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Toxoplasmose

Autoridades confirmam toxoplasmose em amostra de água

Na manhã de hoje, 6 de julho, uma coletiva de imprensa foi realizada no Ministério Público Federal em Santa Maria para prestar esclarecimentos à população santa-mariense em decorrência do surto de toxoplasmose.  Conforme laudo emitido pela

SUS: saúde à mercê da espera

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Liliane Mello, Tatiana Dornelles, Fernando Barros e Alexandre Schwarzbold na coletiva de imprensa sobre a toxoplasmose. Crédito: Equipe ACS

Na manhã de hoje, 6 de julho, uma coletiva de imprensa foi realizada no Ministério Público Federal em Santa Maria para prestar esclarecimentos à população santa-mariense em decorrência do surto de toxoplasmose.  Conforme laudo emitido pela Universidade Federal de Londrina no dia 27 de junho, foi atestado como positivo a presença do DNA do toxoplasma gondii em uma amostra de água colhida no lodo decantado de uma residência em Santa Maria. E essa residência é abastecida unicamente com a água da concessionária da cidade (CORSAN). No dia 5 de julho, em um laudo complementar do mesmo laboratório da Universidade Federal de Londrina foi feita uma comparação que analisou o DNA dessa residência com DNA de 4 gestantes que contraíram a doença. A conclusão é que são tipos diferentes de protozoários atestados durante o surto.

Conforme o médico infectologista Alexandre Schwarzbold, a expectativa para sessar o surto é positiva, pois foram feitas dezenas de análises, cujos resultados deram negativos em relação ao parasita. No entanto, este único resultado positivo é um alerta para reforçar todos os cuidados maior na ingestão da água, hortifrútis e carnes em geral. Esse toxoplasma encontrado na análise de uma residência é um indicativo de que o parasita se encontra, sim, na água, afirmou o infectologista.

Uma questão muito salientada pela Secretaria de Saúde de Santa Maria é a da limpeza dos reservatórios da Corsan. Segundo este órgão,  a população pode acessar o site da concessionária, para ter ciência de datas e distribuição para cada localidade do município, porém a necessidade de fazer limpeza individual de sua caixa d’água e mantê-las vedadas é muito importante neste momento.

 

O maior pronto atendimento de urgência e emergência da cidade”. Assim foi descrita a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), inaugurada em Santa Maria em 4 de abril de 2014, durante o governo do então Prefeito, Cezar Schirmer. A UPA, abriu as portas ao público de forma parcial no dia 21 de março de 2014. Na época, os atendimentos eram realizados a partir de encaminhamentos feitos por profissionais dos Pronto Atendimentos (PA) do Patronato e da Tancredo Neves.

Como consta no site da prefeitura, a Unidade ocupa uma área total de 1,4 mil m², com estrutura para atender a população com salas de consultórios para diagnósticos, tratamento terapêutico, observação, atendimento de urgências e emergências. O funcionamento é de segunda-feira a domingo, inclusive feriados. A UPA também oferece serviços laboratoriais, raios-X e pequenas cirurgias.

Foto: João Alves publicada em 26/06/2012 no site da Prefeitura de Santa Maria

No dia 26 de maio, sábado, por volta das 16h, fomos até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santa Maria, que fica em anexo à Casa de Saúde, no Bairro Perpétuo Socorro, na região norte da cidade. Em conversa com quem estava no local – entre pessoas que aguardavam a consulta e familiares que acompanhavam os pacientes – fomos informados de que o atendimento naquela tarde demorava em média três horas.

Às 17h30, usuários que haviam preenchido a ficha na recepção antes das 14h ainda esperavam pelo atendimento médico. Não havia muitos pacientes na unidade, porém fomos informados de que, além da falta de médico no plantão da tarde, o recepcionista responsável por fazer o cadastro se demonstrava impaciente com o público. “Estão chamando só agora o pessoal das 14h. Deus o livre isso aí, para mim o atendimento é péssimo. Deus que me perdoe, ainda bem que eu tenho meu plano. Chego lá e marco consultas e exames direto. É a segunda vez que trago alguém aqui, na primeira foi a minha filha, até que não demorou tanto. Hoje que trouxe minha companheira, tá demorando demais. Para piorar, o PA está fechado e o posto da Tancredo também”.

Outro homem, que também aguardava seu familiar ser atendido, comentou sobre a falta de educação do funcionário da recepção. “Aquele cara não era para estar ali trabalhando. O rapaz que atende ali é péssimo. Vai tratar a mãe dele assim lá no meio do mato, do jeito que trata as pessoas. Falta ele ser mais educado. Chegou uma mulher ali e disse que estava demorando, ele falou: quer assim quer, não quer esperar vai embora”.

Ambos entrevistados não quiseram se identificar. Até o momento em que saímos do local, cerca de 18h, nenhuma das pessoas com quem conversamos havia sido atendida.

Os atendimentos do UPA são realizados por ordem de gravidade e risco, conforme protocolo estabelecido abaixo:

Na Unidade, as informações do quadro estão fixadas na entrada.

Também nos foi dito que, na sexta, 25 de maio, a unidade estava sobrecarregada. Um homem de 36 anos, que não quis se identificar, deu entrada pela manhã desse dia com fraturas no tórax, em decorrência de um acidente de trânsito. O rapaz foi encaminhado para análise médica e exames de Raio-X, que confirmaram fraturas nas costelas do lado direito e também na escápula.

O ortopedista da UPA recomendou a transferência do paciente para o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Durante o tempo de espera, o rapaz permaneceu desacompanhado, mesmo sem condições de se mover. Na ocasião, sua esposa, que estava no local, foi retirada da sala sem nenhuma explicação. Quando pediu para retornar, foi informada de que o médico precisaria da permissão do médico da Unidade. O atendente ligou para o médico, que não estava presente no local, e a permanência da mulher foi admitida por apenas cinco minutos, mais uma vez sem explicação. Não foram prestados esclarecimentos e também não foram entregues os exames de raio-x realizados. O homem aguardou a transferência até às 20h, quando enfim foi levado para o HUSM.

