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Os Sete Magníficos e a representatividade feminina na mídia

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere,

Luz do mundo

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Projeto de lei prevê vagas para gestantes

Uma audiência pública debateu, na manhã de hoje, quarta 03, na Câmara de Vereadores, o Projeto de Lei 8794/2018, que reserva vagas para gestantes e mulheres com criança de colo em estacionamentos administrados por entidades públicas ou

Quando elas dizem não

“Me disseram que não era necessário participar do ato para fazer a diferença nesta eleição, mas com o meu voto. Concordei, em partes. Realmente, no próximo domingo, por meio do meu direito como cidadã (conquistado por

Coletivo Unas promove Encontro Feminista

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Elas são as protagonistas

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Mulheres gritam pela cultura

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A partir de 1983, quando o futebol praticado por mulheres foi liberado por lei no Brasil, milhares de meninas buscam por oportunidades tendo que lutar todos os dias por um esporte mais igualitário

Emanuely Guterres e Lavignea Witt*

Por haver a chamada distinção de gênero em diversas atividades do cotidiano, as mulheres tiveram — e ainda têm — que enfrentar muitas dificuldades para exercer algumas delas, que são majoritariamente praticadas por homens. Um exemplo é o futebol. Segundo a Federação Internacional de Futebol (FIFA), o primeiro jogo oficial de futebol entre mulheres ocorreu em 23 de março de 1883, em Crouch End, na cidade de Londres, na Inglaterra. Naquela ocasião, os dois times foram classificados como Norte e Sul, representando as duas partes da cidade em que a partida era sediada. Porém, o futebol já era praticado por homens desde o século XVII. 

No Brasil, as mulheres começaram a conquistar seu lugar no futebol entre os anos de 1908 e 1909, quando foram datados os primeiros jogos de futebol com jogadores mistos — homens e mulheres juntos. Conforme noticiado pelo jornal A Gazeta, o primeiro jogo oficial no país entre mulheres ocorreu em 1921. As jogadoras eram dos bairros Tremembé e Cantareira, da cidade de São Paulo. 

Segundo o Jornal da USP, em 1941, as mulheres foram proibidas de jogar futebol ou qualquer outro esporte “incompatível com as condições da sua natureza”. O decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941, foi criado na Era Vargas e vigente até 1983. Contudo, a proibição por lei não parou as jogadoras brasileiras, que continuaram jogando e resistindo ao Estado. Após mais de quarenta anos, em 1983, o decreto foi derrubado graças as muitas mulheres que defendiam que o esporte podia ser praticado por todos, sem exceção.

 

Equipe do Corinthians de Pelotas, na década de 1950. Foto: Divulgação via Futebol Feminino no Brasil.

Desde então, milhares de jovens mulheres buscam por seu espaço dentro do futebol tendo que enfrentar obstáculos que vão desde a dificuldade de inclusão no esporte até os vários tipos de assédio que enfrentam no dia a dia. Por ser praticado por mulheres, o futebol feminino no Brasil é categorizado por muitos como inferior, pois há muita comparação com o esporte praticado pelos homens. 

A Universa em Campo da Uol selecionou comentários de leitores postados em reportagens sobre o futebol feminino que mostram o machismo com relação às atletas, muitas vezes em questão da sexualização, e a qualidade do esporte praticado por elas. Abaixo, estão alguns dos comentários postados no site: 

“Acho o futebol feminino chato ao extremo. Não tem força física, habilidade e as goleiras aceitam tudo o que é chutado”

“Se tem uma coisa que é certa é que mulher não entende, não joga e não deve opinar em futebol. Não tem nada de machista. Certo é certo.”

“Ninguém gosta de futebol feminino. Mulher comentando futebol, então, é um desastre. Nesse caso sou machista: futebol é pra homem!”

Dificuldades no início de carreira

Após todas as contrariedades que impediam a realização do futebol entre mulheres e as dificuldades durante a busca por uma oportunidade, o esporte foi crescendo entre as jogadoras. Contudo, o cenário não é o ideal e as oportunidades são bem escassas, o que faz com que muitas meninas desistam de seu sonho. É o caso da ex-jogadora profissional Julia Pompeo, de 20 anos. Como a maioria das mulheres que iniciam sua carreira no futebol, Julia começou jogando somente com meninos em uma escolinha de futsal. Ela conta sobre as dificuldades de ser a única menina entre o time e os torneios que participava. “No início foi muito difícil, porque a gente jogava com outros times que também só tinham meninos e eles tinham aquele preconceito… Eu sentia muito isso, por exemplo, os meninos não iam até o final em uma disputa de bola, porque era menina”, relata.

Julia durante seu treino em 2018. Foto: Reprodução Instagram.

Com o passar do tempo, após conhecer outras meninas que também jogavam futebol, soube que poderia entrar em um time. Então, ingressou no time de futebol feminino do Sport Club Internacional, que era comandado por Duda Luizelli. Julia conta que essa oportunidade foi incrível para seu crescimento dentro do futebol, mas, após um ano dentro do time, rompeu o ligamento e teve que se afastar dos treinos. Após a sua recuperação, voltou a jogar mas desistiu do sonho, segundo ela, por falta de oportunidade. 

Em relação ao futebol masculino, as oportunidades de carreira dentro do esporte são bem diferentes, tendo em vista que a maioria dos clubes não investem em equipes femininas usando como justificativa o pouco retorno e visibilidade. 

Pensando em ajudar a mudar essa realidade, a Conmebol, em meio às mudanças que implementou em suas competições em meados de 2016, ordenou que os times que disputarem a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana terão de ter pelo menos uma equipe feminina. Sobre o requisito, o documento fala que “o solicitante (a disputar a competição) deverá ter uma equipe feminina ou associar-se a um clube que possua a mesma. Ademais, deverá ter ao menos uma categoria juvenil feminina, ou associar-se a um clube que possua a mesma”.

Além disso, os clubes deverão oferecer apoio técnico e toda a estrutura necessária para as equipes femininas, para que possam treinar e participar de torneios. Segundo Julia Pompeo, essa foi uma decisão muito importante pois mudou os rumos do futebol feminino no Brasil e em toda a América Latina, proporcionando uma maior visibilidade ao futebol feminino. 

Investimentos no futebol feminino nos últimos anos

Durante a Copa do Mundo de 2019, realizada na França, onde mobilizou milhares de brasileiros para assistir à seleção feminina, a Fifa revelou que irá realizar um investimento de US$ 1 bilhão na categoria e, mesmo com a pandemia do coronavírus, irá manter o mesmo valor. Segundo o site Rainhas do Drible, a ideia de Gianni Infantino, presidente da Fifa, não é somente realizar o investimento, mas também dobrar o valor da premiação e aumentar as equipes de 24 para 32, para o próximo Mundial em 2023. Contudo, segundo a Forbes, o investimento não é o suficiente para alavancar a categoria feminina de futebol: “Progresso e melhorias vão requerer mais do que só investimentos. A modalidade feminina precisa planejar o futuro em nível nacional e internacional ou correr o risco de virar uma modalidade olímpica”.

Além da falta de oportunidades, a questão dos investimentos também é um fardo que o futebol feminino carrega. Uma situação inusitada que aconteceu em outubro de 2020 chamou a atenção das mídias para esse problema. Pela segunda rodada do Campeonato Paulista de futebol, em 21 de outubro de 2020, na Arena Barueri, o time do São Paulo goleou o Taboão da Serra por 29 a 0.

São Paulo goleia Taboão da Serra por 29 a 0. Foto: Reprodução.

Apesar de o placar chamar muita atenção, um depoimento dado pela capitã do time do Taboão da Serra serviu para mostrar a dura realidade que os times femininos enfrentam no dia a dia quanto a estrutura dos clubes. Segundo Nini, o time do interior de SP possui pouco investimento e não possui nenhum apoio do clube. 

“Em pouca coisa o clube nos ajuda. É mais a vontade da comissão técnica mesmo. Ninguém tem salário, ninguém tem condução. A gente não tem roupa de treino, não tem apoio nenhum do clube. A gente simplesmente usa o nome do clube para participar do Campeonato Paulista porque acredita que é uma oportunidade para as meninas mais novas”, relatou a capitã à FPF TV. 

Com os olhares voltados para o futebol feminino durante a Copa do Mundo, muitos temas surgiram. Um levantamento realizado pelo EXTRA no ano de 2019, mostra que os 20 clubes participantes da série A (até então) investiam no máximo 1% de seus orçamentos no futebol feminino. O Santos liderava a tabela sendo o time que mais investiu. O Flamengo investe cerca de R$ 1 milhão, o que equivalia na época ao salário de um mês do Gabigol. Diante dessa situação, com o baixo incentivo e investimento a prática futebolística se torna quase impossível para as jogadoras. Levando assim, a esperança de o futebol se tornar um esporte igualitário em questão de investimentos e oportunidades. 

Questão salarial das jogadoras no Brasil

Além da falta de investimentos em equipamentos, lugares para treinos e preparação física, uniformes, entre outros, o futebol feminino também é financeiramente afetado na questão da disparidade salarial.  

Segundo o site de notícias da UOL, os contratos de jogadoras de futebol que atuam no Brasil possuem a duração de um ano. Isso quando existe realmente um contrato de trabalho, pois a grande maioria trabalha informalmente. Assim como é raro encontrar clubes que ofereçam carteira assinada às jogadoras. O Corinthians, por exemplo, começou a assinar os contratos de suas jogadoras a partir de 2019. 

