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Opinião

Vida em telas

A primeira coisa que faço ao acordar é olhar para a tela do celular e desligar o despertador. A última coisa que faço antes de dormir é olhar para a tela do celular e o colocar

Quem está por detrás de cada máscara?

Quantos dias nublados são necessários para valorizarmos o Sol? Quantos dias de calor são necessários para valorizarmos o frio? Quantos dias de isolamento são necessários para valorizarmos a nossa natureza social mais profunda e inalienável? Da

Ressignificando práticas na pandemia

Quando ouvi falar pela primeira vez na palavra “pandemia”, estava em viagem de férias no Rio de Janeiro. Meu interesse era visitar o Mosteiro de São Bento, a Casa Roberto Marinho, o Morro do Vidigal, e

Saudades de mim

Lembra quando a gente achou que passaríamos 15 dias em casa dividindo os dias entre pães gostosos, livros que estavam há anos esperando uma chance e horas a fio com os olhos pregados em uma série

Competências emocionais para enfrentamento da pandemia

Viver nesse período de pandemia com as medidas protetivas incorporadas no nosso cotidiano tem sido um desafio. Parece que alguns hábitos são mais fáceis de serem absorvidos; o uso da máscara sempre, a higienização constante das

O pior inimigo

Quando penso em inimigos, em especial nas nefastas circunstâncias que estamos (e até mesmo fomos impostos), lembro de uma passagem de “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche. Na descrição exausta do Zoroastrismo, é dito: Mas o pior

Amarelaram?

A CONMEMBOL confirmou nas últimas semanas a realização da competição continental no Brasil, depois da desistência da Argentina e da impossibilidade da realização na Colômbia. A Copa América que iria ser disputada em 2020 nesses dois

O futebol, ou simplesmente a minha vida

O gosto por partidas de futebol é algo que desde pequeno, com meus 9 ou 10 anos, de idade, possuo. Quando pequeno fui influenciado por meu pai e meu avô materno a gostar do esporte, os

Superação e Terra Vermelha

De longa data, vejo o passar do tempo como uma elipse de 24h. Só que, ao invés de um dia, refere-se a anos. A paixão pelo esporte, em específico ao tênis, é de tempos distantes. Algo

O depois da tempestade

Tenho notado certa esperança nesses últimos dias. Muito disso se deve pelo fato de que inúmeras pessoas estão sendo vacinadas contra o novo coronavírus. Se você ver o noticiário, vai notar alguns acontecimentos atípicos, como repórteres

A primeira coisa que faço ao acordar é olhar para a tela do celular e desligar o despertador. A última coisa que faço antes de dormir é olhar para a tela do celular e o colocar para despertar. Ao levantar, nem tiro o pijama, pego uma xícara de café preto e sento em frente à tela do computador, abro o Microsoft Teams e a aula já iniciou. Uma pausa para o almoço e o celular desperta novamente, hora do trabalho! E lá estou eu novamente sentada em frente a uma tela no home office.

O olho arde, a cabeça lateja, as costas doem. Respiro fundo, tenho de parar diversas vezes para alongar. Quando necessito comunicar-me com amigos e família, acabo aderindo às telas novamente. Lazer? um filme, um livro em pdf e vamos de telas novamente. Depois de um ano de pandemia, com a necessidade de distanciamento social, trancados em casa, com a rotina restrita, me sinto cada vez mais dependente de telas e exposta a elas. Sintomas como a dor nos olhos e na cabeça, caracteriza a Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC), de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, estima-se que até 90% das pessoas que utilizam computadores por mais de três horas diariamente apresentam algum tipo de sintoma relacionado a SVRC.

Os aparelhos eletrônicos estão sendo muito úteis durante a pandemia, nos conectam, agilizam nossas tarefas, nos permitem estudar e trabalhar, mas também viciam, causam cansaço e exaustão mental. No fim de semana, raramente quando posso, me permito não utilizar telas, a ideia de responder uma mensagem traz sensação de desânimo. Sei que sou privilegiada de certa forma, por ter a chance de trabalhar e estudar em casa, enquanto uma parte da população desde o início da pandemia tem de sair do aconchego de sua casa para levar comida à mesa, com medo do vírus e de transmiti-lo às pessoas que mais ama. É necessário pensar sobre a desigualdade não apenas em tempos de pandemia. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 20,8 milhões de pessoas podem utilizar o home office, o que corresponde a apenas 22,7% dos postos de trabalho.

