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Minorias

A representatividade das minorias na mídia nacional

A representatividade midiática é o ato de representar comunidades e grupos por meio de veículos de comunicação de grande alcance, como o cinema, a televisão, o rádio e os jornais. A mídia tem a tarefa importante de

Nos nossos olhares, o outro. Fotografia de minorias ou da riqueza das misérias

Mesmo vivenciando o século 21 e uma sociedade dita pós-moderna, com avanços em diversos setores e dos mais variados tipos e abrangências – científicos, sociais, tecnológicos, políticos, humanísticos – contraditoriamente também vivemos os antagonismos que permeiam

Arquivo ACS

A representatividade midiática é o ato de representar comunidades e grupos por meio de veículos de comunicação de grande alcance, como o cinema, a televisão, o rádio e os jornais. A mídia tem a tarefa importante de representar minorias, dando voz e força para aqueles que lutam contra preconceitos e estereótipos construídos ao longo do tempo.

Um exemplo de representatividade na mídia é um filme ter grande parte do seu elenco negro e ocupando  papéis importantes para trama. A representatividade existe na mídia nacional e está caminhando para melhorar, mas é ainda muito mal distribuída, e os grupos que realmente necessitam dela, muitas vezes, acabam não sendo representados da forma que deveriam. Na verdade, muitos acabam  sendo humilhados ou estereotipados pelo próprio complexo midiático, contribuindo ainda mais para uma cultura que exclui minorias pelo preconceito. Umas das formas incorretas de representar o negro, por exemplo, é generalizar ou usar termos em uma matéria que indicam que o “bandido” só é bandido, porque é negro. Ou mesmo insinuar que os demais da mesma etnia também o são.

Acontece muito de jornalistas darem voz a fontes com discursos que incitam o ódio, também uma forma de representar o outro de forma negativa. O uso incorreto resulta em propagações de preconceitos e padrões de comportamentos que muitas vezes são tóxicos para as pessoas. Outro exemplo de representatividade distorcida é o fato de colocar uma mulher em uma posição frágil e delicada, na qual ela sempre precisa de um homem para dar o próximo passo. A propagação desse padrão nas grandes mídias tem um efeito negativo na sociedade, onde meninas crescem achando que esse é o jeito de agir, que elas não precisam pensar por elas mesmas porque o homem vai fazer todo trabalho,ou seja, é a representatividade negativa que acaba estimulando uma cultura machista de comportamento feminino. E quem ousar a agir de forma contrária, acaba sofrendo julgamentos.

A representatividade também possui o poder de fazer o bem e realmente mudar a vida de uma pessoa, pois se ver na mídia e se sentir verdadeiramente representado causa um efeito de motivação de sonhos que já até estavam desacreditados. Os meios mais eficazes para distribuir a representatividade de forma justa e que beneficiasse a todos seria diversificar todas as produções que alcançam o grande público, principalmente com séries e filmes. Hoje em dia ainda há exemplos de filmes e séries com protagonistas negros, LGBT+ ou mulheres fortes, e mesmo eles sendo poucos já fazem uma grande diferença em uma sociedade que se nega a abrir os olhos para as diferenças.

Uma produção cinematográfica nacional que é exemplo de representatividade das mulheres é a série “A Coisa Mais Linda”, que retrata claramente o machismo e o sofrimento de mulheres na década de 50. Além do fato da produção contar com três protagonistas mulheres e uma delas ser negra, o enredo mostra as dificuldades das mulheres em serem donas de si mesmo e de suas decisões. Elas não podiam sequer assinar um financiamento, porque precisava da presença masculina, e isso é bastante chocante. Na época, era naturalizado o abandono do esposo para com a companheira, mas era “feio” ser mulher separada.  Um ponto em que a representatividade foi negativa,é o fato da figura da mulher negra ser representada através de uma pobre doméstica. Porque a negra não pode ser a mulher bem-sucedida?

As representações são constitutivas de cultura, sentido e conhecimento sobre nós mesmos e também as pessoas à nossa volta. Muito mais do que simplesmente refletir a realidade dessas representações nas mídias como filme, televisão, blogs, ou jornalismo impresso, elas criam realidades e normalizam visões de mundo específicas. Vale ressaltar que no Brasil, através de uma percepção particular, os veículos – principalmente Rede Globo de Televisão, quando dá visibilidade às minorias ou dão ênfase a discursos humanitários, acabam sendo confundidos com posicionamento ideológico. Mas isso é discussão para um outro artigo.

Andriele Hoffmann, acadêmica de Jornalismo da UFN

Mesmo vivenciando o século 21 e uma sociedade dita pós-moderna, com avanços em diversos setores e dos mais variados tipos e abrangências – científicos, sociais, tecnológicos, políticos, humanísticos – contraditoriamente também vivemos os antagonismos que permeiam a contemporaneidade e todo o progresso que já alcançamos. Se por um lado os avanços nos tornam cada vez mais sociedades “civilizadas”, igualmente nos tornam, cada vez mais, sujeitos desatentos com o outro.

