A corrida da vacina
Foi em março desse ano que vi uma luz no fim do túnel. Quando meus avós receberam a primeira dose da vacina. Seu Ari, meu avô, saiu bem brincalhão: “vou contar pra minha mãe que não
Foi em março desse ano que vi uma luz no fim do túnel. Quando meus avós receberam a primeira dose da vacina. Seu Ari, meu avô, saiu bem brincalhão: “vou contar pra minha mãe que não
Há quem diga que o sofá era seu autocuidado, que chegar em casa, sentar e desfazer sua armadura emocional era comum. Atualmente ele se tornou sinônimo de descontentamento, o que era apenas para o final do
A primeira coisa que faço ao acordar é olhar para a tela do celular e desligar o despertador. A última coisa que faço antes de dormir é olhar para a tela do celular e o colocar
Quantos dias nublados são necessários para valorizarmos o Sol? Quantos dias de calor são necessários para valorizarmos o frio? Quantos dias de isolamento são necessários para valorizarmos a nossa natureza social mais profunda e inalienável? Da
Quando ouvi falar pela primeira vez na palavra “pandemia”, estava em viagem de férias no Rio de Janeiro. Meu interesse era visitar o Mosteiro de São Bento, a Casa Roberto Marinho, o Morro do Vidigal, e
Viver nesse período de pandemia com as medidas protetivas incorporadas no nosso cotidiano tem sido um desafio. Parece que alguns hábitos são mais fáceis de serem absorvidos; o uso da máscara sempre, a higienização constante das
A pandemia exigiu de nós transformações em todos os aspectos da vida. No âmbito profissional, foi preciso adaptar-se a novas rotinas; na vida diária, adquirimos hábitos que permanecem nossos grandes aliados em 2021: etiqueta respiratória, higiene
A Agência CentralSul de Notícias faz parte do Laboratório de Jornalismo Impresso e Online do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria/RS (Brasil).
Foi em março desse ano que vi uma luz no fim do túnel. Quando meus avós receberam a primeira dose da vacina. Seu Ari, meu avô, saiu bem brincalhão: “vou contar pra minha mãe que não doeu”. Dona Edir, minha avó, foi maquiada, unhas feitas, máscara combinando com a roupa, toda produzida para ser vacinada. Um momento feliz para nós. Um momento muito importante para eles. Os dois passaram por momentos difíceis, contraíram o maldito vírus. Passaram o natal por chamada de vídeo com a família. Mas passaram por essa, mais vivos do que nunca.
Minha família sofreu. Inúmeras famílias sofreram. Porém, vemos hoje uma corrida da vacina. Uma corrida do bem, os pilotos são os governadores, as equipes, todo o estado. Correndo para vacinar toda população até determinado mês. Na pista, alguns obstáculos, que as vezes possuem mais poder que os pilotos. Mas, ainda assim governadores habilidosos conseguem desviar e fazer boas voltas nesse trajeto longo. Parecido com a pista de Nurburgring, na Alemanha, um dos maiores circuitos da F1. Até agora, nosso estado corre igual ao heptacampeão Lewis Hamilton, a equipe com boas estratégias de corrida, se destacam bastante. Outras equipes estão nessa, outros estados correm contra o tempo (perdido).
Mas, nessa corrida da vacina não esperamos ter perdedores. Queremos que todos ultrapassem a linha de chegada juntos, com voltas rápidas e excelentes. Sem muitos obstáculos na pista. Para isso, a paciência do torcedor daquela equipe é necessária. A luz no fim do túnel irá chegar para todos. Mesmo aqueles que torcem contra. Porque você não troce contra seu próprio time, não é? Contra sua própria equipe? Então, todo mundo merece cruzar a linha de chegada, enxergar a bandeira quadriculada balançando e sentir a felicidade e a esperança de ser vacinado.
Por Lucas Saraiva, acadêmico do curso de Jornalismo na UFN e repórter-aprendiz na Agência Central Sul de Notícias.
Há quem diga que o sofá era seu autocuidado, que chegar em casa, sentar e desfazer sua armadura emocional era comum. Atualmente ele se tornou sinônimo de descontentamento, o que era apenas para o final do dia, se transformou no dia inteiro. E como funciona quando o seu refúgio se torna o seu momento de profunda reflexão? Muitos afirmam que a mente vazia é a oficina do diabo.
