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Santa Maria, RS, Brazil

Música

Conheça os músicos selecionados para produção de videoclipe

Depois de lançar uma chamada para selecionar  músicos e/ou bandas para a produção de um videoclipe, a turma da disciplina de Produção Audiovisual II do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) teve a

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Divulgação UniArtes Foto: Facebook

Durante a tarde de sábado, 19, integrantes da comunidade acadêmica e de Santa Maria terão como opção para o final de semana a última edição do UniArtes. O evento acontecerá das 14h as 17h, no hall do prédio 15 do Conjunto III da Universidade Franciscana (UFN). Desta vez, as atividades serão em comemoração ao mês das crianças e a São Francisco, com a benção dos animais e variadas atrações para os pequenos.

O evento, que tem como objetivo promover lazer e momento de encontro entre acadêmicos e egressos, funcionários e a comunidade santa-mariense, terá música, artesanato e espaços de alimentação. Durante a tarde ainda haverá apresentação do grupo germânico Immer Lustig, a Brinquedoteca e o Cientista Aprendiz Kids destinado às crianças e a presença do projeto [Com] Vida que irá realizar uma exposição fotográfica do bairro Rosário.

Confira a programação:

14h – Abertura e Momento de Espiritualidade conduzida pela Pastoral Universitária
14h30 – Apresentação do grupo Musencanto
15h – Oficina de Slime
15h30 – Apresentação do grupo de folclore germânico Immer Lustig
16h – Apresentação Musical com o acadêmico do Curso de Letras, Maico Rosa

Além das atividades que estão programadas, será realizada a benção dos animais e uma oficina de desenho e construção de mapas mentais. O evento é gratuito e aberto a todos.

Foram selecionadas 4 das 75 músicas inscritas. Foto: Imagem de Ryan McGuire por Pixabay

Depois de lançar uma chamada para selecionar  músicos e/ou bandas para a produção de um videoclipe, a turma da disciplina de Produção Audiovisual II do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) teve a difícil tarefa de selecionar 4 das 75 músicas inscritas.

As inscrições contemplaram 16 gêneros e subgêneros musicais, sendo que os com maior número de inscritos foram o rap (12), o rock (9), trap (7) e pop (6). João Paulo Antunes, um dos alunos da turma, comenta que quando decidiram fazer o formulário, não havia muita expectativa de inscritos. O resultado impressionou!

“A seleção foi divertida por ver o quanto de diversidade e pluralidade existe em nossa cidade, mas, acima de tudo, enriquecedora. Ver novos estilos, gêneros e artistas é sempre bom e oxigena o que pensamos sobre onde moramos. No fim, escolher alguém é saber que estaremos dando uma grande ajuda para um artista local e que ambos vão ser recompensados de alguma forma”, cometa ele. Sabrina Bianchi Soares frisou que a maioria dos inscritos eram desconhecidos da turma: “é muito legal perceber que Santa Maria, sim, possui grandes músicos que na maioria não são conhecidos”.

Além do número de inscritos, a variedade de composições e de estilos dificultou a seleção. Para João, “vários artistas têm um conteúdo muito bacana e que merecia ter uma história contada e ilustrada em clipe ou então algo que pudesse mostrar a essência do som que fazem”. Contudo, como a disciplina possui 14 estudantes, foram selecionadas 4 músicas que são:

Sete Mares, da banda Arteja – gênero pop rock

Look Around , de Rafa Recchia – gênero hiphop/rap

Trip, de Juca – gênero trap/rap

Velhos discos, da banda Nevoero – gênero blues rock

Agora, os próximos passos são contatar os artistas e fazer os roteiros. “Espero que saia um trabalho que possa fazer diferença na estrada profissional do músico ou da banda e que possamos aprender juntos durante o processo”, empolga-se Sabrina.

A proposta audiovisual será inteiramente elaborada e executada pelos alunos durante o mês de outubro, sob orientação da professora Neli Mombelli e com suporte Alexsandro Pedrollo, diretor de fotografia da instituição.

Cantor Marcelo Demichelli apresentando seus covers no Calçadão. Foto: Allysson Marafiga

O Calçadão de Santa Maria serve como palco para muitos artistas que olharam para o local como oportunidade de reconhecimento. É o caso de Marcelo Demichelli, de 38 anos, que em novembro completará 5 anos cantando no centro da cidade.  Ele conta que faz shows instrumentais em festivais de rock, formaturas e casamentos, mas, no dia-a-dia, escolhe um repertório variado de músicas populares que tem grande reconhecimento do público adulto. “Valorizar quem faça músicas autorais e músicas com conteúdo, não só com ritmo dançante, faz um pouco de falta para que o artista ganhe reconhecimento regional e nacional”, comenta Marcelo, que consegue viver da música.

Uma outra face da música na cidade ganha destaque com artistas que estão investindo no seu trabalho autoral por meio da internet. Um exemplo é o estudante de Publicidade e Propaganda Eduardo Agostta, de 20 anos, que já possui três músicas na plataforma Spotify e pretende fazer mais um lançamento no final de setembro.

Veja abaixo o relato do cantor Eduardo Agostta sobre o início de sua carreira e o mercado musical da cidade.

Matéria produzida por Gabriela Flores Neto, na disciplina de Produção da Notícia do curso de Jornalismo da UFN.

 

Desde a invenção do fonógrafo, criado em 1877 por Thomas Edison, até a simplicidade que um aparelho reprodutor de áudio possui atualmente, a música passou por diversos processos evolutivos em sua distribuição e execução. Mesmo assim, um componente sempre apareceu na emissão das obras musicais: o selo fonográfico. Selos fonográficos são marcas usadas no lançamento de músicas gravadas em fonogramas, que podem ser discos de vinil, fitas cassete, cd’s ou videoclipes e mp3. Esses selos representam organizações como editoras, gravadoras ou produtoras, que são empresas dedicadas a trabalhar em conjunto com artistas na construção de suas carreiras.

Com dez anos de caminhada na produção cultural, Gadea Produções é a empresa que reúne o portfólio das produções realizadas pelo produtor cultural Leonardo Gadea. Recentemente, ele lançou o Selo Gadea, que oferece curadoria para distribuição digital a artistas independentes e bandas do Rio Grande do Sul e arredores. Hoje, Gadea se reconhece como um ativista na cultura, atuando no cenário da música produzida no Sul do Brasil, em atividades como direção de produção para gravações até espetáculos, webséries, documentários e videoclipes.

O produtor Leonardo Gadea entra em detalhes sobre a produção cultural:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=mZCYZwh2d64″ playlist=”https://www.youtube.com/playlist?list=PLVEVSVMMtzNXbjaQEpHRs-sjOQz54cXXPhttps://www.youtube.com/playlist?list=PLVEVSVMMtzNXbjaQEpHRs-sjOQz54cXXP” title=”Entrevista%20sobre%20produção%20cultural” autohide=”1″]

Editoras, gravadoras e produtoras

A editora é a empresa responsável por registrar e administrar obras musicais. Assim, sua obrigação é garantir a geração de receita pela divulgação e promoção das músicas, assim como realizar a distribuição da receita dos valores recebidos pelo ECAD, devido aos direitos autorais das pessoas envolvidas nas composições lançadas pela firma. Enquanto esse trabalho é feito pela editora, a gravadora é a empresa que transforma a obra musical em um fonograma para a publicação posterior. Uma gravadora pode ter seu próprio estúdio ou contratar uma produtora de áudio para realizar a produção.

Ao envolver profissionais como artistas, produtores musicais, compositores e instrumentistas, gravadoras são empresas que produzem e lançam músicas e/ou videoclipes com atenção voltada aos processos de captação, mixagem e masterização. Além desses serviços, as gravadoras também podem ser responsáveis pela promoção dos lançamentos, pelos serviços de publicidade e da efetuação de vendas dos fonogramas, assim como a resolução de questões jurídicas.

A produtora de áudio é a empresa que realiza serviços como jingles e trilhas sonoras para filmes, jogos ou séries. Tanto em uma gravadora como em uma produtora de áudio, quem arca com os custos para a fixação da obra musical em um fonograma, além do trabalho de gravar a obra musical em um fonograma e/ou audiovisual, é o produtor.

Nas grandes gravadoras –  protagonistas no cenário mainstream – os selos são subdivisões de uma matriz, com foco em nichos musicais específicos para  facilitar o desenvolvimento dos trabalhos. Enquanto isso, selos independentes transformam editoras, gravadoras e produtoras em uma mesma empresa, que se torna responsável pela captação, produção, mixagem e masterização das músicas, com o mesmo nome para o selo, a editora, a gravadora e a produtora.

Selos independentes no Brasil.

Selos independentes

Como empresas autônomas, todo ou maior parte do capital está nas mãos da pessoa dona do selo. No caso de artistas autônomos, há maior liberdade para a criação das composições, além da possibilidade de escolha de em quais gêneros e estilos se aventurar, assim como produzir e gravar suas músicas com o exercício da licença poética.

Com a redução dos custos dos materiais necessários para se criar um estúdio, muitos artistas se tornam produtores musicais, assim como produtores musicais se tornam artistas. Esse é o caso do Marcus Manzoni, que já lançou quatro álbuns e dois singles como cantor e compositor, e participou de uma coletânea internacional de um selo da Itália.