A grande contradição de uma sociedade “evoluída”, no sentido mais amplo que esse conceito possa significar, está justamente no processo de inclusão que essa evolução não alcança ou, ainda, insiste em não abarcar. São as maiorias lançando esse outro a um lugar ou a uma condição de “miséria”; e de lá, desse lugar ou condição, o outro não é ouvido e nem enxergado, tornando o progresso evolutivo das sociedades mais desigual.

Mas esse outro tem nome. Ele existe e caminha lado a lado em nossos cotidianos… o outro, aquele que muitas vezes negligenciamos, ignoramos ou mesmo excluímos no processo de nos tornarmos uma sociedade evoluída, pode ser chamado de minoria; e são muitas, as minorias: os negros, as mulheres, os homossexuais, os deficientes físicos, os sujeitos com necessidades especiais, os índios, as pessoas da terceira idade e tudo e todos que ousarem ser diferentes… que ousarem, como se fosse deles a culpa, não “evoluir” e não igualar-se à maioria que compõe a sociedade contemporânea. Condição agravada pela quantidade de grupos que formam a minoria, se tornando, então, MINORIAS.

As minorias podem ser reconhecidas não por uma razão numérica e quantitativa, mas por uma relação qualitativa; relação essa que, mesmo insistindo em não reconhecermos, inaugura nos marcos dos avanços da sociedade as contradições desses próprios progressos. E isso nos faz questionar: para quem são todos os avanços sociais? A quem atingem todas as mudanças, aquelas que deveriam nos tornar mais humanos? Aquelas que deveriam nos fazer olhar e incluir nessa trajetória evolutiva todos os sujeitos e seres?

Dessa forma, ao olharmos para o lugar dado às minorias, nos deparamos bruscamente com uma das principais discrepâncias que a sociedade pós-moderna vivencia: a própria condição daquelas que nominamos como MINORIAS. E elas estão lá, ali e aqui… estão nas ruas em que passamos, nos lugares que não olhamos, no lado escuro e ensolarado do mundo, nas frestas, nas lacunas e na vida que insistentemente ousamos não ver, não ouvir. Também, nos pedidos, nas súplicas e nos olhares que tentam nos alcançar…

Nesse contexto, mas ampliando a nossa visão sobre o que é determinado como minorias, não se pode deixar de lado a questão e a causa dos animais de rua. Embora não sejam considerados sujeitos e pertencentes aos grupos minoritários, eles são igualmente parte de uma cultura de descaso e de negligência com o outro, com aquele que nos é diferente, com aquele que nos é indiferente.

Da evidente necessidade de visibilidade desses grupos, nos colocamos no lugar de “miséria” destinado às minorias – “os sem voz”. E a partir da circulação por esse lugar “desconhecido”, os alunos voluntários do Laboratório de Fotografia e Memória e os alunos da disciplina de Fotojornalismo II (ambos discentes dos Cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano), registraram as imagens que compõem a exposição que se apresenta.

O trabalho é o resultado de um projeto temático e de documentação fotográfica em queas minorias, conceitualmente estabelecidas ou reconhecidas como tal, foram fotografadas como condição de lhes oferecer a possibilidade de terem “voz”, de serem vistos e de se projetarem na existência da nossa sociedade. Também por isso, como uma forma de “provocação” aos que não “enxergam” as minorias, o local destinado à exposição das fotografias foge ao convencional plano normal[1], obrigando as maiorias a deslocarem sua visão e incluírem o outro na sua vivência.

Ainda, como modo de entendimento da metodologia que guiou o trabalho fotográfico que se apresenta, é importante ressaltar a relação da temática das imagens com o contexto da letra fragmentada da música Miséria, do grupo Titãs. A analogia com a palavra miséria não está no conceito literal de desventura, mas na triste constatação de uma indignante condição de “invisibilidade” social dos grupos minoritários… até mesmo daqueles que elegemos como negligenciados, ignorados e excluídos, caso do olhar posto sobre os animais abandonados à própria sorte, nas ruas de Santa Maria.

Assim, nos nossos olhares, o outro… esse que nem sempre vemos, mas que é e que existe.

Por Laura Elise de O. Fabricio, professora e coordenadora do Lab. de Fotografia e Memória da Unifra

[1] O olhar do ser humano, em pé, em relação à linha do horizonte.

Exposição minorias
A exposição fica na passarela do prédio 13 para o 14, no Campus II do Centro Universitário Franciscano.

Está em exposição no pátio do Conjunto III a intervenção Nos Nossos Olhares o Outro. Fotografias de Minorias ou a Riqueza das Misérias, sob orientação da professora Laura Fabrício do curso de Jornalismo e Publicidade de Propaganda.

A intervenção, que contém 104 fotos de autoria dos alunos da disciplina de Fotojornalismo II e aprendizes do Laboratório de Fotografia e Memória, fica exposto até o dia 20 de junho.

 

 

Fotos: Natalí Cunha (Lab. de Fotografia e Memória)