Para quem tem este privilégio, o trabalho e o estudo em casa, inicialmente, parecia um sonho. Afinal, 14 dias em casa, descanso, aconchego, tempo para se cuidar e colocar as séries em dia, que maravilha. Infelizmente não foi bem assim. Por conta da má gestão da pandemia por nossos governantes, estamos há mais de um ano trancados em casa, com a vacinação em ritmo lento, sem contato direto com nossos amigos e familiares e, principalmente, esgotados de olhar para telas. Antes da pandemia, acordar às 6:30 para ir a faculdade era moleza. Nos dias de hoje acordar às 8h parece uma missão impossível e extremamente cansativa.

Nos adaptamos à pandemia e às telas, porém, com elas vieram o cansaço emocional, a ansiedade, as dores e o estresse. Acredito que em algum momento todo mundo já se fez a mesma pergunta “quando a pandemia irá acabar?” Uma pergunta ainda sem resposta. Se as vacinas dão esperança, o ritmo desmotiva. Estamos todos exaustos das telas, queremos ver sob elas e não viver mergulhados na luz azul.

 

Por Heloísa Helena Canabarro

Acadêmica do curso de Jornalismo da UFN

 

Quantos dias nublados são necessários para valorizarmos o Sol? Quantos dias de calor são necessários para valorizarmos o frio? Quantos dias de isolamento são necessários para valorizarmos a nossa natureza social mais profunda e inalienável? Da suposta quarentena aos meses e meses de pandemia. Um período violentamente ampliado pela negligência humana. Mais um capítulo da história que nos conta sobre as insistentes dualidades da nossa espécie: negacionismo e ciência, exclusão e privilégio, individualismo e solidariedade, abandono e acolhimento, insegurança e otimismo, medo e coragem, descrença e esperança, perda e ganho, dor e alegria.

Uma das mais fortes experiências de fragilidade coletiva do nosso século, vivida no modo distanciamento social compulsório. Essa contradição parece bem (bem) mais trágica do que irônica. Definitivamente, ninguém se prepara para viver o que estamos vivendo. Mas, de um jeito ou outro, todas e todos fomos encontrando, ao longo do percurso, lentamente e com muitos tropeços, a nossa adaptação.

Sim, eu poderia falar de mim, da minha família, das minhas e dos meus. Poderia falar literal e simbolicamente, em primeira pessoa, do que sinto confuso aqui dentro, do que tem me incomodado o sono e nos sonhos, dos pensamentos que às vezes tentam me anestesiar, confundir o que sinto e acredito. Poderia falar de como têm sido os meus passos para me equilibrar no caminho. Mas eu prefiro falar para você, com você, também de você, de nós. Quero dizer-lhe que mesmo não nos conhecendo intimamente, eu compreendo e respeito todos os seus sentimentos provavelmente tão confusos quanto os meus. Dizer que sinto muito pela sua apatia, desânimo, frustação, tristeza, decepção, revolta.

Mas eu quero falar principalmente daquilo que nenhuma máscara é capaz de esconder: a sua persistência, força, coragem, fé. Quero homenagear a forma pela qual você tem se organizado, reinventado, respeitado o distanciamento e as pessoas ao seu redor, acolhido e se acolhido junto à sua família ou amizades, buscado dar conta da rotina de trabalho e de auto-cuidado, saúde e bem estar. Faço votos para que seus olhos transmitam a todas as pessoas que cruzarem o seu caminho a luz de alguém que acredita num futuro melhor para si e para o nosso país. Ao fim dessa jornada, o meu maior desejo mesmo é de que os dias e os rostos encobertos tenham servido para valorizarmos o tempo e os sorrisos abertos.

 

Por Pauline Neutzling Fraga, Doutora em Comunicação, publicitária, escritora, professora do Curso de Publicidade e Propaganda da UFN.