Em conversas no estúdio com os integrantes da banda Aerogramas chegou-se ao consenso de que faltava um meio de divulgação das bandas que eram produzidas na cidade e na região. “Faltava algo que levasse essas bandas adiante, e que as gravações daquele estúdio ou gravações em geral do meio independente da região, fossem levadas adiante, não parassem após a banda gravar e publicar para as pessoas. Naquele momento a gente se deu conta de que faltava um espaço a mais, que tivesse uma assessoria de imprensa, que levasse as músicas para as rádios e meios de comunicação, que fizesse a mídia social, etc. Foi a partir daquele momento que a gente viu que devia ser criado um selo fonográfico”, explica.

Manzoni fundou o selo independente Ué Discos em 7 de julho de 2014, reunindo os serviços oferecidos por editoras e gravadoras na mesma empresa. O selo musical Ué Discos hoje já conta com mais de cinquenta lançamentos e mais de vinte artistas lançados do Brasil e de alguns países do exterior também, como da Argentina, Itália, Portugal e Uruguai. Entre artistas e bandas autorais, estão Aerogramas, Bombo Larai, Matungo, San Diego e Vespertinos.

Marcus desenvolve uma história dos lançamentos da Ué, mencionando que em 2015, a gravadora lançou uma banda chamada Weird, da Itália, e  uma artista mulher , Armaud, que canta e também é da Itália; em 2016, o selo lançou o disco Vamo Matungá!, de Vandré La Cruz  de Porto Alegre, mas atualmente mora em Montevidéo, no Uruguai. A banda El Sonidero & Fanfarria Insurgente, uma banda da Argentina, localizada em Buenos Aires, entrou na equipe da gravadora em 2017.

Marcus divulga mais um artista lançado pela Ué Discos, o cantor e compositor de Portugal chamado Jass Carnival. “Hoje ele reside em Porto Alegre, está fazendo um doutorado na capital”, Manzoni menciona. Ele continua dizendo que foi através dessa estadia dele aqui no Rio Grande do Sul que ele conheceu a música dele, conversou com ele e lançou as suas músicas pela Ué Discos.

A Ué Discos possui com a parceria do Zás Estúdio Criativo, produtora de áudio de Marcus em que são realizadas as produções de artistas de Santiago e região. Como produtor musical, Manzoni é responsável por realizar as gravações, coordenar os músicos e cantores no processo criativo, fazer a supervisão da mixagem e também da masterização.

Segundo Manzoni, que trabalha há quinze anos com áudio em Santiago, o papel do produtor musical é guiar o artista para onde ele deseja ir com suas músicas. “O artista tem a ideia e o produtor musical faz a ideia acontecer, da forma que o artista imagina. Eu sempre peço um briefing antes do trabalho, para que eu possa saber o que ele está pensando e onde ele quer chegar no resultado final”, declara.

Ricardo Pereira é um dos membros do coletivo e selo musical independente 907Corp, onde atua como mestre de cerimônia, beatmaker e produtor musical. Assim como Manzoni, Pereira acredita que o papel do produtor seja induzir o que vai ser da música, desde o início no processo da criação do som até os processos finais, de edição, mixagem e masterização. “No cenário do RAP, o produtor é quem cria a história para o MC escutar o instrumental e escrever a letra. Ele vai escutando a música e o que está sendo cantado para ter uma ideia do que pode ser feito no processo de finalização da obra”, declara.

Um dos membros do coletivo é Eduardo Rodrigues, MC conhecido como VDNV ou VIDANOVA. Questionado sobre o início de sua trajetória no rap, declara que começou através da poesia, a parte que mais o interessou até que encontrar o ritmo. “Depois se formou o ritmo e a poesia foi quando deu aquele baque, sabe? Quando tu sente a emoção, a energia daquilo que tu tá fazendo, que tu sente que tu ama. E aí consegui ver que era isso que eu tava almejando”, relata Rodrigues.

Em referência a quais os motivos para trabalhar com música, afirma que vai mais pela questão do amor. “Acaba sendo como uma forma de trabalho porque a gente tem que sobreviver no mundo, mas é mais pelo amor”, esclarece. Segue o depoimento dizendo que prefere buscar sua forma de sobrevivência fazendo o que ama do que fazendo algo que não sinta prazer, que não sinta tesão. É a gente tentar correr atrás do nosso sonho, seja ele qual for.

Outro MC da 907Corp, Lucas Martins, conhecido pelo nome artístico Lilhouse, declara que escreve com o livre arbítrio, de compor, de que as suas letras sempre vão mudar alguém. Ele relata que a música salvou sua vida, e acredita que pode salvar a vida de outras pessoas também. Lucas diz ter sido muito depressivo e viu que poderia sair dessa escrevendo, compondo. Viu também que não era o único a passar pela depressão, e que a música pode mudar muita vida, então se jogou nisso. “Comecei a rimar pros outros, comecei a mostrar para os outros e sempre me apoiaram, diziam que era massa, que gostavam de ouvir aquele tipo de rima, aquele tipo de mensagem”, afirma.

Questionado sobre o trabalho de um MC, garante: “É sempre tá junto com a música, sempre tá presente com aquilo… Tu tá jogando tua vida naquilo, não é um trabalho muito fácil mas é um trabalho que leva tempo, e sempre tem alguém que vai tá ali contigo, vai tá te ouvindo, vai curtir o teu trabalho, então acho válido isso”.

Dentro do coletivo, a estudante de publicidade Camilla Xavier é responsável pela cobertura fotográfica e audiovisual, além de fazer a assessoria de comunicação da equipe. Além da Camilla, há o Yuri Marques que auxilia no marketing, através da fabricação de ilustrações para a equipe, de cuidar das edições e da distribuição digital.

Segundo Camilla, o trabalho de assessoria requer referências para a execução do trabalho. “Quando fui começar a fazer a assessoria do selo, procurei bastante referência musical no cenário do rap nacional, que eu achei que se encaixava no estilo dos guris. A partir daí, pensei em uma estratégia e montei o cronograma, organizando a agenda com shows, lançamentos de clipes e de músicas”. Além disso, a estudante também organiza a programação para fazer posts nas redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, e pensa em uma estratégia para fazer os patrocínios, que tipo de patrocínio fazer e qual valor investir, assim como pensar em que público atingir”.

Os mestres de cerimônia (MC’s) e beatmakers da 907Corp falam sobre suas trajetórias, vivências e os motivos para fazer música no vídeo a seguir:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=ldEmdSPOHeU&” playlist=”https://www.youtube.com/playlist?list=PLVEVSVMMtzNXbjaQEpHRs-sjOQz54cXXPhttps://www.youtube.com/playlist?list=PLVEVSVMMtzNXbjaQEpHRs-sjOQz54cXXP” title=”Entrevistas%20com%20membros%20do%20coletivo%20e%20selo%20musical%20907Corp” autohide=”1″]

Tratando da distribuição dos lançamentos da Ué Discos, Manzoni explica: “A distribuição é feita através da nossa parceira com a Tratore, uma empresa de São Paulo que é especializada em distribuição digital”. Segundo ele, depois que o artista gravou o álbum, é realizada a masterização e são enviados os arquivos com a melhor qualidade para a Tratore, empresa responsável pela distribuição em mais de 150 plataformas.

Em relação à divulgação e promoção dos lançamentos, Marcus afirma que a distribuição dos discos se desenvolve com o envio do press release para uma lista de contatos da comunicação da empresa, que contém blogs, influencers, sites, jornais, zines, etc.

Um cantautor

Vandré La Cruz. Foto: arquivo pessoal

Vandré La Cruz, o cantautor conhecido Matungo, descreve que faz música mestiça –  uma mistura de ritmos da região com ritmos populares. “O mágico da mestiçagem musical, desse rótulo, é que um boliviano e uma italiana podem estarem fazendo música mestiça, mesmo apresentando coisas completamente diferentes, desde que estejam ali coisas do seu chão misturado a outras”, assegura.

Questionado sobre porque decidiu trabalhar com música, contesta que nunca decidiu atuar na área. O cantautor afirma que trabalhar com música dá muito trabalho, girar por aí dá muito trabalho, assim como convencer as pessoas a te escutar dá muito trabalho.

Ele esclarece que, há muitos anos, decidiu que a música não lhe daria gastos. Sua vivência na música banca a si mesma, possibilita viagens, possibilita conhecer pessoas e lugares. “Gosto muito de fazer música. É uma necessidade física, mental e sentimental minha seguir fazendo música. Então sigo fazendo, do meu jeito, no meu tempo”, conta.

Respondendo sobre a ligação com a Ué Discos, Vandré relata: “Alguém me mostrou o disco do Marcus Manzoni. Ouvi, gostei e escrevi. Ele tinha um selo, conhecia a Bombo Larai, eu estava por gravar meu disco, conversamos e a coisa foi”. Afirma que recomendaria a qualquer artista independente uma parceria com um selo. Conclui que a Ué Discos foi importante em seu caso, pois colocaram as músicas nas plataformas de um jeito bonito e profissional.

Em relação ao seu projeto Matungo, Vandré afirma que começou com a necessidade de dizer coisas que não havia espaço na Bombo Larai, seu projeto anterior. “Na Bombo eu compunha para um grupo. A música tinha que falar por todos. E tinham coisas que eu queria falar. Então num primeiro momento foi isso. Depois somou-se a oportunidade e a vontade de morar no Uruguai. Então botei o Matungo na mochila e me fui. De lá pra cá tem o disco, uma ida até a Bolívia para receber um prêmio e muitas outras coisas. Atualmente estou com um segundo disco para ser gravado, e estamos estudando com algumas parcerias a melhor forma de fazer acontecer”, relata.