A espera pela transferência levou várias horas, pois, segundo o atendente do UPA, o médico responsável por cirurgias torácicas atende na Unidade de segunda a quinta-feira, e portanto seu retorno seria apenas na segunda pela manhã. Com a superlotação do hospital, não seria viável receber mais um paciente. Era sexta-feira, e o rapaz – com fraturas – teria que aguardar mais três dias para ter algum encaminhamento. O paciente, afinal, foi internado por uma semana e aguardou até a quinta-feira do dia 31 de maio para ser informado de que passaria por cirurgia. Apenas submetido a exames de Raio-X e tomografia, ele acabou não passando por cirurgia, nem teve imobilização das partes fraturadas, de acordo com o médico, decorrência de serem na parte superior do corpo, onde seria impossível a colocação de gesso ou tala. Junho chegou, e o rapaz ainda se recuperava em casa, fazendo uso de medicamentos para dor e fisioterapia.

Em outro relato sobre o atendimento da Unidade de Pronto Atendimento a um paciente acidentado, o serviço prestado também foi ineficiente. Em outubro de 2017, um homem de 28 anos procurou a UPA após ter caído de moto. Ele relata que foram mais de três horas aguardando o atendimento a ser realizado por uma clínica geral. A médica o encaminhou para o raio-x. Após retornar à sala da médica, o rapaz foi atendido enquanto a profissional conversava com uma amiga pelo WhatsApp. “Tô aqui respondendo uma amiga que tinha me mandado uma mensagem mais cedo e eu não vi”, disse a médica enquanto ria e mostrava o celular para o paciente.

A doutora também comia biscoitos de um pacote que estava em sua mesa. Errou duas vezes ao procurar o raio-x que havia requisitado. Em um primeiro momento, encontrou o exame de um paciente que havia fraturado o dedo indicador. Surpreendido, o rapaz indicou que o exame realizado havia sido no pulso, onde permaneceu com a mão fechada não havendo condições para diagnosticar se um dedo estivesse quebrado. A médica, então, encontrou outro exame, mesmo as pastas dispondo claramente os nomes dos pacientes. O rapaz então foi até o outro lado da mesa, olhou para o computador e encontrou a pasta do exame com o seu nome escrito.  Durante todo o atendimento, a clínica geral mostrou-se indisciplinada e antiética. De acordo com o rapaz, mesmo ele relatando que sentia dores fortes no joelho em decorrência da queda de moto, não foi pedido nenhum tipo de exame para a região. Os machucados que sangravam no braço e na perna direita também não foram considerados. Ele não recebeu nenhum tipo de medicação no local, saiu da unidade com alguns medicamentos receitados e a doutora não sabia nem mesmo pronunciar o nome do medicamento que havia prescrito.

Mais de 4 mil horas na espera por um exame

Noite de uma quinta feira, 10 de maio. Cristiana Andrade, 40 anos, deu entrada no UPA com dores no corpo, enjoos e febre. Após uma 1h30 de aguardo na sala de recepção, foi transferida para a sala de medicações, onde ficou sentada em uma poltrona até a noite do domingo, 13 de maio. Durante os dois dias na sala de medicações, onde aguardava o resultado dos exames de sangue que constatariam o motivo de estar ali, o atendimento que recebeu por parte das enfermeiras, segundo ela, foi de despreparo e descaso com o seu estado de saúde. Cristiana relata que na madrugada do sábado, 11 de maio, diversas vezes foi convidada a se retirar da sala para se direcionar a sala de oxigênio ao lado. Porém esta sala estava lotada, não tinha nem mesmo uma poltrona para que pudesse acomodar-se. Ela teria que ficar sentada em uma cadeira simples e sujeita a se sentir ainda pior. Cristiana recusou-se a sair do local e ouviu das enfermeiras frases do tipo “você não está pensando nos outros” ou “você tem que sair daqui para dar lugar a outro paciente”, além de cochichos e olhares de irritação umas com as outras.

A noite fria de outono parecia ser mais longa do que o normal. A espera era a palavra que lhe mais doía, e não sabia se o pior sintoma era esperar pelo médico, pelos resultados dos exames ou pela sua transferência para um leito onde pudesse pelo menos espichar suas pernas e deitar a cabeça sobre um travesseiro. Durante a madrugada, quando precisava ir ao banheiro, tinha de pedir que chamassem algum de seus familiares que aguardavam pelo lado de fora da sala, ou até mesmo pelo lado de fora da Unidade – pois não era permitido acompanhantes na sala de medicações.

Já eram quase 80 horas sentada sobre uma poltrona azul, que parecia ser a mais desconfortável de todos os tempos. Já eram mais de três dias aguardando resultados de exames que pareciam que nunca chegariam. “Por causa do surto, os exames estão demorando mais do que o normal em todos os hospitais da cidade, mas logo vai sair o teu”, era a desculpa que ouvia do médico e das enfermeiras que entravam e saiam da sala e às vezes nem lembravam do motivo dela estar há tanto tempo ali. Cristiana explica que a orientação que recebeu na primeira noite “internada” era de que ela não podia ser transferida para um leito antes que os médicos soubessem que doença ela tinha. As suspeitas principais eram toxoplasmose, hepatite ou leptospirose.

Na noite do domingo, 12 de maio, os exames ainda não tinham ficado prontos. No entanto, por meio do contato de uma amiga com a diretoria do UPA, a paciente finalmente foi transferida para um leito na própria Unidade. Pôde, enfim, tomar um banho, descansar e humanamente aguardar pelos resultados, agora acompanhada de um familiar. Na segunda-feira, 14 de maio, enquanto se alimentava aos poucos com o auxílio do marido, recebeu a visita da médica plantonista que passava de leito em leito para ver o estado dos pacientes. Em poucos minutos de conversa e avaliação, a médica decide que Cristiana já estava em condições de ir para casa. “Você já está até comendo, não há motivos para ficar aqui. Pode ir para casa e aguardar lá o resultado dos exames”, foi o que ouviu em castelhano da médica apressada. Seu marido não aceitou, disse à médica que a esposa não tinha condição nenhuma de ir para casa, onde doente ficaria junto aos seus filhos e sua família, enquanto não soubesse que doença tinha e que males poderia causar aos que se aproximavam dela.