Atualmente, esse looping do sofá para a cama se tornou frustrante. Você se sente vivo? Quando eu digo vivo – é importante lembrar – eu naturalmente quero dizer o “antigo vivo”, o vivo pré-corona, o vivo 2019, que não tem absolutamente nada a ver com o “vivo de atualmente”, digamos quando não importa mais sentir e sim, estar.
Antes da pandemia do novo coronavírus, o sofá significava o que ele significava. Agora, não. Agora, o sofá, assim como cada um de nós, têm dentro de si outra camada, outro conteúdo, outra densidade. Portanto, a rotina está sendo ressignificativa, e todos nós, sem exceção, estamos sendo obrigados a nos adaptar.
Às vezes, acordo disposta e produtiva, e, em outras, dispersa e errante. E tenho de confessar, o sofá faz parte das duas fases. Eu, aqui da minha quarentena privilegiada de Alegrete, não tenho como conhecer seu estado de espírito, como também não conheço seu estado civil e muito menos seu estado de saúde. No entanto, há uma coisa a seu respeito que eu talvez saiba, e é sobre isso que me arrisco aqui: você está em casa, e possivelmente, no seu sofá.
Apesar desse assento repleto de almofadas, às vezes ser enjoativo, ele pode ser considerado um companheiro. Você consegue chorar no seu sofá, consegue sorrir nele, consegue namorar, e até mesmo sonhar. Mas você não consegue viver. Assim, cabe falarmos que o contrário da vida não é a morte, o contrário da vida é o desencanto. E se você se encontrar eventualmente morto no seu sofá, eu compreendo, esses dias são frequentes. Porque você parou, o mundo parou, e parar não significa mais lazer, significa desencantamento.
Essa conclusão sugere, que mesmo enfrentando esses meses dramáticos e apocalípticos, se sentir assim é inevitável, mas continuar assim é opcional.
Por Vitória Gonçalves é acadêmica do curso de Jornalismo na UFN e repórter-aprendiz na Agência Central Sul de Notícias.
A primeira coisa que faço ao acordar é olhar para a tela do celular e desligar o despertador. A última coisa que faço antes de dormir é olhar para a tela do celular e o colocar para despertar. Ao levantar, nem tiro o pijama, pego uma xícara de café preto e sento em frente à tela do computador, abro o Microsoft Teams e a aula já iniciou. Uma pausa para o almoço e o celular desperta novamente, hora do trabalho! E lá estou eu novamente sentada em frente a uma tela no home office.
O olho arde, a cabeça lateja, as costas doem. Respiro fundo, tenho de parar diversas vezes para alongar. Quando necessito comunicar-me com amigos e família, acabo aderindo às telas novamente. Lazer? um filme, um livro em pdf e vamos de telas novamente. Depois de um ano de pandemia, com a necessidade de distanciamento social, trancados em casa, com a rotina restrita, me sinto cada vez mais dependente de telas e exposta a elas. Sintomas como a dor nos olhos e na cabeça, caracteriza a Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC), de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, estima-se que até 90% das pessoas que utilizam computadores por mais de três horas diariamente apresentam algum tipo de sintoma relacionado a SVRC.
Os aparelhos eletrônicos estão sendo muito úteis durante a pandemia, nos conectam, agilizam nossas tarefas, nos permitem estudar e trabalhar, mas também viciam, causam cansaço e exaustão mental. No fim de semana, raramente quando posso, me permito não utilizar telas, a ideia de responder uma mensagem traz sensação de desânimo. Sei que sou privilegiada de certa forma, por ter a chance de trabalhar e estudar em casa, enquanto uma parte da população desde o início da pandemia tem de sair do aconchego de sua casa para levar comida à mesa, com medo do vírus e de transmiti-lo às pessoas que mais ama. É necessário pensar sobre a desigualdade não apenas em tempos de pandemia. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 20,8 milhões de pessoas podem utilizar o home office, o que corresponde a apenas 22,7% dos postos de trabalho.