A negociação, diferentemente dos times masculinos, não é feita a partir da compra de passes das jogadoras. Os contratos de trabalho são firmados entre clube e atleta de forma direta, sem necessidade de compra de transferência. Com a grande visibilidade proporcionada pela Copa do Mundo de 2019, os negócios mudaram consideravelmente, tanto em questão de contratos como de salário, mas a realidade ainda é difícil. 

Ainda segundo a UOL, as jogadoras que atuam na primeira divisão do Brasileiro, ganham em média até dois salários mínimos por mês. Ainda que muitos clubes tenham investido um pouco mais no futebol praticado por mulheres, o salário não passa dos R$3 mil. Valores insignificantes perto da folha salarial do futebol masculino. No São Paulo, por exemplo, o total de investimentos em 2019 chegou a menos de dois salários do jogador Daniel Alves, que equivale a R$1,5 milhão. 

Além disso, com a pandemia e o futebol paralisado em março, foi o suficiente para alastrar uma enorme crise financeira nos clubes, que afetou todas as categorias de jogadoras. Alguns clubes fizeram até redução dos salários dos jogadores profissionais para tentar amenizar a situação, assim como de jogadoras, mas muitas foram dispensadas durante esse período de crise mais acentuada. 

Em abril de 2020, a Confederação Nacional de Futebol (CBF) destinou cerca de R$150 mil para equipes da série A1 e R$50 mil para equipes da série A2, para tentar ajudar na folha salarial das jogadoras. Contudo, dos 52 clubes beneficiados, seis — Audax, Juventus, Autoesporte-PB, Santos Dumont-SE, Atlético-GO, Sport e Vitória — demoraram para repassar os valores para as jogadoras, que eram de R$ 500 a R$ 1000, o que resultou em piora do cenário para as jogadoras. Com a volta dos campeonatos na metade do ano, a situação foi sendo normalizada aos poucos. 

Em setembro de 2020, após anunciar as novas dirigentes para as coordenações de competições femininas, o presidente da CBF Rogério Caboclo, anunciou também que a entidade definiu a igualdade entre os valores das premiações entre as seleções masculinas e femininas. A equidade já havia sido adotada na convocação da equipe feminina para o Torneio Nacional da França. Em coletiva, o presidente afirmou que não há mais diferença de gênero em relação à remuneração na CBF. 

O assédio dentro dos campos 

Um dos problemas dentro do futebol feminino brasileiro é a questão do assédio. Além de sofrerem pelo assédio moral, ao serem questionadas sobre a sua qualidade dentro dos campos, as jogadoras também enfrentam o assédio sexual durante a prática futebolística. 

A ex-jogadora Julia Pompeo afirma que nunca sofreu assédio sexual físico, mas algumas situações já a incomodaram dentro de campo. “Sempre foi algo psicológico. Se eu colocava uma legging pra jogar bola, sempre tinha os olhares dos meninos. Algumas vezes já fomos treinar entre 11h e 12h da manhã, um horário com temperatura mais quente, e jogávamos sem a camiseta, somente de top. Os meninos que estavam esperando para usar a quadra no próximo horário ficavam debochando ou gritando palavras de assédio”, relata. 

Sobre os comentários pejorativos, a jogadora profissional Elena Mueller, afirma que as mulheres que jogam futebol inevitavelmente precisam ouvir falas machistas, desnecessárias, tentando minimizá-las e fazendo comparações, muitas vezes por falta de conhecimento da própria pessoa em relação ao futebol. 

Elena reitera que essas situações acontecem e cabe às próprias jogadoras enfrentarem de cabeça erguida. “Bater no peito, falar eu jogo futebol sim, eu sou mulher e jogo futebol. A mulher tem tanta capacidade como o homem para jogar futebol. O que eu sempre digo em relação a preconceito, é que a gente não se cale. Que se alguém fizer uma brincadeira que não for legal, que digamos que isso não deve existir. Na maioria das vezes os homens não sabem as dificuldades que a gente passa no futebol feminino, então o principal ponto é não se calar”, declara a jogadora. 

A inconveniência não vem somente dentro de campo. Podemos citar como exemplo, uma situação recente que aconteceu em dezembro de 2020. Durante o chamado programa “Dupla em debate” da Rádio Grenal, o comentarista Roberto Moure, sugeriu que as atletas do Internacional deveriam usar “fio dental” para jogarem. 

Durante o programa, o comentarista disse que as jogadoras que teriam as ‘pernas mais bonitas’ deveriam usar shorts mais curtos para jogar. “Uma sugestão para essas meninas, principalmente do Internacional, que querem usar o calçãozinho ali parecendo o Diego Barbosa. Peçam para confeccionar calções mais curtos, que fica horrível o que vocês estão fazendo. Ah! Mas as pernas são mais bonitas que as dos homens, não tenho dúvidas”.

Os comentários constrangem o apresentador, Flávio Dal Pizzol, que pede desculpas à sua companheira Heloíse Bordin, que era convidada do programa durante o ocorrido. Após o comentário sexista, Moure pediu retratação e disse não haver qualquer intenção de ferir ou ofender as jogadoras, pedindo desculpas pelo seu comentário. A Rádio Grenal também se manifestou, através de uma mensagem, sobre a situação:

“A rádio Grenal completará nove anos de existência em maio de 2021 e, desde a sua estreia, dirigida por uma mulher, que foi uma das primeiras comunicadoras a cobrir futebol no Brasil, a nossa diretora Marjana Vargas, a rádio Grenal foi a primeira emissora de rádio a contar com uma mulher atuando nas jornadas esportivas como repórter de campo. A rádio Grenal detém o título de primeira rádio FM a transmitir uma partida de futebol com equipe exclusivamente formada por mulheres, o que aconteceu na final do Gaúchão feminino do ano passado. A rádio Grenal é apaixonada pelo futebol e apaixonada pelo respeito e pela igualdade de direitos e oportunidades que devem unir a humanidade”, destacou a nota. 

Além das jogadoras e das jornalistas esportivas, as profissionais que atuam de outras maneiras dentro de campo também sofrem com as adversidades. A árbitra assistente Luiza Reis, conta que não sofreu com situações de assédio mas que foi muito ofendida em uma ocasião quando errou um lance em um jogo. “Eu comecei a ser muito criticada nas minhas redes sociais pessoais, não por ter errado o lance, mas por ser mulher e ter errado o lance. Então isso foi uma situação em que fiquei bem chateada. Hoje já faz um tempo, já consigo lidar melhor com isso”, relata Luiza. A árbitra ainda destaca que muitas pessoas que frequentam os estádios acabam insultando os árbitros, o que é uma atitude errada. 

Com essa e tantas outras situações de assédio que acontecem no dia a dia das mulheres que jogam futebol — que muitas vezes não são divulgadas pela mídia — muitas meninas publicaram manifestações na internet em apoio às vítimas. 

Do campo para as arquibancadas 

A batalha das mulheres pelo espaço no futebol não é vista somente no campo. Assim como em qualquer competição, a presença do torcedor serve como incentivo aos atletas, porém quando se trata da presença da mulher nas arquibancadas isso se torna mais uma  luta pelo seu direito de ocupar espaços considerados masculinos. 

Diante dessa movimentação na própria torcida do futebol feminino vem ganhando cada vez mais apoio de torcedoras que já trazem a tradição de acompanhar os times masculinos de seus clubes. Revelando que é o momento de acabar de vez com qualquer discriminação de gênero quando o assunto é futebol.

Um vídeo que chocou as redes sociais em 2018, foi considerado o primordial para a criação de novos movimentos e coletivos de torcedoras que exigiam respeito às mulheres no mundo do esporte. A gravação mostra uma torcedora com a camisa do Palmeiras sendo agredida e expulsa de um vagão no metrô por vários torcedores do Corinthians. 

Apesar de o placar chamar muita atenção, um depoimento dado pela capitã do time do Taboão da Serra, serviu para mostrar a dura realidade que os times femininos enfrentam no dia a dia quanto a estrutura dos clubes. Segundo Nini, o time do interior de SP possui pouco investimento e não possui nenhum apoio do clube. 

“Em pouca coisa o clube nos ajuda. É mais a vontade da comissão técnica mesmo. Ninguém tem salário, ninguém tem condução. A gente não tem roupa de treino, não tem apoio nenhum do clube. A gente simplesmente usa o nome do clube para participar do Campeonato Paulista porque acredita que é uma oportunidade para as meninas mais novas”, relatou a capitã à FPF TV. 

Com os olhares voltados para o futebol feminino durante a Copa do Mundo, muitos temas surgiram. Um levantamento realizado pelo EXTRA no ano de 2019, mostra que os 20 clubes participantes da série A (até então) investiam no máximo 1% de seus orçamentos no futebol feminino. O Santos liderava a tabela sendo o time que mais investiu. O Flamengo investe cerca de R$ 1 milhão, o que equivalia na época ao salário de um mês do Gabigol. Diante dessa situação, com o baixo incentivo e investimento a prática futebolística se torna quase impossível para as jogadoras. Levando assim, a esperança de o futebol se tornar um esporte igualitário em questão de investimentos e oportunidades. 

Questão salarial das jogadoras no Brasil

Além da falta de investimentos em equipamentos, lugares para treinos e preparação física, uniformes, entre outros, o futebol feminino também é financeiramente afetado na questão da disparidade salarial.  

