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Líder do Engenheiros do Hawaii atrai multidão para a Feira do Livro

Quem passeava distraído pela Feira do Livro não entendia a concentração de pessoas no palco do Livro Livre. Uma multidão de fãs, admiradores e curiosos se espremiam, invejando os sortudos que conseguiram pegar uma cadeira para sentar. Quem conseguiu construir este cenário é ninguém menos do que Humberto Gessinger, escritor, músico e voz de toda uma geração.

Foto: Aurea Fonseca

Às 19 horas em ponto ele aparece ao lado do palco, rodeado por seguranças. Acena para a multidão ao mesmo tempo em que é aclamado. Mais alguns minutos e Guilherme Zanini, jornalista, músico e mediador da noite, dá o ar da graça. Chega a hora do protagonista da noite sair do camarim e finalmente encontrar seu público. Pra Ser Sincero, nem ele imaginava tanta gente o aplaudindo de pé.

Gessinger não é um estranho no campo literário. Além de colunas em diversos jornais, possui quatro livros publicados. O primeiro foi em 2008, chamado Meu Pequeno Gremista. Apesar de ser um livro infantil, “foi importante porque quebrou o gelo”, nas suas palavras. Mais do que isso, fez surgir um convite para que ele escrevesse a biografia de sua vida. O artista inicialmente negou, já que não é um tipo de leitura que o atraia. Em uma viagem sua a Gramado, esqueceu de seu livro e teve que comprar outro em uma livraria local. O escolhido foi a biografia de Slash, ex-guitarrista do Guns N’Roses e famoso por seu passado de excessos. Enquanto lia mudou de ideia. Resolveu provar que é possível escrever uma bela biografia de vida sem ter passado pelos exageros do rockstar.

Desse esforço surgiram os dois próximos livros. Em 2009 era publicado Pra Ser Sincero – 123 Variações Sobre Um Mesmo Tema, sua biografia temperada por fotos inéditas e 123 letras do Engenheiros do Hawaii. Depois, em 2011, era publicado Mapas do Acaso – 45 Variações Sobre Um Mesmo Tema, um livro mais intimista onde destrincha histórias da sua intimidade e da trajetória da sua banda mais famosa. Por fim, foi lançado em 2012 Nas Entrelinhas do Horizonte, livro de crônicas que reúne histórias inéditas e republicações de textos de seu blog, o BloGessinger.

Falando em blog, Gessinger é um entusiasta da ferramenta. Publica há dois anos um texto por semana, religiosamente na madrugada de segunda para terça-feira, em uma “pontualidade nerd”, nas suas palavras. “Sempre fiz uma relação direta com o público. Essas novas ferramentas são maravilhosas para quem quer interagir com o público sem passar pelo filtro da grande mídia”.

Engana-se quem pensa que foi difícil para o artista fazer a transição da música para a literatura. Até porque ela nunca ocorreu. “Palavra escrita entrou antes da música em minha vida”. Assíduo leitor, confessa que não consegue dormir sem antes ler alguns capítulos de um livro. Está lendo agora Isto Não É Um Diário, de Zygmunt Bauman, famoso sociólogo contemporâneo. Não é preciso ser vidente para adivinhar a influência da literatura em sua carreira musical: A Revolta dos Dândis, importante álbum do Engenheiros do Hawaai, é o título de um capítulo do livro O Homem Revoltado,  de Albert Camus. Outro exemplo citado por Gessinger é o título da música Exército De Um Homem Só, retirada da obra de mesmo nome de Moacyr Scliar. Guimarães Rosa, Herman Hesse e Cristovão Tezza foram outros autores preferidos citados pelo artista.

Gessinger também falou muito sobre música. Afinal, o palco do Livro Livre também é aberto para a música, cinema, teatro, dança e outras formas da arte. Um assunto recorrente foi o primeiro disco solo do convidado, que chega às lojas daqui um ou dois meses. “Existem temas musicais que ligam as canções. Foram feitas para serem ouvidas em sequências. Também tem muita sonoridade gaúcha. Talvez seja o disco que isto está mais presente, mais bem resolvido”.

