profª Carla Torres

Poluição por resíduos industriais. Free-Photos/Pixabay

Alice Dutra Balbé

Há muito pouco tempo dizia-se que a pauta ambiental não era notícia no quotidiano. As razões para isso são várias e a primeira é categorização de uma pauta “ambiental” em uma seção separada quando o ambiente é o todo. A pauta ambiental acaba sempre se restringindo ao factual – como, de forma geral, é o jornalismo – tendo também o foco no trágico. Não houve uma mudança grande nesse sentido, contudo, a pauta ambiental passou a ser frequente no noticiário, especialmente no Brasil. Ainda defendo que não é preciso um chapéu de editoria “ambiente”, mas, sim, uma cobertura de jornalismo especializado que apresente o contexto da situação.

Anos de discussão em torno da preocupação mundial desde o Dia da Terra de 1970; a publicação do estudo Limites do crescimento, em 1972, pelo Clube de Roma, que é considerado um marco na história do pensamento ambientalista; o Relatório de Brundtland de 1987; diferentes conferências como a Rio-92 e Rio+20; publicações do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC, desde a formação em 1988), e as Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que já vai na 25ª edição; até a imagem da Terra vista da Lua realizada em 1969 tem sido questionada.

O significado da expressão “desenvolvimento sustentável”, definindo que o desenvolvimento é necessário, mas não deve comprometer a capacidade de recursos para as gerações futuras, introduzida no relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tem sido cada vez mais importante. Esse documento é mais conhecido como Relatório de Brundtland – pois a conferência foi presidida pela então primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland. Hoje é necessário ainda mais ressaltar quando é uma mulher que está à frente de iniciativas.

As notícias ruins se propagam mais, como já dizia Nelson Traquina e são elas que ajudam a expor o problema e provocar ação também. Acidentes como a explosão do reator nuclear Three Mile Island em 1979, o desastre de Chernobyl e o vazamento de produtos químicos no Rio Reno, em 1986, foram importantes para a comunicação ambiental e as primeiras mudanças na legislação internacional. Mas ainda é preciso que realmente se faça mais para mudar as políticas ambientais. O mais difícil disso tudo é a compreensão de que um valor monetário para compensação do dano ambiental não resolve, mas é, no mínimo, a única alternativa para tentar inibir ações, regulamentar e investir no local afetado, seja com limpeza, replantio, recuperação de espécies, entre outros.

O derrame de petróleo ocorrido no litoral brasileiro em agosto, desse ano, fez lembrar outro dos maiores acidentes na história, ocorrido há 30 anos: o vazamento de crude (petróleo bruto) do navio Exxon Valdez, em 1989, no golfo do Alasca. Foram 40 milhões de litros de crude ao mar.

Acidente em plataforma petrolífera. Foto: Skeeze / Pixabay

Em 2010, outro acidente marcou a história dos acidentes com petrolíferas ao causar a morte de 11 funcionários da empresa e o vazamento de 3,2 milhões de barris de petróleo no Golfo do México após a explosão da plataforma Deepwater Horizon, da petrolífera britânica BP. O acidente foi notícia recentemente justamente referindo o valor que a empresa teve que pagar: 65 bilhões de dólares “e a conta continua a aumentar” segundo reportagem publicada pela revista Época Negócios, em fevereiro de 2019.

A Reuters também fez um levantamento em 2015 referindo o aumento da morte de golfinhos, entre 2002 e 2009, de 63 por ano para 200 (por ano) a partir de 2010, em consequência do contato com petróleo. A agência americana NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration – identificou ainda, em um estudo de 2016, que a gestação dos golfinhos não chegavam ao fim em 80% dos casos devido à exposição e petróleo.

No caso brasileiro, ainda não se tem a total dimensão do problema. Aumentam as notificações de praias em que o petróleo é visto. Em 17 de novembro a conta ultrapassava 450 praias e as manchas atingiram o litoral do Espírito Santo. No jogo de empurra e acusações falsas sobre a origem do petróleo, ainda pouco se reflete sobre o dano ambiental. As manchas visíveis do mar ainda podem ser removidas da água, mas o maior problema é o petróleo em contato com animais, corais, mangues, o ingerido pelos animais e, ainda, por humanos nessa cadeia alimentar.

A responsabilização é primordial para que se tomem as medidas necessárias. No caso do vazamento do Golfo do México, a empresa ainda hoje responde. Mas no Brasil como isso vai funcionar?

O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana no estado de Minas Gerais, em 2015, liberou 40 milhões de metros cúbicos de resíduos da mineradora da Samarco que contaminou rios e mantou 19 pessoas. Três anos depois outro rompimento, da barragem de rejeitos da Mina do Feijão, no município de Brumadinho, no mesmo estado. O que realmente mudou de Mariana a Brumadinho?  É fato que mais de 20 barragens estão em alerta em Minas Gerais, a maior parte delas sob responsabilidade da empresa Vale, que atuava em Brumadinho. Foram as universidades, moradores, organizações não-governamentais e técnicos de alguns órgãos que assumiram as atividades nos locais. Pouca coisa mudou para o caso do derrame de petróleo nas praias brasileiras, o agravante foi o Governo Federal acusar o Greenpeace de causar o derrame, assim como fez em agosto ao acusar ONGs pelas queimadas na Amazônia.