Segundo o site de notícias da UOL, os contratos de jogadoras de futebol que atuam no Brasil possuem a duração de um ano. Isso quando existe realmente um contrato de trabalho, pois a grande maioria trabalha informalmente. Assim como é raro encontrar clubes que ofereçam carteira assinada às jogadoras. O Corinthians, por exemplo, começou a assinar os contratos de suas jogadoras a partir de 2019. 

A negociação, diferentemente dos times masculinos, não é através da compra de passes das jogadoras. Os contratos de trabalho são firmados entre clube e atleta de forma direta, sem necessidade de compra de transferência. Com a grande visibilidade proporcionada pela Copa do Mundo de 2019, os negócios mudaram consideravelmente, tanto em questão de contratos como de salário, mas a realidade ainda é difícil. 

Ainda segundo a UOL, as jogadoras que atuam na primeira divisão do Brasileiro, ganham em média até dois salários mínimos por mês. Ainda que muitos clubes tenham investido um pouco mais no futebol praticado por mulheres, o salário não passa dos R$3 mil. Valores insignificantes perto da folha salarial do futebol masculino. No São Paulo, por exemplo, o total de investimentos em 2019 chegou a menos de dois salários do jogador Daniel Alves, que equivale a R$1,5 milhão. 

Além disso, com a pandemia e o futebol paralisado em março, foi o suficiente para alastrar uma enorme crise financeira nos clubes, que afetou todas as categorias de jogadoras. Alguns clubes fizeram até redução dos salários dos jogadores profissionais para tentar amenizar a situação, assim como de jogadoras, mas muitas foram dispensadas durante esse período de crise mais acentuada. 

Em abril de 2020, a Confederação Nacional de Futebol (CBF) destinou cerca de R$150 mil para equipes da série A1 e R$50 mil para equipes da série A2, para tentar ajudar na folha salarial das jogadoras. Contudo, dos 52 clubes beneficiados, seis — Audax, Juventus, Autoesporte-PB, Santos Dumont-SE, Atlético-GO, Sport e Vitória — demoraram para repassar os valores para as jogadoras, que eram de R$500 à R$1000 reais, piorando ainda mais o cenário para as jogadoras. Com a volta dos campeonatos na metade do ano, a situação foi sendo normalizada aos poucos. 

Em setembro de 2020, após anunciar as novas dirigentes para as coordenações de competições femininas, o presidente da CBF Rogério Caboclo, anunciou também que a entidade definiu a igualdade entre os valores das premiações entre as seleções masculinas e femininas. A equidade já havia sido adotada na convocação da equipe feminina para o Torneio Nacional da França. Em coletiva, o presidente afirmou que não há mais diferença de gênero em relação à remuneração na CBF. 

O assédio dentro dos campos 

Um dos maiores problemas dentro do futebol feminino brasileiro é a questão do assédio. Além de sofrerem pelo assédio moral, ao serem questionadas sobre a sua qualidade dentro dos campos, as jogadoras também enfrentam o assédio sexual durante a prática futebolística. 

A ex-jogadora Julia Pompeo afirma que nunca sofreu assédio sexual físico, mas algumas situações já a incomodaram dentro de campo. “Sempre foi algo psicológico. Se eu colocava uma legging pra jogar bola, sempre tinha os olhares dos meninos. Algumas vezes já fomos treinar entre 11h e 12h da manhã, um horário com temperatura mais quente, e jogávamos sem a camiseta, somente de top. Os meninos que estavam esperando para usar a quadra no próximo horário ficavam debochando ou gritando palavras de assédio”, relata. 

Sobre os comentários pejorativos, a jogadora profissional Elena Mueller, afirma que as mulheres que jogam futebol inevitavelmente precisam ouvir falas machistas, desnecessárias, tentando minimizá-las e fazendo comparações, muitas vezes por falta de conhecimento da própria pessoa em relação ao futebol. 

Elena reitera que essas situações acontecem e cabe às próprias jogadoras enfrentarem de cabeça erguida. “Bater no peito, falar eu jogo futebol sim, eu sou mulher e jogo futebol. A mulher tem tanta capacidade como o homem para jogar futebol. O que eu sempre digo em relação a preconceito, é que a gente não se cale. Que se alguém fizer uma brincadeira que não for legal, que digamos que isso não deve existir. Na maioria das vezes os homens não sabem as dificuldades que a gente passa no futebol feminino, então o principal ponto é não se calar”, declara a jogadora. 

A inconveniência não vem somente dentro de campo. Podemos citar como exemplo, uma situação recente que aconteceu em dezembro de 2020. Durante o chamado programa “Dupla em debate” da Rádio Grenal, o comentarista Roberto Moure, sugeriu que as atletas do Internacional deveriam usar “fio dental” para jogarem. 

Durante o programa, o comentarista disse que as jogadoras que teriam as ‘pernas mais bonitas’ deveriam usar shorts mais curtos para jogar. “Uma sugestão para essas meninas, principalmente do Internacional, que querem usar o calçãozinho ali parecendo o Diego Barbosa. Peçam para confeccionar calções mais curtos, que fica horrível o que vocês estão fazendo. Ah! Mas as pernas são mais bonitas que as dos homens, não tenho dúvidas”.

Os comentários constrangem o apresentador, Flávio Dal Pizzol, que pede desculpas à sua companheira Heloíse Bordin, que era convidada do programa durante o ocorrido . Após o comentário sexista, Moure pediu retratação e disse não haver qualquer intenção de ferir ou ofender as jogadoras, pedindo desculpas pelo seu comentário. A Rádio Grenal também se manifestou, através de uma mensagem, sobre a situação:

“A rádio Grenal completará nove anos de existência em maio de 2021 e, desde a sua estreia, dirigida por uma mulher, que foi uma das primeiras comunicadoras a cobrir futebol no Brasil, a nossa diretora Marjana Vargas, a rádio Grenal foi a primeira emissora de rádio a contar com uma mulher atuando nas jornadas esportivas como repórter de campo. A rádio Grenal detém o título de primeira rádio FM a transmitir uma partida de futebol com equipe exclusivamente formada por mulheres, o que aconteceu na final do Gaúchão feminino do ano passado. A rádio Grenal é apaixonada pelo futebol e apaixonada pelo respeito e pela igualdade de direitos e oportunidades que devem unir a humanidade”, destacou a nota. 

Além das jogadoras e das jornalistas esportivas, as profissionais que atuam de outras maneiras dentro de campo também sofrem com as adversidades. A árbitra assistente Luiza Reis, conta que não sofreu com situações de assédio mas que foi muito ofendida em uma ocasião quando errou um lance em um jogo. “Eu comecei a ser muito criticada nas minhas redes sociais pessoais, não por ter errado o lance, mas por ser mulher e ter errado o lance. Então isso foi uma situação em que fiquei bem chateada. Hoje já faz um tempo, já consigo lidar melhor com isso”, relata Luiza. A árbitra ainda destaca que muitas pessoas que frequentam os estádios acabam insultando os árbitros, o que é uma atitude errada. 

Com essa e tantas outras situações de assédio que acontecem no dia a dia das mulheres que jogam futebol — que muitas vezes não são divulgadas pela mídia — muitas meninas publicaram manifestações na internet em apoio às vítimas. 

Do campo para as arquibancadas 

A batalha das mulheres pelo espaço no futebol não é vista somente no campo. Assim como em qualquer competição, a presença do torcedor serve como incentivo aos atletas, porém quando se trata da presença da mulher nas arquibancadas isso se torna mais uma  luta pelo seu direito de ocupar espaços considerados masculinos. 

Diante dessa movimentação na própria torcida do futebol feminino vem ganhando cada vez mais apoio de torcedoras que já trazem a tradição de acompanhar os times masculinos de seus clubes. Revelando que é o momento de acabar de vez com qualquer discriminação de gênero quando o assunto é futebol. 

Um vídeo que chocou as redes sociais em 2018, foi considerado o primordial para a criação de novos movimentos e coletivos de torcedoras que exigiam respeito às mulheres no mundo do esporte. A gravação mostra uma torcedora com a camisa do Palmeiras sendo agredida e expulsa de um vagão no metrô por vários torcedores do Corinthians. 

Torcedoras buscam apoio em coletivos para frequentar os estádios com tranquilidade. Fotomontagem: Lance!

Na época os clubes divulgaram uma nota condenando as agressões, mas para algumas torcedoras palmeirenses era necessário mais posicionamento. Foi assim, que uma das administradoras se reuniu com outras palmeirenses e criaram o movimento VerDonnas. Em 2019, esse movimento já era composto por nove administradoras e mais quatro grupos com uma média de 250 mulheres cada. 

Logo em seguida, o Movimento Alvinegras foi criado por corinthianas para apoiar e organizar mulheres que queiram acompanhar o seu time pelos estádios. E no mesmo embalo as santistas do Bancada das Sereias, também em busca de respeito, criaram o movimento após se questionarem sobre as dificuldades enfrentadas por elas mesmas no estádio.

De uma manifestação nas redes sociais, nasceu também o movimento São PraElas, das são-paulinas. As torcedoras desenvolveram a hashtag #saopaulinasuniformizadas no Twitter, com o intuito de protestar contra o fato da Underarmour, fornecedora dos uniformes de jogo do time que não fabricava nenhuma peça feminina. 

Embora a presença das mulheres nos estádios ainda seja vista como uma vivência passiva, de acompanhantes, este quadro vem mudando. As rivalidades ficam apenas em campo, a vontade de poder frequentar os jogos, gritar e torcer é maior entre elas. Toda a organização derivada das tradicionais torcidas do futebol masculino também refletem na torcida do futebol feminino.