João Antônio Feijó é um músico integrante da banda San Diego. Descreve que é vocalista e compositor, e encontrou na música uma forma de expor as suas vivências e suas angústias, dentro da banda San Diego. Indagado sobre o que o levou a trabalhar com música, diz que não foi uma escolha, mas sim algo que o acompanhou durante toda a vida. “A partir do final da adolescência, tive vontade de externar isso por meio de uma banda autoral, que eu sempre pensei que fosse a melhor maneira ou a forma mais legítima de se fazer música”, conta. Sobre a banda, Feijó elucida que a San Diego começou sem a intenção de tocar as músicas compostas posteriormente.

Feijó declara que a composição dos sons começou de maneira despretensiosa, com as gravações das músicas ocorrendo em um quarto. O apanhado de músicas compostas se tornou o ep Full Storage, lançado pela Ué Discos em 24 de agosto de 2016. Conforme Feijó, a banda começou como uma expressão artística ao vivo em 2017. A partir daí a banda amadureceu, músicas de bandas anteriores dos integrantes que não tinham destino foram reutilizadas pela banda. Essas músicas foram aproveitadas na composição do segundo EP do conjunto, “Oito Anos”, lançado em 22 de agosto de 2018.

Em relação a produção das músicas da San Diego, Feijó afirma que quem tem mais visão de produção é o Guilherme, é a pessoa que lidera. “Nos dois discos, foi ele que puxou o carro da produção e que sabia o que a gente tinha que fazer. Claro que haviam discussões, mas ele mostrou um caminho bem certo do que a gente deveria seguir nas gravações”, expressa.

O músico afirma que a banda é bem calma, sem pressa e sem ambição, são trabalhos introspectivos e calmos, feitos emseu próprio tempo, mas que os membros da San Diego gostam muito e as pessoas que ouvem também se identificam. “Como todo mundo é cheio dos afazeres, é bem difícil tu se dedicar exclusivamente para a música, assim como é difícil arranjar um tempo para se dedicar ao processo criativo da música”, explica.

João afirma que a conexão com a Ué Discos é uma relação bem familiar, uma amizade que resultou no lançamento dos dois discos da banda pelo selo. Desde antes do surgimento da San Diego, a ligação com a gravadora já estava desenvolvida. “A Ué Discos se tornou um caminho muito apropriado pelo fato de que o Manzoni é amigo de longa data do Guilherme Brum, e a Aerogramas, banda do Rodrigo Nenê, também trabalha com o selo”, acrescenta.

Sobre o trabalho de um cantor, Feijó relata que seria tentar ser o mais verdadeiro possível no que se canta. Na opinião do vocalista, é o trabalho mais fácil. Mesmo com a questão de ter que se aproximar do público para fazer a frente, ele acredita que o trabalho do compositor é muito mais difícil, por depender de um estado mental de criatividade. Isso é a parte mais difícil de qualquer banda que dependa de composições, segundo Feijó. Sobre o processo de composição, ele afirma que só consegue criar em um estado de ócio, em um momento que não tenha que se preocupar com trabalho ou com a universidade. “A criação tem que ser uma coisa totalmente espontânea”, afirma.

Quanto ao trabalho de um cantor e compositor, ou cantautor, Vandré acredita que assim como todo e qualquer artista, é uma pessoa com a sensibilidade para absorver os sentimentos e angústias do seu tempo e transformá-las em arte, para devolver para a sociedade uma ferramenta para ajudar na compreensão do que somos e para que servimos como ser humano e como sociedade.

Dados sobre a distribuição digital via streaming

Pete Linforth por Pixabay

De acordo com o relatório da International Federation of the Phonografic Industry (IFPI), a média mundial de crescimento de vendas em 2018 em comparação com 2017 foi de 9,7%, enquanto a média brasileira chegou aos 15,4%, superando o crescimento mundial. Segundo a pesquisa, o Brasil está na décima posição em comparação com o mercado mundial, alcançando um montante de vendas de US$298,8 milhões.

O relatório feito pela organização engloba vendas físicas, qualquer faturamento gerado por meio da distribuição dos fonogramas em meios digitais, os direitos de execução pública para os produtores fonográficos e intérpretes, além dos valores gerados pela sincronização das músicas gravadas em obras audiovisuais ou publicitárias.

No Brasil, o relatório da federação é divulgado pela Pro-Música Brasil Produtores Fonográficos Associados, uma associação que reúne as gravadoras em atividade no Brasil. Conforme o presidente da associação Pro-Música, Paulo Rosa, o mercado brasileiro de músicas gravadas segue a tendência que iniciou em 2015 no mundo, do crescimento e recuperação das receitas fonográficas pelo streaming digital de áudio e vídeos musicais.

Em relação a 2017, o ano de 2018 teve um aumento de 46%, enquanto o crescimento mundial foi registrado em 34%. O número de assinantes de streaming de música subiu 45%, e alcançou 255 milhões de usuários. No Brasil, em relação com o ano de 2017, esse mesmo número era de 176 milhões de usuários. No ano de 2018, foram gerados US$ 207,8 milhões no setor de streaming. Enquanto US$ 151,6 milhões são originários das assinaturas mensais, US$ 18,8 milhões são da publicidade nas plataformas de streaming de áudio operantes no país.

Com planos em conjunto como, por exemplo, um para várias pessoas de uma mesma família e um para universitários, o Spotify oferece serviços com redução de custo para pessoas que queiram assinar o serviço. Além dessa possibilidade no Spotify, também temos a mesma opção no Deezer, enquanto o TIDAL não oferece esse serviço.

As assinaturas estão com crescimento de 53% enquanto a publicidade nas plataformas está com crescimento de 25%. Em contrapartida, as vendas físicas caíram -69% e os downloads pagos -39%. Esse crescimento das assinaturas mensais dos serviços de streaming demonstra o aumento do interesse do consumo musical via meios digitais, que pode ser explicado devido a facilidade de consumir música sem ocupar espaço nos aparelhos utilizados – o caso de quando são realizados downloads pagos.

 

O grupo Monsta X fará sua segunda apresentação no Brasil em 19 de julho deste ano.Divulgação: Revista KoreaIn

Cabelos coloridos, brincos e um estilo único são alguns dos elementos componentes dos MVs (music videos, ou clipes musicais) de música pop coreana, mais conhecido como K-Pop. Com milhões de fãs pelo mundo e movimentando bilhões de dólares com escolas para formação de ídolos, como são chamados os cantores do gênero, a indústria coreana dita tendências na vida de seus adoradores.  

A versão moderna do pop sul-coreano surgiu em 1992 com o grupo Seo Taiji & Boys. O sucesso garantiu a inserção de elementos estrangeiros às músicas e ao material audiovisual, bem como a entrada coreana no mercado de entretenimento internacional, com programas de televisão e novelas.  

Em 2012, logo após o lançamento da música Gangnam Style do rapper PSY, a arrecadação de 3,4 bilhões de dólares foi considerada a maior exportação da Coréia do Sul pela revista Times. De fato, PSY inaugurou a explosão incisiva dos grupos de K-Pop fora dos limites do país, entrando para o Guinness Book como o MV mais visto da história, com 700 milhões de views. 

Os solistas BoA, considerada a “rainha do K-Pop”, e Rain – o show man cantor, ator, dançarino e designer sul-coreano – também foram responsáveis por esse aumento de visibilidade, somando recordes em vendas digitais e shows internacionais.  

Em meados de 2011 novos grupos começaram a ser formados pelas agências de entretenimento. Entre os nomes de maior repercussão no cenário atual estão BTS, Monsta X, EXO e Black Pink.   

 EMPRESAS DE ENTRETENIMENTO  

 Os ídolos são agenciados por empresas com regras próprias. Elas são responsáveis pela divulgação e tudo o que envolva a vida pessoal dos artistas fora das câmeras. Os jovens aspirantes a cantores chegam a passar até dez anos em processo de treinamento antes de serem lançados no mercado, seja como solistas ou membros de grupos.  

Programas de sobrevivência se tornaram populares na escolha de jovens talentos. Win – Who is next?, criado pelo CEO da YG Entertainment, separou 11 garotos em dois times que competiam entre si em apresentações de canto, dança e composição. Os vencedores debutaram como o grupo Winner formado, atualmente, por quatro integrantes. O mesmo aconteceu no reality No Mercy, que reuniu 12 trainees da Starship Entertainment em batalhas individuais e em grupo. Sete rapazes foram escolhidos para compor o grupo Monsta X, um dos queridinhos do público brasileiro.  

Em entrevista ao site UOL Entretenimento, Natalia Pak e Érica Imenes, coautoras do livro “K-Pop: Manual de Sobrevivência” (Gutenberg, 2017) comentam sobre o processo de escolha dos ídolos e da competitividade do mercado. “Quando o artista passa em uma audição em alguma agência, geralmente leva de 2 a 5 anos de treino até que esteja preparado para debutar”, afirmou Natalia.  

“Quando um grupo consegue estrear, mesmo depois de muitos anos como trainees, eles encontram pela frente uma agenda apertada, muito trabalho, nenhum descanso, distância da família e dos amigos”, acrescenta Érica.   

 KPOPPERS  

O termo serve para identificar os fãs, subdivididos em uma infinidade de fandoms espalhados pelo planeta. Aparentemente frios e isolados do restante do mundo, os fãs coreanos são considerados os mais enérgicos em relação à cobrança que exercem e sofrem, indiretamente, de seus amigos e familiares. Atores, cantores, dançarinos, ninguém escapa aos olhos aguçados das sasaengs (as stalkers coreanas), as quais chegam ao cúmulo de contratar serviços de taxistas para seguir os famosos. O stalk intenso gera a necessidade de viver em função do ídolo e isso acaba influenciando fãs a tomarem atitudes extremas, como hackear câmeras de segurança de prédios e escrever cartas com sangue e dedicatórias macabras.  