Segundo dados do INPE, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento aumentou cerca de 30% entre agosto de 2018 e julho 2019. No entanto, os maiores incêndios na Amazônia aconteceram em agosto. Foram 30.901 focos de incêndio registrados, segundo dados do Programa Queimadas do INPE em agosto e sabe-se que os incêndios seguiram no mês de setembro, 80% a mais do que em 2018, no mesmo período.

É preciso que esses fatos estejam na mídia. É preciso acompanhamento sobre os impactos hoje e a longo prazo, não podemos esquecer. Precisamos de respostas, precisamos de ações, precisamos de exemplos e conscientização.

 

Alice Dutra Balbé, doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

 

A natureza se recompõe na cidade de fantasma de Chernobyl. Foto: Денис Резник / Pixabay

Escrevendo um artigo sobre jornalismo ambiental com o tema de como a vida selvagem de Chernobyl prospera na região, percebi a ausência de importância para um assunto “ilógico” e positivo, como é a onipotência da natureza. O recado foi dado: em meio ao caos, a natureza, o ecossistema daquela região se adaptou, conseguindo resistir e se desenvolver sem a ajuda do homem. Uma situação bem diferente a do homem que precisa da natureza para sobreviver. Com isso, podemos fazer uma reflexão sobre o quão nocivos somos ao nosso planeta. Será que estamos no caminho certo? Populações de animais  selvagens prosperam, atingem resultados muito melhores em um ambiente extremamente hostil, longe de nós, seres humanos. A radioatividade “protege” a vida selvagem de Chernobyl, cria um muro, nos afastando dela. Não que essa proteção seja boa, que não cause algum dano, mas incrivelmente para a fauna daquele lugar, é melhor que do lado de cá do muro.

O homem, desde o início da história, está numa infinita e cansativa busca pelo conhecimento. Desde o fogo à roda, as curas para as doenças e as novas tecnologias. Estamos em um ritmo frenético, não conseguimos parar, respirar, olhar ao nosso redor e perceber, como nosso planeta é frágil. Os veículos de comunicação têm a capacidade de nos instigar a pensar, de sensibilizar a sociedade em diferentes esferas sociais. O tema ambiental precisa ser mais explorado. Atualmente o jornalismo é pautado mais no lucro e menos na qualidade. E se o jornalismo atual está se reinventando, podemos fazer uma analogia com a vida selvagem de Chernobyl que se reinventa para conseguir sobreviver.

No Brasil a imprensa costuma se preocupar com questões ambientais em ocasiões que envolvem catástrofes naturais ou acidentes ambientais. Geralmente com bastante repercussão nas primeiras semanas, que vão perdendo a força e, em pouco tempo, quase caem no esquecimento completo. O que não difere muito das coberturas jornalísticas no resto do mundo. Com esse panorama podemos fazer a pergunta: o jornalismo ambiental está sendo bem feito, a ponto das pessoas realmente se importarem com as questões ambientais do planeta?

Hoje com os inúmeros meios de comunicação e tecnologias midiáticas, a informação se propaga na velocidade da luz, e o jornalismo ambiental precisa chegar a todas as camadas sociais, desde o mais pobre até os lideres das nações. Uma revolução de pensamento, uma mudança na maneira que encaramos a questão ambiental é necessária, tanto social quanto cultural. Precisa acontecer uma transformação na qual animais selvagens não precisem de ecossistemas radioativos para viver.

Por Fabian Lisboa é acadêmico de jornalismo na UFN 

 

 

 

Projeto Conceição: dia de gravar poadcast na UFN. Foto: Patrício Dias de Freitas/LABFEM

Sexta-feira, 23, foi dia de criança gravar podcast nos estúdios dos laboratórios de rádio do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana. Os pequenos fazem parte da turma multisseriada da Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora da Conceição e vieram gravar o primeiro podcast do projeto Conceição.

O poadcast  aborda questões do filme de animação Detona Ralph, uma animação da Disney ambientada no universo dos arcades e consoles dos anos 1980 e 1990. Na trama da animação, Ralph  é um vilão de um jogo de videogame que está disposto a provar que também pode ser um mocinho. As questões subjetivas do filme como amizade, sonhos, objetivos, noções de ética, empatia, respeito, solidão e tristezas fizeram parte do debate que definiu o roteiro de gravação. Na escola, o projeto é desenvolvido pelas acadêmicas Caroline Comasseto e Luíza Rorato. Para Caroline ” foi muito bom poder finalmente gravar o podcast. As crianças estavam bem empolgadas e se dedicaram nesse trabalho. Acredito que elas também gostaram. Os próximos episódios serão gravadas com menos tempo entre eles”.

A ação integra o projeto de pesquisa que investiga como professores e alunos da escola pública municipal e de Organizações Não Governamentais da área de atuação dos cursos da Universidade Franciscana (UFN) utilizam e desenvolvem estratégias de aprendizagem midiática, tanto em ambientes formais de educação e ensino, como em ambientes não-formais. Coordenada pela professora Rosana C. Zucolo, a pesquisa tem como foco as as práticas docentes em escola públicas e Organizações Não Governamentais, e busca saber como os jovens aprendem com os meios de comunicação e como os professores utilizam e se relacionam com os meios de comunicação.