Ativismo digital também realizado pelas jornalistas 

Jornalistas da Gaúcha ZH compartilhando a campanha #DeixaElaTrabalhar. Foto: Reprodução

A repórter Bruna Dealtry, durante uma cobertura ao vivo de uma partida de futebol em 2019, pelo canal Esporte Interativo, foi interrompida por um torcedor que a beijou à força, em frente a câmera. O caso ocorreu no Rio de Janeiro, na partida entre o Vasco e o Universidad do Chile, pela Libertadores da América. Em choque e constrangida, a jornalista apenas diz “não foi legal” e segue a transmissão.

Por coincidência, naquela mesma semana em Porto Alegre tinha também ocorrido um caso parecido. Um torcedor do Inter insultou e agrediu fisicamente a jornalista Renata Medeiros, da Rádio Gaúcha, durante a cobertura de Inter e Grêmio.  

Esses dois casos ilustram o que muitas mulheres, tanto da área do esporte ou de outros ambientes de trabalho, recebem pelo simples fato de serem mulheres. Foi diante disso, que criaram uma nova campanha com o objetivo de jogar luz sobre este problema e clamar pelo respeito às profissionais.

Foi o movimento #DeixaElaTrabalhar, com um grupo de 50 jornalistas mulheres de todo o país que desenvolveram um vídeo com relatos desses assédios sofridos. As jornalistas relataram comentários violentos e ameaças de estupro de torcedores no estádios e nas redes sociais. 

Confira o vídeo da campanha:

 

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=omrrIFeCTLQ ” title=”https:%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch?v%3DomrrIFeCTLQ%20″]

 

O principal intuito da campanha era chamar a atenção para as agressões que as profissionais sofrem não somente nos estádios, mas também nas redações, em suas redes pessoais, na rua ou em onde for. A campanha apesar de criada por jornalistas não se limitava somente a esta editoria, o movimento abraçava todas as esferas, sendo uma maneira de incentivar o relato sofrido e a busca pelos espaços.

Após a campanha, diversos clubes se posicionaram sobre o caso, o Atlético-MG entrou em campo para o clássico contra o Cruzeiro com faixas chamando a atenção para a violência contra a mulher. A responsável pela lei que criminaliza a violência doméstica e familiar, Maria da Pena M. Fernandes, esteve no gramado do Independência e foi homenageada pelo clube, além de torcedoras apresentarem variados cartazes com dizeres “Meu lugar é aqui”, nas arquibancadas. O Corinthians jogou contra o Mirassol com a marca #RespeitaAsMinas estampadas no uniforme e entrou junto ao campo com as atletas do time feminino. 

O assédio entre as jornalistas já acontecia antes mesmo da união entre elas para denunciar os abusos e assédios. Em 2016, depois que uma repórter do portal G1 ser assediada no meio de uma entrevista coletiva pelo cantor Biel, um grupo de jornalistas mulheres criaram a campanha #JornalistasContraOAssédio. Na época o cantor chamou a repórter de “gostosinha” e disse que “quebraria no meio” se eles tivessem relações sexuais. Hoje a campanha se transformou em um coletivo que denuncia as diversas formas de assédio. 

Casos deste teor acontecem nos grandes estádios e também nos pequenos. A jornalista esportiva do Diário de Santa Maria, Janaína Wille, integrou o Radar Esportivo da Rádio Universidade onde realizava programas de rádio sobre esporte e transmissões do futebol americano e da divisão de acesso. 

Janaína relata que trabalhar nessa área é comum ouvir comentários direcionados tanto as atletas quanto as profissionais. A jornalista diz nunca ter sofrido nenhum assédio, porém passou por casos desconfortáveis como quando por conta de sua simpatia ao entrevistar e conversar com a torcida, muitas vezes era mal interpretada, pelo simples fato de ser uma mulher. “Muitas vezes aconteceu de sair um gol e o torcedor querer me abraçar, me tocar, sem nenhuma permissão, até aquele “chega pra lá””, comenta a jornalista. 

Esse tipo de comportamento não ocorre somente pelos torcedores, a comunicadora conta ter passado uma experiência desconfortável com um determinado dirigente, onde em entrevista o homem foi extremamente grosseiro e assim que, entrevistado por outra jornalista, teve um comportamento diferente. Uma atitude completamente machista, deixando claro que a outra jornalista o agradava mais.

A jornalista enfatiza que se sente privilegiada em trabalhar com jovens de mente aberta e que possuem respeito pelas profissionais, que embora nunca tenha passado por casos graves enquanto trabalhava, acredita que o primeiro passo é dado pela mídia, reconhecendo esses casos de assédio, ofensa e abuso. “É importantíssimo escancarar esses casos para as pessoas verem que não pode ser impune esses tipos de agressões”, diz Janaina. 

Embora Santa Maria seja uma cidade do interior, onde o futebol não possui tanto engajamento como nas cidades capitais, assédios como esse não são impunes como parecem. Bem como relatou Janaina, o primeiro passo para combater é por nas redes, noticiar nos jornais, deixar a sociedade ciente. Nenhuma mulher mais irá deixar de ir aos jogos ou muito menos, uma jornalista deixará de cumprir sua profissão por conta de homem que não sabe se comportar.

Marta: o maior símbolo do futebol brasileiro feminino

Na imagem, Marta em um amistoso pela Seleção Brasileira Feminina. Foto: Lucas Figueiredo/CBF.

Tanto Marta como Pelé são jogadores de grande magnitude e possuem uma importância histórica muito grande para o futebol brasileiro. Contudo, Marta já ultrapassou Pelé em algumas categorias de premiações. 

Segundo a ESPN, enquanto Pelé ganhou três Copas do Mundo para o Brasil e foi eleito o maior da história, Marta, apesar de possuir títulos nacionais de menos peso, ainda sim supera o ‘Rei’ em prêmios individuais. Marta já ultrapassou Pelé como melhor artilheiro da história da seleção brasileira, chegando a 100 gols, enquanto Pelé tem 95. A jogadora também superou Pelé em número de gols em Copas. Ela com 15 gols e ele com 12.

Até então foram seis prêmios de melhor do mundo da Fifa, 17 gols em Copas do Mundo, sendo a maior artilheira da história dos Mundiais entre homens e mulheres. Foram 107 gols pela seleção brasileira, o que também faz dela a maior artilheira que já vestiu a camisa amarela. A então conhecida como “Rainha do Futebol”, ultrapassou barreiras para chegar até onde chegou e se tornar tão influente no futebol feminino. 

Em 2020, a camisa 10 da seleção, Marta, tentou sua quinta Olimpíada em busca do tão sonhado ouro inédito. A jogadora se aproximou do título em 2004 e 2008, quando o Brasil perdeu para os Estados Unidos na final. 

Durante as décadas de proibição e falta de investimentos, o futebol feminino sofreu muito para conquistar espaço, mas foi nos pés de Marta que as portas começaram a se abrir. O país não tinha sequer um Campeonato Brasileiro para as mulheres competirem, porém aquele que se tornaria no futuro um ícone dos gramados, encantava o mundo com seus dribles e gols em campo. Hoje, os maiores especialistas já afirmam que ela é a maior de todos os tempos. 

A visibilidade que não existia antes, fez com que Marta se tornasse uma grande referência para tantas outras mulheres que também sonham com um futuro promissor nos campos de futebol. Depois de ganhar o prêmio da Fifa pela sexta vez em 2019, Marta ganhou homenagem na sede da CBF e foi capa das principais publicações nacionais e internacionais. 

No país do futebol, também é o país do carnaval e em 2020 a atleta foi tema de uma escola de samba no Rio de Janeiro, a Inocentes de Belford Roxo, do grupo de acesso, levando a jogadora como tema do enredo na Sapucaí. 

Assim como muitas jovens espalhadas pelo Brasil inteiro, Marta também iniciou seus passos quando era uma simples criança e jogava futebol entre os meninos de Dois Riachos. Marta jogou em um time da cidade, até ser banida do campeonato por ser “boa demais”. A jogadora já relatou em diversas entrevistas ter ouvido o termo “aqui não é lugar para meninas”, vindas de um treinador que não quis a colocar o time no campeonato até ter certeza que Marta não jogaria na equipe. 

Com 14 anos, Marta realizou um teste no Vasco, jogou nas categorias de base e logo chegou à seleção, ainda na adolescência. A jovem enfrentou logo cedo as dificuldades do futebol feminino, quando o clube cruzmaltino encerrou as atividades do time feminino e ela por conta disso, se viu na necessidade de procurar outra equipe para seguir seu caminho. 

Marta foi para Minas Gerais, temporariamente, porém com o sucesso que fez na Copa do Mundo em 2013, a então jogadora recebeu a proposta de jogar em um time na Suécia. Diferente de Pelé, a jogadora não pode seguir os mesmos passos fazendo carreira e se tornando uma ídola absoluta de um único clube. A realidade do esporte feminino não permitiu isso na época e os clubes foram se formando e acabando, tudo por conta da falta de investimento. 

Foi assim que Marta fez parte de diversos clubes, jogando na Suécia, nos Estados Unidos, passou um tempo no Santos no “dream team” das Sereias da Vila, até retornar para a Suécia no Rosengard e depois voltar ao país do futebol feminino para no Orland Pride. Marta conquistou Champions League, Campeonato Sueco, Libertadores, Copa do Brasil, Liga America pelos clubes, além de dois ouros em Pan-Americanos, três em Copa América e duas medalhas de prata olímpicas.

