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Vitória Oliveira

Relatos de avistamento de ovnis e abduções são contados ao redor do mundo há anos, inspirando filmes, documentários, obras literárias, animações, entre outras, sempre deixando muitas pessoas interessadas pelo tema. Entre alguns dos entusiastas ávidos pelo assunto encontram-se os ufólogos, que estudam os fenômenos relacionados a todos estes aspectos e muitos outros. 

Placas que simbolizam objetos voadores não identificados podem ser encontradas sinalizando lugares conhecidos pelo turismo ufológico. Foto: E.T Caçapavano

Estes estudiosos apaixonados pelo céu não tem uma formação específica. Para eles serem reconhecidos pela comunidade ufológica é necessário ter uma formação escolar e letramento mínimos, visão holística, vasto conhecimento literário sobre o tema e de outras ciências. Também é comum que os pesquisadores tenham conhecimentos sobre matemática, ótica, aerodinâmica, engenharia, física, química, entre outras. Há uma necessidade de momentos de estudo e de dedicação onde existe uma demanda de participação em congressos, palestras, viagens e investigações.

Ao longo dos séculos, os relatos e histórias são muitas, mas alguns dos mais relevantes ocorreram no final do século XIX e início do XX onde a questão da vida extraterrestre já era apresentada em livros. O astrônomo Percival Lowell foi um dos escritores que  descreveu em suas obras uma hipotética civilização marciana avançada: ‘Mars’ (1895) e ‘Mars and Its Canals’ (1906). Já a publicação ‘A Guerra dos Mundos’ de H. G. Wells trata sobre uma invasão marciana ao nosso planeta. Os  jornais, revistas em quadrinhos e programas de rádio também já trataram sobre o assunto, como a transmissão realizada em 1938 nos Estados Unidos dramatizando o livro ‘A Guerra dos Mundos’, que gerou pânico ao ser confundida pelos ouvintes com um ataque real de alienígenas marcianos e filmes do seriado Flash Gordon (1936) com extraterrestres do planeta Mongo.

Galeria de fotos com notícias e partes da encenação de ‘A Guerra dos Mundos’. Fotos: Arquivo digital

No Brasil, os primeiros exemplares de ficção científica que tratam esta temática foram ‘O Doutor Benignus’ (1875) de Augusto Emílio Zaluar, ‘A Liga dos Planetas’ (1923) de Albino José F. Coutinho e ‘O Outro Mundo’ (1934) de Epaminondas Martins. Porém, os extraterrestres de Orson Welles não foram noticiados apenas nos jornais americanos, aparecendo também nos noticiários do Rio de Janeiro informando sobre o pânico provocado pela transmissão de A Guerra dos Mundos. O Diário da Noite, em sua primeira página de 6 de dezembro de 1938, noticiou ‘Susto Incrível Por Todo o País’. O Correio da Manhã publicou em sua terceira página: ‘A Guerra dos Mundos – Momentos de Pavor…’. Em São Paulo, a Folha da Manhã publicou: ‘Intenso pânico provocado nos Estados Unidos pela irradiação de A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells’.

O ufólogo Fred Morsch é autor, produtor, apresentador e pesquisador. Ele afirma que o tema já é pesquisado no Brasil. Segundo registros do Arquivo Nacional o país teve ao menos 743 casos de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (Óvnis) entre 1952 e 2016. Morsch comenta que uma das principais iniciativas do turismo ufológico são os congressos e seminários. “É onde os pesquisadores vão expor seus trabalhos”, conta ele. Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Piauí e Rio Grande do Sul são estados reconhecidos pelo turismo ufológico. Para o pesquisador, esses lugares se tornam turísticos por conta de fenômenos inexplicáveis. “Principalmente os fenômenos aéreos que são  atípicos e não explicados pela ciência. Hoje há várias iniciativas no país, onde são organizados congressos, em que fazemos vigílias, para ver se conseguimos observar alguma coisa e também trocar informações e conhecimento”, explica.

O ufólogo pensa que o estudo das vidas extraterrestres não é recebido pelo público da forma esperada pelos entusiastas, tanto no país quanto fora. Para ele, a recepção e busca sobre o tema pode variar de acordo com as culturas. “Algumas pessoas são mais céticas, outras acreditam mais, acredito que hoje elas estão aceitando mais e começando a tentar entender que não estamos sozinhos no universo”, comenta. O estudioso considera que o tema está crescendo positivamente e sendo mais respeitado.