O podcast gravado é o primeiro de uma série  de 10 episódios que estará disponível na plataforma soundcloud do Projeto Conceição, que já comporta a rádio novela O Tempo Voa produzida pelos alunos da escola no segundo semestre do ano de 2018, e integraram o projeto experimental em jornalismo das acadêmicas Caroline e Luíza.

O estudo sobre quem são os proprietários da mídia no Brasil  e denominado Monitoramento da Propriedade da Mídia no Brasil foi publicada pelo Intervozes e pela Repórteres Sem Fronteiras. A pesquisa revela que muitos dos veículos de maior audiência no país são também parte de grupos econômicos. Realizada em 2017 e publicada como série no Le Monde Diplomatique Brasil, o objetivo do MOM-Brasil é deixar visível quem controla a mídia brasileira. Foram analisados 50 veículos de maior audiência da comunicação brasileira, investigando os grupos e pessoas por trás desses meios.

O Media Ownership Monitor (MOM) é um projeto global que, através de uma metodologia padronizada, desenvolveu uma ferramenta de mapeamento que gera um banco de dados disponível publicamente, com informações sobre os proprietários dos maiores veículos e os grupos de mídia detentores desses meios, além de suas relações políticas e interesses econômicos. A informação é publicada em um site, em inglês e na língua local, e constantemente atualizada. O projeto também fornece uma contextualização de cada país, assim como uma análise de seu mercado de mídia e do marco regulatório do setor.

No Brasil, os pesquisadores são Olívia Bandeira, jornalista, doutora em Antropologia e integrante do Intervozes, e André Pasti, mestre em Geografia, professor do Cotuca/Unicamp, também integrante do Conselho Diretor do Intervozes e coordenador da pesquisa MOM-Brasil.

Como dito antes, foram 50 veículos pesquisados que, ao longo do estudo,  verificou-se serem controlados por 26 grupos e empresas. Desses 26 grupos, 21 deles, ou seus principais acionistas, possuem atividades em outros setores econômicos, como educacional, financeiro, imobiliário, agropecuário, energético, de transportes, infraestrutura e saúde.

No primeiro artigo analisado, foi colocado como o exemplo a disputa entre o empresário da mídia Silvio Santos e o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, foi observado com isso que são dois modos distintos de ver as cidades: seus terrenos devem estar disponíveis a interesses privados, dando ênfase a seu valor de troca, ou o planejamento urbano deve levar em consideração o valor de uso.

Os pesquisadores relataram que as relações entre os grandes grupos de mídia brasileiros e o agronegócio são antigas, como conta a história do Grupo Folha. Essa ligação pode ser observada hoje em outros grupos, como Globo, Objetivo, RBS, Bandeirantes e Conglomerado Alfa. Como exemplo dessa questão agrícola, estão os membros da família Marinho, que são donos de diversas fazendas e empresas de produção agrícola, algo que ajuda a compreender as motivações dos bilionários donos do Grupo Globo quando sua rede de TV lança a campanha “Agro é Pop, Agro é Tech, Agro é Tudo” – informes publicitários que buscam criar uma imagem positiva do agronegócio.

Se pensarmos na questão religiosa, na mídia religiosa, hoje ela não é composta apenas por veículos de nicho. Os conteúdos religiosos circulam cada vez mais nos grandes meios de comunicação, seja naqueles que se definem como religiosos, seja nos veículos de interesse geral. Esses conteúdos muitas vezes são explícitos, outras, nem tanto, é preciso atenção.

Entre os cinquenta veículos de maior audiência no país, considerando os meios impressos, online, rádio e TV, nove deles são de propriedade de lideranças religiosas, todas cristãs, dominantes no Brasil. Entre as onze redes de TV de maior audiência, três são de propriedade de lideranças evangélicas (Record TV, Record News e Gospel TV) e uma de liderança católica (Rede Vida). Entre as doze redes de rádio, duas são evangélicas (Aleluia e Novo Tempo) e uma católica (Rede Católica de Rádio). Isso é chocante, mas para mim, não é surpreendente.

Já entre os dez sites de maior audiência e os dezessete veículos impressos pagos de maior tiragem, aparecem dois de propriedade de lideranças religiosas: o portal R7 e o jornal diário Correio do Povo, ambos do bispo evangélico Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).

Em um dos artigos, li o seguinte: “Ao assumir a presidência da Câmara dos Deputados, em 2015, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-membro da igreja Sara Nossa Terra e atual integrante da Assembleia de Deus Ministério Madureira, afirmou que “aborto e regulação da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”.

A frase diz muito sobre a forma como igrejas cristãs têm atuado no Brasil nas últimas décadas”, esse argumento é a mais pura realidade, as igrejas cristãs, desde sempre manipulam as ideias da sociedade, e hoje em dia, isso não é diferente.

A continuação daquele argumento é de que as lideranças evangélicas e católicas atuam na esfera pública em defesa de valores considerados por elas como cristãos, sob a justificativa de que estariam agindo “em nome de Deus” e do direito de terem seus interesses representados, em uma visão de democracia que a define mais como um governo da maioria do que como um governo de todos.

