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Narciso acha feio o que não é espelho

Os Jogos Paraolímpicos não estão envoltos pelo “glamour” que a grande mídia destinou aos Jogos Olímpicos, ainda que ocorram desde 1960, ano da sua primeira realização em Roma, na Itália. Longe disso! O esquema de transmissão das Paraolimpíadas 2016 na TV

Paralimpíadas 2016 e o esporte adaptado em Santa Maria

A 15ª edição das Paralimpíadas ocorrerá entre os dias 7 e 18 de setembro na cidade do Rio de Janeiro. A cerimônia de abertura será realizada no Estádio do Maracanã. Estima-se que 4 mil atletas de

Denilson Souza no evento de kart adaptado. Foto: Lis Lemes
Denilson Souza no evento de kart adaptado. Foto: Lis Lemes/especial

O esporte adaptado em Santa Maria tem ganhado espaço cada vez mais. Alguns projetos para o público cadeirante da cidade foram criados, como o kart adaptado e a bocha adaptada.

O fundador desses projetos Denilson Souza, atleta e cadeirante, conta que via em Santa Maria a necessidade de implantar tais esportes na cidade. Mostrando o projeto para as pessoas, criando parcerias e sendo uma referência no esporte, ele conseguiu tirar o projeto do papel. No dia 10 de setembro às 18h, aconteceu o evento de bocha adaptada em carpete, na Associação Cruzeiro do Sul, uma parceria de Denilson com o presidente da associação Edemar Eilert. No dia 11 de setembro foi na Speed Pista de Kart, no bairro Camobi, onde ocorreu o evento de abertura do parakart em Santa Maria que foi das 14h às 17h.

Os projetos estão em fase de adaptação tanto com equipamentos quanto financeiramente, ainda falta um local fixo para a prática desses esportes. O carpete usado na bocha não é exclusivo para atletas com deficiência, se trata de uma regra da modalidade. Ainda não se tem um patrocinador para os projetos, os gastos para as adaptações dos aparelhos são tirados do bolso do próprio Denilson com ajuda de seu irmão.

A bocha adaptada está em análise para que em 2020 se torne uma modalidade paralímplica. Existe também um projeto Basquete em Cadeira de Rodas na Universidade Federal de Santa Maria, coordenado pela professora Luciana Palma, do Núcleo de Apoio da Educação Física Adaptada (NAEEFA). O projeto conta com cerca de 15 alunos. O time, chamado Força Sobre Rodas, espera que o número de participantes aumente com os anos.

O NAEEFA tem outros projetos para deficientes físicos, como o programa Piscina Alegre que atende pessoas com deficiência física, sensorial e múltipla. A Piscina Alegre fica no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) que faz parte do NAEEFA dentro da UFSM. O programa se organiza com os seguintes projetos: Educação e Reeducação Motora Aquática para Pessoas com Deficiência, Estimulação Essencial Motora Aquática para Bebês e Crianças com Deficiência, Atividades Lúdicas Aquáticas para Alunos com Deficiência e Natação. O objetivo do CEFD com esses projetos é a educação e reeducação motora de alunos deficientes de todas faixas etárias.

Juntamente com o basquete, existe um projeto dentro do Centro como o Handebol Adaptado que auxiliam no tratamento de pessoas com necessidades especiais. Além da Equoterapia, reabilitação de deficientes através da utilização do cavalo. Cada participante tem o auxílio de três alunos da UFSM dos cursos Educação especial, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia.

O maior desafio dos participantes do NAEEFA, Denilson e muitos outros é lutar contra o preconceito mostrando que pessoas com algum tipo de deficiência também são capazes de praticar esporte. Este é o objetivo que esses projetos têm, em primeiro lugar, a inclusão de pessoas especiais na sociedade.

Por Gabriela Agertt e Thaís Ribeiro para o Jornal Abra

Observatório da mídia CS-02Os Jogos Paraolímpicos não estão envoltos pelo “glamour” que a grande mídia destinou aos Jogos Olímpicos, ainda que ocorram desde 1960, ano da sua primeira realização em Roma, na Itália. Longe disso! O esquema de transmissão das Paraolimpíadas 2016 na TV e na internet se mostra muito menor do que o realizado durante as Olimpíadas,  apesar do Brasil ter se destacado de modo ascendente nas últimas edições destes jogos.

Em 2004, em Atenas, o país levou 98 paratletas que ganharam 33 medalhas, enquanto os 247 atletas olímpicos voltaram 20 dias antes, com apenas 10 medalhas e foram recebidos por uma mídia efusiva e barulhenta.  Na edição seguinte dos jogos, em 2008, na cidade de Pequim, o Brasil ficou em nono lugar e entre os primeiros dez colocados no quadro de medalhas com 47 vitórias  e, em 2012, em Londres, obteve 43 medalhas e o sétimo lugar no ranking mundial. Nesta edição dos Jogos Paraolímpicos Rio2016  a TV aberta recuou na transmissão. Apenas o canal da Tv Brasil está acompanhando integralmente os jogos. A Tv Globo vem fazendo flashes em alguns dos seus programas e exibiu um compacto da abertura, enquanto a Record, o SBT e a Bandeirantes limitaram-se à cobertura jornalística. Quem tem Tv a cabo, canal pago, acessa pela Sportv que faz a transmissão em seus diferentes canais.  Um conjunto de ações que se mostra em nada, se comparado à divulgação exaustiva das Olimpíadas.