“Conheci o K-Pop em 2017, por influência de uma amiga. O primeiro grupo com o qual tive contato foi BTS”, conta a estudante de Jornalismo Emily Mayer. Aos vinte anos, Emily passou a pesquisar mais sobre a cultura e costumes coreanos depois de entrar nesse universo. O tema a levou a conhecer canais no YouTube e outros fãs que se tornaram parte de seu círculo de amizade. 

Ainda de acordo com Emil o preconceito sofrido pelos fãs, principalmente em cidades como Santa Maria, nas quais esse gênero musical não é tão conhecido, é um assunto que deve ser levado à discussão. “Os geeks já sofrem por conta de seus gostos, se juntarmos isso ao fato de gostarem de K-Pop, ou J-Pop (pop japonês), a estigmatização é muito grande. Ouvimos perguntas do tipo: ‘como vocês podem gostar de uma indústria que explora as pessoas?’”, desabafa.  

“Grande parte das pessoas não consegue entender o estilo dos homens coreanos, o que gera opiniões machistas e homofóbicas”, ressalta Mariana Teixeira, estudante de Artes Visuais da UFSM. “É muito difícil achar fãs de K-pop aqui em Santa Maria e é até mesmo complicado tocar no assunto. Nunca se sabe que tipo de reação as pessoas vão ter”, completa. 

Expandindo o olhar sobre a questão, pode-se notar que a alta cobrança coreana é uma questão cultural. A necessidade de mostrar-se capaz de ocupar espaços de destaque em um mundo bastante ocidentalizado e com enormes potências como os Estados Unidos e a China, se manifesta por meio da pressão exercida sobre todas as camadas sociais. Há grande investimento em educação, principalmente de nível básico na Coréia, e os estudantes costumam sacrificar seus poucos momentos de lazer na tentativa de conseguir as melhores notas e, consequentemente, os melhores empregos na indústria nacional. 

 VINDAS AO BRASIL  

Os grupos Beast, 4Minute, Super Junior, BTS, SHINee, B.A.P, VIXX e os solistas HYUNA e G.NA já estiveram em solo brasileiro.  

O primeiro a marcar presença em solo nacional foi o MBLAQ, em 2011, como jurado de um concurso cover de K-Pop. O K-Pop Cover Festival consistia no envio de vídeos, seguido pela seleção regional, que ocorreu em São Paulo, e pela disputa em nível mundial, sediada na Coréia. O evento ocorreu em local público, no dia 7 de setembro de 2011.  

BTS no tapete vermelho do Billboard Awards 2018. Da esquerda para a direita: Jin, Jungkook, V, RM, Suga, Jimin e J-Hope. Divulgação: Dispatch

A turnê Wings foi aberta em São Paulo, no dia 19 de março de 2017. Em sua terceira passagem pelo Brasil, o grupo BTS lotou o CitiBank Hall com a venda de ingressos esgotada em poucas horas.  

O grupo K.A.R.D promoveu uma sessão de autógrafos no Teatro da PUC-RS, em Porto Alegre, no dia 23 de setembro daquele ano. Formado pela DSP Ent. e um dos poucos grupos mistos existentes, é composto por quatro integrantes: BM, J.SephJiWoo e SoMin 

O FENÔMENO BANGTAN SONYEONDAN 

Formado pela agência Big Hit Entertainment, o grupo Bangtan Sonyeondan, mais conhecido como BTS, conquistou o gosto do público e venceu as barreiras internacionais.  

RM (nome artístico de Kim Namjoon), Jin (Kim Seokjin), V (Kim Taehyung), J-Hope (Jung Hoseok), Suga (Min Yoongi), Jimin (Park Jimin) e Jungkook (Jeon Jungkook) são os integrantes do grupo mais popular de K-pop da atualidade.  

Desde a estreia, com a música No More Dream, em 2013, os rapazes já acumulam premiações de nível internacional, incluindo prêmios do Billboard Awards e participações no Grammy.    

Recentemente o grupo discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas. Os  rapazes falaram em prol do lançamento do programa “Generation Unlimited” (“Geração sem limites”), uma parceria com a UNICEF, cujo objetivo é aumentar as oportunidades e investimentos para crianças e jovens, entre 10 e 24 anos. 

Em um trecho do discurso Namjoon encoraja os jovens a se amarem, cultivarem o amor próprio: “Não importa quem você seja, de onde você venha, sua cor de pele, sua identidade de gênero, apenas fale! Encontre seu nome e sua voz, falando por si próprio”. 

Até mesmo o presidente Coreano, Moon Jae In, parabenizou os rapazes pelo sucesso do álbum Love Yourself: Tear, que estreou no topo da lista da Billboard 200. Jae In também destacou a importância do sucesso do grupo para a propagação da cultura coreana e para a visibilidade do país.  

 DEPRESSÃO E TRANSTORNOS ALIMENTARES  

A questão de saúde mental no país também vem sendo criticada por profissionais da área. Em entrevista a Forefront Suicide Prevention, o psiquiatra Jin-Hee desabafou sobre a dificuldade de discutir tal assunto na Coréia. “Aqui, se você está sofrendo de depressão, ou qualquer outro distúrbio psicológico, é considerado ‘fraco’”. Isso explica a alta taxa de suicídios entre os k-idols e os próprios jovens coreanos. Cerca de 40 suicídios são registrados por dia no país que tem o maior índice dentre os países desenvolvidos.  

O vocalista do grupo SHINee, Kim Jong-hyun de 27 anos, cometeu suicídio em 2017. Em uma carta de despedida, Kim deixou claro que a principal razão de sua desistência foi a alta pressão que sofria e o agravamento de sua depressão.  

O último caso foi o do rapper Kim Dong Yoon, do grupo Spectrum, que tinha apenas 20 anos, no fim de julho de 2018. A causa da morte ainda não foi esclarecida. Também neste ano o líder do grupo 100%, Seo Min-woo, foi encontrado morto em seu apartamento em Seoul. Aos 33 anos, o cantor não sofria de problemas de saúde e suspeita-se que a causa da morte tenha sido overdose.  

 Outros idols já declararam passar por problemas semelhantes, como é o caso da líder do SNSD, Taeyeon, e Heechul, do grupo Super Junior. Suga, integrante do BTS, resolveu compartilhar sua luta contra a depressão, fobia social e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) na faixa solo The Last. A música conta a história de sua vida e dos obstáculos que enfrentou até alcançar o sonho de ser rapper.   

Os transtornos alimentares também são problema recorrente na rotina dos ídolos. A cantora IU revelou ter sofrido de bulimia, devido à sobrecarga e insegurança. O problema se agravou quando a jovem fez sua estreia, aos 15 anos, período no qual começou a sofrer crises de ansiedade, acabando por descontar na comida.   

A pressão, sentida pela cantora e por vários outros artistas, deriva do exigente padrão coreano de beleza. Homens e mulheres de pele clara são bem vistos socialmente, assim como pessoas mais magras e altas. Os olhos devem ser grandes e com pálpebras duplas, o rosto, fino e com maxilar bem desenhado. Não é atoa que a maioria dos k-idols costuma passar por cirurgias plásticas antes da estreia, ou durante a carreira. Não bastasse a pressão de se encaixar nesses requisitos, os artistas coreanos ainda são conhecidos por seu perfeccionismo e pelas incessantes horas de treinamento, o que leva muitos à exaustão após o término de suas apresentações.  

Por outro lado, a maioria dos fãs utiliza as músicas como forma de terapia, como é o caso da jovem Erika Macedo, de 19 anos. “O K-Pop me ajuda demais num sentido psicológico principalmente com a minha ansiedade, eu também fico muito mais feliz e animada quando escuto os grupos que gosto”, desabafa. “Esse gênero também me deu a oportunidade de fazer novas amizades com pessoas de todo o Brasil e também de conhecer uma cultura nova”, completa.  

Reportagem de Evelin Bitencourt, para a disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana durante o 1º semestre de 2019. Orientação: Profª Carla Simone Doyle Torres.

 

 

Na semana que vem, dia 15 de junho, ocorre na Universidade Franciscana no conjunto III, Hall do prédio 15, a 5º edição da UniArtes. O encontro é aberto ao público, e conta com exposições, músicas e artes. As atrações o ocorrem das 14 hrs às 17 hrs.

ATRAÇÕES CONFIRMADAS PARA O DIA 15/06
– Momento de Espiritualidade
– Brinquedoteca
– Música com Ariane Ferreira, Gabriel Borges e Diogo Barros
– Santa Feira Alimentos Agroecológicos
– Exposição e comercialização de Suculentas, Laços e Fitas by Ana, 4You Personalitté, Arte em Retalhos
– Exposição de Desenhos Digitais do Thomas Sasso
– Comes e bebes com a By Tay Receitas de Família e Sweet Dani doces artesanais
– II Cevando Negócios: mateada da Administração e bate papo com os empreendedores Thiago Sanchotene – Presidente do Santa Maria Tecnoparque e Leonardo Kozoroski Veiga – Sócio Proprietário da Tencopampa Ind. de Máquinas e Vice presidente da Cacism.

Também será permitida a entrada de pets.

Divulgação UFN.