A médica, então garantiu verbalmente que, se Cristina fosse diagnosticada com toxoplasmose, hepatite, leptospirose, ou a doença que fosse, poderia dar  baixa no mesmo leito que deixaria na noite da segunda. Porém, seu marido insistiu mais uma vez e propôs uma prescrição onde a médica se responsabilizasse pela decisão tomada. Não foi o que aconteceu. Após sete dias internada sem saber o motivo, na quinta-feira, 17 de maio, os exames de Cristiana ficaram prontos. Toxoplasmose foi a doença diagnosticada. Na noite da mesma quinta-feira, a mulher deixou a Unidade reclamando de dores nas costas, com uma receita na mão, e a certeza de que o atendimento naquele local se resumia a uma palavra: despreparo. O tratamento da toxoplasmose foi realizado em casa, sem acompanhamento médico e sem Cristiana ter voltado à Unidade para reavaliação.

As Unidades de Saúde dos bairros de Santa Maria

Segundo informações disponibilizadas no site da Prefeitura Municipal de Santa Maria, existem 22 Unidades Básicas de Saúde na cidade (UBS), distribuídas entre 11 bairros e vilas:

  • Vila Oliveira;
  • Bairro Centro;
  • Bairro Medianeira;
  • Cohab Santa Marta;
  • Bairro Itararé;
  • Bairro Salgado Filho;
  • Vila Shirmer;
  • Vila Lorenzi;
  • Bairro Passo das Tropas;
  • Residencial Dom Ivo Lorscheiter,
  • Bairro Camobi;
  • Cohab Fernando Ferrari;
  • Cohab Tancredo Neves.

Além das Unidades, há os locais de atendimento especializado, como o Centro de Diagnóstico Nossa Senhora do Rosário (antigo Cedas). A única notícia encontrada no site da Prefeitura sobre o local foi publicada em julho de 2013, e afirma que o Centro de Diagnóstico oferece aos usuários da rede pública municipal – encaminhados pela Central de Marcação – especialidades médicas, exames de ultrassom, eletrocardiograma, fisioterapia, fonoaudiologia, saúde da mulher e laboratório municipal. Na cidade também há o Pronto Atendimento Municipal (PA) do Bairro Patronato. No site da Prefeitura, consta que no PA há a unidade de Pronto Atendimento Infantil (PAI), e o Pronto Atendimento Adulto (PAA), ambos funcionando 24 horas por dia. Além disso, cita-se o Pronto Atendimento Odontológico (PAO), que atende de segunda a sexta-feira, das 19h às 7h da manhã do dia seguinte, e aos sábados, domingos e feriados, atende 24 horas. Além disso, existe a Policlínica Rubem Noal, no Bairro Tancredo Neves, e a Casa 13 de Maio, no bairro Centro – uma unidade de saúde especializada, com foco no atendimento de infecções sexuais transmissíveis (ISTs), HIV/Aids e hepatites virais (B e C).

Em Santa Maria, também existem 14 Unidades Estratégia Saúde da Família (ESF), espalhadas por bairros, vilas e distritos:

  • Distrito Arroio do Só, junto à Subprefeitura;
  • Distrito Bela União, na Rua Cruz Alta;
  • Distrito de Santo Antão, próximo à Escola Int. Manoel Ribas;
  • Distrito de Pains, junto à subprefeitura;
  • Vila Bela União;
  • Bairro Alto da Boa vista, na Rua 25 de Abril junto à escola Adelmo Simas Genro;
  • Bairro Parque Pinheiro Machado, na Rua Boa Vista;
  • Vila Caramelo;
  • Vila São João, na Rua Palestina;
  • Bairro São José, na Rua Antônio Gonçalves Do Amaral;
  • Vila Lídia, rua Maestro Ribas Barbosa;
  • Vila Maringá, na Rua João de Barro;
  • Vila Santos, na Rua Antônio Foletto;
  • Vitor Hoffman, na Rua Distrito Federal;
  • Vila Urlândia, na rua Valdir C. da Silva.

Informações solicitadas às Unidades de Saúde  

Entre os dias 4 e 13 de junho, entramos em contato com Postos de Saúde, Unidades Básicas de Saúde(UBS) e Unidades Estratégia Saúde da Família (ESF) da cidade. As informações solicitadas foram referentes aos horários de atendimento, o serviço médico prestado, os exames realizados no local, entre outros. No entanto, em poucos casos obtivemos as respostas, e houve situações em que nem mesmo fomos atendidos. As Unidades com que entramos em contato foram as seguintes:

-Posto Dom Antônio Reis

  • Telefone: 3223-5588
  • Atendimento: de segunda à sexta das 7h às 16h sem fechar ao meio dia.
  • Coordenadora: Nilra
  • A unidade atende pela agenda médica e também faz o acolhimento.
  • Atendimento médico: 2 Clínicos gerais; 1 Ginecologista; 1 Dentista para adultos; 1 Dentista pediátrico e 1 Pediatra.

-ESF. Vila Santos

  • Telefone: 3211-8088
  • Karen (não identificou o cargo) informou-nos que tem ordens da Secretaria de Saúde para não passar nenhum tipo de informação referente ao atendimento prestado.

-Posto de Saúde José Erasmo crossetti

  • Telefone: 3921-1097
  • Enfermeira responsável: Letícia
  • Secretária: Vívian
  • Fomos informados por Letícia de que não são dadas informações por telefone para estudantes. A unidade não colabora com trabalhos acadêmicos.

