Dia desses viajei para um curso de marketing. Fui ao hotel que sediava as palestras achando que estava arrumadinha com a minha maquiagem rápida e um colete de pelos. Chegando na fila, vejo meninas de vestido colado, cílios postiços, cabelos bem feitos e saltos enormes. Me perguntei se estava no lugar certo, um workshop ou uma festa. Ao entrar, todo mundo muito adulto. É, muito resolvido, desinibido, conversando sem medo. Tudo muito moderno. E eu me perguntando como fui parar ali. Não que aquele não fosse o meu lugar, porque sempre quis que fosse, mas estar ali foi cair de paraquedas, igual a quando eu tinha seis anos e minha mãe me inscreveu na pré-escola.
Sempre fomos eu, ela, meu pai e minha irmã. Um dia ela me levou até uma sala de aula e me deixou lá. Como se o fato de terem mais vinte crianças perdidas como eu ali, deixasse tudo mais normal. Normal eu, às 7 da manhã, sair da minha cama quentinha, trocar o pijama e passar a manhã sentada em frente a uma classe, ouvindo uma mulher que não era a minha mãe me dando ordens. E ainda, eu só conseguia assistir ao final da TV Globinho ao chegar em casa.
E sempre foi assim, uma série levou a outra, que me levou para o ensino médio, onde eu pensava que já era grande, mas não era. Ao acabar tudo, minha mãe me pergunta o curso de graduação, digo “Jornalismo”. Faço o ENEM e saio vomitando de nervosa. Quase zero em matemática. Por que eu teria que aprender algo que odeio? Minha mãe me inscreve em uma faculdade a qual eu não preciso fazer esforços para entrar. Ela sim, trabalha o dia todo. Então ela diz que eu preciso fazer tudo, ler todos os livros, ir a todos os eventos, conquistar todos os certificados, buscar todas as qualificações. Eu assimilo, e faço.
Agora não mandam mais em mim, até onde eu penso. Acho que sou eu quem manda em mim. Como se na viagem para este curso meus pais, irmã e cunhado tivessem ido só para passear, como eles disseram. Foram para me proteger. A família toda. Só ficaram os cachorros em casa, porque o carro já estava cheio de gente. No local do curso, onde eles não podem passar da porta, mas até lá eles vão, ninguém me fala o que fazer, eu preciso deduzir.
O que eu estou fazendo aqui? Se você tem 19 anos nem tente responder, eu sei que também se pergunta o que está fazendo aí. Dia desses vi a foto linda de uma menina num evento da faculdade em um hotel chique. Na legenda, ela dizia: ” – fingindo que sei como vim parar aqui.” Ufa, eu não estou sozinha nesse mundo… mas estou.