A Universidade Franciscana se insere na programação do Viva o Natal organizada pela Prefeitura e Chili Produções. As escadas da capela São Francisco na Duque de Caxias serão o palco para ouvir música popular com Eduardo Agostta, Pedro Flores e Rodrigo Souza, o Grupo Orquestrando Arte e o Coral da APUSM com músicas natalinas.
Basta trazer sua cadeira a partir das 20h da sexta, dia 14 de dezembro, e se encantar com os cantos e cânticos! É Natal na UFN e é de graça!!!

 

SERVIÇO:

VIVA O NATAL NA UFN
Sexta, 14 de dezembro, a partir das 20h
Frente à capela de São Francisco de Assis
Rua Duque de Caxias entre Silva Jardim e Andradas
ENTRADA FRANCA

Divulgação: Laboratório Integrado de Comunicação – UFN 

“Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade”. A frase do jogador de hóquei Tom Fitzgerald encaixa-se de maneira perfeita com as palavras do músico,  produtor, fotógrafo, editor, empreendedor e estudante Rodrigo Souza. O acadêmico do curso de Publicidade e Propaganda, da UFN, deu uma entrevista para a equipe da Agência Central Sul, onde fala sobre como concilia o TFG com sua maior paixão: a música.

Explica também os processos de produção e criação para seu canal no Youtube: ‘Eu, Rô’, onde posta os vídeos, que também produz e edita, de covers de músicas conhecidas, músicas autorais e os ‘Eu Vlogo’, onde Rodrigo fala que todos podem aprender sobre música, sem ter nascido com um dom especial, sobre inspiração e os equipamentos que usa.

ACS: Quando surgiu sua paixão pela música?

RS: Foi bem cedo, quando eu tinha entre três e quatro anos e a minha família me presenteou com alguns instrumentos musicais, como tecladinhos. E, no decorrer desse aprendizado que é a vida, eu fui desenvolvendo gosto, não só pelo canto, mas também pelo violão, que eu comecei a aprender lá pelos dez anos de idade. Então, posso dizer que eu estou nessa carreira musical, de aprendizado, há pelo menos uns dez anos.

ACS: Você tem um carinho pela área do audiovisual. Fale um pouco sobre a sua história com ele.

RS: Quando eu ainda estava no ensino fundamental, algumas professoras começaram a pedir trabalhos que envolviam produção audiovisual. Enquanto os meus colegas pegavam o celular e faziam os trabalhos de uma forma mais improvisada, eu quis ir um pouco além. Pedi para o meu pai uma câmera filmadora. Ele topou. Com ela eu comecei a filmar, brincando, e foi assim que começou a minha jornada no audiovisual.

Eu entrei na faculdade e acabei deixando o audiovisual de lado por um tempo, me dediquei ao mundo fotográfico. Um pouco mais tarde, me redescobrir no audiovisual, que é o que eu gosto mesmo de fazer. E comecei a estudar tudo relacionado a linguagem: enquadramento, cor, história do cinema, etc.

ACS: Você costuma se posicionar claramente em assuntos políticos. Acha que faz parte do papel artista manter essas posições?

RS: Eu acho que é função do artista passar uma mensagem. E, com a minha música e com os meus produtos audiovisuais, eu gosto de deixar claro que eu sou uma pessoa que luta a favor de determinados direitos. Como a comunidade LGBT, direitos dos negros e mulheres. Gosto de me posicionar politicamente, falar ‘olha, sou um homem cis, branco, heterossexual e quero fazer algo com isso’, pois infelizmente tenho muitos privilégios que quero dividi-los com os outros que não possuem os mesmos direitos. Essa foi a maneira que eu encontrei de colaborar com o mundo. É algo hipotético tentar ajudar todo mundo, mas, acho que assim é um bom começo.

ACS: Fale um pouco sobre as suas composições.

RS: Tenho até então mais de dez músicas autorais. As quais umas cinco estão disponíveis no Youtube. Eu gostaria de me consagrar como um artista autoral. Faço covers, mas o meu propósito no mundo da música é falar olha, sou um artista que compõe músicas e quero que as pessoas cantem e conheçam o meu trabalho.

ACS: Quais as tuas maiores referências musicais?

RS: Eu gosto muito de compor e cantar em inglês. Então, a minha maior referência, de todas elas, é o Jason Mraz. Um cantor norte-americano que compõe músicas folk e pop. Inclusive eu tenho uma tatuagem, a ‘be love’,  mesma que ele tem, para me lembrar que compartilhamos a mesma ideologia: de respeitar todas as pessoas e agregá-las, se é o amor que queremos ver no mundo. E é por isso que ele é a minha maior inspiração.

Outro é o Avicii. Ele me fez entrar no mundo da produção da música eletrônica. Eu passei por uma fase onde eu explorava vários programas para fazer música eletrônica e que hoje me trazem diversos atributos para eu compor. Então, pode-se dizer, que a minha entrada na produção musical se deu pelo Avicii, que me impulsionou. Então, hoje eu tenho o conhecimento para produzir minhas músicas folk, tendo meu começo na produção de música eletrônica.

ACS: Como surgiu e qual a proposta do Eu, Rô?

RS: Como uma forma de apresentar ao mundo meu trabalho, postar obras audiovisuais bonitas, que mostrem minhas músicas autorais. Acredito que a minha proposta está dando certo. Um cover na terça e uma música autoral na quinta. Essa era a divisão que eu estava fazendo até que as músicas que eu tinha na reserva acabaram. E, devido a reta final do curso, com TFG, achei melhor ir com mais calma e fazer uma coisa de cada vez. Esclareci para o público que eu ia postar uma música nova a cada quinze dias, por exemplo. E nessas datas de postagem eu ia falando olha, hoje vai ser uma música autoral, hoje vai ser um cover. No momento dei uma pausa no canal, mas vou voltar em breve com vídeos novos a cada semana.

ACS: Você faz tudo sozinho?

RS: Não. Faço toda a captação de áudio, mas com a captação de vídeo, que não é estática, peço a ajuda da minha mãe da minha irmã, que colaboram muito e participam no sentido de impulsionar o meu canal e entender os meus propósitos. Acho isso muito bacana da parte delas. Esse é um projeto familiar, digamos assim. (risos)

ACS: Como é o teu processo de criação?

RS: Existe uma coloração bem famosa que é a laranja e ciano, que compõem diversos vídeos e é uma referência que levo para as minhas produções. Gosto muito desse estilo. Cada vez que eu gravo um vídeo, faço num formato que permita a edição. No mais, meus processos criativos se dão muito a partir dos meus gostos. Ouço muito a música que está rolando no momento. Então pego um pouco disso, adapto para o meu estilo, o folk, e faço a minha interpretação para postar os covers no canal.

Com relação às músicas autorais, minhas composições têm um cunho positivista. Procuro unir as pessoas. Acredito que cada composição minha fala um pouco disso e é o que eu tenho tentado fazer. Há algum tempo atrás eu compunha músicas que, digamos, começavam com A e terminavam com B. Acabei perdendo um pouco esse foco. Me preparei para compor músicas que começassem e terminassem falando sobre amar o próximo. Manter esse foco é o importante para mim.

ACS: Como é a sua rotina de produção para o Eu Rô?

RS: Quando eu postava dois vídeos por semana ela funcionava assim: era uma demanda muito alta, mas eu acabava produzindo tudo numa segunda-feira de noite para postar na terça e na quinta. Atualmente estou num processo de interrupção, mas pretendo voltar fazendo os vídeos num final de semana para ser postado em uma quarta. Vai me deixar menos atarefado, e poderei trabalhar com mais calma e mandar conteúdo para o canal semanalmente, já que o algoritmo do Youtube funciona por frequência. Ou seja, quanto mais tu postar vídeos, maiores as chances de aparecer para outras pessoas. A questão, na minha opinião, é sempre estar presente.

ACS: O que te levou a escolher o curso de Publicidade e Propaganda, não de música?

RS: A música por muito tempo foi só um hobbie para mim. Faz pouco tempo que me identifiquei como artista de verdade, mas já havia me visto como fotógrafo e produtor audiovisual, por exemplo. Foi nesse caminho que eu decidi seguir. E foi uma vontade minha seguir o aprendizado nesse âmbito. Esse foi um fator decisivo para eu não escolher a música. Então, me identifiquei com a publicidade e vim para a área da comunicação sem muita dúvida na escolha do curso.

ACS: Quais as suas expectativas para o futuro profissional?

RS: Eu tenho um plano A e um B para o ano que vem, quando eu me formar. O primeiro, e a minha família já está ciente disso, é me dedicar à música. Atualmente eu não tenho conseguido me dedicar 100% a nada. Não tenho composto o suficiente, nem estudo música o suficiente. Conversei com a minha família e disse: olha, se vocês me apoiarem, no ano que vem vou procurar fazer tudo voltado para a música. Eles acharam bacana. O plano B é continuar com a minha microempresa online, a 404 Produções, no Facebook, que fornece serviços fotográficos e de produção audiovisual. Fora isso, já recebi convites de algumas agências para trabalhar. O que está fora dos meus planos, mas é uma possibilidade.

ACS: Como você consegue conciliar todas essas vidas?

RS: Tem um gráfico na internet que mostra três círculos: um para a vida social, outro para estudos e o terceiro para dormir. Ele indica escolha dois. No momento eu estou com as opções dormir e estudos. A demanda da faculdade está alta, devido ao tfg. A vida social está de lado, mas não está me afetando por enquanto. Está tudo tranquilo. É só uma fase. (risos)

ACS: O que é a vida?