A história da craque dos campos femininos é tão importante e notória para a cultura da sociedade brasileira, tendo em vista a existência de alguém tão gigantesca no esporte. Isso tudo gera ainda mais um apoio a todas aquelas meninas que sonham com uma carreira que ainda sofre tanto com o preconceito e com a desvalorização. 

Marta foi e ainda é um grande ícone a ser seguido, a jogadora mostrou que é possível de fato chegar tão longe em um esporte que ainda é visto pela maioria como apenas destinado aos homens. 

Novas perspectivas do futebol feminino no Brasil

O futebol feminino cresce a cada dia e busca pelo seu espaço. Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA.

Apesar dos salários discrepantes comparados aos homens, as condições precárias e a pouca valorização, foi em 2019 que o futebol feminino ficou marcado como um ano de mudanças significativas para a modalidade. 

Mulheres do mundo todo lutam por melhores condições de trabalho dentro do futebol. Essa luta finalmente parece estar atingindo os efeitos que elas sempre mereceram. A visibilidade da categoria, enfim, começa a existir. 

Em 2019, a sétima edição consecutiva do Campeonato Brasileiro recebeu transmissão gratuita pela internet. Foram 52 participantes na competição, muito por conta da exigência dos clubes aderirem ao Programa Governamental de Refinanciamento de Dívidas do Futebol Brasileiro – Profut.

O calendário rentável da modalidade no país foi uma exigência que garante a sobrevivência desses clubes ao longo da temporada e facilita também o processo de criação de um público fiel.

No mesmo ano, o futebol feminino ficou marcado graças ao grande evento da temporada, a Copa do Mundo. A competição contou com 24 países participantes e chegou a sua oitava edição, acontecendo em Junho, na França. No início do ano, em carta, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, afirmou que a competição mudaria a forma como o futebol feminino seria visto no planeta.

A primeira edição da competição, foi disputada em 1898 e desde então vem conseguindo superar as dificuldades que enfrenta, assim como os importantes progressos recentes na modalidade. A expectativa em 2019 é que a competição fosse um divisor de águas na modalidade, promovendo a igualdade das condições dos gramados.

O primeiro fator motivador na Copa do Mundo de 2019, foi a venda dos ingressos ser efetuada com sucesso, esgotando a abertura e as semifinais assim que abertas as vendas. A França adquiriu esse sucesso por conta dos preços, trabalhando valores atrativos com pacotes de três jogos a partir de 25 euros e partidas avulsas a partir de nove euros, além de usar o título da seleção masculina para atrair o público a reviver tal emoção.

No Brasil, a competição foi um marco histórico, tendo em vista a luta todos os anos pela seleção feminina em receber de fato a visibilidade que merecia. O evento recebeu, pela primeira vez, atenção da mídia nacional. Numa manobra inédita, a Rede Globo deu espaço na sua programação aberta para todos os jogos disputados pela Seleção Brasileira, enquanto o SporTV transmitiu o torneio na íntegra, em seus canais fechados.

Foi também o ano dos patrocinadores surgirem. A Nike, empresa de material esportivo, fechou contrato com 14 países participantes da Copa, incluindo a Seleção Brasileira, lançando pela primeira vez uniformes exclusivamente para as mulheres que disputaram o Mundial. Além disso, houve lançamentos em roupas da Adidas que publicou um manifesto a favor da equiparação de pagamentos entre homens e mulheres no esporte. 

A Copa do Mundo de 2019 e a atenção dada pela mídia nacional, foram fatores iniciantes para uma maior visibilidade no esporte. Visibilidade essa que gera apoio a novas jogadoras e mulheres que querem viver no meio desta modalidade, mostrando que sim elas podem e devem impor seu espaço. 

Como um exemplo disso, em 2020 foi possível presenciar no jogo entre Juventus e Dínamo de Kiev, a primeira partida da Champions League a ser controlada por uma árbitra mulher, a Stéphanie Frappart. 

No Brasil foi possível comemorar conquistas como essa, já em 2021 a FIFA anunciou um trio de arbitragem feminina para o Mundial de Clubes de 2020, que será realizado em fevereiro devido a pandemia do coronavírus. A árbitra Edina Alves é a única mulher entre outros seis homens compondo a lista de árbitros da competição. Com ela a brasileira, Neuza Back e a argentina, Mariana de Almeida vão ocupar o posto de bandeirinha no torneio ao lado de outros dez assistentes. 

Também honrando a camisa da seleção, só que no futsal – esporte próximo ao futebol só que realizado em uma quadra fechada, a atleta Amandinha, é indicada ao prêmio de melhor jogadora do mundo pelo “Futsal Planet” e pode ganhar o título pela sétima vez.

Embora sejam poucas vitórias comparadas a tudo que o futebol masculino possui atualmente, sem ter feito tanto esforço quanto o feminino, é importante ressaltar que tudo que vem sendo realizado para esse crescimento está tendo resultados. 

A visibilidade gera conhecimento, coloca a vista o rosto de cada jogadora e seu potencial, dando a ela oportunidades de crescer com apoio e assim ter uma maior estrutura em seu trabalho. É como se um fator fosse movido pelo outro e somente assim esse ramo funcionasse. 

Para as jovens que estão recém iniciando sua carreira como a atleta Cauane, almejam a melhor perspectiva possível, acreditando no crescimento e desenvolvimento do futebol feminino. Para ela, a transmissão em rede nacional da Copa do Mundo Feminina em 2019 foi um marco fundamental para esse objetivo, mostrando o quanto o esporte é importante para a sociedade. “ As atletas merecem reconhecimento, após tantos anos de luta e dedicação, onde precisaram enfrentar e vencer tantos tipos de preconceito”.

O país do futebol deveria focar seu olhar mais naqueles que fazem pela bandeira, pela nacionalidade e pela paixão, dando assim o mesmo valor independente de gênero, raça, etnia ou qualquer outro aspecto que possa ser usado para justificar um esporte que pode e é praticado por todos.

Foi por conta do cenário convicto, que mulheres como a jogadora, Elena Mueller, que decidiu voltar a jogar em 2017 e 2018. De maneira positiva e colocando fé nos seus sonhos que hoje a atleta trabalha esse sentimento de apoio e orientação em uma mentoria. Ela orienta várias meninas que querem se tornar profissionais na gestão de carreira, gestão de imagem e gestão de relacionamento. 

“Hoje em dia, por exemplo, a internet está aí, ao acesso de todo mundo, então tende a crescer muito mais a partir do momento que as gurias tiverem essa noção de usar as ferramentas. …, aproveitar as oportunidades que estão acontecendo e surgindo cada vez mais, desde competições, visibilidade, porque tudo isso vem com o tempo”, relata Elena.   

O que se espera pelas atletas, pelas torcedoras, pelas comunicadoras e por todos aqueles que admiram o trabalho realizado em campo pelas mulheres, um futuro mais igualitário, valorizando o seu potencial e promovendo as mesmas oportunidades entre todos em um esporte que é tão fascinante e une o mundo inteiro.

 *Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Investigativo sob a orientação do professor Maurício Dias

Foto: Reprodução / Metrópoles \ Mulheres governantes de sete países têm enfrentado à Covid-19 com sucesso

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere, são países liderados por mulheres, a Alemanha, governada pela chanceler Angela Merkel, Taiwan, com a presidente Tsai Ing-wen, Islândia, com a primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, Finlândia, com Sanna Marin, Noruega, com Erna Solberg, Dinamarca, com Mette Frederiksen, e Nova Zelândia, com Jacinda Ardern. As matérias abordam aspectos geopolíticos que refletem em âmbitos culturais, de saúde e econômicos.

Os veículos escolhidos pela reportagem variam entre jornais independentes, tradicionais, grandes corporações e mídia alternativa. São eles BBC, Forbes, Catraca Livre, Metrópoles, CNN Brasil e Mídia Ninja.

Mas por que este tema?

A reportagem se perguntou por que o tema foi levantado e foi atrás da opinião de especialistas.

Marcia Veiga, mestre em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro da ONG Themis, de assessoria e estudos de gênero, explica que o fenômeno não é mera coincidência e que, embora não seja o motivo por completo, o gênero das líderes tem a ver com o sucesso do enfrentamento à pandemia:

“Ao estudar gênero, é possível compreender o que esses fatos trazidos à tona sinalizam”.

Elas serem do sexo feminino, por fatores culturais, facilita com que tenham um olhar mais aproximado da população, não sempre, mas na maioria dos casos, de acordo com a especialista.

“Todas as sociedades têm convenções sociais, entre elas, a expectativa de que meninas e mulheres serão mais frágeis e que a elas caberão os cuidados. Entre ocidentais, tudo que é considerado masculino são elementos mais valorizados e que sensibilidade é algo “menor” e menos importante”, diz Marcia.

A pesquisadora esclarece que estas líderes focam em ações de cuidado e prevenção, valorizando o ser humano e tratando áreas como saúde e educação como tão importantes quanto a economia:

“Enquanto Brasil e Estados Unidos declaram “guerra ao vírus”, as mulheres são pacifistas”.

Um caso que chamou atenção da especialista foi a abordagem trazida pela BBC acerca de atitudes da primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern. Antes da páscoa, ela realizou um discurso voltado às crianças, em mídia nacional, para acalmar os pequenos com relação à data, garantindo que “o coelho da páscoa faz parte dos serviços essenciais”.

