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Cesma exibe pré-estréia de “Netto e o Domador de Cavalos”

 A Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma) exibiu na noite da última quarta-feira o filme “Netto e o Domador de Cavalos”, escrito e dirigido por Tabajara Ruas. O diretor esteve presente à exibição junto com os atores Sirmar Antunes e Evandro Elias.

 

A pré-estréia do filme foi promovida em conjunto com o Mestrado em Ciências Sociais da UFSM e integra o ciclo de filmes da Cesma de outubro, chamado “Memórias em movimento – movimentos pela memória”. Embora a cooperativa promova exibições de filmes abertas ao público em todas as quartas-feiras, desta vez o evento foi especial: a entrada só foi permitida aos que portavam uma das 150 senhas distribuídas previamente. Mesmo assim o auditório lotou.

 

Filme traz versão da lenda do Negrinho do Pastoreio

O autor e diretor Tabajara Ruas já é conhecido no estado por ter escrito e dirigido (com Beto Souza) o longa-metragem “Netto Perde sua Alma”, de 2001, que trata sobre a liderança do General Netto na Guerra dos Farrapos. “Netto e o Domador de Cavalos” é seu terceiro longa-metragem, e traz mais uma vez o personagem do general, interpretada novamente pelo ator Werner Schünemann. Embora o personagem de Netto participe ativamente do filme, a história principal não é nem sobre o General e nem sobre a Guerra dos Farrapos. O filme conta a história popular da lenda do Negrinho do Pastoreio, porém em uma versão interpretada de Ruas com uma visão realista.

Segundo Tabajara Ruas, “a lenda é de uma crueldade bárbara. Ele (o Negrinho) é morto por perder uma corrida de cavalo. O filme conta essa história, porém sem a ‘coisa mágica’ da Nossa Senhora descendo para tirar as formigas do Negrinho e salvá-lo”. A participação do General Netto nesta releitura da lenda só é possível devido ao complexo enredo do filme, que começa apresentando outra história: a da libertação de um índio e antigo parceiro de Netto, que só acontece graças à ajuda dos negros quilombolas. Após a libertação, o índio (interpretado por Tarcísio Filho) procura retribuir a ajuda dos negros, entrando assim na história do Negrinho do Pastoreio.

Sem a possibilidade de explorar as histórias e os recursos visuais que uma guerra ofereceria, o filme recorre a uma trama complexa para formar seu enredo. Além do General Netto, do índio e do Negrinho do Pastoreio, Ruas cruza outros caminhos de personagens típicos da história gaúcha, como o estancieiro escravagista, o peão, os negros quilombolas, os soldados do império, entre outros. No fim, a trama complexa consegue envolver diferentes gêneros e temáticas, como a vingança, o romance, o humor, a luta por liberdade, a tirania e a opressão contra negros escravos, tudo isso dentro do cenário histórico da cultura gaúcha no século XIX.

 

A “polêmica do pôr-do-sol”

Após a exibição do filme, a professora Ceres Karam Brum, do Mestrado em Ciências Socias da UFSM, apresentou e convidou para subirem ao palco o diretor Tabajaras Ruas e os atores Sirmar Antunes (que encenou um dos líderes dos quilombolas) e Evandro Elias (que fez o papel do Negrinho do Pastoreio). Antes de começar a rodada de perguntas, a professora se mostrou emocionada ao falar sobre o filme. “Desculpe pessoal, este filme mexe muito comigo sempre que o vejo”, disse a professora ao agradecer a presença do público.

Todos os presentes que puderam fazer perguntas aproveitaram a posse do microfone para elogiar o trabalho. Uma professora que estava junto a um grupo de uruguaios observou a importância do filme para a cultura da fronteira, e ainda aproveitou para perguntar se poderia levar alguma cópia para o Uruguai.

A polêmica da noite ficou por conta de um “crítico de cinema”, que utilizou a rodada de perguntas para realizar a sua crítica em alto e bom som. Após elogiar o trabalho de uma maneira geral, ele fez questão de ressaltar que, como crítico, teria a responsabilidade de criticar. Logo começou a listar aspectos do filme que não o agradaram, como as músicas compostas por Vítor Ramil e a opção de se utilizar um narrador no filme. Era visível o desconforto do diretor e do público presente, principalmente pelo tempo excessivo que o crítico ocupou do espaço destinado a perguntas. No final, ele comentou que não gostou das cenas em que aparecia o pôr-do-sol, pois seriam clichês do cinema gaúcho. “Não gostei muito destas cenas, chega de pôr-do-sol. Esta é minha opinião pessoal, como crítico, não sei se vocês concordam com isso”. Logo após a pergunta, escutou um “não” do público em coro sincronizado.