Para quem tem este privilégio, o trabalho e o estudo em casa, inicialmente, parecia um sonho. Afinal, 14 dias em casa, descanso, aconchego, tempo para se cuidar e colocar as séries em dia, que maravilha. Infelizmente não foi bem assim. Por conta da má gestão da pandemia por nossos governantes, estamos há mais de um ano trancados em casa, com a vacinação em ritmo lento, sem contato direto com nossos amigos e familiares e, principalmente, esgotados de olhar para telas. Antes da pandemia, acordar às 6:30 para ir a faculdade era moleza. Nos dias de hoje acordar às 8h parece uma missão impossível e extremamente cansativa.
Nos adaptamos à pandemia e às telas, porém, com elas vieram o cansaço emocional, a ansiedade, as dores e o estresse. Acredito que em algum momento todo mundo já se fez a mesma pergunta “quando a pandemia irá acabar?” Uma pergunta ainda sem resposta. Se as vacinas dão esperança, o ritmo desmotiva. Estamos todos exaustos das telas, queremos ver sob elas e não viver mergulhados na luz azul.
Por Heloísa Helena Canabarro
Acadêmica do curso de Jornalismo da UFN
Quantos dias nublados são necessários para valorizarmos o Sol? Quantos dias de calor são necessários para valorizarmos o frio? Quantos dias de isolamento são necessários para valorizarmos a nossa natureza social mais profunda e inalienável? Da suposta quarentena aos meses e meses de pandemia. Um período violentamente ampliado pela negligência humana. Mais um capítulo da história que nos conta sobre as insistentes dualidades da nossa espécie: negacionismo e ciência, exclusão e privilégio, individualismo e solidariedade, abandono e acolhimento, insegurança e otimismo, medo e coragem, descrença e esperança, perda e ganho, dor e alegria.
Uma das mais fortes experiências de fragilidade coletiva do nosso século, vivida no modo distanciamento social compulsório. Essa contradição parece bem (bem) mais trágica do que irônica. Definitivamente, ninguém se prepara para viver o que estamos vivendo. Mas, de um jeito ou outro, todas e todos fomos encontrando, ao longo do percurso, lentamente e com muitos tropeços, a nossa adaptação.
Sim, eu poderia falar de mim, da minha família, das minhas e dos meus. Poderia falar literal e simbolicamente, em primeira pessoa, do que sinto confuso aqui dentro, do que tem me incomodado o sono e nos sonhos, dos pensamentos que às vezes tentam me anestesiar, confundir o que sinto e acredito. Poderia falar de como têm sido os meus passos para me equilibrar no caminho. Mas eu prefiro falar para você, com você, também de você, de nós. Quero dizer-lhe que mesmo não nos conhecendo intimamente, eu compreendo e respeito todos os seus sentimentos provavelmente tão confusos quanto os meus. Dizer que sinto muito pela sua apatia, desânimo, frustação, tristeza, decepção, revolta.
Mas eu quero falar principalmente daquilo que nenhuma máscara é capaz de esconder: a sua persistência, força, coragem, fé. Quero homenagear a forma pela qual você tem se organizado, reinventado, respeitado o distanciamento e as pessoas ao seu redor, acolhido e se acolhido junto à sua família ou amizades, buscado dar conta da rotina de trabalho e de auto-cuidado, saúde e bem estar. Faço votos para que seus olhos transmitam a todas as pessoas que cruzarem o seu caminho a luz de alguém que acredita num futuro melhor para si e para o nosso país. Ao fim dessa jornada, o meu maior desejo mesmo é de que os dias e os rostos encobertos tenham servido para valorizarmos o tempo e os sorrisos abertos.
Por Pauline Neutzling Fraga, Doutora em Comunicação, publicitária, escritora, professora do Curso de Publicidade e Propaganda da UFN.
Quando ouvi falar pela primeira vez na palavra “pandemia”, estava em viagem de férias no Rio de Janeiro. Meu interesse era visitar o Mosteiro de São Bento, a Casa Roberto Marinho, o Morro do Vidigal, e não avaliei a gravidade das notícias. A riqueza da decoração barroca da igreja do Mosteiro e a diversidade das obras de arte contemporânea da Casa Roberto Marinho eram os alvos da minha atenção. O Morro do Vidigal, infelizmente, não houve como visitar. “Não é seguro”, me disseram.