“Traços femininos fundamentais em um governante, como o diálogo e o interesse pela opinião de todos, são comuns para elas. Após ouvirem a população, através de atitudes horizontais como esta, só então elas agem”, afirma a pesquisadora.

Sobretudo, coloca o ser humano como prioridade e centro da preocupação. Assim, os cidadãos se sentem participantes. Isso mostra a necessidade de colaboração de todos num período de crise, ainda conforme a especialista.

“Valorizar a diversidade, mantendo o cuidado e a horizontalidade de discursos é o caminho”, conclui Marcia.

Para ela, o jornalismo tratar destes assuntos é cumprir o papel primário da profissão, de encontrar fatos e trazê-los à tona, nada mais do que retratando a realidade:

“Não havia como não perceber a existência deste fato. Além disso, hoje, há mais mulheres jovens e informadas nas redações e em chefias dos veículos jornalísticos. Então, o entendimento de que isso significa algo relevante é mais comum. Talvez a mídia não aprofunde os temas, ainda tendo muito o que avançar, mas, ao menos, publicam”.

A professora de psicologia Graziela Miolo, explica que as mulheres já crescem se adaptando à cultura machista já imposta e implantada na sociedade:

“Elas enfrentam dificuldades para se legitimar em posições habituais aos homens e precisam conquistar os espaços onde desejam estar. Qualquer lugar fora do lar não é para elas, principalmente na liderança e ainda mais fortemente no campo da política. Por isso, são mais inventivas e preparadas para demandas inusitadas”.

A reinvenção das mulheres faz parte de uma constituição psíquica, histórica, política e social, segundo a Graziela. Por isso, esta criatividade com a qual a mulher cresce a auxilia a se adaptar e encontrar recursos e saídas para grandes e inesperados problemas, como uma pandemia, desenvolvendo habilidades para conquistar seu lugar no espaço público, de ser e estar no mundo.

“As mulheres têm habilidades psíquicas que tornam esta administração mais fácil por terem mais recursos criativos para lidarem com as crises”, diz a professora.

Para ela, este momento é de sair do padrão tido como o certo e criar novas formas de governar e enfrentar conflitos, característica do feminino:

“A mídia aborda a questão do gênero de forma massificada, sem questões mais específicas, trazendo “as mulheres”, ao invés de “a mulher”, não dando conta de observá-la. Ainda observamos o discurso que prevalece a posição do homem, mas não é difícil de se compreender, em função de estar dentro de uma cultura embasada em uma linguagem que prioriza um discurso machista, que é estrutural”.

Por: Gabriele Bordin
Texto produzido na disciplina de Jornalismo Internacional, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana. Orientação: Profª Carla Torres

Um romance. Em três partes. Escrito por uma dama. Foi com essa assinatura que Jane Austen publicou Orgulho e Preconceito na Inglaterra, no século XIX. Nessa época, os pseudônimos e as assinaturas anônimas deveriam ser adotados pelas escritoras que publicavam livros. Porém, não somente na Europa essa prática era comum. O primeiro romance abolicionista da literatura brasileira foi escrito por uma mulher. Maria Firmina dos Reis identificava-se como uma maranhense, e publicou Úrsula em 1859. O romance recebeu uma segunda edição, com o nome da autora, apenas em 1975. 

Livros escritos por mulheres. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

“As mulheres entram na literatura com nomes masculinos para depois se revelarem. A sociedade não enxergava com bons olhos, pensava que eram mulheres muito avançadas, e, na verdade, eram!”, comenta Haydée Hostin Lima, poeta. Apesar da resistência e da presença das mulheres no ramo literário diminuir a adoção de pseudônimos e assinaturas anônimas, hoje ainda é possível perceber resquícios dessa prática. “Muitas mulheres assinam com pseudônimos masculinos para obterem mais aprovação do público e editoras. Ou seja, não é tão fácil ser mulher e fazer literatura, porque é como se não quisessem nos ouvir, mas a nossa voz é forte e poderosa”, relata Luciana Minuzzi, produtora editorial. 

Um exemplo é a autora de Harry Potter, Joanne Rowling, que foi orientada a identificar-se como J.K. para evitar que sua saga fosse restringida apenas a meninas. “Não há uma literatura própria deste ou daquele. Penso que uma das coisas que nos mostrou isso foi Harry Potter, pois meninos e meninas leram e se identificaram”, conta Nikelen Witter, escritora.

O espaço da mulher na literatura 

A identificação das autoras com seus respectivos nomes é apenas uma das formas de resistência das mulheres na literatura. A busca por espaço e voz em um ambiente predominantemente masculino ainda encontra diversos obstáculos. 

Segundo dados da Universidade de Brasília (UNB), mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras foram escritos por homens. A pesquisa compreende o período de 1965 a 2014 e foi realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea. Além disso, cerca de 90% dos livros publicados foram escritos por pessoas brancas. Outros dados que o levantamento apurou foram acerca do protagonismo das personagens, que são na maioria homens, brancos e heterossexuais. 

As mulheres ainda não são maioria também nos espaços dedicados à literatura. No Brasil, apenas oito mulheres compõem a Academia Brasileira de Letras. Até os anos 70, uma prerrogativa do estatuto da academia impedia que mulheres fossem aceitas, pois exigia membros apenas do sexo masculino. Duas escritoras, Amélia Beviláqua e Dinah Silveira Queiroz foram rejeitadas com base nesse artigo. 

Rachel de Queiroz, primeira integrante da Academia Brasileira de Letras. Foto: Acervo Instituto Moreira Salles

A primeira mulher aceita foi Rachel de Queiroz, em 1977, precedida por Dinah Silveira de Queiroz, em 1980; Lygia Fagundes Telles, em 1985; Nélida Piñon, em 1989; Zélia Gattai, em 2001; Ana Maria Machado, em 2013; Cleonice Berardinelli, em 2009; e, por fim, Rosiska Darcy, em 2013. 

Do mesmo modo, nas premiações as mulheres são ofuscadas. O Prêmio Nobel de Literatura, existente desde 1901, contemplou apenas quatorze mulheres. A última premiada, em 2013, foi a escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, autora de A guerra não tem rosto de mulher, Vozes de Tchernóbil, O fim do homem soviético, entre outros livros. 

Diante do espaço reduzido das mulheres na literatura, em 2014, a escritora e ilustradora britânica Joanna Walsh criou a hashtag #readwomen2014. A iniciativa tinha o objetivo de fomentar a leitura de livros escritos por mulheres e tornou-se um movimento global. No Brasil, a ideia de Joanna foi adaptada para uma versão presencial em livrarias e espaços culturais. Assim, surgiu um dos maiores clubes de leitura do país, o Leia Mulheres, que visa a leitura de obras escritas por mulheres, das clássicas às contemporâneas. 

Escritoras santa-marienses: quantas você já leu? 

Em Santa Maria, mulheres escritoras estão conquistando cada vez mais espaço no universo literário. Luciana Minuzzi considera que para as mulheres, ocupar um espaço na literatura é um ato político. “Acredito que tenham mulheres escrevendo nos mais diversos ramos da literatura. Vemos desde as formas mais tradicionais de publicação até nos slams de poesia na rua. Nos eventos literários, também vejo muitas mulheres na organização e no público. Ou seja, estamos aí e estamos criando”, expõe a escritora.

Luciana, que já publicou contos com temática de terror e suspense em antologias, ressalta ainda que  é preciso incentivar que mais mulheres escrevam. Contudo, entende que ainda é um processo complicado: “para que escrevam, precisam de tempo e é algo que muitas mulheres não têm em razão das jornadas triplas de trabalho”. 

Escritora, historiada e professora Nikelen Witter. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

A ficção científica e o fantástico fazem parte da escrita de Nikelen Witter, autora de três romances: Territórios Invisíveis, Guanabara Real e a Alcova da Morte, e Viajantes do Abismo. A professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) acredita que o maior papel da mulher na literatura hoje “é romper com filtros que contam a história da literatura, que marcam o que é cânone, e os que dizem que o leitor homem não vai se identificar com uma protagonista mulher”. 

A historiadora, que tem como inspiração Ursula Le Guin, Octavia Butler e Margaret Atwood, reforça que é necessário incentivar a escrita das mulheres. Segundo ela, “historicamente, as mulheres sempre leram mais. Penso que é um momento para se apoderar desse espaço. Não estou dizendo que as mulheres escreviam menos, pelo contrário, as mulheres sempre escreveram muito, mas nós nunca chegamos ao cânone porque temos uma tradição de apagar, silenciar e esquecer as mulheres”. 

A literatura produzida por Tania Lopes é diversificada e envolve livros infantis, romances, contos e crônicas gaúchas. A escritora e artista plástica conta que desde criança escrevia pequenos versos. Natural de Itaqui, publicou o primeiro livro quando se mudou para Santa Maria. Integrante da Academia Santa-Mariense de Letras, acredita que existe uma representação forte das mulheres escritoras na cidade, tanto na universidade, quanto na parte criativa, de romances. 

Escritora e artista plástica Tania Lopes. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

Tania, que foi patronesse da Feira do Livro de Santa Maria em 2004, relata que sempre escreveu em conjunto com homens: “Fui convidada a escrever um livro sobre os dez mandamentos, no qual era a única mulher. O livro era coletivo, um começava e passava para o outro. Quando recebi, os protagonistas, até então, eram advogado e professor de universidade. Pensei que estava muito elitista, então coloquei uma faxineira de protagonista”. 