-Posto de Saúde João Luiz Pozzobon

  • Telefone: 3212-8736
  • Atendimento: de segunda à sexta. das 7h30 às 12h e das 13h às 16h30.
  • Coordenadora: Lisiane.
  • Secretária: Priscila.
  • Atendimento médico: 1 Clínico geral, 1 Ginecologista obstetra, 1 Dentista que atende adultos e crianças
  • A unidade atende com demanda livre,  quando é feito o atendimento da agenda médica em conjunto com o acolhimento. Foi questionado sobre o número de atendimentos estipulado pela agenda médica, mas não obtivemos resposta. A informação que obtivemos foi de que as tardes das quintas-feiras são reservadas para o atendimento da saúde da mulher e de crianças. Nas manhãs da sextas-feiras há atendimento do clínico geral.

-UBS Waldir Mozzaquattro

  • Telefone: 3223-6608
  • Atendimento: de segunda à sexta das 7h às 12h e das 13h às 16h.
  • Coordenadora: Antonieta.
  • Secretária: Michele.
  • Atendimento médico: 3 Clínicos gerais; 2 Ginecologistas; 2 Dentistas; 2 Técnicos de enfermagem; 1 Pediatra e 1 Enfermeira.
  • A agenda médica é estabelecida nas quartas-feiras às 13h, quando são distribuídas 140 fichas para atendimento na semana seguinte. O acolhimento existe se for necessário.

-Posto de Saúde Rubem Noal

  • Telefone: 3214-1006
  • Enfermeira responsável: Gabriela
  • Responsável segundo a secretária: Rose  3214-2077
  • Tentamos contatos duas vezes no dia 4 de junho, na primeira delas a secretária passou o contato de Rose, como sendo a pessoa responsável para responder sobre o atendimento da unidade. Rose por sua vez pediu que retornasse ao primeiro telefone contatado para falar com a enfermeira Gabriela que seria a responsável por estas informações. Após quatro tentativas, no dia 5 de junho finalmente conseguimos contato com Gabriela. A enfermeira pediu para retornar em outro momento pois, não poderia passar estas informações naquele instante, mesmo dizendo no início da conversa que teria disponibilidade.

-ESF Maringá

  • Telefone: 3223-2158
  • Enfermeira responsável: Sharon
  • Em três tentativas de contato, não conseguimos falar com a enfermeira. As respostas foram que ela estaria em uma reunião. No primeiro contato realizado no dia 4 de junho, foi possível ouvir quando a secretária perguntou se a enfermeira poderia atender e a resposta foi que fosse informado que estava em uma reunião.

-ESF Bairro Passo das Tropas

  • Telefone: 3211-2202
  • Enfermeira responsável: não se identificou
  • Foi informado pela enfermeira da Unidade que não são prestadas informações por telefone, muito menos para estudantes. Segundo ela, para termos os esclarecimentos solicitados, seria necessário uma autorização e se tivéssemos a autorização, deveríamos ir pessoalmente na Unidade para conversar com a suposta enfermeira que em momento algum se identificou.

Secretaria da Saúde diz que informações não podem ser prestadas a estudantes

Em contato com a supervisora da Secretaria de Município da Saúde, obtivemos a informação de que as enfermeiras e secretárias dos postos de saúde da cidade, de fato recebem a orientação de não fornecerem informações  sobre o atendimento prestado à população. A coleta de dados e demais esclarecimentos sobre as unidades devem ser feitas na Secretaria, com a superintendente de Atenção Básica, Maria Suzana Lopes, que é responsável pelos postos de saúde da cidade. A orientação em não passar informações por telefone existe em função da grande demanda de atendimento que há nas unidades, já que as enfermeiras coordenadoras dos postos também prestam atendimento à população. Portanto, como método de prevenção, a a secretaria opta por fornecer os esclarecimentos referentes ao atendimento nas unidades de saúde, isentando os profissionais dos postos da função. Na tentativa de agendar um horário com a superintendente Suzana, encontramos grande dificuldade em conseguir transferir a ligação para sua sala. O telefone de acesso à superintendente não estava funcionando no dia 11 e 12 de junho. Quando entramos em contato com secretária, ela precisou se dirigir até o suposto local que estaria Suzana, porém, não a encontrou e por fim ainda  informou  que a doutora estava na unidade. Deixamos recado e pedimos que fosse retornada a ligação, no entanto, até o fechamento desta matéria, não recebemos o retorno da superintendente da Secretaria de saúde.

Demora no atendimento é a principal reclamação

A partir da pesquisa sobre o atendimento dos Postos de Saúde de Santa Maria, a conclusão que tivemos é que prestar informação é a maior dificuldade das unidades. Em alguns postos as pessoas responsáveis foram grosseiras e se mostraram incomodadas com o teor da ligação. A falta de preparo para lidar com indagações, se reflete na incompetência dos serviços prestados à população. Dentre as reclamações mais frequentes dos usuários, a demora no atendimento e a escassez de médicos e enfermeiros são as mais comuns.  A maioria dos postos da cidade funcionam somente até às 16h. Há casos em que os atendimentos que chegam aos postos são encaminhados ao clínico-geral já que, as unidades não possuem especialistas. O não cumprimento dos horários, a falta de medicamentos, a demora para conseguir realizar exames, a precariedade dos aparelhos e a falta de educação com que são tratados, são outras falhas que indignam os santa-marienses que dependem do Sistema Único de Saúde. Uma vez que os postos não possuem uma demanda de assistência médica de áreas específicas, as Unidades de Pronto Atendimento são sobrecarregadas.