Ao ser questionado por um presente o por quê dele tocar baixo e não guitarra ou violão neste novo trabalho, o convidado revelou todo seu amor pelo instrumento. “O baixo está na esquina da função e da forma, do ritmo e da harmonia. Baixo tem muito poder. Da mesma maneira que zagueiros dão bons técnicos de futebol, baixistas dão bons produtores.” Outro fã questiona o por quê deste disco ser solo e não com o Engenheiros do Hawaii. “Pelo disco não pedir uma formação fixa. As faixas não eram constantes. Além disso, o diálogo com outros colegas músicos é fascinante”.

Com a conversa chegando ao fim, estava na hora do músico de 49 anos, com 28 de estrada, dar seus conselhos para a nova geração de artistas santa-marienses. “Olhar um pouco para a tela do computador e para a esquina: mesclar o universal com o regional”. Também aconselha a se focar no que torna cada um diferente dos outros e deixar de lado a ansiedade. E, para os músicos, um último toque especial: “toca essa p**** direito”, afirmou enquanto abria um sorriso e recebia o aplauso da galera.

Ainda dava tempo para uma última coisa. Atendendo o pedido de um fã que lhe empresta seu violão, Gessinger vira o centro da atenção dos presentes pela última vez na noite. Às 20 horas em ponto, após plugar o instrumento na caixa de som, é hora de dar uma palhinha. Coisa curta, apenas uma música, mas que é cantada em coro pela multidão. Quem estava presente na feira e nas redondezas do local não deve ter esquecido dos versos: Não vim até aqui para desistir agora, entendo se você quiser ir embora…

 

Momentos:

 

– Sobre o significado de suas letras: “É um mito o fato de que um artista tem consciência plena do que produz. Costumo dizer que sou coração, não cardiologista”.

 

– Sobre a tragédia da Kiss: “Criei uma música instrumental, de violão e baixo. Não haviam palavras certas”.

 

– Sobre canções de amor: “É muito mais fácil falar sobre um amor que não deu certo. Porque se tivesse dado certo, tu não estaria fazendo música, estaria amando”.

 

– Sobre até quando produzirá: “Acho que para muita coisa na minha vida sou mais criativo hoje. O problema é se a molecada vai se interessar pela criatividade de alguém de 80 anos. Semente vai ter, resta saber se vai existir solo para plantar”.

Por  Gustavo Pedroso

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Quem passeava distraído pela Feira do Livro não entendia a concentração de pessoas no palco do Livro Livre. Uma multidão de fãs, admiradores e curiosos se espremiam, invejando os sortudos que conseguiram pegar uma cadeira para sentar. Quem conseguiu construir este cenário é ninguém menos do que Humberto Gessinger, escritor, músico e voz de toda uma geração.

Foto: Aurea Fonseca

Às 19 horas em ponto ele aparece ao lado do palco, rodeado por seguranças. Acena para a multidão ao mesmo tempo em que é aclamado. Mais alguns minutos e Guilherme Zanini, jornalista, músico e mediador da noite, dá o ar da graça. Chega a hora do protagonista da noite sair do camarim e finalmente encontrar seu público. Pra Ser Sincero, nem ele imaginava tanta gente o aplaudindo de pé.

Gessinger não é um estranho no campo literário. Além de colunas em diversos jornais, possui quatro livros publicados. O primeiro foi em 2008, chamado Meu Pequeno Gremista. Apesar de ser um livro infantil, “foi importante porque quebrou o gelo”, nas suas palavras. Mais do que isso, fez surgir um convite para que ele escrevesse a biografia de sua vida. O artista inicialmente negou, já que não é um tipo de leitura que o atraia. Em uma viagem sua a Gramado, esqueceu de seu livro e teve que comprar outro em uma livraria local. O escolhido foi a biografia de Slash, ex-guitarrista do Guns N’Roses e famoso por seu passado de excessos. Enquanto lia mudou de ideia. Resolveu provar que é possível escrever uma bela biografia de vida sem ter passado pelos exageros do rockstar.

Desse esforço surgiram os dois próximos livros. Em 2009 era publicado Pra Ser Sincero – 123 Variações Sobre Um Mesmo Tema, sua biografia temperada por fotos inéditas e 123 letras do Engenheiros do Hawaii. Depois, em 2011, era publicado Mapas do Acaso – 45 Variações Sobre Um Mesmo Tema, um livro mais intimista onde destrincha histórias da sua intimidade e da trajetória da sua banda mais famosa. Por fim, foi lançado em 2012 Nas Entrelinhas do Horizonte, livro de crônicas que reúne histórias inéditas e republicações de textos de seu blog, o BloGessinger.