 

Lembrança dos negros quilombolas e índios gaúchos

Tabajara Ruas comentou que o filme não é histórico, assim como também não é “Netto perde sua alma”. Ambos utilizam recursos da história gaúcha, como personagens, lugares, hábitos populares e fatos históricos, porém os filmes não seriam retratos fiéis da realidade, seriam apenas histórias criadas pelo autor que trazem muito da identidade e da cultura gaúcha. O diretor fez questão de afirmar que este não é um filme sobre a figura do gaúcho como conhecemos hoje. “Este não é um filme de bombachas. Nem existiam bombachas naquela época”, afirmou.

O ator Sirmar Antunes comentou sobre a importância do filme em reforçar a presença do negro na cultura gaúcha. O ator demonstrou bastante conhecimento sobre a cultura negra no estado e no país. Ao descrever o personagem que ele encenou, explicou que aquele quilombola era um negro baiano com crença islâmica, de um povo que falava o português e o árabe. Segundo o ator, estes e outros negros formaram os famosos “lanceiros”, fundamentais na luta dos farrapos. “Quando vocês pararem em frente a alguma destas estátuas (de militares farrapos), lembrem-se que heróis foram os negros!”, disse o ator, sucedido dos aplausos do público. Sirmar ainda aproveitou para brincar com a polêmica do crítico de cinema: disse que o próximo filme de Ruas terá mais participações de negros, e que deverão aparecer várias cenas com pôr-do-sol. O público reagiu com risadas.

 

Além de confirmar a importância dos negros na história, Tabajara Ruas também comentou que o índio é um personagem esquecido no cinema gaúcho. O personagem “Índio Torres”, encenado por Tarcísio Filho, ocupa boa parte da trama e ainda faz o papel de narrador. A inclusão de um índio como um dos principais personagens parece ter sido uma forma de “fazer justiça” com a população indígena, já que não existiu um representante da etnia no elenco principal de seu filme anterior, o “Netto perde sua alma”.

 

No final do evento, o ator Sirmar Antunes resolveu fazer uma homenagem à cultura negra: declamou entusiasmado um breve poema enaltecendo os negros do Rio Grande do Sul, e fechou a noite com os aplausos do público presente no auditório.

(por Iuri Lammel – jornalista)

 

Netto e o Domador de Cavalos Pré-estréia em Santa Maria

 

 

Cinema e pesquisa estiveram reunidos na noite desta quarta-feira no centro cultural Cesma. A pré-estréia do filme Netto e o Domador de Cavalos, dirigido por Tabajara Ruas, marcou o encerramento do Seminário Antropologia e Memória – Experiências de Pesquisa em Ciências Sociais do Mestrado de Ciências Sociais da UFSM. Após a sessão do longa, lançado no 36° Festival de Gramado deste ano, o diretor e os atores Sirmar Antunes e Evandro Elias debateram com o público. Questões referentes à memória, oralidade, lendas e história foram abordados pelos presentes.

 

Entre os diversos temas levantados, um foi amplamente discutido: se o pôr-do-sol nas cenas de filmes sobre cultura gaúcha está ficando clichê. Ruas falou que em suas produções ainda vai existir muito pôr-do-sol. “A cultura gaúcha tem uma relação estreita com a natureza. São os nossos elementos e não podemos escapar disto” explicou. O diretor ainda completou dizendo que a região do Taim, onde o longa foi filmado, oferece uma beleza exótica.

 

 A lenda do Negrinho do pastoreio

 

Netto e o Domador de Cavalos é uma história sobre a popular lenda gaúcha do Negrinho do pastoreio. É início da guerra dos farrapos, o general Antônio de Souza Netto (Werner Schünemann) descobre que Índio Torres (Tarcísio Filho), seu antigo parceiro de lutas, está preso. Para libertá-lo, Netto conta com a ajuda de escravos rebelados. No decorrer da história está Negrinho (Evandro Elias), um escravo que é castigado por ser o melhor ginete da fronteira. A luta pela república, pela libertação dos escravos e um painel sobre o século 19 conduzem o enredo. Werner  Netto e o Domador de Cavalos é a seqüência de Netto Perde sua Alma de 2001.