BALANÇO FILA ZERO
– 64 mil pessoas aguardando por consultas e exames nos últimos cinco anos
– 48.226 agendamentos realizados
– 28.700 consultas realizadas
– 19.526 exames realizados
–7.410 óbitos
– 1.508 pessoas faltaram na consulta agendada
– 9.980 telefonemas na caixa postal até 28/07
– 30.154 ligações feitas até 28/07
– 4.018 pessoas não querem consultas/exames até 28/07

Comparativo população de Santa Maria/ Atendimentos na Rede SUS
– 277 mil habitantes
– 311.108 usuários na Rede SUS
– Sendo 140.325 homens e 170.217 mulheres
– Do total, menores de 12 anos correspondem a 43.924
– De 01/01/2017 a 31/07/2017: 16.044 novos usuários cadastrados no SUS

Comparativo de procedimentos nos pronto-atendimentos em 2016 e 2017
Pronto Atendimento do Patronato
– 2016 – 90.183 procedimentos em todo o ano
– 2017- 56.614 procedimentos apenas no primeiro semestre

Pronto Atendimento da Tancredo Neves
– 2016 – 50.971 procedimentos em todo o ano
– 2017 – 60.489 procedimentos apenas no primeiro semestre

*as informações acima foram publicadas no site do Diário de Santa Maria no dia o1/08/2017.

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A reportagem foi produzida pelos alunos Caroline Costa e William Ignácio, para a disciplina de Jornalismo Investigativo, durante o 1º semestre de 2018, sob orientação da profª Carla Torres.

 

Uma doença infecciosa passou a ser assunto na Cidade no fim de março deste ano e, desde então, pauta as principais discussões que envolvem a saúde pública em Santa Maria. O que não se fala tanto – mas que deveria ser mais comentado – é como o surto de Toxoplasmose mudou a vida das pessoas, que passaram a gastar mais gás para ferver a água, ou a comprá-la nos mercados sob preços elevados. Esta matéria se propõe a mostrar o lado da sociedade que, fragilizada, busca informações e ajuda nos pronto-atendimentos, e frequentemente tem como retorno muita espera e desinformação.

O surto

Em 19 de abril, uma quinta feira, após algumas semanas de curiosidade quanto a veracidade dos rumores sobre um possível surto de toxoplasmose na Cidade, a médica infectologista da prefeitura, Paula Martinez, confirma a informação, após um documento da Prefeitura estar sendo veiculado nas redes sociais durante toda a manhã. No material havia a citação da existência de uma “situação epidêmica de toxoplasmose no município” e de “surto” da doença.

Documento da prefeitura para surto da doença.

Em uma conferência feita às pressas para esclarecer os rumores e o documento vazado, o prefeito, Jorge Pozzobom, confirmou que o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), de Porto Alegre, analisou 59 casos registrados, dos quais, 14 deram positivo para a doença. Nesta conferência, foi dito que os grupos de risco eram gestantes, crianças com menos de dois anos, e pacientes imunodeprimidos – pessoas com o sistema imunológico fraco. E a orientação para esse grupo é de que consumam, preferencialmente, água mineral. E que a população em geral, fervesse a água por pelo menos 10 minutos, pois havia a possibilidade do surto está se dando por meio da rede de abastecimento de água.

Ainda nesse mesmo dia, surge uma corrente no whatsApp com uma lista de sintomas que deixou a população ainda mais apreensiva, por se tratarem de sintomas comuns para várias outras situações:

  • Dor de cabeça (cefaléia) e garganta
  • Febre
  • Ínguas (linfonodos aumentados, ou seja, gânglios espalhados pelo corpo)
  • Manchas pelo corpo (vermelhidão em forma de pequenas manchas e pápulas)
  • Confusão mental
  • Convulsões
  • Dificuldade para enxergar que pode evoluir para cegueira

Durante esse dia, já houve movimentação intensa nos mercados em busca de água mineral. Os donos respondiam às equipes de reportagem que estavam trabalhando com uma demanda 10 vezes maior do que o de costume, mas que os preços seguiam os mesmos. Assim como os distribuidores de gás de cozinha.

Os cuidados

Uma vez que a situação de surto foi estabelecida, é preciso informar essa população sobre cuidados para evitar o contágio. Então, através do Diário de Santa Maria, veiculou-se um pequeno e bem resumido encarte sobre cuidados com a doença. Nele constavam perguntas frequentes, sobre a forma de contágio e a periculosidade da doença. Uma das mais comuns formas de contrair a toxoplasmose é pelo consumo de alimentos mal lavados, como legumes e frutas, ou carnes mal cozidas. A transmissão também pode ocorrer por meio do contato com a terra contaminada por fezes de gatos doentes, sendo essa última opção, uma das formas mais raras de contágio. Por essas razões, havia uma série de indicações e cuidados:

  • Lavar as mãos com água corrente e sabão ou detergente antes e depois de manipular alimentos
  • Evitar tomar água não filtrada em qualquer ambiente
  • Não comer alimentos crus, frutas e vegetais produzidos no solo por jardinagem
  • Não consumir carnes cruas ou mal cozidas, incluindo quibe cru e embutidos (linguiça, salame, copa e outros)
  • Congelar a carne a -12ºC por 24 horas
  • Evitar manuseio direto com solo, incluindo jardins, parques. Caso seja necessário, usar luvas e lavar bem as mãos após a atividade
  • Evitar o contato direto com fezes de gato
  • Após manusear carne crua, lavar bem as mãos e toda a superfície que entrou em contato com o alimento, inclusive os utensílios utilizados
  • Não consumir leite e seus derivados crus não pasteurizados
  • A caixa de areia de gatos deve ser limpa preferencialmente por outra pessoa, todavia se não possível, deve-se limpá-la e trocá-la diariamente, utilizando luvas e pá de lixo
  • Alimentar os gatos com carne cozida ou ração, não permitindo que os mesmos façam a ingestão de animais caçados.
Material veiculado pelo Diário de Santa Maria.