A programação dessa mídia religiosa é voltada para a defesa de valores considerados como cristãos, e coincidem com grande parte da atuação de igrejas evangélicas e católicas no sistema político brasileiro. A defesa de questões morais, da chamada “família tradicional”, a condenação da homossexualidade e do aborto são algumas pautas que reúnem grande número de evangélicos e católicos de diferentes correntes doutrinárias em sua atuação no Congresso Nacional.

O mais importante de observar nesses artigos é que nada é feito na ingenuidade, na inocência. Tudo que vemos e lemos na mídia tem um grande controle por trás. É um negócio, é movido por interesses financeiros, empresariais, políticos e religiosos. Temos que desconfiar de tudo aquilo que a grande mídia nos impõe diariamente. Como futuros jornalistas e leitores temos que buscar novas fontes, nova informações, diferentes pontos de vista.

Sarah Vianna,acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana.

Márcio Tascheto utilizou elementos da série Black Mirror para embasar sua fala no XXI SEPE. Foto: Juliano Dutra

“O futuro não é um espelho negro – tecnologia, tempo, cidade” foi o título da conferência ministrada por Márcio Tascheto da Silva, na manhã desta sexta-feira, 06, no Conjunto I do Centro Universitário Franciscano. Graduado em História pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutorado em Educação pela UFRGS, Márcio usou a temática apresentada na série britânica “Black Mirror” como base para sua apresentação, separando-a em três eixos: tecnologia, tempo e cidade.

O professor buscou desconstruir a conotação sombria e pessimista criada por Charlie Brooker em seu seriado, dando foco as inúmeras possibilidades oferecidas pelas inovações do ramo digital.

Quanto à tecnologia,  destacou duas consequências de sua existência: a tecnofobia (medo e superstição acerca dos meios digitais) e tecnofilia (dependência e crença na salvação da humanidade a partir do uso tecnológico). Também dá ênfase aos quatro tipos de leitores citados no trabalho de Lucia Santaella, uma das principais estudiosas da semiótica do país: o leitor contemplativo, movente, imersivo e ubíquo. Os dois últimos se referem ao estilo de leitura desenvolvido na era digital, sendo a ubiquidade uma característica predominante na atualidade, por meio da qual se está conectado aos acontecimentos em tempo real e de maneira onipresente.

A quebra da linearidade temporal englobou o segundo eixo, no qual, Márcio classificou o tempo como material plástico, o que implicaria sua constante modificação, ocasionando na desconstrução do passado histórico fixo. “O futuro também é ubíquo, já que está presente no dia a dia, embora mal distribuído”, disse ele.

A temática das subjetividades contemporâneas foi definida em cinco características: o endividamento, midiatização, securitização, representação e velocização; todos relacionados à modificação das rotinas modernas com relação ao ritmo acelerado da atualidade. Nesse contexto, o professor apresenta a cidade no centro das possibilidades educativas e frisa a importância do projeto “Cidade Educadora”, que foi adaptado para a UPF com o nome “UniverCidade Educadora” e conta com a iniciativa “Vidas em Movimento” (registros de moradores da cidade de Passo Fundo) e o aplicativo “Rotas Literárias”, um game inspirado nos jogos de mistério, que auxilia na formação de leitores e admiradores da literatura brasileira.

 

Observatório da mídia CS-02Norberto Bobbio, historiador e filósofo italiano ligado aos pensamentos jurídico e político, escreveu em um de seus livros, A Era dos Direitos, que a transição do século XX para o XXI marcava a era do Poder Judiciário. O século XX fora o período do Poder Executivo, da crença nos grandes líderes em meio às guerras e à instauração de novos regimes; anteriormente, o XIX, em meio ao florescimento do pensamento liberal, havia sido a era do Poder Legislativo, da representatividade.

O caminho repleto de percalços da história do Brasil registra pelo menos um golpe político correspondente a cada era de esplendor dos três poderes, coincidência ou não. Cada qual com as suas devidas desculpas e subterfúgios, mas todos eles de caráter conservador. Há ainda outro detalhe curioso: o termo “Quarto Poder” foi cunhado no século XIX, na Inglaterra. Em paralelo a todas estas transformações da Idade Contemporânea, a Mídia sempre esteve lá, desempenhando algum tipo de papel. Talvez nunca como protagonista, mas saindo sempre fortalecida com o passar de cada período histórico, mantendo a sua regularidade de ganho de influência através dos séculos. Falar do cenário político no Brasil a partir da Era Vargas é ter de obrigatoriamente dedicar um capítulo especial à imprensa.

“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. A frase em questão, atribuída ao líder revolucionário bolchevique Vladimir Lenin, caberia bem como uma frase de efeito sobre 2016, ano que foi marcado por uma sucessão de importantes acontecimentos no cenário político nacional como há muito não se via. A abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff no fim de 2015 fora uma prévia do que estava por vir: a agitação que havia mobilizado as ruas nos três anos anteriores finalmente chegava aos três poderes, atingindo principalmente o Legislativo e o Executivo.