Quando ouvi falar pela primeira vez na palavra “pandemia”, estava em viagem de férias no Rio de Janeiro. Meu interesse era visitar o Mosteiro de São Bento, a Casa Roberto Marinho, o Morro do Vidigal, e não avaliei a gravidade das notícias. A riqueza da decoração barroca da igreja do Mosteiro e a diversidade das obras de arte contemporânea da Casa Roberto Marinho eram os alvos da minha atenção. O Morro do Vidigal, infelizmente, não houve como visitar. “Não é seguro”, me disseram.

Apenas ao voltar para Santa Maria, as notícias da China e da Itália se desenharam com toda a sua gravidade. E assim, de uma hora para outra, o mundo virou de ponta cabeça. As notícias eram realmente alarmantes e tudo se tornou incerto. E as aulas? Como fazer? E então, aquilo que era assunto de discussões teóricas (as novas metodologias de ensino on-line, o ensino híbrido), se configurou como realidade urgente. Não mais teoria para aplicação nos próximos anos, mas tarefa urgente a ser implementada.

Ao mesmo tempo em que procurava equacionar esse assunto profissional, a necessidade também de organizar os fazeres do cotidiano, como a alimentação e o convívio com os outros. Não ir a restaurantes, ao café? Não abraçar, não beijar amigos e parentes? O mundo se alterava (tornava-se perigoso?), as práticas mais comuns eram suspensas, mas havia a ilusão, naquele março de surpresas, que seria por pouco tempo…

O então Ministro da Saúde mostrava-se conectado com as orientações das autoridades internacionais de saúde. O desafio apresentado pela pandemia seria enfrentado de forma racional e sensata. Mais uma peste das tantas que a humanidade enfrentou ao longo da sua História, mas certamente vivida com melhores recursos do que aqueles do medievo (Peste Negra) e mesmo do início do Século XX (Gripe Espanhola). Desafios que a humanidade enfrentou… e superou.

Mas este norte governamental logo foi desmoronando. Construir-se nessa conjuntura tão adversa (a de uma tragédia sanitária planetária acrescida por um desgoverno nacional desumano) foi um grande desafio. Reorganizar as tarefas domésticas e profissionais, assim como a encarar o noticiário nacional e não se abalar foram fazeres constantes, enfrentados de modo por vezes solitário.

Passado mais de um ano do início dessa aprendizagem (que continua), não avalio o resultado de todo ruim. A primeira aula virtual foi um desafio e a ausência física de rostos, vozes e olhares dos estudantes quase um impeditivo do trabalho ser executado a contento. No entanto, esse outro mundo antes apenas vislumbrado (o do ensino on-line) se impôs de tal modo que hoje o percebo “quase” natural.

Agora é sonhar com a recuperação da normalidade e também com novas viagens – como aquela ao Rio de Janeiro – e ampliar os conhecimentos do barroco brasileiro (no Mosteiro de São Bento e outros lugares), da arte contemporânea (na Casa Roberto Maranhão) e também do universo das classes populares (Morro do Vidigal). A realidade sempre pode nos proporcionar surpresas. Estejamos abertos para enfrentar desafios (inclusive os planetários) para novos cenários, gostos, saberes e fazeres.

 

 

Por Roselâine Casanova Corrêa, professora no curso de História (UFN), 

Inverno de 2021.

Imagem: pexels

Lembra quando a gente achou que passaríamos 15 dias em casa dividindo os dias entre pães gostosos, livros que estavam há anos esperando uma chance e horas a fio com os olhos pregados em uma série qualquer? Lembra quando achamos que seria incrível trabalhar de casa, sem precisar acordar tão cedo para enfrentar o trânsito e livres para usar calças de pijama durante reuniões? 

Mas aquela ilusão de duas semanas se aproxima da marca de 500 mil mortos e  500 dias de isolamento (sem previsão de acabar) e estamos longe de conhecer todos os impactos que essa história terá em nosso futuro, além da óbvia saudade dos que partiram e de quem éramos.