As forças armadas brasileiras, ao longo dos anos, confirmaram alguns incidentes relacionados a objetos voadores não identificados. Em 24 de outubro de 1954, entre 13h e 16h, corpos estranhos foram avistados sobre a Base Aérea de Porto Alegre. O episódio foi noticiado pela imprensa gaúcha e também na capital federal, na época, a cidade do Rio de Janeiro. O chefe do Estado Maior da Aeronáutica (EMAER), brigadeiro Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, autorizou o comandante da Base a realizar as investigações necessárias, mantendo o Estado Maior informado de tudo. Cinco relatórios apresentados por brigadeiro Gervásio à imprensa, de um total de 16, contém depoimentos do pessoal da Base sobre a movimentação de um objeto arredondado de cor prateada fosca a grande altitude, com um dos depoimentos citando dois objetos.

Já o Estado Maior da Marinha expõe o caso ocorrido na Ilha da Trindade em 1958, este que é um dos mais famosos casos da ufologia brasileira, o chamado ‘Caso da Ilha da Trindade’. O acontecimento está registrado em uma série de quatro fotografias tiradas a bordo do navio da marinha Almirante Saldanha, ancorado na Ilha da Trindade, em 16 de janeiro pelo fotógrafo Almiro Baraúna. As fotografias foram publicadas pela revista ‘O Cruzeiro’, causando grande polêmica. Documentos oficiais confirmam a investigação, mas o relatório final da Marinha acabou chegando extraoficialmente aos EUA em 1964. O relatório não autenticou as fotografias, limitou-se a concluir que não haveria indícios de fraude, mas não descartou a possibilidade de uma montagem. Amigos e familiares do fotógrafo afirmam ter ouvido do mesmo que ele havia produzido as montagens em seu laboratório caseiro, assim que retornou da viagem à Ilha da Trindade.

O caso de Varginha é um dos mais famosos relatos no território nacional. O evento trata-se da suposta captura de criaturas extraterrestres na cidade mineira de Varginha, ocorrido em 20 de janeiro de 1996. Durante o dia do acontecido, três meninas avistaram uma criatura agachada junto a um muro. Além disso, há também descrições de duas capturas realizadas por bombeiros e por policiais militares, e boatos sobre uma criatura vista no zoológico. Um Inquérito foi aberto pela Polícia Militar (IPM), sobre alegações contidas no livro Incidente em Varginha, de autoria de Vitório Pacaccini e Maxs Portes. O encarregado do IPM, tenente-coronel Lúcio Carlos Finholdt Pereira, concluiu que o livro continha pesquisas pseudocientíficas e descrições de caráter sensacionalista, baseadas em provas testemunhais de validade duvidosa e que, apesar da ingenuidade, não existiu prática de crime. A conclusão do inquérito foi realizada pela juíza militar Telma Queiroz que declarou, no ano de 1997, que o ET de Varginha nunca existiu.

Já Morsch acredita que a presença de extraterrestres já é realidade em nossas vidas há um tempo. “Com o avanço da tecnologia, estamos descobrindo novos planetas a cada dia. São planetas que são parecidos com o nosso e que poderiam cultivar a vida tal qual aqui”, comenta Morsch. Ele acredita que a discussão do tema é importante e pode mudar a mentalidade das pessoas. “Os ufólogos trabalham com a perspectiva de que há algo acontecendo que é inexplicável. É muito legal as pessoas estarem se interessando por essa temática. Acredito que isso também vai para outras linhas de pensamento, acredito que as áreas do espiritismo, da paranormalidade e da ufologia podem estar interligadas”, explica. Para ele, o interesse pela temática está se transformando e ficando cada vez mais presente em nossas vidas.

O ufólogo Morsch vem realizando trabalhos e eventos na região central do Rio Grande do Sul, ouça um pouco do que ele acha sobre o que vem sendo realizado lá:

O centro do Rio Grande do Sul tem se mostrado interessado nestes mistérios do universo. O cosmos e como ele se apresenta tem gerado curiosidade há muitos anos em moradores da região. O destaque vai principalmente para os ufólogos de Itaara e Caçapava do Sul. Elver Teixeira, professor, geólogo e ufólogo na região de Caçapava do Sul, criou o turismo ufológico na região e é apaixonado pelos aspectos naturais de sua cidade desde a infância. O professor faz parte do Conselho de Turismo de Caçapava do Sul desde 2014, quando foi criado. Sua ligação com a natureza topográfica o levou a se formar em geologia em 1982 pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). 

O idealizador do turismo ufológico hoje atua como palestrante sobre o assunto em escolas da região. “Sou convidado para falar com crianças e pré-adolescentes. Para mim, as crianças são uma faixa etária especial, devemos cuidar das informações que são passadas para elas. Quem dá palestra para elas tem que estar preparado, porque irão fazer perguntas muito profundas e temos que saber responder sem dar informações incorretas”, relata o professor. 