É provável que o momento político que mais permeie o imaginário do povo brasileiro seja o da votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. O show de horrores transmitido ao vivo em tevê aberta causou constrangimento até mesmo ao senso comum e àqueles favoráveis ao afastamento de Dilma. A maioria das manifestações dos deputados naquela sessão do dia 17 de abril foi inominável. Dedicatórias, motivações de cunho pessoal, argumentos absolutamente incompatíveis com a acusação que constava na peça processual. Na Esplanada, um muro dividia manifestantes a favor e contra o impeachment tal qual torcidas organizadas – e, sejamos honestos, o grau de paixão e de polarização política no Brasil pelo menos desde as eleições de 2014 vem superando o que acontece no futebol. Mas não se deu aí o encontro mais interessante dos quatro poderes.

Em março, um mês antes da tragicômica votação na Câmara, a mídia se via diante de duas cenas envolvendo os mesmos protagonistas: Lula e Sergio Moro. A primeira delas, a condução coercitiva do ex-presidente para prestar depoimento à força-tarefa da Operação Lava-Jato, acabou se tornando um espetáculo sem necessidade, tendo sido vazado de alguma forma para a imprensa antes de acontecer. O acontecimento causou um imenso furor, mas nada comparado com o que viria a seguir: poucos dias depois, Moro divulgaria para a imprensa áudios de conversas por telefone grampeadas envolvendo Lula, Dilma e o PT. Em ambos os episódios, mas principalmente neste, Sergio Moro foi alvo de duras críticas de juristas e advogados, já que havia derrubado o sigilo sem que houvesse prova coletada nos áudios. Segundo a lei, esse material deveria ter sido destruído. Quanto mais porque ali havia assuntos de foro íntimo.

Horas antes do vazamento dos áudios, Dilma havia anunciado Lula como o novo ministro da Casa Civil, numa estratégia de proteção à figura do ex-presidente após o episódio da condução coercitiva, já que isso garantiria a ele o foro privilegiado. Naquele momento não se sabia, mas a combinação destes dois acontecimentos do dia levaria a uma mistura explosiva, de efeito imediato e irreversível. Como interlocutoras e diretamente interessadas, a Globo e a filial Globo News trabalharam o tema à exaustão. Esta última foi incansável no período da tarde. Em Brasília, centenas protestavam na Esplanada, manifestação que, transmitida, seria rapidamente reproduzida em todo o Brasil. A um mês da votação na Câmara, o impeachment parecia ganhar uma batalha decisiva.

Dez dias após assumir interinamente, Michel Temer viu o seu recém-nomeado ministro do Planejamento cair na escuta telefônica. E dessa vez, ao contrário do que acontecera dois meses antes, o conteúdo dos áudios revelava uma bomba: Romero Jucá, em conversa com Sérgio Machado, argumentava que era preciso “estancar a sangria” que as investigações da Operação Lava-Jato estavam provocando, e que em breve chegariam à alta cúpula do PMDB. Estava escancarado o caráter golpista por trás do impeachment. Mais cedo e mais grave do que todos esperavam.

O complô manchava um processo já frágil em si mesmo, considerando que a própria peça utilizada para a abertura do pedido de impeachment vinha sendo alvo de críticas de muitos juristas e advogados por não haver nela material suficiente que sustentasse a teoria de crime de responsabilidade por parte da presidente. E jazia ali, naquele momento, uma prova irrefutável de um plano para derrubá-la, envolvendo uma das figuras mais próximas do presidente interino, parte diretamente interessada. Evidentemente o episódio não foi abafado. Mas a falta de uma elucidação maior sobre o caso e sobre o que estava em jogo por parte da mídia nos relembrou que a indignação, como qualquer outra coisa, pode ser seletiva. Como se portará a grande mídia diante de um escândalo que, dessa vez, envolve diretamente o nome do presidente da república?

matheus oliveiraMatheus Oliveira

Texto redigido para a disciplina de Legislação e Ética em Jornalismo

Observatório da mídia CS-02Os Jogos Paraolímpicos não estão envoltos pelo “glamour” que a grande mídia destinou aos Jogos Olímpicos, ainda que ocorram desde 1960, ano da sua primeira realização em Roma, na Itália. Longe disso! O esquema de transmissão das Paraolimpíadas 2016 na TV e na internet se mostra muito menor do que o realizado durante as Olimpíadas,  apesar do Brasil ter se destacado de modo ascendente nas últimas edições destes jogos.

Em 2004, em Atenas, o país levou 98 paratletas que ganharam 33 medalhas, enquanto os 247 atletas olímpicos voltaram 20 dias antes, com apenas 10 medalhas e foram recebidos por uma mídia efusiva e barulhenta.  Na edição seguinte dos jogos, em 2008, na cidade de Pequim, o Brasil ficou em nono lugar e entre os primeiros dez colocados no quadro de medalhas com 47 vitórias  e, em 2012, em Londres, obteve 43 medalhas e o sétimo lugar no ranking mundial. Nesta edição dos Jogos Paraolímpicos Rio2016  a TV aberta recuou na transmissão. Apenas o canal da Tv Brasil está acompanhando integralmente os jogos. A Tv Globo vem fazendo flashes em alguns dos seus programas e exibiu um compacto da abertura, enquanto a Record, o SBT e a Bandeirantes limitaram-se à cobertura jornalística. Quem tem Tv a cabo, canal pago, acessa pela Sportv que faz a transmissão em seus diferentes canais.  Um conjunto de ações que se mostra em nada, se comparado à divulgação exaustiva das Olimpíadas.