Apenas ao voltar para Santa Maria, as notícias da China e da Itália se desenharam com toda a sua gravidade. E assim, de uma hora para outra, o mundo virou de ponta cabeça. As notícias eram realmente alarmantes e tudo se tornou incerto. E as aulas? Como fazer? E então, aquilo que era assunto de discussões teóricas (as novas metodologias de ensino on-line, o ensino híbrido), se configurou como realidade urgente. Não mais teoria para aplicação nos próximos anos, mas tarefa urgente a ser implementada.
Ao mesmo tempo em que procurava equacionar esse assunto profissional, a necessidade também de organizar os fazeres do cotidiano, como a alimentação e o convívio com os outros. Não ir a restaurantes, ao café? Não abraçar, não beijar amigos e parentes? O mundo se alterava (tornava-se perigoso?), as práticas mais comuns eram suspensas, mas havia a ilusão, naquele março de surpresas, que seria por pouco tempo…
O então Ministro da Saúde mostrava-se conectado com as orientações das autoridades internacionais de saúde. O desafio apresentado pela pandemia seria enfrentado de forma racional e sensata. Mais uma peste das tantas que a humanidade enfrentou ao longo da sua História, mas certamente vivida com melhores recursos do que aqueles do medievo (Peste Negra) e mesmo do início do Século XX (Gripe Espanhola). Desafios que a humanidade enfrentou… e superou.
Mas este norte governamental logo foi desmoronando. Construir-se nessa conjuntura tão adversa (a de uma tragédia sanitária planetária acrescida por um desgoverno nacional desumano) foi um grande desafio. Reorganizar as tarefas domésticas e profissionais, assim como a encarar o noticiário nacional e não se abalar foram fazeres constantes, enfrentados de modo por vezes solitário.
Passado mais de um ano do início dessa aprendizagem (que continua), não avalio o resultado de todo ruim. A primeira aula virtual foi um desafio e a ausência física de rostos, vozes e olhares dos estudantes quase um impeditivo do trabalho ser executado a contento. No entanto, esse outro mundo antes apenas vislumbrado (o do ensino on-line) se impôs de tal modo que hoje o percebo “quase” natural.
Agora é sonhar com a recuperação da normalidade e também com novas viagens – como aquela ao Rio de Janeiro – e ampliar os conhecimentos do barroco brasileiro (no Mosteiro de São Bento e outros lugares), da arte contemporânea (na Casa Roberto Maranhão) e também do universo das classes populares (Morro do Vidigal). A realidade sempre pode nos proporcionar surpresas. Estejamos abertos para enfrentar desafios (inclusive os planetários) para novos cenários, gostos, saberes e fazeres.
Por Roselâine Casanova Corrêa, professora no curso de História (UFN),
Inverno de 2021.
Viver nesse período de pandemia com as medidas protetivas incorporadas no nosso cotidiano tem sido um desafio. Parece que alguns hábitos são mais fáceis de serem absorvidos; o uso da máscara sempre, a higienização constante das mãos e a tecnologia mediando nossas atividades profissionais. O mais difícil, na minha vida, foi enfrentar o distanciamento familiar, social, dos meus alunos e colegas. Afinal, eu gosto de gente, do convívio, do afeto e da sensibilidade de saber estar junto, com diferenças e afinidades, mas junto.
Então, surgiu o meu desafio de enfrentamento da pandemia. Obviamente, em primeiro lugar, preservar a saúde, não me contaminar nem a minha, familiar nem tão pouco o coletivo, mas cultivando um mínimo de alegria, de felicidade e esperança no futuro. Preciso dessa esperança, sou virginiana, gosto de planejamento, de organização, de metas e como lidar com essa imprevisibilidade.
Foi um mergulho interior, de solidão, meus três filhos são casados e têm suas famílias constituídas. Busquei competências emocionais para dar suporte aos longos dias e intermináveis finais de semana. Para tanto, pedi ajuda a livros, músicas, filmes, culinária, trabalhos manuais, orações e o que foi fundamental – um olhar atento ao próximo, aos mais necessitados e fazer minha parte para minimizar tanto sofrimento . Estender a mão para quem precisa é transformador.