Isolamento social parecia uma experiência que nos levaria de volta a nós mesmos, conectados ao que realmente gostávamos de fazer quando acompanhados de apenas nós mesmo ou das pessoas que vivem conosco. Parecia que seria possível isolar o enfrentamento a pandemia, as máscaras, o álcool em gel e “todos os protocolos de segurança” do lado de fora de casa. Aqui dentro ficaríamos acompanhados das calças de pijama, café quente, pão novo feito em casa, animais de estimação, plantas e pequenos ritos de autocuidado que salvaguardam a sanidade. Não que as expectativas de enfrentar 15 dias de pandemia (ô dó) fossem leves e positivas, havia muito medo e receio do que estava por vir,  mas nós éramos nós mesmos e usamos a memória do que conhecemos como um apoio para aguentar. E agora que quase não nos reconhecemos mais? 

É curioso visitar as memórias das primeiras semanas de isolamento e não conseguir se reconhecer naquilo que esperamos (re)encontrar quando o mundo puder ver a covid-19 como uma crise superada. As rotinas mudaram, as relações não são mais as mesmas, adaptamos o jeito de trabalhar e estudar e inventamos outras formas de celebrar os dias felizes. Diariamente chegam as notificações das redes sociais, “neste dia há 2 anos”, e tanta coisa mudou que é recorrente pensar “que saudades de mim”. 

Que saudades da energia que a gente tinha. Que saudades de mim num bar, que saudades de mim batendo perna por aí, que saudades de mim quando usava maquiagem de festa, que saudades de mim abraçando tanta gente. Que saudades da gente saudável na rua, na praia, nas salas de aula, dançando nas festas e na vida. 

Arcéli Ramos é jornalista, egressa do curso de Jornalismo da UFN e colaboradora da CentralSul.

Viver nesse período de pandemia com as medidas protetivas incorporadas no nosso cotidiano tem sido um desafio. Parece que alguns hábitos são mais fáceis de serem absorvidos; o uso da máscara sempre, a higienização constante das mãos e a tecnologia mediando nossas atividades profissionais. O mais difícil, na minha vida, foi enfrentar o distanciamento familiar, social, dos meus alunos e colegas. Afinal, eu gosto de gente, do convívio, do afeto e da sensibilidade de saber estar junto, com diferenças e afinidades, mas junto.
Então, surgiu o meu desafio de enfrentamento da pandemia. Obviamente, em primeiro lugar, preservar a saúde, não me contaminar nem a minha, familiar nem tão pouco o coletivo, mas cultivando um mínimo de alegria, de felicidade e esperança no futuro. Preciso dessa esperança, sou virginiana, gosto de planejamento, de organização, de metas e como lidar com essa imprevisibilidade.
Foi um mergulho interior, de solidão, meus três filhos são casados e têm suas famílias constituídas. Busquei competências emocionais para dar suporte aos longos dias e intermináveis finais de semana. Para tanto, pedi ajuda a livros, músicas, filmes, culinária, trabalhos manuais, orações e o que foi fundamental – um olhar atento ao próximo, aos mais necessitados e fazer minha parte para minimizar tanto sofrimento . Estender a mão para quem precisa é transformador.
Agora, com as duas doses da vacina no braço, sem pressa, percebo que os movimentos da vida começam a florescer. Noticias de Nova York contam da vida voltando ao normal. E me dou conta que esse momento foi realmente transformador.
A leitura do livro Longe da Árvore, Pais, filhos e a busca da identidade, de Andrew Solomon, aborda exatamente esse entendimento emocional de conviver com a diversidade de momentos, de épocas e de gente. Conviver com a frustração. O livro resgata o fortalecimento de laços afetivos entre as famílias com crianças especiais, que nasceram longe da árvore, ou seja, não são como diz o ditado; A fruta não cai longe do pé. Cai sim….e aprende-se com as diferenças.
Nesse sentido, a cultura da pandemia tem efeitos. Afinal, cultura é tudo aquilo que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. E ela revela-se no modo de falar, de sentar, de ler um texto , de comer , de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa com a arte. Entendo, que cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica o nosso olhar. (João Paulo Paes, 1926-1998).
Sim, 15 meses de distanciamento social modificou meu olhar. Exigiu competências emocionais que desconhecia. Mergulhei no meu íntimo, tive perdas e tive ganhos e tenho renovadas esperanças, tipo o Dom Quixote, quando ele diz: Sabe, Sancho, todas essas tempestades que acontecem conosco são sinais de que em breve o tempo se acalmara; por que não é possível que o bem e o mal durem para sempre, e segue-se que, havendo o mal durado muito tempo, o bem deve estar por perto.  Tomara…