O por quê disso? Para além do marketing e do reconhecimento do paraesporte – o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), tem trabalhado fortemente a busca de patrocínio -, há a questão da cultura e das produções de sentido que as estratégias midiáticas acionam.

Ao se observar o contexto desigual das transmissões é possível pensar que a mídia estabelece um paradoxo entre os dois tipos de jogos: as Olímpiadas representam a sociedade idealizada, do gozo, da perfeição dos corpos, do alto rendimento, da disputa e do sucesso; já as Paraolimpíadas exigem que se olhe a deficiência,  o limite,  a exclusão,  a fragmentação,  a necessidade de superação como condição de sobrevivência.

Quem assistiu a abertura dos Jogos Paraolímpicos, belíssima, não deixou de se ver defrontado com o Outro, com o diferente habitualmente oculto. Eles entraram e eram muito mais heterogêneos do que as suas nacionalidades e etnias. Eram muitas corporeidades a manifestar a sua singularidade não camuflável. Não mais as equipes de corpos perfeitos de poucos dias atrás, mas aquelas cujos corpos foram mutilados, desfigurados  que, de repente, surgem muito mais  numerosos ( e poderosos) do que se imagina.

Se a imagem do paratleta perturba, é porque ela devolve, em espelho, a imagem da deficiência, da fragilidade da existência vivida por cada um, testemunhada nas marcas do corpo.  O deficiente é a própria encarnação da assimetria, do desequilíbrio, da disfunção. Revela-se como o oposto da perfeição tão cultuada no mundo ocidental, representada pelo atleta olímpico e propagada pela mídia.  O atleta com deficiência é o sobrevivente que traz as marcas da catástrofe. Pior, representa, de modo explícito, a fatalidade que acena, ameaça, ronda enquanto perigo potencial capaz de romper as bases de uma existência que está comodamente assentada.

A visibilidade midiática pode ser entendida como espaço de negociação de sentidos da sociedade. Sabe-se que suas representações interferem nas percepções individuais e coletivas do mundo, ainda que o ato de “olhar” nunca seja linear, porque multidimensional. No entanto, é possível perguntar em que medida a lógica midiática tem desviado, e se desviado, de temas nevrálgicos, capazes de levar à reflexão e à mudança social.

A mídia expõe e oculta, classifica e ignora, eleva e oculta, permanentemente, em diferentes níveis e contextos.  O fez durante os Jogos Olímpicos, elegendo os seus prediletos, esportes e atletas. Ocultou muitos outros. Volta a fazer novamente, de modo mais pernicioso porque quando não oculta, minimiza a condição da diferença. O modo como representa os paratletas envolve a compaixão, na medida em que os tornam símbolos de “superação”.  Sujeitos sobreviventes, readaptados numa sociedade pautada pela ideia de “normalidade”, em defesa da ordem vigente.

Ora, não se trata de solidariedade e sim, de confiança e respeito pelo diferente. Envolve uma questão ética que no campo do jornalismo, em particular, exige que se vá além do apelo emocional e se desdobre numa cobertura efetiva e equânime. Afinal, com exceção desta parca cobertura das Paraolimpíadas, a transmissão do paraesporte em competições importantes para o país praticamente não existe. Paratletas não são pautados. Será porque Narciso acha feio o que não é espelho, como diz a música do Caetano Veloso?

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Rosana C. Zucolo  é jornalista e mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria e doutora em Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Atualmente é  professora adjunta no Centro Universitário Franciscano e uma das editoras da ACS.

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Eveline Grunspan e Francine Antunes

Uma das redes sociais mais populares e com mais acessos é o Facebook, nele curtimos, comentamos e compartilhamos tudo. Textos e imagens, principalmente, são os formatos mais compartilhados e tem mais capacidade de tornarem-se memes. Quando uma imagem fixa ou em movimento é utilizada com frequência para tratar de assuntos diferentes, com um tom engraçado ou até irônico, denominamos esse fenômeno como um meme.  
Além de compartilhar um meme o usuário pode também remixá-lo para produzir algo diferente. Seus significados podem ser alternados, mas a ideia original continua a mesma, se propagando em diferentes plataformas digitais. De acordo com a pesquisa de Eduardo Biscayno de Prá, aluno do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano, apresentado no Salão de Iniciação Científica sobre “MEMES: UMA PROPOSTA DE CATEGORIZAÇÃO TEMÁTICA”, a internet, potencializa a propagação destes memes, mas não é possível calcular seu alcance ou seu resultado, já que cada um entende aquela mensagem de acordo com o contexto em que está inserido.

Um exemplo recente que podemos citar é a imagem de John Travolta no filme Pulp Fiction de 1994. A história do gif criado com a imagem de Travolta trouxe a tona outras tantas possibilidades de remixagens, quando, o então criador do meme, disponibilizou o molde com o ator em um fundo verde. Todas essas mudanças de fundo utilizando o meme central são remixagens, que estão categorizados como fenômenos regidos pela cibercultura. A imagem teve uma uma grande audiência e um grande impulsionamento nas redes sociais, isso devido a Mídia Propagável, conceito utilizado por Henry Jenkins e Joshua Green, gerada por usuários que compartilham, comentam, curtem e também se apropriam da imagem remixando-a. Um outro exemplo de mídia propagável, de acordo com professor de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, Maurício Dias, é quando o próprio Facebook oferece a opção de adicionar à minha imagem de perfil um filtro ou moldura referente: a bandeira da França que está relacionada aos atentados, as cores da bandeira GLS, ou a bandeira do Brasil com lama representando o desastre em Mariana. Quando os usuários alteram suas imagens eles estão se identificando ou sentem-se comovidos com as situações que estão sendo apresentadas, e mesmo que indiretamente eles estão propagando isso. Caso contrário, se não fizessem uso desse recurso, seria apenas mais uma  ferramenta disponível e sem visibilidade.