Além disso, a artista plástica revela que o papel da mulher é essencial na literatura. “Ninguém escreve isenta de alguma coisa que viveu. Então, é necessário que as mulheres escrevam. A mulher cria, sofre, ama, desama, porque não colocar essas realidades na literatura?”, questiona a escritora. 

A poeta Haydée Hostin Lima é representante da Academia Santa Mariense de Letras e da Casa do Poeta. Autora de quatro livros, Coração Guepardo, O Telhado de Vidro, Tatuagem, Birds e diversas antologias, em 2015 foi patronesse da Feira do Livro de Santa Maria. Sobre as entidades, Haydée relata que ambas realizam encontros mensais (Academia) e semanais (Casa do Poeta). Enquanto todo o anos a Academia organiza o livro Prosa em Verso, na Casa do Poeta é estruturado o Elas por Elas, livro exclusivo com poesias das mulheres que fazem parte da Casa.

Livros de Tania Lopes. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

Outras perspectivas sendo lidas em conjunto 

Aliando a prática da leitura e a representatividade da mulher na literatura, Monalisa Dias e Débora Leitão criaram o clube de leitura Bem Ditas. A diversidade de autoras, temas e estilos literários permeia a política de escolha dos livros do clube, que promove encontros desde 2017, no terceiro sábado do mês, no Salu’s Casa e Café. Até o momento, foram lidas 29 escritoras. Os encontros são organizados pelo grupo no Facebook (Bem Ditas – Clube de Leitura) e são abertos ao público que tem interesse. 

29º encontro do Bem Ditas sobre o livro Mamãe & Eu & Mamãe, de Maya Angelou. Foto: Bem Ditas Clube de Leitura.

Monalisa acredita que o papel da mulher na literatura é trazer outras perspectivas. “Tivemos durante tantos anos uma história que é contatada por homens brancos e europeus. Penso que mulheres de diferentes lugares do mundo têm contado suas histórias a partir de outros pontos de vista. Então, é importante que tenhamos outras escritas e outras histórias contadas, e que as mulheres consigam espaço na sociedade para escrever, publicar e serem lidas”, esclarece a antropóloga. 

A pesquisadora e professora da UFSM ainda relata que o principal benefício do clube é conseguir incluir um tempo de leitura de literatura na rotina e conhecer mulheres que escrevem de diversos lugares do mundo. “O clube é uma motivação, porque é muito bacana você ler um livro e querer falar sobre ele, e chegar em um lugar e encontrar vinte, trinta pessoas que leram, e trocar uma ideia. As pessoas podem conhecer mais mulheres e verem toda a potencialidade que a gente tem para escrever. E também criar mais um espaço de sociabilidade em Santa Maria”, alegra-se Monalisa. 

Se você tem interesse em ler mais livros escritos por mulheres pode começar pela  Coleção Folha Mulheres na Literatura. Renomadas escritoras compõem a coleção, como Clarice Lispector, Lya Luft, Mary Shelly, entre outras do Brasil e do mundo. Também pode acessar a Livraria Africanidades, especializada em literatura afro-brasileira, e encontrar títulos de Alice Walker, Angela Davis, Bell Hooks, entre outras. 

Texto produzido na disciplina de Jornalismo III, no 2º semestre de 2019, e supervisionado pela professora Glaíse Palma.

Foto: Markus Spiske /Pixabay

Foi numa tarde muito fria que ela nasceu. Melhor dito: foi numa tarde gélida que ela iluminou o semblante de seu pai, luz que ecoou. Não lembro quantas horas fazia que ela respirava, mas o suficiente para mudar nossas vidas. Fui visitá-la. Levei rosas. Rosas rosas em cabos longos sem espinho. Ela não sabia cheirar e ninguém soube o que fazer com o presente que foi colocado sobre uma bancada. Sentei-me ao seu lado e, sem cerimônia, ela me olhou com firmeza pela fresta daqueles olhos intensos. Parei, não havia nada tão importante quanto deixar que ela prendesse meu dedo indicador na sua mãozinha forte e tudo ficou pleno.
Fazem 15 anos e, desde então, o mundo não é o mesmo.
Ela nasceu antes do instagram e isso me deixou feliz, porque poderia ter inúmeras imagens dos seus primeiros olhares, todos parciais e sem fazer jus à sua existência. Ela nasceu antes dos likes ficarem furiosos no facebook e isso me deixou feliz, porque haveria menos likes do que ela mereceria, mesmo que nenhum deles expressasse a emoção profunda de estar em sua presença. No dia que que a seleção brasileira de futebol masculino tomou aquele 7 a 1 ela era uma guriazinha animada que se confundiu com os gols e replays infindáveis.
Fazem 15 anos e isso significa dizer que foi antes das passeatas do ‘passe livre’, antes da expressão ‘não é pelos 0,20 centavos’, antes das ruas tomadas pela diversidade de pessoas e opiniões a expressarem insatisfação com o andamento da política. Ela ainda era pequena nas manifestações que, em 2013, ocuparam as cidades grandes. Ainda não pegava ônibus no período das grandes greves que pararam o transporte público. Foram anos tão democráticos e os passeios pelas ruas, ao sol, eram mais livres. Não era difícil discutir a necessidade de avanço no campo dos direitos humanos naqueles dias. E mesmo das meninas pequenas, era esperado que refletissem sobre sua experiência no caminho de se tornarem mulheres. Isso era prazeroso para mim: saber que ela vivia um tempo em que os desafios da sua condição podiam ser discutidos abertamente por gurias atentas. Isso aquecia meu coração. Sentia que naquele espaço e tempo estávamos criando um tesouro, algo que comporia uma herança positiva. Faz pouco tempo, tão pouco tempo e passou rápido demais.
Todavia, não quero explicar essa mudança com poucas palavras, quero pensar alto com elas nesse espaço em comum do texto. A vida mudou. A violência aumentou e os violentadores parecem desavergonhados. E notícias tristes e acumulam nos feeds, em sites de jornais (nacionais e regionais) e elas nos contam sobre a crueldade que a violência contra as mulheres tem se tornado robusta, tão robusta como sem racionalidade. Por que matar mães, filhas, esposas, namoradas? Que pode um mundo sem mulheres? Existe mundo sem elas? Gustave Coubert, lá no século XIX, pintou a origem do mundo conhecido que só pode existir pelo parto que um corpo feminino é capaz de suportar.
Nesse tempo passado e presente, é na data do aniversário de minha sobrinha que meu coração se apequena ao pensar nos desafios pelos quais ela vai passar, em todos os perigos que ela vai enfrentar. Com qual sociedade presenteamos nossos amados e amadas? Uma sociedade que parece travar e retroceder em direção à agressividade ao invés de abraçar nossas diferenças e caminhar junto à promoção da vida? Tenho pensado sobre isso, sobre qual a herança que deixaremos para as luzes desse mundo: nossas sobrinhas e sobrinhos, nossos filhos e filhas, nossas crianças todas.
Toda a vida importa! (Ah, como a vida de todos os seres humanos deveria importar!)
Agora quero dizer uma vez e alto, com todas as letras: a vida das mulheres importa (pois são elas as que morrem nas mãos dos esposos, dos namorados e não o contrário)!  Mulheres, que desde pequenas, se agigantam e seguem, com infalível certeza, reinaugurando o mundo.
Esse é o meu presente para o seu futuro, para todos os futuros, para que haja futuro!

 

Paula Jardim Bolzan, historiadora e antropóloga, professora na UFN

Uma audiência pública debateu, na manhã de hoje, quarta 03, na Câmara de Vereadores, o Projeto de Lei 8794/2018, que reserva vagas para gestantes e mulheres com criança de colo em estacionamentos administrados por entidades públicas ou privadas. A proposta determina que os veículos e as vagas deverão estar perfeitamente identificado com o símbolo internacional de acesso, uso regulamentado pela Lei Federal nº 7405.

A partir de hoje, a sociedade tem até 15 dias para apresentar emendas ao projeto, para fazer isto, o cidadão deve ir na Câmara de Vereadores e buscar pelo gabinete do Vereador Juliano Soares, que irá avaliar a emenda para elaboração do protocolo.

Cidadãos tem até 15 dias para apresentar emenda para o projeto. Foto: Camila Porto Nascimento/Divulgação.

 O vice-presidente da comissão, vereador Adelar Vargas, disse que o projeto vem para “regulamentar uma necessidade das mulheres”.

O presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Santa Maria, Cristian Sehnem, defende que as vagas para gestantes devem ser criadas além do montante de vagas já existentes para Pessoas com Deficiência (PCD). Ele afirma que o projeto é interessante, mas não está em acordo com a legislação federal. A integrante do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 5ª Região, Emilyn Borba, disse ser favorável à criação de vagas em estacionamento para gestantes e mulheres com criança de colo, mas defendeu que as vagas para PCD existentes sejam preservadas para as pessoas com deficiência. Já a integrante da Comissão da Mulher Advogada da OAB, Tais Lora, manifestou estar satisfeita com a possibilidade de aprovação do projeto.

O superintendente de Trânsito e Transporte da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, José Orion Ponsi, afirmou que o município não pode criar uma nova categoria para reserva de vagas em estacionamento, já que a Constituição Federal prevê somente vagas para PCD e Idosos. O presidente da comissão e proponente da matéria, Juliano Soares/Juba, salientou que o projeto está em aberto e que vai intensificar os estudos sobre as diversas legislações que tratam do tema. “Estamos aí para estudar e apresentar a melhor proposta”. Conforme a legislação federal, 2% da vagas são reservadas para PCD e 5% destinadas para idosos.