RS: Uma boa pergunta. Adoro me questionar sobre essas coisas. (risos) A vida é um processo simples, que nós complicamos bastante. Mas fazemos isso porque o próprio sistema da sociedade não facilita as coisas também. Acredito que, em um âmbito geral, nós temos muitas coisas fora do lugar e o ritmo acelerado dos nossos tempos acaba deixando as pessoas deprimidas e ansiosas. A vida, hoje, está um caos. Porém, ela é simples e é bonita. Por isso acho importante levar uma mensagem positiva através da minha música. No momento em que as minhas músicas autorais tocarem as pessoas de uma forma positiva, aí eu vou saber que cumpri o meu papel como artista.

ACS: Defina-se em uma palavra.

RS: Coragem. Pois eu acredito que sou uma pessoa que procura quebrar algumas barreiras, padrões e estigmas que são estipulados pela sociedade. E também em relação ao âmbito profissional, em relação à minha música, por colocar a minha cara a tapa e ir em busca desse sonho, não importa o que os outros digam.

 

Texto produzido no primeiro semestre de 2018, para a disciplina de Jornalismo Cultural, sob a orientação do professor Carlos Alberto Badke.

Hoje a coluna será diferente, mas nem tanto. Uma recomendação pessoal dos meus três discos favoritos. Afinal, nada é melhor do que falar daquilo que a gente gosta, não é verdade? O favoritismo pode pesar aqui, mas é impossível não demonstrar afeto por nossos crushs e mozões.

The Stooges – Fun House (1970)

  Ah, os Stooges. Eu amo os Stooges. Iggy (ainda sem o Pop), os irmãos Asheton, Ron e Scott, e Dave Alexander. Descobertos por Danny Fields, na época uma espécie de caça-talentos da Elektra, moldaram os padrões do que se tornaria o punk rock oito anos depois. Simplicidade, agressividade, luxúria e tédio. Os Stooges começaram a carreira no experimentalismo. Tocavam longas músicas em suas apresentações, com muita cacofonia e Scott Asheton batucando latas de lixo e gasolina. Tudo caótico e nada comercial. Em seu contrato com a Elektra, tiveram que comercializar seu som. Nenhum problema nisso. O primeiro disco, homônimo, lançado em 1969, exalando o tédio atemporal da adolescência, causou uma revolução musical. Três acordes e um niilismo ingênuo. Nasce o punk rock, mesmo ele já tendo seus primórdios uns quatro anos atrás, na Inglaterra, no riff de You Really Got Me, dos Kinks. O timbre lisérgico e os wah-wahs da guitarra de Ron Asheton tumultuando nossos ouvidos num caos controlado, produzido por John Cale, aquele mesmo do Velvet Underground, o lado vanguarda da banda. Ironicamente, ele adocicou o som dos Stooges. Eles não gostaram nada. O disco muito menos. Vendeu mixaria. E nele encontramos hinos punkadélicos do quilate de I Wanna Be Your Dog (a luxúria e submissão), 1969 e No Fun (o tédio e niilismo). Um ano depois, tomam um passo adiante em seu som. O tédio ingênuo dá lugar à pura farra niilista. Fun House serve como uma extensão do disco anterior, apenas mais completo, e diferente também. É metálico, tal qual Detroit, a cidade industrial palco e berço de bandas revolucionárias e agressivas. Produzido por Don Gallucci, tecladista do Kingsmen, e responsável pelo riff de teclado mais famoso da história, o de Louie Louie, o disco é seco, autêntico e vivo. As músicas são construídas na base do improviso. A banda soa profissional, centrada. Ron Asheton abandona seus timbres ácidos e os substitui por cortes e socos a queima-roupa na cara. O contrabaixo de Dave Alexander ainda mais pulsante. A batida instável de Scott Asheton. O tilintar das caixas é orgânico e seco. Uma autêntica bateria. E Iggy cada vez mais enlouquecido. Berrando, gemendo e urrando tal qual uma pantera caçando sua presa numa selva infernal. Iggy nunca soou tão primal na vida. Sua voz ecoa das cavernas mais profundas da humanidade. Na última faixa do álbum, L.A. Blues, os Stooges liberam o caos na terra, direto das entranhas do inferno e drogas. Cacofonia, ritmos dispersos e dissonantes, e o Iggy, claro, na maior selvageria. Altamente coeso em sua forma, a melhor descrição de Fun House se encontra no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer: ”O lado A é a festa, o B a ressaca”. Nada mais resumido. Composto por sete faixas, o lado A apresenta canções mais curtas e diretas. Empolgantes em sua essência. Para dançar. Uma farra completa. Termina com Dirt, uma pausa no dinamismo e o início do declínio da noite. Iggy se sente sujo e não se importa com isso. Abrindo espaço para o lado B, outra história. Canções mais longas, repetitivas, tão diretas e caóticas quanto e com o acréscimo do saxofone de Steve Mackay, martelando a ressaca em nossas cabeças. Tudo lindo e cheirando a liberdade e decadência. O disco também não vendeu nada, e os Stooges se separaram, para voltar dois anos depois, agora com outro guitarrista, James Williamson, tão agressivo quanto o próprio som dos Stooges, e Ron Asheton migrando para o contrabaixo, e, sob a produção de David Bowie, lançarem Raw Power, seu disco mais cultuado. Mas meu coração permanece em Fun House, por todo o sempre. Sendo sincero, não sei exatamente o que falar do disco. É o meu favorito. Aquele que eu levaria para uma ilha deserta sem pensar duas vezes. Palavras são desnecessárias nesses momentos. Basta sentirmos. E esse é também o melhor disco da história. Ponto final.

Destaque: Down on the Street – A abertura espetacular desse disco maravilhoso. Talvez o melhor riff da história. Cheio de groove e sensualidade. Empolga até defunto. É só isso que você precisa saber. Ritmo dançante, contrabaixo e bateria se relacionando e refrão explosivo e gritado. Depois um solo improvisado, monossilábico e fantasmagórico de Ron Asheton. Na letra, nada mais nada menos que Iggy caminhando rua abaixo, pensando em alguém e vendo coisas bonitas. É, o forte dos Stooges não eram as letras. Não que isso importe.

Serge Gainsbourg – Histoire de Melody Nelson (1971)

 Apenas Gainsbourg para tornar um assunto tão polêmico, delicado e repulsivo em algo belo, melancólico e sonhador. Aqui temos uma ópera-rock sacana sobre uma paixão proibida. E ilegal. O alter-ego de Gainsbourg, ou talvez o próprio, dirige seu Rolls Royce pelas ruas solitárias de uma noite escura quando atropela uma garota numa bicicleta. A imagem virginal de Melody Nelson o fascina. Começa aí um conto de obsessão e paixão que termina em tragédia. É isso mesmo. Melody Nelson é menor de idade. Gainsbourg não revela exatamente as primaveras da personagem título, mas suas descrições de lolita nos remetem uma ideia. Gainsbourg atravessa as profundezas mais sinistras do homem. A história é narrada em detalhes e tons poéticos pelo vocal sussurrado e falado de Gainsbourg, a subsequente sedução até o ato carnal. Gainsbourg está apaixonado pela sua musa virginal. Ele a deseja. Não a vê como uma mera presa de suas perversões e delírios carnais. É uma paixão autêntica. Mas não se preocupe, não há palavras ofensivas aqui. Detalhes das núpcias do casal são deixados de lado. Tudo muito galanteador e francês. Gainsbourg era malandro, mas nada burro. É exatamente isso que torna esta obra tão bela. A tragédia e luxúria de uma paixão proibida sob o ponto de vista delicadamente romântico e recíproco. É um obra feita para chocar, mas sem a apelação tão comum nesse tipo de abordagem. Não espere um Lolita da vida. A mera perversão e medo de um Humbert Humbert não existem aqui. E nada de romantização e glamourização de um tema desagradável. O que talvez faça esta obra soar tão sinistra e até ingênua em seu conceito. Na verdade, até que há uma certa moral da história. O disco fecha com a morte de Melody Nelson, em um acidente de avião, e Gainsbourg lamentando o eterno fim de sua paixão proibida, como se fosse viver o resto de sua vida no maior sofrimento, pagando pelo seu pecado. Maior deprê. Mas o verdadeiro primor aqui é a música, é claro. Com 27 minutos de duração e dividido em sete faixas, Melody Nelson é um exercício de delicadeza e produção esmerada, luxuosa e muito, mas muito simples. Tudo nesse disco é perfeito. Produção, execução, interpretação. Foi feito para ser ouvido do início ao fim, sem pular faixas. Afinal, é um álbum conceitual. Cada faixa expandindo a outra. A base do disco se encontra num funk sombrio e levemente safado que só Gainsbourg sabia fazer, com três curtos interlúdios acústicos para acalmar os ânimos. As músicas seguem uma linha repetitiva e tranquila, e vão aumentando e progredindo ao mesmo tempo em que o enredo é desenvolvido. Tudo muito sombrio e melódico. A calmaria antecipando a tempestade. Cada instrumento bem executado e em harmonia com o clima das canções. Nenhum instrumento se sobrepõe a outro. Um autêntico trabalho em equipe. De primeira temos toques de guitarra aqui, baixo marcando a melodia, bateria o ritmo, mais toques de guitarra ali, uma leve passagem de cordas, terminando numa explosão conjunta. Sem pompa, sem complexidades. Apenas simplicidade em seu estado mais bruto. Esse desenvolvimento em conjunto entre enredo e música é perfeito para nos envolver na história. Um filme em nossa mente. Não é preciso ter domínio da língua francesa para entender a história. Música e letra já fazem todo o trabalho. Além disso, a mixagem dos instrumentos é tão seca e genuína quanto a mais fria das almas. Há belíssimos dedilhados de violão e contrabaixo sustentando as melodias e pintando tons de alegria no disco. Sonoridade ideal para o ambiente melancólico e de tensão sexual. Os arranjos de cordas de Jean-Claude Vannier banham o disco em magia e sonho. Etéreo. Um coro de anjos sem o coro. Em resumo, Melody Nelson é a maior definição de perfeição. Uma obra-prima indispensável na coleção de qualquer amante da música.