A preocupação das autoridades estava focada nos grupos de risco, e principalmente nas grávidas, pois em 23 de abril, já haviam mais 7 casos confirmados, e dentre eles, 5 eram gestantes, que estão no grupo de risco porque a doença pode ser transmitida ao feto durante a gravidez. Durante o primeiro trimestre, pode ocorrer o aborto espontâneo, parto prematuro, e má formação do feto. Após o nascimento, o bebê pode sofrer alterações no tamanho da cabeça, pneumonia, inflamação do coração, retardo mental, entre outras complicações.

Por conta disso, em 5 de maio, o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) divulgou uma nota recomendando que as mulheres evitassem a gravidez durante o surto, que nessa época, já estava em 176 casos confirmados, e outros 219 possíveis. Às que já se encontravam gestantes, foi indicado que fizessem o exame para a identificação da toxoplasmose de 15 em 15 dias, segundo o infectologista Reinaldo Ritzel. Na rede pública, o exame é gratuito e leva de 2 a 3 dias úteis para ficar pronto. Pelo menos, é a informação que era veiculada, pois devido à imensa procura, as clínicas ficaram sobrecarregadas, e muitos desses exames levaram semanas para ficarem prontos.

Não é a água!

No dia 20 de abril, véspera de feriado, o engenheiro químico e diretor de operações da Corsan, Eduardo Barbosa de Carvalho saiu em defesa da qualidade da água oferecida aos consumidores, ao ponto de recomendar à população para que não fervesse a água por dez minutos antes de consumi-la. O argumento era de que ao ferver a água, são anulados os agentes que eliminam a possível presença de toxinas nocivas, inclusive o protozoário causador da infecção.  

Entrega oficial dos resultados das análises à Prefeitura. Fonte: Corsan.

Em 11 de maio, uma sexta-feira, a Corsan entrega à prefeitura de Santa Maria os resultados das análises realizadas na água da cidade pelo Laboratório de Zoonoses/Saúde Pública e Protozoologia da Universidade de Londrina. O órgão, que é especializado nesses ensaios, finalizou os resultados no dia anterior, e as análises comprovavam a ausência de toxoplasma nas amostras da água tratada e distribuída em Santa Maria.

Ainda que refutada a hipótese do contágio pela água, em uma conferência realizada pela Prefeitura logo após a entrega dos resultados das análises da Corsan, os cuidados indicados ainda seguiam os mesmos e, em 15 de maio, treze médicos infectologistas de Santa Maria divulgam uma nota técnica a respeito do surto na cidade. No documento, que foi entregue ao Ministério Público Federal (MPF), os profissionais questionavam o posicionamento da Prefeitura e da Corsan diante da divulgação dos laudos com os resultados das análises da água. Eles demonstram forte preocupação, principalmente no que se refere às gestantes, pois já haviam sido confirmadas duas mortes de fetos e dois abortos com suspeita de toxoplasmose como causa. Segundo eles, não há teste para a água que possa exclui-la como causa do surto. Ao afirmar a ausência do vírus na água, a empresa estaria incentivando o consumo sem cuidado, o que poderia aumentar ainda mais o contágio, que – até então – estava em 271 casos confirmados, e 230 em investigação. A nota ainda solicita à prefeitura um reforço no quadro de profissionais médicos (oftalmologistas, obstetras, infectologistas e pediatras) e a melhora no acesso aos medicamentos, além de sugerir novas análises da água na cidade e mais “persistência de investigar o foco”. Confira notícia.

Maior do mundo

A Prefeitura, duramente criticada pela população sobre a falta de informação e ações, publica – após exatos 40 dias do início do surto – uma campanha para a prevenção da toxoplasmose. Até então, as informações eram veiculadas apenas por releases, e coletivas de imprensa. A ausência de campanhas de prevenção já vinha sendo alvo de críticas por todos os cantos, quando em sua página no Facebook, o Poder Público da cidade se manifestou.

Prefeitura lança campanha de prevenção contra a toxoplasmose. Fonte: Maiquel Rosauro/ Reprodução: Blog do Claudemir pereira.

Em 28 de maio, quando Santa Maria vivia há 2 meses sob o maior surto de toxoplasmose do mundo, a cada boletim divulgado, a preocupação aumentava. Ao total, já somavam-se 460 casos confirmados, e outros 766 eram investigados. Com um total de 1.116 casos notificados até então, a Prefeitura divulgou um mapa do contágio na Cidade. A maioria dos casos atinge o sexo feminino, e o maior número de casos confirmados encontra-se na região Oeste.

O mapa do contágio. Fonte: Gaúcha ZH.

Em 28 de maio, quando Santa Maria vivia há 2 meses sob o maior surto de toxoplasmose do mundo, a cada boletim divulgado, a preocupação aumentava. Ao total, já somavam-se 460 casos confirmados, e outros 766 eram investigados. Com um total de 1.116 casos notificados até então, a Prefeitura divulgou um mapa do contágio na Cidade. A maioria dos casos atinge o sexo feminino, e o maior número de casos confirmados encontra-se na região Oeste.

A cidade pode ficar sem remédios para tratar a infecção

Na primeira semana de junho, os casos confirmados estavam em 480 e, baseado nesses números, os cálculos sobre a necessidade de medicamentos foram feitos, e os pedidos enviados. Acontece que, nessa semana, o número de casos pulou para 510, sendo que desse grupo, a maioria, 133, são gestantes. Diante da ameaça da falta de remédios, o Ministério Público Federal ingressou com uma ação civil pública para que o Ministério da Saúde garanta a compra dos medicamentos. O professor da UFSM, Alexandre Schwarzbold, explica que não são todos os pacientes que necessitam do medicamento, mas para alguns grupos a terapia é considerada essencial, como no caso das gestantes. Sem remédio, há um risco expressivo de o protozoário ser transmitido para o embrião.

No último dia 12, o jornal Estadão  publicou um vídeo com o alerta de os indicadores de toxoplasmose devem aumentar, e que a cidade pode ficar sem remédio.

O que dizem os especialistas?