 

Por Sibila Rocha
Jornalista , Professora da UFN cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda

Quando penso em inimigos, em especial nas nefastas circunstâncias que estamos (e até mesmo fomos impostos), lembro de uma passagem de “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche. Na descrição exausta do Zoroastrismo, é dito:
Mas o pior inimigo que podes encontrar será sempre tu mesmo; espreitas a ti mesmo nas cavernas e florestas.
 Ó solitário, tu percorres o caminho para ti mesmo! E teu caminho passa diante de ti mesmo e dos teus sete demônios!
A passagem, que provoca uma reflexão e ação sobre a nossa própria conduta no mundo, sobre a nossa existência e a relevância da alma para progredir, encontramo-nos abruptamente com o nosso pior inimigo: nós mesmos.
O efeito lupa da pandemia, que fez com que parte de nós trabalhássemos de casa, sentados na cadeira, olhos cansados na tela e dedos beirando à loucura do ato de digitar, encontramo-nos, mesmo que rodeados, com nós mesmos.
É como se tivéssemos um espelho de altura e largura imensuráveis em nossa frente: ao fixarmos o olhar, o reflexo põe-se a devolver, indiscretamente, a contemplação.
Quem somos?
É a pergunta hermética cravada em cada canto que a mente alcança. Quem nós somos quando vejo a minha espécie não fazendo jus à tradicional distinção entre racionalidade e irracionalidade?
É ubíquo o sentimento de tristeza ao vermos aglomerações, festas clandestinas, a máxima irresponsabilidade para com o outro?
Ponho-me novamente a pensar, quase na lógica de Zaratustra: é verídico que a linha que me diferencia minha espécie é uma suposta racionalidade autodenominada?
Minha alma e meu espírito se entristecem, de tal forma que o próprio ato de esperança, ação e reforma sociais, frente ao inimigo biológico, acaba no estado diminuto. Um choro preso, sufocado, sem esperança ou mesmo vontade.
Minha mente torna-se errática: então, somos racionais ou não?
A prova se concretiza: não sou capaz de vencer meus impulsos primários para o bem-comum?
De que sou feito, então?
Žižek, filósofo esloveno, dá-nos, talvez, um possível caminhos para as inquietações. Segundo ele, o que fornece concreto para a ação não é mais uma resposta simples. É, então, a capacidade de fazermos perguntas que não fazíamos antes.
A pergunta que talvez devêssemos fazer para a ação necessária ao vencimento do obstáculo atual é: quem é nosso pior inimigo?

 

 

 

Por Erick Kader Callegaro Correa, coordenador do curso de Letras da UFN.

A CONMEMBOL confirmou nas últimas semanas a realização da competição continental no Brasil, depois da desistência da Argentina e da impossibilidade da realização na Colômbia. A Copa América que iria ser disputada em 2020 nesses dois países teve que ser adiada por causa da pandemia do Covid-19. Os argentinos, com um considerável aumento no número de casos do vírus, acabaram desistindo. Já os colombianos, com uma grave crise social em seu país, também comunicaram que não estariam a disposição como sede. Com isso, a competição veio parar em território brasileiro.

Porém, mesmo com o brasileiro apaixonado por esse esporte tão maravilhoso que é o futebol, a repercussão foi extremamente negativa por parte dos torcedores, imprensa, comissões técnicas das seleções e até os próprios jogadores. Em meio a tudo isso, mais um escândalo dentro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) veio à tona para o público, Rogério Caboclo, presidente da Confederação, foi denunciado por assédio moral e assédio sexual a uma funcionária da instituição. O presidente foi afastado por 30 dias e as investigações seguem, um áudio gravado por essa própria funcionária confirma o assédio, Caboclo questionou a trabalhadora com perguntas inoportunas e desconfortáveis. O afastamento foi decidido pelo Conselho de Ética da CBF, que a existência até me surpreende, já que escândalos lá dentro têm sido comum nas últimas gestões.