Destaque: O álbum inteiro, é óbvio!

Dennis Wilson – Pacific Ocean Blue (1977)

   Dennis Wilson, o beach boy errático, rebelde e de espírito livre. Mas também um ser de natureza gentil e doce. E uma alma atormentada. Espíritos livres com frequência são atormentados. A liberdade é perturbadora. Dennis era o patinho feio dos garotos da praia. Tinha uma voz fraca e grave, um contraponto perfeito aos seus colegas de banda, todos muito bem afinados. Isso não impediu Dennis de interpretar majestosamente belas canções do cancioneiro praieiro. Sua fragilidade é envolvente em canções como The Back of My Mind, por exemplo. De uma extrema ternura. Também foi um hábil compositor. Não tão genioso quanto seu irmão, Brian, mas igualmente brilhante. Dennis não teve treinamento musical algum. Escrevia suas melodias de coração mesmo. Ou talvez tocasse apenas notas agradáveis até formar uma sequência coesa, quem sabe. Não importa. Sua canção mais famosa nos Beach Boys, Forever, é um exemplo desse seu brilhantismo. Melodismo em seu mais alto nível. E seu único disco solo segue essa linha. Apenas um pouco menos comercial. Desprovido de enfeites, Pacific Ocean Blue é um trabalho melancólico, reflexivo, cru e repleto de sentimento de um ser atormentado. Clima de fim de noite e solidão. Levemente depressivo e desesperador, mas com traços de esperança. Letras sobre amores saudosos, despedidas tristes, reflexões e leve otimismo em relação a vida. Sua voz mais rouca e fraca, devido a idade e sua forma física desgastada. Ele era o galã dos Beach Boys, o garoto-problema, e em 1977 se encontrava fora de forma. Mas sua voz atormentada por pesadelos, num timbre áspero, combina perfeitamente com a atmosfera desoladora de suas canções. Wilson as interpreta com a sonolência e ausência de personalidade, mas com muita personalidade, de quem só quer desabafar sobre seu cansaço mental e físico. Tudo envolto em névoas e água salgada. Podemos imaginar a paisagem tranquila e deprimida de uma manhã solitária e cinzenta nas areias de uma praia. A princípio o disco pode soar um tanto tedioso para ouvidos menos acostumados com um som nada progressivo e padronizado, com poucas mudanças e tudo arrastado, que segue os padrões de um rock mais adulto, orientado para as rádios, da costa oeste dos Estados Unidos, também conhecido como AOR, mas sem o raiar do sol. É um anti-AOR. Nenhuma faixa apresenta um apelo comercial. Apenas beleza em sua essência. É um disco para ser ouvido na íntegra, em sua totalidade. Maçante, mas nada maçante. Os ganchos estão ali, tímidos em meio ao clima levemente desesperado do disco. Por isso exige repetidas audições até entendermos seu conceito, sua musicalidade peculiar. E aí é que ele nos envolve cada vez mais. No fim, Pacific soa por vezes perturbador. Um mergulho nas reflexões de um espírito atormentado pela sua natureza rebelde e errática. Wilson morreria seis anos depois de lançar seu  primeiro e último disco, afogado após pular bêbado na água. Um fim trágico para uma alma trágica.

Destaque: Thoughts of You – A mais perturbadora do disco. Acompanhado apenas de uma melodia lindíssima e depressiva ao piano, e pequenos toques de um arranjo de cordas, Dennis está saudoso, pensamentos rodeando sua cabeça. Ele reflete sobre solidão e amor passageiro. Seu único conforto está em suas lembranças e pensamentos, que lhe trazem alegria. Tudo mais do que melancólico e sinistro. As coisas ficam mais macabras quando a melodia muda, aumentando a tensão da música, e camadas de vozes surgem ao lado de Dennis, que  parecem tentar escapar de um limbo infernal. ”All things that live one day must die” (Todas as coisas que vivem um dia devem morrer), canta na maior tranquilidade sombria de uma vida ofegante chegando ao seu fim. Angustiante. Não recomendável para ouvidos facilmente impressionáveis.

Quer queiram, quer não, ninguém pode se livrar das garras desse amor gostoso. Ou passamos a sofrer da terrível sofrência. A seguir, três discos repletos de dor, causada pelos sentimentos perdidos e inatingidos do amor, aquele monstro sádico.

Derek and the Dominos – Layla and Other Assorted Love Songs (1970)

 Lá pelos idos da década de 60 Eric Clapton se encontrava na pior. Estava apaixonado por Pattie Boyd, já comprometida. E pior, esposa de seu melhor amigo, George Harrison. Cansado e cada vez mais caindo de amores, naquelas de pensar na pessoa todos os malditos dias da vida que seguia, e querendo não sofrer mais, Clapton resolveu declarar a ela seus sentimentos. O casamento já estava em ruínas, e malandro que só ele, resolveu aproveitar a deixa. Não deu certo. Pattie continuou na tentativa de resolver seus problemas matrimoniais com o ”beatle quieto”, que também não era lá o santinho que todos achavam que era. Esses piscianos, tão imprevisíveis. Clapton, por sua vez, resolveu ter um caso com a irmã de Pattie, Paula, apenas pela semelhança física e uma maior aproximação de Pattie. Não é preciso dizer que isso só piorou a situação. O guitarrista então entrou numa depressão pesada, se viciando em heroína e álcool. Nenhuma novidade aí. Cheio de dor, decidiu formar um novo grupo com os músicos de estúdio Bobby Whitlock, Jim Gordon e Carl Radle. Surge Derek and the Dominos. Lançaram apenas um disco, duplo, todo dirigido à Pattie. Clapton convidou Duane Allman, o herói dos Allman Brothers, para transpor a delicada raiva e chororô em seus slides. Layla foi dividido entre canções autorais, inspiradas pela tragédia amorosa de Clapton naquele momento, e covers, que também falam das dores do amor inatingível. As observações de Clapton sobre suas agruras e sofrimento o permitem sonhar, se declarando em canções sobre o pecado de amar a mulher de outro e ser dela, não importa a distância que seja. Parece estranho, e com certeza o é. ”And if it seemed a sin/To love another man’s woman, baby/I guess I’ll keep on sinning/Loving her, till my very last day” (E se parece pecado/Amar a mulher de outro homem, baby/Eu acho que continuarei pecando/Amando ela até o último de meus dias), é o que canta Bobby Whitlock, soltando a voz num tom grave. Quase um pastor. Obsessão nunca soou tão trágica, determinada e sinistra. A razão, causa e circunstância do porque Clapton não cantou nesse trecho tão pessoal é um mistério. Já em Have You Ever Loved a Woman, um antigo blues de Chuck Willis, é ele que dá o ar de sua desgraça: ”Have you ever loved a woman so much you tremble in pain?/And all the time you know she bears another man’s name”. (Você já amou uma mulher tanto a ponto de tremer de dor?/E todo esse tempo você sabe que ela carrega o nome de outro homem). Arrepios. É um disco basicamente pop com temperos de blues e soul, derramando a angústia por todos seus quatro lados. A banda é afiada, tocando na precisão de um senhor Miyagi. Jim Gordon é um monstro na bateria, sempre com suas viradas marotas. Ouvir essa viradas no fone de ouvido é um prazer inenarrável. O disco também serve como veículo para o lado cantor de Clapton, aqui em seu melhor registro vocal. Ele se entrega às canções. Parece cansado, abatido pela sua dor. Mas determinado. Sua voz soa fraca e potente ao mesmo tempo. O timbre levemente sujo, talvez pela quantidade de álcool consumida para tentar aliviar seus pensamentos. E há o clássico dos clássicos, Layla. Um hino. Riff histórico presente em tudo o que há de clássico nesse mundo, e letra inspirada num conto persa de amor proibido. É a que mais se dirige diretamente à Pattie Boyd. Clapton soa raivoso, indagando sobre a escolha dela em permanecer num casamento já falido, e a ameaça de ficar sozinha pelo resto da vida quando as coisas ficarem feias para o seu lado. Homens, sempre tão… dramáticos. A banda acabou um tempo depois. As drogas cada vez mais afetaram Clapton, que se isolou. Apenas anos mais tarde é que seu sonho enfim se realiza, com o fim do casamento de George e Pattie, e os dois se permitem amar. Se casam em 1979, e o resultado não foi tão maravilhoso quanto o desejo de Clapton achava que seria. Talvez pelo abuso de drogas, Clapton deixou de se preocupar com Pattie, e sua vida teve ainda mais dor, muito mais dor, até se separarem no final da década de 80. No final, tudo pareceu mais um caso de mera paixão e perdição. Triste.