Para diferenciar mídia propagável do termo viral, Jenkins e Green defendem a ideia do viral ser um termo errado quando usado para obter-se o sentido de disseminar e agregar, pois viral remete a palavra vírus, algo negativo, que você não quer receber. Logo podemos entender por viral aquela propaganda indesejada nas redes sociais, o spam nos e-mails ou as correntes que são repassadas entre usuários: “a gente não dissemina algo que a gente não gosta”, esclarece Dias.  

Algumas páginas como Gina Indelicada e Mustafary construíram suas identidades e se destacaram nas redes sociais, isso a partir de uma ligação entre o criador e os usuários da página. No caso da Gina Indelicada o criador Ricck Lopes explicou em entrevista à revista Época Negócios que antes de dar vida à Gina, ele fazia experimentações em uma outra página, na qual testava estratégias comunicacionais e de aproximação com o público da web. Fazendo isso ele percebeu os formatos que mais repercutiam, e assim, resolveu investir na produção de conteúdo ligado a figura representativa da marca de palitos de madeira. Diferente do personagem criado por Marco Luque. Mustafary: um personagem com gírias regionais baianas, entonação e aparência caricata, histórias cotidianas que  somando o conjunto de ações, construiu uma ligação entre telespectadores e internautas. O personagem foi apresentado no programa Altas Horas, na Tv Globo, e devido à audiência do programa passou a integram outras mídias como Youtube, Instagram e Facebook. O vídeo onde o baiano aparece com um cachorro em uma praia, gerou muitos memes, tais como o momento em que ele se refere ao cão como ‘serumaninho’. Esta expressão repercutiu nas mídias pois foi um gesto espontâneo de afeto entre uma pessoa e um animal. Esse cenário foi revertido no momento em que o cão começa a atacá-lo, e por meio de xingamentos totalmente opostos à forma delicada que iniciou o diálogo, acabou tornando a cena ainda mais cômica. De ‘serumaninho’ à ‘demônio’.

Percebemos nos dois casos que tudo pode ser um meme. A fala do baiano, as palavras utilizadas e sua caracterização. O tom humorado da mulher indelicada que é sincera e tem resposta para tudo. Esses fatores são conhecidos pelo público, formando um contrato de leitura entre a página e os usuários, como explica Dias: “sabendo que a personagem se denomina indelicada, sei que se eu enviar uma pergunta idiota vou acabar recebendo uma resposta direita e ‘indelicada’. Sei a proposta da página, então não vou me sentir agredido ou desrespeitado, porque eu entendo como funciona este contrato”.  É importante destacar novamente que os memes apenas existem quando são propagados pelas mídias, nem todo o conteúdo produzido com a intenção de virar um meme, se torna um.

De certa forma, todos podemos nos apropriar das ferramentas que a internet oferece, e temos todas as mídias em nossas mãos para criar conteúdo. O que difere esse conteúdo de um meme é justamente a forma como ele se dissipa na rede, em forma de frases curtas, imagens engraçadas, atitudes nas quais nos identificamos e queremos compartilhar com outras pessoas. E é assim que essa rede de compartilhamento cresce. A internet oferece isso, com a possibilidade de reconfiguração e mutação de sentidos, através de uma evolução histórica em diferentes quesitos: seja na linguagem, no comportamento de uma comunidade ou geração, nos valores regionais, etc. A cibercultura reúne todos esses fenômenos, gerando ainda mais possibilidades de recriação, seja de quem pensa e forma o produto, quanto de quem o recebe e o transforma.

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Eveline Grunspan,  21 anos, natural de Santa Maria. Acadêmica de jornalismo, no Centro Universitário Franciscano, atualmente cursa cadeiras do sexto semestre.

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Francine Antunes, 21 anos, acadêmica de Jornalismo admira o poder das palavras. Valoriza a atitude do bom jornalista que relata com humanidade os fatos. Acredita que sua transformação como sujeito somente é possível devido a cada história ouvida e compartilhada.

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Bruna Guehn

O artigo analisado com o título “Mais Batman, menos Super-homem: uma metáfora dos quadrinhos para o estudo do jornalista multitarefa” foi produzido pelo doutorando Alexandre Lenzi, do Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. O trabalho foi apresentado durante o XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado na cidade de Joinville, no ano de 2015. O artigo traz à tona um assunto muito pertinente aos estudos de comunicação social e que, cada vez mais, tem ganhado visibilidade nas empresas jornalísticas.