O geólogo ainda aponta o aumento de interesse das pessoas nos extraterrestres. Ele conta como criou o artesanato ufológico na região, produzindo peças com dimensões baseadas em relatos que ele coleta de testemunhas de fenômenos ufológicos. Além das pesquisas e do artesanato utilizado como fonte de renda das famílias, o professor também destaca que a ufologia está ligada com a espiritualidade do ser humano, assim como crê o geólogo Fred Morsch, e ainda se questiona: “De onde viemos? Para onde vamos?”.

Por conta da divulgação do professor Elver Teixeira, atualmente, aqueles que viajam em direção a Caçapava do Sul podem avistar placas que sinalizam o turismo ufológico no local. Estas foram posicionadas nas três entradas da cidade pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). 

Galeria de fotos com produtos vendidos na cidade com a temática. Fotos: Vitória Oliveira.

Por conta da divulgação do professor Elver Teixeira, atualmente, aqueles que viajam em direção a Caçapava do Sul podem avistar placas que sinalizam o turismo ufológico no local. Estas foram posicionadas nas três entradas da cidade pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

As placas estão localizadas nas vias de acesso a cidade, na vinda de Santa Maria, São Gabriel e Lavras do Sul. Foto: E.T Caçapavano

Já o ET Caçapavano, como prefere ser chamado, começou há dois anos seu empreendimento nas redes sociais, espalhando os conhecimentos de um encantado pela Ufologia. Ele criou sua página no Instagram com o intuito despretensioso de mostrar suas aventuras de kombi e acabou alcançando números que o surpreenderam, atualmente mais de 5 mil seguidores. “Foi um assunto que sempre me despertou a curiosidade, mas eu nunca me aprofundei. Em 2019 eu vi uma luz estranha no céu. Eu nunca deixei de acreditar nessas coisas. A partir da criação do personagem do ET, eu acabei me aprofundando mais no pesquisar, na questão ufológica, principalmente aqui em Caçapava”, ressalta ele. 

O jovem é conhecido em Caçapava do Sul como E.T Caçapavano desde 2019. Foto: Vitória Oliveira.

Para o jovem de 23 anos, o uso da máscara o auxiliava na sua vergonha, além de proporcionar maior visibilidade para o turismo ufológico. A partir daí o personagem explica que “a questão ufológica na cidade estava parada. Minha ideia é tentar promover alguns eventos na cidade, aproveitando o calendário astronômico. Quando há algum fenômeno astronômico a gente faz algo nesta data. Agora até mesmo os artesãos do município estão criando muitos produtos de ETs e Ovnis”.

Sobre o reconhecimento após ter começado a entrar no personagem do ET caçapavano, ele comenta que: “Uma das coisas que aconteceu que eu achei que não ia acontecer é que as crianças não iam gostar do ET, porque a fantasia tem uma aparência assustadora, mas no fim elas são as que mais gostam, apenas algumas choram”. Inclusive ele comenta que está idealizando um livro de colorir indicado pras crianças, onde cada página vai ser um ponto turístico com seus elementos típicos da cidade. 

O ET ainda comenta sobre as gravações feitas por Morsh para seu programa do History Channel ‘De carona com os ovnis’, em 2018.  As gravações foram realizadas nas Minas do Camaquã, situado no 3º distrito de Caçapava do Sul, a 68 quilômetros da sede do município, lugar onde há o maior número de avistamentos de objetos não identificados da cidade, que conta com cerca de 450 habitantes fixos. “Os episódios tiveram uma repercussão de nível mundial. Caçapava com esse documentário ganhou maior relevância e agora bimestralmente fazemos eventos, vigílias noturnas e palestras trazendo grandes nomes da ufologia no Brasil”, afirma ele.

O turismo ufológico também é forte na região de Itaara, no Rio Grande Sul. Durante a produção da reportagem entramos em contato com o responsável pelo Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo, porém não obtivemos resposta.

Confira abaixo a enquete que realizamos com Universitários sobre a existência de óvnis e extraterrestres:


Para saber mais, confira os episódios sobre o assunto no podcast Pauta Fria:

Reportagem produzida por Luiza Silveira e Vitória Oliveira na disciplina de Narrativa Multimídia do curso de Jornalismo, no 2º semestre de 2023, sob supervisão da professora Glaíse Bohrer Palma.

Podcasts gravados na disciplina de Jornalismo em Mídia Sonora, sob supervisão da professora Sione Gomes. 1º podcast do acadêmico Guilherme Cassão, 2º podcast de Nelson Bofill.

Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Vitória Oliveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Vitória Oliveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Vitória Oliveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Vitória Oliveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Michélli Silveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Michélli Silveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Michélli Silveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Michélli Silveira
Cobertura do Vestibular pelo Laboratório de Fotografia e Memória (LabFem). Foto: Nelson Bofill