Reinaldo Ritzel, graduado em Medicina pela UFSM, com ênfase em Doenças Infecciosas e Parasitárias, afirma “a toxoplasmose é uma doença muito prevalente no nosso meio. A maioria dos pacientes que adquirem não apresentam sintomas. O que nós estamos vendo representa somente 10% dos pacientes que estão com a infecção aguda”. Segundo o infectologista, todos os grandes surtos do mundo tiveram sua origem esclarecida, e percebeu-se que foi a água encanada a causadora. O médico explica que “o toxoplasma chega no nosso organismo pela boca. Sempre pela ingestão do oocisto de toxoplasma. Vegetais mal lavados e crus, carnes mal cozidas ou cruas e água contaminada são as vias comuns de infecção. Vegetais cozidos e verduras bem lavadas não transmitem. Carnes ‘bem passadas’ ou congeladas por pelo menos 2 dias a 12 graus negativos também não transmitem. Água fervida e filtrada com filtros revisados também não transmitem”. Para saber se o paciente está infectado ou já teve a doença, deve-se fazer exames de sangue. Reinaldo ainda avisa que “quem adquiriu a doença deve fazer exames oftalmológicos, tendo em vista que – mesmo assintomática – a toxoplasmose pode afetar os olhos.” Em sua página do Facebook, logo no início do surto, ele fez uma publicação que já passa de 1.300 interações; nela, explica seu ponto de vista e suas preocupações a respeito do assunto. 

 

A população

Recebimento de água no Bairro Carlos Gomes. Fonte: Claudia Silva/Reprodução: Facebook.

Apesar da intensificação das notícias sobre o surto na cidade, a população ainda clama por esclarecimentos e ajuda. Se a origem for mesmo a água, moradores como os do Bairro Carlos Gomes correm um risco em contrair a doença. O motivo? O recebimento de água inapropriada para consumo.

Uma moradora do bairro desabafa: “Recebemos a água assim toda vez que a Corsan faz alguma operação na rua, agora eles estão fazendo obras para saneamento, mas o problema é frequente”. Claudia Silva postou em sua página no Facebook as fotos do que recebeu quando ligou a torneira de sua casa, e sobre o descaso com o abastecimento de água em época de toxoplasmose.

Saindo em direção aos outros bairros de Santa Maria, moradores que contraíram a doença queixam-se da falta de assistência da Prefeitura. “Tudo começou com a minha filha e minha neta, que estavam doentes, com os mesmos sintomas da toxoplasmose, depois veio pra mim. Fui no posto e fizeram exames de sangue, nada ficou constatado. A princípio, era apenas uma virose. Era ainda no início do surto, ninguém sabia mais ou menos o que estava acontecendo e como prosseguir, muito menos os médicos”, relata a moradora do Bairro São José, Valeria Cortes Lopes.

Além da falta de amparo por parte dos médicos, uma das maiores queixas dos pacientes com suspeita de toxoplasmose é a ausência de preparo dos servidores públicos de saúde sobre como prosseguir com a população. O que resulta em uma demora maior ainda para o diagnóstico correto e um tratamento eficiente. “Nos dias que estava doente, fiquei entre idas e vindas no posto de saúde. Após 40 dias, fui encaminhada para o oftalmologista, primeira coisa que deve ser feita após contrair a doença, pois depois de muita insistência resolveram tratar meu caso como toxoplasmose”, acrescenta Valeria.

Utilizando as mídias sociais para reivindicar direitos básicos

O estudante de jornalismo, já graduado em produção editorial, André Polga utilizou seu Facebook para reclamar sobre a demora e ineficiência do seu atendimento na rede pública, o post, que chega a quase 200 interações, o fez conseguir a atenção dos maiores veículos de comunicação da cidade, o Diário de Santa Maria, e a RBS Tv. Ele conta que ainda quando não se falava sobre a possibilidade de um surto de toxoplasmose na cidade, e a hipótese ainda pairava sobre o nome de síndrome febril, André foi até um posto de saúde, e quando indagado sobre a demora para buscar atendimento, respondeu que não havia feito antes pois temia que lhe fosse apenas receitado algum remédio para garganta e febre. “A enfermeira ficou indignada com o meu comentário, mas foi exatamente isso que aconteceu”, lembra o estudante.

Após o surto ter sido confirmado na Cidade, André ainda continuava com uma febre que os remédios até amenizavam, mas que sempre acabava voltando. Ainda nessa época, ele passou por dois tratamentos bem caros para tratar a dor de garganta e febre. “Isso acabou me prejudicando financeiramente, pois nessas idas à farmácia, eu não gastava menos do que 150 reais, e não recebia auxílio nenhum durante ess

André Polga foi entrevistado pela RBS Tv. Fonte: arquivo pessoal.

e processo”, observa. Logo em seguida ele foi encaminhado para o exame, que acusou a infecção pelo vírus da toxoplasmose. E foi aí que finalmente ele recebeu um atendimento de qualidade, quando o médico lhe explicou tudo o que era preciso saber sobre a doença.

Ao ser indagado sobre a sua exposição na mídia, o estudante comenta que ainda que não houvesse réplica, ele notou uma melhora expressiva no seu tratamento. “O que aconteceu foi que depois que caí em cima deles (responsáveis pela cidade) com a mídia do meu lado, tudo começou a se resolver mais rapidamente pra mim. Já fazia quase um mês que eu esperava pelo meu encaminhamento, o prazo já estava estourado, achei até que tinham me esquecido. E foi eu aparecer na Tv, que me chamaram bem dizer, de um dia pro outro. Então,   ajudou muito nesse sentido de ter sido adiantada muita coisa, e também uma visível melhora no atendimento, pois quando eu voltei para novos exames, eles já me reconheciam, provavelmente por causa da Tv”, lembra André.