 

Por Mateus  Azevedo .Assessoria de Imprensa da Câmara de Vereadores de Santa Maria

Fotos: Mariana Olhaberriet, LABFEM

“Me disseram que não era necessário participar do ato para fazer a diferença nesta eleição, mas com o meu voto. Concordei, em partes. Realmente, no próximo domingo, por meio do meu direito como cidadã (conquistado por pessoas que lutaram a anos atrás), direi não ao machismo, lgbtfobia, racismo, misoginia e ao fascismo. Porém, estar presente na marcha, compor aquele coro, olhar ao redor e ver tanta gente lutando pela paz e pelo nosso direito de existir, me fez sentir viva, com a esperança renovada de que podemos fazer a diferença sim. E que da mesma forma como há alguns anos a luta de pessoas que foram para as ruas nos garantiu o direito de votar, eu fiz parte de um movimento que foi à luta e à rua pela nossa liberdade, pelo respeito,  pela vida. Que orgulho de nós!  #elenão” (Paola Saldanha, estudante de jornalismo UFN)

 

“Não tivemos medo em 1968. Não tivemos medo em 2018. Não teremos medo. Sabemos que medo não nos é possível ter, porque a histórias mostra que nossos direitos são sempre questionados, porque nossas conquistas são diminuídas, nossas mortes são relevadas e nossos sacrifícios chamados de “extremismo”.                        Não temos medo,  pois quando um homem paira sobre uma bancada e idolatra um torturador, quando esse homem faz alusão à escravidão e trata negros e indígenas como sub-raças, quando esse homem brada que a maioria é que vai vencer, nós é que somos chamadas de radicais e ganhamos apelidos com apologia ao nazismo.   Incomoda quando fazemos de nossos corpos resistência, quando ressignificamos um corpo que é colocado como público, quando escolhemos renascer, quando negamos quaisquer violação corporal e social pelo nosso sexo.” (Amanda Souza, jornalista, Santa Maria)

“Foi, acima de tudo, um dia para nos fortalecermos, juntarmos as forças que acreditam no bem. Estou com muito medo do que vem pela frente, com um país dividido, em que nossas existências estão sendo ameaçadas em sua integralidade por brasileiros que deixaram de acreditar nos fatos, na ciência, nas instituições, nos valores que constituem nossa civilização. Gritar, sorrindo, ao lado de tantas mulheres “Ele Não” me fez sentir que não estou sozinha e que sempre teremos uns aos outros para continuar.” (Luciana Carvalho, jornalista, professora da UFSM Campus FW)

“O que vi foi que nós, mulheres, somos mais fortes do que pensamos. Mostramos que não fomos frutos de uma fraquejada, e que quando nos unimos, podemos mudar o nosso pais. Que independente de profissões, classe social podemos defender nossos direito conquistados ao longo dos anos com muita garra e determinação.” ( Maria Luiza Kosmann, doméstica, Santa Maria)

“Desde o surgimento do candidato da extrema direita fascista no cenário político, nós mulheres sofremos, mais ainda, diversas formas de violência e desrespeito por parte deste candidato. As manifestações #elenão foi um momento histórico em que as mulheres de vários segmentos tomaram as ruas e disseram não à forma violenta e truculenta com que estamos sendo tratadas. Não toleramos posição passiva da recatada que sofre calada. Nesta manifestação elucidamos a que viemos, a posição que nos cabe na esfera social e política deste país. Queremos políticas públicas que venha a contemplar a demanda do movimento feminista. Bolsonaro é hostil com as mulheres, mas o machismo, a discriminação e está em todas as instituições.”  ( Lúcia Magalhães Fagundes, psicóloga, Santa Maria)

Em comemoração ao mês das mulheres, o Coletivo Unas organizou o Encontro Feminista SM para reunir as mulheres que já moram na cidade e as que estão chegando, visando a integração feminina.

O encontro será no Bar do Pompeo, localizado no Parque Itaimbé, às 15h do dia 24 de março, sábado próximo. Para aproveitar a tarde, performances artísticas de todos os tipos serão bem vindas no microfone disponível, além de lugar para poderem expor e vender trabalhos independentes.

O ano é 2018, século XXI, mas pelos altos índices de feminicídios parece que estamos na idade média. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Mesmo com as leis mais severas e inafiançáveis,  isto não tem sido barreira para quem quer matar. Os motivos?  As discriminações pelas quais as mulheres são alvos do machismo, pelo racismo, pela lesbofobia e pela maneira como vivem suas vidas, levando-as a mortes violentas. Quantas mulheres morreram apenas pela sua condição de gênero? Pelo ódio motivado, não tendo força física para própria defesa? Homens acovardados se aproveitam disso diariamente.

Numa entrevista para emprego, quantas mulheres já receberam as seguintes perguntas: ‘’Pretende engravidar? Tem filhos? Você quer trabalhar fora mas vai ter que cuidar da casa também’’? Tirando esse assédio moral, socialmente aceito, quantas mulheres já foram demitidas logo após uma licença maternidade? Temos um exemplo de um político que declarou, publicamente, que mulheres devem receber salários menores, pois engravidam.

O objetivo do dia 8 de março era reforçar as conquistas das lutas feministas das mulheres.  De todas os homens que parabenizam as mulheres ‘’por serem fortes e guerreiras’’, quantos realmente reconhecem isso? Quantos desses mesmos homens já humilharam as mulheres com palavras de baixo calão, assediando-as verbalmente ou até mesmo sexualmente?

A hipocrisia grita –principalmente- nas redes sociais. Talvez um dia poderemos sim, comemorar o dia da mulher com a igualdade dos salários, com cargos de chefia, com o fim da violência doméstica. Talvez um dia poderemos caminhar na rua sem ter o medo de ser abusada sexualmente. Podemos sim, reconhecer alguns avanços, mas não está nem perto de ser o suficiente. Hoje eu, como mulher, afirmo que de feliz essa data não tem nada.

Sem programa na quinta à tarde? Neste dia 8 de março, dia internacional da mulher, ocorrerá das 14:30 às 18:00, no hall do prédio 15, conjunto III do Centro Universitário Franciscano, o bate-papo Mulheres e Mercado de trabalho: muito mais que poder, protagonismo. Organizado pela Agência Experimental do Curso de Publicidade e Propaganda (Gema), tem como principal objetivo  debater questões que cercam a mulher no mercado de trabalho. 

A mediadora será a aluna de Publicidade e freelancer Débora Lemos. As outras participantes serão Jaqueline Adams (Proprietária da Agência J.Adams), Julie Jarosczniski (Sócia-Proprietária do Mercato Amorino), Raquel Martins (Sócia-Proprietária da Agência Advertência) e Shaiana Antonello (Atendimento na Agência MP&C Comunicação).

As inscrições podem ser feitas diretamente pela página da Gema no Facebook, inbox, e são necessários apenas o nome completo e endereço de e-mail, para o envio de certificados. O número de vagas é limitado. São oferecidas apenas 50.

Link da página da Gema: https://www.facebook.com/agenciagema/

Grita, Festival de Arte e Música Feminina teve apresentações de seis bandas. Foto: Graciane Martini e Atílio Alencar/Divulgação

O Grita, Festival de Arte e Música Feminina, é um movimento voltado para que as pessoas percebam a relevância das mulheres no campo das artes. O festival reuniu as bandas She Hoos Go (Pelotas), 3D (Porto Alegre), Sterea (Porto Alegre), Musa Híbrida (Pelotas) e Glass (Santa Maria), no Parque Itaimbé, no dia 19 de novembro.

O festival teve início quando um grupo de meninas decidiu trazer uma banda de São Paulo para um show em Santa Maria, mas a ideia não se efetivou por questões financeiras. As idealizadoras decidiram apostar em um festival com seis bandas regionais

O Grita foi criado com a intenção de ser um espaço de visibilidade e valorização de música e arte feitas por mulheres, não só no palco do festival como nas oficinas, pensadas para incentivar a criatividade e autoestima feminina.

A estudante Luiza Roos, do curso de Psicologia da UFSM, 24 anos, disse que o Grita possibilita que outras mulheres se inspirem e se motivem a perseguir esse caminho.

O evento foi divulgado inteiramente pela internet. As organizadoras criaram conta no Instagramfanpage no Facebook para divulgar os eventos prévios ao festival – oficinas, rodas de conversa e as festas – e a vaquinha online, que custeou a maior parte do festival.

Luiza comenta que a repercussão do festival, em geral, foi muito boa e que o grupo tiveram muito apoio, além da vaquinha, nas parcerias de quem cedeu seu tempo, seu espaço ou seu trabalho para colaborar com o Grita.

A estudante Valentina Pezzi, do curso de Letras da UFSM, 19 anos, participou da iniciativa e constatou que, na sua concepção, o evento é muito importante para valorizar o trabalho de mulheres e sua trajetória na música. Para a universitária, o Grita é uma forma de mostrar ao publico que isso também existe apesar do preconceito e da pouca visibilidade.

Já a jovem aprendiz Luizi Rosauro, 15 anos, participa pela primeira vez de um festival com este intuito. Ela considerou importante a proposta para as mulheres terem seu espaço e se sentirem motivadas. Luizi diz que as mulheres não se sentem tão confortáveis em eventos específicos para homens.