Falando em blog, Gessinger é um entusiasta da ferramenta. Publica há dois anos um texto por semana, religiosamente na madrugada de segunda para terça-feira, em uma “pontualidade nerd”, nas suas palavras. “Sempre fiz uma relação direta com o público. Essas novas ferramentas são maravilhosas para quem quer interagir com o público sem passar pelo filtro da grande mídia”.

Engana-se quem pensa que foi difícil para o artista fazer a transição da música para a literatura. Até porque ela nunca ocorreu. “Palavra escrita entrou antes da música em minha vida”. Assíduo leitor, confessa que não consegue dormir sem antes ler alguns capítulos de um livro. Está lendo agora Isto Não É Um Diário, de Zygmunt Bauman, famoso sociólogo contemporâneo. Não é preciso ser vidente para adivinhar a influência da literatura em sua carreira musical: A Revolta dos Dândis, importante álbum do Engenheiros do Hawaai, é o título de um capítulo do livro O Homem Revoltado,  de Albert Camus. Outro exemplo citado por Gessinger é o título da música Exército De Um Homem Só, retirada da obra de mesmo nome de Moacyr Scliar. Guimarães Rosa, Herman Hesse e Cristovão Tezza foram outros autores preferidos citados pelo artista.

Gessinger também falou muito sobre música. Afinal, o palco do Livro Livre também é aberto para a música, cinema, teatro, dança e outras formas da arte. Um assunto recorrente foi o primeiro disco solo do convidado, que chega às lojas daqui um ou dois meses. “Existem temas musicais que ligam as canções. Foram feitas para serem ouvidas em sequências. Também tem muita sonoridade gaúcha. Talvez seja o disco que isto está mais presente, mais bem resolvido”.

Ao ser questionado por um presente o por quê dele tocar baixo e não guitarra ou violão neste novo trabalho, o convidado revelou todo seu amor pelo instrumento. “O baixo está na esquina da função e da forma, do ritmo e da harmonia. Baixo tem muito poder. Da mesma maneira que zagueiros dão bons técnicos de futebol, baixistas dão bons produtores.” Outro fã questiona o por quê deste disco ser solo e não com o Engenheiros do Hawaii. “Pelo disco não pedir uma formação fixa. As faixas não eram constantes. Além disso, o diálogo com outros colegas músicos é fascinante”.

Com a conversa chegando ao fim, estava na hora do músico de 49 anos, com 28 de estrada, dar seus conselhos para a nova geração de artistas santa-marienses. “Olhar um pouco para a tela do computador e para a esquina: mesclar o universal com o regional”. Também aconselha a se focar no que torna cada um diferente dos outros e deixar de lado a ansiedade. E, para os músicos, um último toque especial: “toca essa p**** direito”, afirmou enquanto abria um sorriso e recebia o aplauso da galera.

Ainda dava tempo para uma última coisa. Atendendo o pedido de um fã que lhe empresta seu violão, Gessinger vira o centro da atenção dos presentes pela última vez na noite. Às 20 horas em ponto, após plugar o instrumento na caixa de som, é hora de dar uma palhinha. Coisa curta, apenas uma música, mas que é cantada em coro pela multidão. Quem estava presente na feira e nas redondezas do local não deve ter esquecido dos versos: Não vim até aqui para desistir agora, entendo se você quiser ir embora…

 

Momentos:

 

– Sobre o significado de suas letras: “É um mito o fato de que um artista tem consciência plena do que produz. Costumo dizer que sou coração, não cardiologista”.

 

– Sobre a tragédia da Kiss: “Criei uma música instrumental, de violão e baixo. Não haviam palavras certas”.

 

– Sobre canções de amor: “É muito mais fácil falar sobre um amor que não deu certo. Porque se tivesse dado certo, tu não estaria fazendo música, estaria amando”.

 

– Sobre até quando produzirá: “Acho que para muita coisa na minha vida sou mais criativo hoje. O problema é se a molecada vai se interessar pela criatividade de alguém de 80 anos. Semente vai ter, resta saber se vai existir solo para plantar”.

Por  Gustavo Pedroso