Agora, com as duas doses da vacina no braço, sem pressa, percebo que os movimentos da vida começam a florescer. Noticias de Nova York contam da vida voltando ao normal. E me dou conta que esse momento foi realmente transformador.
A leitura do livro Longe da Árvore, Pais, filhos e a busca da identidade, de Andrew Solomon, aborda exatamente esse entendimento emocional de conviver com a diversidade de momentos, de épocas e de gente. Conviver com a frustração. O livro resgata o fortalecimento de laços afetivos entre as famílias com crianças especiais, que nasceram longe da árvore, ou seja, não são como diz o ditado; A fruta não cai longe do pé. Cai sim….e aprende-se com as diferenças.
Nesse sentido, a cultura da pandemia tem efeitos. Afinal, cultura é tudo aquilo que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. E ela revela-se no modo de falar, de sentar, de ler um texto , de comer , de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa com a arte. Entendo, que cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica o nosso olhar. (João Paulo Paes, 1926-1998).
Sim, 15 meses de distanciamento social modificou meu olhar. Exigiu competências emocionais que desconhecia. Mergulhei no meu íntimo, tive perdas e tive ganhos e tenho renovadas esperanças, tipo o Dom Quixote, quando ele diz: Sabe, Sancho, todas essas tempestades que acontecem conosco são sinais de que em breve o tempo se acalmara; por que não é possível que o bem e o mal durem para sempre, e segue-se que, havendo o mal durado muito tempo, o bem deve estar por perto. Tomara…
Por Sibila Rocha
Jornalista , Professora da UFN cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
A pandemia exigiu de nós transformações em todos os aspectos da vida. No âmbito profissional, foi preciso adaptar-se a novas rotinas; na vida diária, adquirimos hábitos que permanecem nossos grandes aliados em 2021: etiqueta respiratória, higiene das mãos (e de tudo que entra em nossa casa), uso de máscaras cada vez mais específicas e o convívio com aquela dúvida frequente, especialmente para quem mora no Sul: será que é Covid ou rinite?
Daqueles primeiros meses de 2020, em que pouco sabíamos sobre o vírus e a perspectiva de um fim que nunca chega, continuamos mantendo os devidos cuidados, especialmente com aqueles que mais amamos e que, no princípio de tudo, eram os que mais careciam de cuidados: nossos pais e avós.
Pode até parecer bobagem, mas não existe saudade maior do que a roda de chimarrão com o pai e a mãe. Quem é gaúcho sabe bem do que eu estou falando, e sei também que famílias de outros estados e países cultivam suas próprias tradições e culturas, seja na elaboração de um prato, ritual ou outro momento familiar partilhado. Nas poucas ocasiões em que estivemos juntos desde o ano passado, matei essa sede tomando um mate que meu pai fez para mim enquanto eles tomavam chimarrão em outra cuia. Mas “bah”, como dizem por aqui, com o preço da erva mate, isso é quase um luxo.
Aliás, luxo mesmo é ter todos os familiares vivos e saudáveis em dias tão difíceis. Se estão vacinados, já é possível vislumbrar um horizonte mais animador, em que poderemos estar novamente reunidos numa roda de conversa, reclamando de quem meche na bomba, perguntando qual a erva desse chimarrão ou falando do porongo bom que fez aquela cuia.
Enquanto isso ainda não é possível, nosso elo fica ainda mais forte por conta da filhota de quase quatro anos que, no começo de tudo, saiu da escola para preservar o que há de mais valioso nesse mundo: o contato, o colo e o carinho dos avós. É ela que leva até eles o nosso amor mais profundo, é ela que traz da casa deles o cheirinho, a sacola cheia de comidinhas gostosas e o cuidado que, mesmo à distância, só pai e mãe conseguem nutrir.
Quando isso tudo acabar – porque vai acabar, não é? – quero tomar mate com meus pais e saborear cada minuto da conversa boa, dos puxões de orelha e do pão de queijo que acompanha o amargo lá em casa. Quando isso tudo acabar, haja erva mate para matar tanta saudade.
Marielle Pereira Flôres, jornalista – secretária do Gabinete da reitora da Universidade Franciscana