Destaque: Why Does Love Got to Be So Sad? – Um furacão banhado em groove, raiva e melancolia. Talvez é a que mais resume o espírito do disco e do estado de Clapton naqueles tempos. Clapton dispara lamentos piedosos sobre a distância entre os dois em seus versos. Ele não consegue parar de pensar nela, resumindo os efeitos que a paixão promove em nossas cabeças, para terminar perguntando o ”por que do amor ser tão triste”. Ah, esse monstro sádico. ”Like a song without a name/I’ve never been the same since I met you” (Como um canção sem nome/Eu nunca mais fui o mesmo desde que te conheci), canta. Nada mais direto. A banda se mostra no maior dos frenesis. As linhas do contrabaixo de Carl Radle dançando no ar, Jim Gordon mantendo o ritmo com suas viradas precisas e Clapton e Allman duelando em suas guitarras. Clapton num riff violento e rítmico, e Allman solando uma slide agressiva e melódica, chorando de desgraça. Dá até pra sentir a faísca soltando na alma.

Arnaldo Baptista – Lóki? (1974)

  Arnaldo Baptista também não estava nos melhores dias após sua saída dos Mutantes em 1973. Com a saúde cada vez mais debilitada pelo uso intenso de substâncias lisérgicas, e tal qual um Syd Barrett brazuca, demonstrando um comportamento dos mais bizarros, se encontrava em plena desgraça. Ainda tinha o fato de, pelo menos é o que conta a história, estar obcecado por Rita Lee, sua colega de banda e ”alma gêmea”. Mas também nem tanto. Em sua autobiografia, Rita conta que Arnaldo não era assim tão chegado nela, e quando surgia, era só pra atazanar. Talvez o primeiro embuste da história, quem sabe. Ou como já foi dito antes, apenas resultado dos efeitos que a paixão, ou o amor, causa nas pessoas. Você sabe, nos tornamos relativamente estúpidos em meio aos nossos sentimentos. Rita também afirma que eles eram sim ”almas gêmeas”, ao menos nos primeiros anos de convivência. Era uma relação mais familiar do que meramente sexual. Se completavam. Duas crianças fazendo peraltices. Amando ou não, e assim sendo, Arnaldo, após compor material novo, se fecha no estúdio, acompanhado de Liminha e Dinho, também parceiros de Mutantes, e grava seu primeiro e melhor disco. Lóki? é uma obra-prima, daquelas que já nascem com esse dom. Arnaldo se entrega na autopiedade. A produção crua e urgente ao extremo é um ótimo pano de fundo para um disco repleto de angústia e dor. Não é exatamente um disco de sofrência, mas sim de sofrimento no sentido mais melancólico e amplo da palavra. Arnaldo se deixa afundar na sua dor e delírio constante. Sobre as composições, afirmou certa vez não terem relação nenhuma com Rita, mas é impossível não pensar na presença constante dela em torno da obra. E se não dela, de alguma outra pessoa. É um disco muito subjetivo, com reflexões melancólicas sobre tempos áureos, saudade, perdição, fuga nos próprios pensamentos, solidão, isolamento e morte. Tudo transcrito na leveza do brilho dos dias pela aura de uma mente perturbada. Entre a desesperança e a esperança. Ele ama Rita, ou essa outra pessoa, e a quer de volta. Tudo nos mais altos padrões de sinceridade. E mesmo assim, Lóki? não soa exatamente depressivo. Nada é maçante aqui. Suas músicas, mesmo tristes, também são alegres. Há rock no meio das baladas melódicas. O trio mostra ao ouvinte que funciona em perfeita harmonia. O som é potente e leve na mesma exatidão. Tudo executado na maestria. Arranjos simples, porém complexos, andamentos e quebradas progressivas. Arnaldo mostra todo seu lado erudito. Criação de família. A atmosfera é íntima. O instrumental é composto apenas por piano, baixo e bateria, com eventuais participações de outros instrumentos, e da própria Rita nos backing vocais em duas faixas. Arnaldo está ferido em suas interpretações, sem demonstrar precisamente isso. Sua voz bastante jovem e potente. Canta num corriqueiro cansaço a sua esperança no futuro, suas reflexões sobre um país que ainda é criança, esperar o apocalipse na tentativa de reencontrar um amor perdido, sua solidão, não estar nem aí pra morte, pra sorte e ter como meta apenas ”decolar toda manhã”, além de se ver apegado ao passado, a coisas que lhe dão prazer e a indagar se vai virar bolor. Sentimos sua depressão. Após o disco, Arnaldo entraria numa longa fase de refúgio, perturbando Rita mais algumas vezes, formando a Patrulha do Espaço, passando por crises e decaindo cada vez mais em seu estado mental, culminando na trágica tentativa de suicídio ao se jogar da janela de seu quarto, no terceiro andar de um hospital psiquiátrico. Arnaldo, é claro, sobreviveu, conheceu Lucinha Barbosa, sua companheira desde então, se recuperou dos traumas e hoje está aí de boas com a vida.

Destaque: Desculpe – A perfeita definição de uma balada corta-pulsos. Chorosa, na maior sensibilidade melódica. Letra das mais confessionais e depressivas. Um pedido de desculpas cheio de ternura. Arnaldo está saudoso e esperançoso. E desolado também. Só a quer de volta. Se sente o maior dos lixos. ”Sinta o barato de ser ser humano, comigo”, canta. Então ele se fecha em seu casulo. ”Não sou perfeito, nem mesmo você… Riiiiiiiii!”, lamenta. Há dúvidas quanto à natureza do ”riiiiii”. Rita? Uma síndrome do pânico? Ou apenas um delírio imposto pela loucura da tristeza do momento? A música segue na tranquilidade, com eventuais progressões melódicas durante seu trajeto e ganhando força em algumas passagens mais íntimas. E capta toda a essência da letra. É como se estivesse lá, uma parte de si mesma, sofrendo ao lado de seu criador toda a solidão desesperada expressa em seus versos. Há um clavinet que torna a canção transcendental. Entre Beethoven e Bach, duelando nos anéis de Saturno. Tudo na maior angústia, das mais pesadas.

Bob Dylan – Blood on the Tracks (1975)

Situação parecida a de Bob Dylan em 1975, passando por uma crise no casamento com Sara, sua esposa há mais de dez anos. Talvez isso tenha o influenciado a gravar seu disco mais confessional na sua gigante discografia. O disco fala do fim de uma relação, do ponto de vista adulto e amadurecido. Há todas as diferentes fases, como negação, lembrança de momentos felizes, raiva, tristeza, medo da perda, medo da solidão, solidão em si, desespero e aceitação. Dylan diz que as canções não foram inspiradas em sua vida pessoal, já que, em suas palavras, não escrevia letras autobiográficas. Sua principal fonte foram as histórias curtas do escritor Anton Chekhov. Já Jakob Dylan, o filho, apenas uma criança quando esteve presente nas gravações de Blood on the Tracks, declarou que o álbum inteiro é uma conversa entre seus pais. Autobiográfico ou não, a obra reflete o teor íntimo de seu autor. Desprovido de grandes produções, o disco é seco como o fim de uma relação. Bem apropriado para as letras cheias de amargura, melancolia e dor. E aceitação também. Dylan admitiu ficar surpreso com o sucesso e relevância do disco para seus fãs. ”Um monte de gente me disse adorar o álbum. É difícil concordar com elas. Quero dizer… Pessoas curtindo esse tipo de dor, sabe?”, declarou sobre sua maior obra-prima. E a musicalidade está mais presente do que nunca. A música de Dylan sempre foi provida de arranjos melódicos e ganchos. Uma pintura musical. Sua interpretação passa do calmo, suave e terno para o irônico, raivoso (mas sem perder as estribeiras) e dolorido. Dylan foi, e ainda é, um grande intérprete. Sua voz analasada, cheia de choro nos lamentos sobre a solidão do abandono e da raiva do momento. Curiosamente o disco poderia ter sido ainda mais cortante em sua estética. Foi gravado originalmente em Nova York, com algumas músicas tocadas apenas no violão. Dylan não gostou do resultado, e foi para sua terra natal, Minnesotta, regravar algumas canções com a presença da banda. Talvez tenha suavizado o teor delas, mas continuam altamente íntimas em suas descrições e observações sobre uma relação em completo desgaste, com um toquinho de esperança. A dor e sofrência em sua roupagem mais lírica. Dylan encerra o disco com uma nota de leve otimismo, companheirismo, saudade, verdade e senso de humor. ”I seen pretty people disappear like smoke/Friends will arrive, friends will disappear/If you want me, honey baby, I’ll be here” (Eu vi pessoas bonitas desaparecem como fumaça/Amigos chegam, amigos vão embora/Se você me quer, querida, estarei aqui), canta em Buckets of Rain. Dylan nunca soou tão sincero em toda sua obra.

Destaque: Simple Twist of Fate – Cinema para os ouvidos. De forma altamente elaborada como só Dylan sabia fazer, descreve o dia de um casal prestes a se separar. Não há nada mais a fazer. Tudo não passa de uma ”simples guinada do destino”. Todo o vazio de acordar e perceber que a pessoa que você ama, e te amava, já não está mais ali. ”She was born in spring/But I was born too late” (Ela nasceu na primavera/Mas eu nasci tarde demais), canta Dylan, sobre a incompatibilidade das ”almas gêmeas”. De uma beleza triste e reflexiva, a melodia é um primor de sensibilidade. Simples – apenas violão, contrabaixo e gaita. É uma canção de uma força monstruosa, te fisgando logo nos primeiros acordes. Entra como uma névoa na nossa mente. O contrabaixo pincelando linhas no nosso cérebro já abatido, ao mesmo tempo acompanhando a melodia, e acrescentando cores na mistura. Podemos ver as imagens na nossa cabeça, passo a passo, com a música de trilha sonora. Ironicamente, o casamento perfeito no meio de um disco sobre uma relação já inexistente.