Durante o seu tratamento, o produtor editorial comenta que não ingeriu água direto da torneira. Quando ele não pegava do poço artesiano do tio, seus pais lhe ajudavam comprando alguns galões. Pois segundo ele, os gastos com o gás triplicaram enquanto ele fazia o processo de ferver por 10 minutos. Quando perguntado sobre a sua opinião quanto ao atendimento recebido, ele declara sentir que a cidade não está estruturada para um surto desse tamanho, pois “apesar de ter profissionais muito competentes e bem capacitados, há uma demora muito grande no encaminhamento de consultas e na fila de espera. E também, eu acredito que sim, o surto é muito maior do que a mídia veicula, e eu acredito que a fonte já foi descoberta e que só não foi divulgada ainda para não deixar a sociedade em um estado maior de pânico. É como o médico falou: tem gente que teve infecção pelo vírus e nem sabe. Passa como gripe batido. E só vai apresentar efeitos piores no futuro por não ter sido tratado em tempo, como por exemplo a retina, e aí a pessoa nem vai saber do motivo. É uma doença que precisa ser esclarecida! Todo e qualquer tipo de informação referente à ela, porque esses tempos uma amiga minha não queria me abraçar por pensar que era contagioso, e existe muito mito que precisa ser sanado, e a sociedade precisa ter isso muito claro”, desabafa André.

Falta informação

Após toda a pesquisa, fica claro que  a população carece é de mais informação. Seja sobre o que está causando o surto; seja sobre os cuidados que se deve tomar após o contágio, ou sobre os exames que precisam ser feitos para a identificação da intensidade da infecção. É preciso, acima de tudo, que as informações sejam precisas. E ainda que não se saiba exatamente a causa que deu origem ao surto, é preciso seguir as indicações dos infectologistas para que não aumente o número de atingidos.

A reportagem foi produzida pelas alunas Luiza Rorato e Thayane Rodrigues para a disciplina de Jornalismo Investigativo, durante o 1º semestre de 2018, sob orientação da profª Carla Torres.

 

De acordo com um novo boletim divulgado pela Secretária de Saúde do Rio Grande do Sul, 1.011 casos de toxoplasmose foram notificados, sendo 665 suspeitos e 352 foram confirmados pelas autoridades na última sexta-feira 18 de maio. Até o momento foram registrados dois óbitos fetais causados pela doença, sendo duas gestantes com 36 e 28 semanas, e um aborto de uma gestante com 15 semanas.

Autoridades na coletiva de imprensa sobre a toxoplasmose. Crédito: Larissa Bilo/LABFEM

Diante da repercussão dos numerosos casos de toxoplasmose em Santa Maria e da preocupação da população diante do consumo da água, infectologistas e órgãos de saúde responsáveis, reuniram-se na tarde da última quarta, 16 de maio, na sede do Ministério Público Federal, junto do Ministério Estadual, a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde e Médicos Infectologistas, para esclarecer dúvidas à população sobre combater o surto de toxoplasmose que hoje assola Santa Maria.

A procuradora da república Bruna Pfaffenzeller abriu a fala da coletiva: ”tendo uma repercussão muito maior do que achávamos quando iniciamos o combate e queremos fazer um breve esclarecimento à população, recebendo uma nota técnica do Ministério da Saúde, o Ministério Público Federal vai reforçar as buscas pela causa deste surto”, relatou a representante.

Infectologista Jane Costa. Crédito: Larissa Bilo/LABFEM

A médica infectologista Jane Costa relatou: ”não queremos fazer alarde e precisamos trabalhar em conjunto. Não pretendemos colocar a culpa em ninguém, queremos passar informações positivas para a população, sendo assim elaboramos um documento que nós denominamos como um informativo para a população, e pedimos a ajuda de todos vocês para a divulgação”.

A toxoplasmose é uma doença que não tem vacina, sendo adquirida por água e alimentos, é uma doença negligenciada. No momento a cidade está vivendo um aumento dessa doença que está saindo fora do controle, pois já é caracterizada por surto.

Foram divulgados os laudos de análise da água, realizados pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Conforme as coletas de reservatórios de residências, de processo hidropônico e da Estação de Tratamento de Água da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), o resultado foi negativo quanto à presença do DNA de Toxoplasma gondii, protozoário que causa a doença.

No entanto, conforme o superintendente da Vigilância em Saúde do município, Alexandre Streb, os dados se referem apenas a um período específico. Sendo assim, o resultado não é considerado totalmente conclusivo.

Desta forma, é mantida a orientação para que a comunidade siga bebendo água mineral ou fervida, evite alimentos crus e malpassados e lave bem alimentos crus, como legumes e verduras.

” Para as populações mais vulneráveis, como as gestantes, os imunodeprimidos e crianças abaixo de dois anos, não discute. É água fervida. Está proibida a ingestão de carne crua. Alimento tem que ser bem cozido”, reforça a infectologista Jane Costa.

A Casa 13 de Maio fica na equina da rua Riachuelo, nº 364.  Foto: Divulgação PMSM

A Prefeitura de Santa Maria  instalou um ambulatório junto à Casa 13 de Maio, abrindo vagas extras para o atendimento de pacientes com Síndrome Febril  ou Toxoplasmose. O atendimento será feito por médicos infectologistas que receberão as pessoas encaminhadas por médicos das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Estratégias Saúde da Família (ESFs) ou nos Pronto-Atendimentos (PAs) e que apresentaram a síndrome febril.

“O primeiro passo a ser seguido pelas pessoas que apresentarem sintomas da síndrome febril é buscar ajuda nas UBS, ESF ou PA (em casos de urgência). Nestes locais, os médicos encaminharão o paciente ao Ambulatório. No espaço, além de serem acolhidas, as pessoas serão atendidas e, caso não tenham sorologia, serão encaminhadas para exames. Casos de Toxoplasmose Aguda serão encaminhados ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM)”, informa o comunicado da prefeitura.

 O Ambulatório não realizará triagem  para verificar quem tem sintoma de síndrome febril e nem atenderá pacientes que sejam gestantes. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (55) 39211263

Fonte: Assessoria de Comunicação da PMSM