(por Priscila Costa)

 

 Foto: Francele Cocco (Cesma)

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Uma resposta

  1. Noossaaaa muito loco esse filme
    inapropriado para menores de 16
    mais como eu tenho 17 eu poosso
    mais preciso fazer o resumo e o google ñ me da a resposta af
    q droga uahhuashuasahuauhsuahushauhshuahsuhauhus!
    Vida loca…

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 A Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma) exibiu na noite da última quarta-feira o filme “Netto e o Domador de Cavalos”, escrito e dirigido por Tabajara Ruas. O diretor esteve presente à exibição junto com os atores Sirmar Antunes e Evandro Elias.

 

A pré-estréia do filme foi promovida em conjunto com o Mestrado em Ciências Sociais da UFSM e integra o ciclo de filmes da Cesma de outubro, chamado “Memórias em movimento – movimentos pela memória”. Embora a cooperativa promova exibições de filmes abertas ao público em todas as quartas-feiras, desta vez o evento foi especial: a entrada só foi permitida aos que portavam uma das 150 senhas distribuídas previamente. Mesmo assim o auditório lotou.

 

Filme traz versão da lenda do Negrinho do Pastoreio

O autor e diretor Tabajara Ruas já é conhecido no estado por ter escrito e dirigido (com Beto Souza) o longa-metragem “Netto Perde sua Alma”, de 2001, que trata sobre a liderança do General Netto na Guerra dos Farrapos. “Netto e o Domador de Cavalos” é seu terceiro longa-metragem, e traz mais uma vez o personagem do general, interpretada novamente pelo ator Werner Schünemann. Embora o personagem de Netto participe ativamente do filme, a história principal não é nem sobre o General e nem sobre a Guerra dos Farrapos. O filme conta a história popular da lenda do Negrinho do Pastoreio, porém em uma versão interpretada de Ruas com uma visão realista.

Segundo Tabajara Ruas, “a lenda é de uma crueldade bárbara. Ele (o Negrinho) é morto por perder uma corrida de cavalo. O filme conta essa história, porém sem a ‘coisa mágica’ da Nossa Senhora descendo para tirar as formigas do Negrinho e salvá-lo”. A participação do General Netto nesta releitura da lenda só é possível devido ao complexo enredo do filme, que começa apresentando outra história: a da libertação de um índio e antigo parceiro de Netto, que só acontece graças à ajuda dos negros quilombolas. Após a libertação, o índio (interpretado por Tarcísio Filho) procura retribuir a ajuda dos negros, entrando assim na história do Negrinho do Pastoreio.

Sem a possibilidade de explorar as histórias e os recursos visuais que uma guerra ofereceria, o filme recorre a uma trama complexa para formar seu enredo. Além do General Netto, do índio e do Negrinho do Pastoreio, Ruas cruza outros caminhos de personagens típicos da história gaúcha, como o estancieiro escravagista, o peão, os negros quilombolas, os soldados do império, entre outros. No fim, a trama complexa consegue envolver diferentes gêneros e temáticas, como a vingança, o romance, o humor, a luta por liberdade, a tirania e a opressão contra negros escravos, tudo isso dentro do cenário histórico da cultura gaúcha no século XIX.

 

A “polêmica do pôr-do-sol”

Após a exibição do filme, a professora Ceres Karam Brum, do Mestrado em Ciências Socias da UFSM, apresentou e convidou para subirem ao palco o diretor Tabajaras Ruas e os atores Sirmar Antunes (que encenou um dos líderes dos quilombolas) e Evandro Elias (que fez o papel do Negrinho do Pastoreio). Antes de começar a rodada de perguntas, a professora se mostrou emocionada ao falar sobre o filme. “Desculpe pessoal, este filme mexe muito comigo sempre que o vejo”, disse a professora ao agradecer a presença do público.

Todos os presentes que puderam fazer perguntas aproveitaram a posse do microfone para elogiar o trabalho. Uma professora que estava junto a um grupo de uruguaios observou a importância do filme para a cultura da fronteira, e ainda aproveitou para perguntar se poderia levar alguma cópia para o Uruguai.

A polêmica da noite ficou por conta de um “crítico de cinema”, que utilizou a rodada de perguntas para realizar a sua crítica em alto e bom som. Após elogiar o trabalho de uma maneira geral, ele fez questão de ressaltar que, como crítico, teria a responsabilidade de criticar. Logo começou a listar aspectos do filme que não o agradaram, como as músicas compostas por Vítor Ramil e a opção de se utilizar um narrador no filme. Era visível o desconforto do diretor e do público presente, principalmente pelo tempo excessivo que o crítico ocupou do espaço destinado a perguntas. No final, ele comentou que não gostou das cenas em que aparecia o pôr-do-sol, pois seriam clichês do cinema gaúcho. “Não gostei muito destas cenas, chega de pôr-do-sol. Esta é minha opinião pessoal, como crítico, não sei se vocês concordam com isso”. Logo após a pergunta, escutou um “não” do público em coro sincronizado.

