Quem passa diariamente pela rua Visconde de Pelotas, não mais vê a Tipuana que espalhava sua sombra sobre a rua e a calçada. No último dia 27, a árvore Tipuana localizada em frente à casa de número 808, foi cortada. O corte foi solicitado pelos moradores e executado pela prefeitura. De acordo com o Alvará para Licenciamento de Serviços Florestais (ALSF nº 93/2017) assinada pelo engenheiro competente, a árvore estaria causando riscos às pessoas por estar entrelaçada aos fios, e atrapalhando a passagem dos pedestres.
A Tipuana, originária da Bolívia e Norte da Argentina, é uma árvore florífera e decídua, com copa bastante densa e ampla. Por essa razão, foi bastante utilizada na urbanização em diversos países, inclusive o Brasil, onde elas podem ser observadas com frequência em São Paulo e Porto Alegre. No entanto, suas raízes são agressivas e quando não manejada adequadamente, a árvore torna-se ameaça.
Romélio Luis Rossato, 71 anos, funcionário federal aposentado, proprietário da casa em frente à árvore e quem contatou a prefeitura, diz: ” Relato com toda paz de consciência. Eu sempre quis a permanência da árvore, só que chegou uma hora que não deu mais. Ela causava mais prejuízo, incômodo, do que prazer, satisfação, e os galhos estavam entremeados com os fios de luz”. Ele afirma também que várias pessoas já se lesionaram na calçada, destacando o pouco espaço para a circulação. Para ele, se o calçamento tivesse mais de 1,50 de largura , a presença da árvore não seria um problema.
Rosângela Da Silva, 65, professora aposentada, moradora próxima afirma que se sentia ameaçada. “Nós tínhamos medo, pois cada vez que ocorria um vento, a energia caía e a árvore estava podre, ficando oca no meio, e estava sujeito a cair por cima das casas”. E relata:”Faz tempo que o dono da propriedade estava comunicando à prefeitura para o corte”. Para o corte da árvore, a luz foi cortada e voltou a partir da 13;30. A partir da 7;30 o trajeto entre Duque de Caxias e Visconde de Pelotas foi interrompido pelos Agentes da Coordenadoria Municipal de Trânsito Urbano (CMTU), segundo a prefeitura Municipal.
Cidade perde o verde
A questão do corte de árvores na área urbana é polêmica. Santa Maria é uma cidade com poucas áreas verdes, o que a torna cada vez mais quente. Muitos moradores preservam as árvores nas calçadas, em frente às casas e edifícios, mas a tendência é o corte delas. E muitas vezes, sob o argumento de que as raízes “estragam” as calçadas, ou as sujam.
A ACS foi ouvir Ivo da Cunha, superintendente de praças e jardins da prefeitura de Santa Maria sobre a fiscalização acerca dos cortes e da saúde das árvores na cidade. O superintendente admite dificuldades e afirma: ” Estamos com planos de fazer um projeto para melhorar o reflorestamento urbano, mas para isso precisamos do apoio dos universitários para compartilhar ideias. A cidade está com poucas árvores”.
Para o professor do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) Galileo Adeli Buriol , é melhor cortar e plantar outra do que deixar uma árvore, sendo que ela está a prejudicando e está oca. Conforme o professor, ” não existe tempo certo, mas a Tipuana dura em média 55 anos”. Ele diz ser preciso escolher melhor as espécies de árvores mais apropriadas.” Raízes pivotantes são mais adequadas para que quando a raiz cresça, não destrua as calçadas”, explica.
Galileo destaca também a importância das árvores para a regulação térmica. ” Há uma semelhança a um corpo negro. Ela absorve energia e também a libera mais lentamente, então, o que você vai ter na cidade é uma regulação térmica. De dia vai ser mais agradável e de noite não vai ser tão frio. A amplitude térmica, portanto, a mínima que ocorre antes de nascer do sol não vai ser tão baixa, e a máxima não vai ser tão alta. Mas para a adequação da árvore “seria mais apropriado ter um calçamento com fendas para a água infiltrar melhor para o tronco absorvê-la”, esclarece.
A multa para quem corta árvores, sem a autorização da prefeitura é de 500, 1000 e 1500 dependendo da reincidência. E em relação à fiscalização sobre a saúde das árvores, é o engenheiro florestal quem dá o laudo se a árvore deve ser cortada e quando deve ser podada, explica o superintendente