Encontramos muito no texto os termos “jornalismo multimídia” ou “jornalista multitarefa”. Podemos dizer, que o trabalho evidencia por meio do case UOL TAB – a nova seção multimídia do portal UOL – como as empresas/jornalistas estão se virando nessa era digital, onde tudo ocorre instantaneamente e com constantes mudanças e novidades. A grande questão a esclarecer é que com o advento das tecnologias e a “boom” considerado diário (a todo momento) da internet, o fazer jornalismo modificou-se – ou vem se modificando. Consequência disso, os jornalistas também estão precisando se inovar ou se especializar em outras áreas. No entanto, o profissional ideal para contemplar as exigências – cada vez mais frequente – das empresas é o “faz tudo” ou, como prefere o autor do texto,  “pau para toda obra”.

Levando em consideração a metáfora que o trabalho traz, que é de tratar o jornalista como um Super-homem, o ideal é profissional que possa realizar de tudo dentro da redação e do serviço imposto pela empresa. Contudo, não é possível fazer todos os ofícios dedicando-se com a mesma qualidade de produto. Para isso, existe diferentes graduações, especializações, entre outros. Combinar todas as plataformas, modos de agendamento, conteúdos diferenciados em um só profissional não é uma alternativa positiva.

Em meio à crise econômica que enfrentamos no país atualmente, despedir profissionais é um método de enxugar a equipe e economizar. Porém, os proprietários das empresas jornalísticas querem um “superprofissional”, mas pagando pelo serviço de um. Então além de sobrecarregar o jornalista o salário continua o mesmo, se o mesmo estivesse cumprindo somente a sua função.

Então, hoje, um jornalista deve pautar, apurar, procurar fontes, gravar a matéria – caso for para a TV, e se não for, é necessário filmar (nem que seja pela câmera do celular, em formato de “selfie”, a notícia para reter conteúdo para o jornal online), fotografar, escolher as imagens, escrever o texto tanto para o impresso quanto para o online, corrigir o próprio texto (editar) e ainda, publicá-lo. Sem falar, nas exigências de pensar a pauta antes mesmo de sair para produzi-lá. Fotos, infográficos, vídeos, como vou projetá-la em cada plataforma.

O artigo traz muito bem essas questões e vai além, justifica o porquê isso não é a alternativa mais correta ou indicada para reproduzir nas rotinas de produção. O jornalista é conhecido por ser formador de opinião. Por construir o que as pessoas vão consumir de notícia, dizer a elas o que é de fato um acontecimento. Além é claro, da perspectiva de que o jornalismo é um recorte (filtrado) da realidade. Com essa demanda e compromisso, o profissional deve desempenhar muito bem a sua função de perito. Ou seja, checar e averiguar se todas as informações que serão repassadas a população são de fato, verídicas e fundamentas pelas fontes/testemunhas/entrevistados.

Sendo assim, sobrecarregar os serviços desse profissional pode colocar em risco a credibilidade da empresa. Já que, com a necessidade de contemplar e produzir conteúdo para todas essas plataformas a apuração das pautas pode ficar em segunda mão, pois, com a correria e a pressão, faz com que a checagem e “rechecagem” passem por despercebidas. As redações convergentes ou integradas, podem funcionar muito bem, porém com um diferencial. A equipe e trabalho coletivo. As empresas jornalísticas devem ter profissionais de diferentes áreas sem ser somente o jornalista. Designers, programadores, publicitários, todos podem trabalhar e funcionar muito bem. Toda via, cada um com a sua função.

Podemos colocar, que o mercado de trabalho, por vezes, deseja formar pessoas. Formar no sentido de graduar, de dizer a elas que podem desempenhar tal função. Isso se deu muito, ao meu ver, pela revogação do diploma para jornalista. Mas, por isso, não quer dizer que todos podem realizar o serviço de forma correta e ética como tal profissional voltado a cada área. Então qual seria a solução mais certa nestes casos: contar com uma equipe capacitada e que posso interagir entre si para complementar e melhorar o conteúdo do jornal. Os cortes de custos e profissionais não é a melhor saída se você (empreendedor) preza pelo compromisso e credibilidade de sua empresa. Ou, se caso essa for a alternativa, de idealizar um “super jornalista” que se pague de acordo com trabalho exercido.

Este é o exemplo utilizado no artigo, da nova alternativa digital do portal UOL, o TAB. Segundo Lenzi (2015), por meio de entrevistas as informações obtidas é que “os três repórteres da empresa afirmam que jornalistas, designers, câmeras/editores de vídeo e webmaster participam de toda a concepção de cada reportagem. ” (LENZI, 2015, p.12). Esta é a vantagem de se ter uma seção voltada apenas para o multimídia com profissionais capacitados para cobrir cada área. Sem aglomeração de funções, mas com integração e troca de informações.

Assim, o ideal trazido pelo autor é que o mercado deixe de procurar por super-heróis. E se, ainda é possível usar a analogia, podemos pedir por mais Batman e menos Super-homem, como retrata o título do texto. Ou seja, menos exigências profissionais carregados de funções e mais jornalistas reais que trabalhem em equipe com outras áreas e contemple tudo o que um jornal precisa. Seja ele impresso, digital, televisivo ou radiofônico.

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Bruna Guehn, 20 anos, é acadêmica de jornalismo e descobriu o amor pela televisão e a paixão pelo rádio. Na literatura se permite viajar nas aventuras de Agatha Christie e, como boa futura jornalista, acredita que sua função pode contribuir para um mundo melhor.