 

Lembrança dos negros quilombolas e índios gaúchos

Tabajara Ruas comentou que o filme não é histórico, assim como também não é “Netto perde sua alma”. Ambos utilizam recursos da história gaúcha, como personagens, lugares, hábitos populares e fatos históricos, porém os filmes não seriam retratos fiéis da realidade, seriam apenas histórias criadas pelo autor que trazem muito da identidade e da cultura gaúcha. O diretor fez questão de afirmar que este não é um filme sobre a figura do gaúcho como conhecemos hoje. “Este não é um filme de bombachas. Nem existiam bombachas naquela época”, afirmou.

O ator Sirmar Antunes comentou sobre a importância do filme em reforçar a presença do negro na cultura gaúcha. O ator demonstrou bastante conhecimento sobre a cultura negra no estado e no país. Ao descrever o personagem que ele encenou, explicou que aquele quilombola era um negro baiano com crença islâmica, de um povo que falava o português e o árabe. Segundo o ator, estes e outros negros formaram os famosos “lanceiros”, fundamentais na luta dos farrapos. “Quando vocês pararem em frente a alguma destas estátuas (de militares farrapos), lembrem-se que heróis foram os negros!”, disse o ator, sucedido dos aplausos do público. Sirmar ainda aproveitou para brincar com a polêmica do crítico de cinema: disse que o próximo filme de Ruas terá mais participações de negros, e que deverão aparecer várias cenas com pôr-do-sol. O público reagiu com risadas.

 

Além de confirmar a importância dos negros na história, Tabajara Ruas também comentou que o índio é um personagem esquecido no cinema gaúcho. O personagem “Índio Torres”, encenado por Tarcísio Filho, ocupa boa parte da trama e ainda faz o papel de narrador. A inclusão de um índio como um dos principais personagens parece ter sido uma forma de “fazer justiça” com a população indígena, já que não existiu um representante da etnia no elenco principal de seu filme anterior, o “Netto perde sua alma”.

 

No final do evento, o ator Sirmar Antunes resolveu fazer uma homenagem à cultura negra: declamou entusiasmado um breve poema enaltecendo os negros do Rio Grande do Sul, e fechou a noite com os aplausos do público presente no auditório.

(por Iuri Lammel – jornalista)

 

Netto e o Domador de Cavalos Pré-estréia em Santa Maria

 

 

Cinema e pesquisa estiveram reunidos na noite desta quarta-feira no centro cultural Cesma. A pré-estréia do filme Netto e o Domador de Cavalos, dirigido por Tabajara Ruas, marcou o encerramento do Seminário Antropologia e Memória – Experiências de Pesquisa em Ciências Sociais do Mestrado de Ciências Sociais da UFSM. Após a sessão do longa, lançado no 36° Festival de Gramado deste ano, o diretor e os atores Sirmar Antunes e Evandro Elias debateram com o público. Questões referentes à memória, oralidade, lendas e história foram abordados pelos presentes.

 

Entre os diversos temas levantados, um foi amplamente discutido: se o pôr-do-sol nas cenas de filmes sobre cultura gaúcha está ficando clichê. Ruas falou que em suas produções ainda vai existir muito pôr-do-sol. “A cultura gaúcha tem uma relação estreita com a natureza. São os nossos elementos e não podemos escapar disto” explicou. O diretor ainda completou dizendo que a região do Taim, onde o longa foi filmado, oferece uma beleza exótica.

 

 A lenda do Negrinho do pastoreio

 

Netto e o Domador de Cavalos é uma história sobre a popular lenda gaúcha do Negrinho do pastoreio. É início da guerra dos farrapos, o general Antônio de Souza Netto (Werner Schünemann) descobre que Índio Torres (Tarcísio Filho), seu antigo parceiro de lutas, está preso. Para libertá-lo, Netto conta com a ajuda de escravos rebelados. No decorrer da história está Negrinho (Evandro Elias), um escravo que é castigado por ser o melhor ginete da fronteira. A luta pela república, pela libertação dos escravos e um painel sobre o século 19 conduzem o enredo. Werner  Netto e o Domador de Cavalos é a seqüência de Netto Perde sua Alma de 2001.

(por Priscila Costa)

 

 Foto: Francele Cocco (Cesma)