O por quê disso? Para além do marketing e do reconhecimento do paraesporte – o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), tem trabalhado fortemente a busca de patrocínio -, há a questão da cultura e das produções de sentido que as estratégias midiáticas acionam.

Ao se observar o contexto desigual das transmissões é possível pensar que a mídia estabelece um paradoxo entre os dois tipos de jogos: as Olímpiadas representam a sociedade idealizada, do gozo, da perfeição dos corpos, do alto rendimento, da disputa e do sucesso; já as Paraolimpíadas exigem que se olhe a deficiência,  o limite,  a exclusão,  a fragmentação,  a necessidade de superação como condição de sobrevivência.

Quem assistiu a abertura dos Jogos Paraolímpicos, belíssima, não deixou de se ver defrontado com o Outro, com o diferente habitualmente oculto. Eles entraram e eram muito mais heterogêneos do que as suas nacionalidades e etnias. Eram muitas corporeidades a manifestar a sua singularidade não camuflável. Não mais as equipes de corpos perfeitos de poucos dias atrás, mas aquelas cujos corpos foram mutilados, desfigurados  que, de repente, surgem muito mais  numerosos ( e poderosos) do que se imagina.

Se a imagem do paratleta perturba, é porque ela devolve, em espelho, a imagem da deficiência, da fragilidade da existência vivida por cada um, testemunhada nas marcas do corpo.  O deficiente é a própria encarnação da assimetria, do desequilíbrio, da disfunção. Revela-se como o oposto da perfeição tão cultuada no mundo ocidental, representada pelo atleta olímpico e propagada pela mídia.  O atleta com deficiência é o sobrevivente que traz as marcas da catástrofe. Pior, representa, de modo explícito, a fatalidade que acena, ameaça, ronda enquanto perigo potencial capaz de romper as bases de uma existência que está comodamente assentada.

A visibilidade midiática pode ser entendida como espaço de negociação de sentidos da sociedade. Sabe-se que suas representações interferem nas percepções individuais e coletivas do mundo, ainda que o ato de “olhar” nunca seja linear, porque multidimensional. No entanto, é possível perguntar em que medida a lógica midiática tem desviado, e se desviado, de temas nevrálgicos, capazes de levar à reflexão e à mudança social.

A mídia expõe e oculta, classifica e ignora, eleva e oculta, permanentemente, em diferentes níveis e contextos.  O fez durante os Jogos Olímpicos, elegendo os seus prediletos, esportes e atletas. Ocultou muitos outros. Volta a fazer novamente, de modo mais pernicioso porque quando não oculta, minimiza a condição da diferença. O modo como representa os paratletas envolve a compaixão, na medida em que os tornam símbolos de “superação”.  Sujeitos sobreviventes, readaptados numa sociedade pautada pela ideia de “normalidade”, em defesa da ordem vigente.

Ora, não se trata de solidariedade e sim, de confiança e respeito pelo diferente. Envolve uma questão ética que no campo do jornalismo, em particular, exige que se vá além do apelo emocional e se desdobre numa cobertura efetiva e equânime. Afinal, com exceção desta parca cobertura das Paraolimpíadas, a transmissão do paraesporte em competições importantes para o país praticamente não existe. Paratletas não são pautados. Será porque Narciso acha feio o que não é espelho, como diz a música do Caetano Veloso?

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Rosana C. Zucolo  é jornalista e mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria e doutora em Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Atualmente é  professora adjunta no Centro Universitário Franciscano e uma das editoras da ACS.

1A 15ª edição das Paralimpíadas ocorrerá entre os dias 7 e 18 de setembro na cidade do Rio de Janeiro. A cerimônia de abertura será realizada no Estádio do Maracanã. Estima-se que 4 mil atletas de 160 países irão participar dos jogos.

Santa Maria não terá representante nas paralimpíadas deste ano. O cadeirante Denilson Souza, que participou do revezamento da tocha olímpica na cidade, já tentou participar da modalidade paralímpica de canoagem. Entretanto, no ano em que iria participar, a modalidade foi retirada do programa. Atualmente, Denilson trabalha com esportes adaptados na cidade.

O projeto Basquete em Cadeira de Rodas, coordenado pela professora Luciana Palma, do Núcleo de Apoio da Educação Física Adaptada (NAEEFA) da Universidade Federal de Santa Maria, tem cerca de de 15 alunos. Entre os integrantes da chamada Força Sobre Rodas está Denilson.

Novas propostas da prática local de modalidades esportivas como bocha para cadeirantes e corrida de rua adaptada são idealizadas por Denilson. A bocha adaptada está em andamento para que em 2020 se torne uma modalidade paralímpica. O atleta acredita, com base em seu trabalho, que Santa Maria terá representantes paralímpicos nos próximos anos.

A região de Santa Maria tem cerca de 5 mil cadeirantes. Os projetos do NAEEFA visam à inclusão dos portadores de necessidades especiais a partir da prática esportiva.

Redação: Gabriela Agertt

Edição: professor Maurício Dias (Jornalismo Digital I)