A seleção brasileira entrou em campo na sexta-feira, contra o Equador, No Beira-Rio em Porto Alegre. Com gols de Richarlison e Neymar, a seleção garantiu mais uma vitória nas Eliminatórias para Copa 2022 no Catar. No mesmo dia, a notícia que espalhavam os jornalistas esportivos em seus programas em todas as emissoras e internet, era de um possível boicote da seleção à Copa América, os jogadores não queriam jogar, a comissão técnica também não, além de influenciar outros jogadores de outras seleções a fazerem a mesma coisa.

Em entrevista pós-jogo para a Rede Globo, o capitão Casemiro foi questionado sobre esse pensamento dos jogadores em relação a competição, o jogador foi enfático e afirmou que a imprensa já sabia do posicionamento deles e que todos estão unidos. O que deu a entender é que realmente ali existia um posicionamento e esse era algo grande, que poderia entrar para a história do futebol e da seleção brasileira, os jogadores iriam vir a público na terça-feira, depois do jogo contra o Paraguai, também pelas Eliminatórias.

O pensamento de todos era de desistência, pela primeira vez na história aconteceria algo assim, os jogadores sairiam como heróis para grande parte da população, mas será que esse era realmente o posicionamento deles?

Pois é, não era… Depois da vitória contra o Paraguai, fora de casa, os jogadores, aqueles mesmos que tinham um posicionamento, postaram em suas redes sociais um simples manifesto com suas opiniões.

Uma piada. Como se estivesse muito frio e os jogadores todos de jaquetas, quisessem sentir um pouco desse frio e tiraram as jaquetas por alguns minutos, mas logo colocaram novamente, pois estava muito frio e acabaram se congelando. Foi exatamente isso que aconteceu. O que não dá para entender, é se esse era o real posicionamento desde sempre e o capitão Casemiro foi infeliz na sua entrevista ou se existia algum outro pensamento e acabou sendo cortado. Esse manifesto tenta agradar a todos, mas acaba não agradando ninguém. Depois da confusão, depois da tormenta, depois de toda repercussão que aconteceu no país, esse “posicionamento”, se é que dá pra chamar assim, vem a público. Em nenhum momento quiserem tornar uma discussão política, algo que já é político. São contra a realização da competição, mas todos jogarão. Nunca dirão não à seleção brasileira, mas de certa forma dizem não ao povo brasileiro. Uma piada.

O gosto por partidas de futebol é algo que desde pequeno, com meus 9 ou 10 anos, de idade, possuo. Quando pequeno fui influenciado por meu pai e meu avô materno a gostar do esporte, os dois fanáticos gremistas que acompanhavam quase todos os jogos do Grêmio.

Em minha casa, meu pai assistia aos jogos do Grêmio e também de várias equipes do interior do Rio Grande do Sul como, por exemplo, o Juventude de Caxias do Sul. Este que, desde aquela época, é meu segundo time do coração.

Ao redor de meu pai, eu ficava de olhos deslumbrados pelas jogadas, passes e gols que aconteciam nas partidas de futebol. A narração da partida e os gols com emoção fizeram com que eu, cada vez mais, gostasse desse esporte fantástico e sensacional.

Foto de Mike no Pexels

Não só de partidas de futebol eu gostava de assistir, gostava também de jogar, tanto em gramado, quadra, ou simples chão batido. O que eu mais queria era jogar, porque jogando futebol me sentia mais feliz e tudo era tão divertido.

O gosto pelo esporte também se passava no meu quadro e times de futebol de botão que ganhei de meu pai e que, muitas vezes, joguei com ele, meu irmão, primos ou, simplesmente, sozinho.

Foi no quadro de jogo de botão que aprendi a narrar partidas e a comentar os gols, e num simples quadro me imaginava em uma partida de verdade, onde eu era o narrador e o comentarista. A cada gol que saia, eu narrava com a emoção de como fosse uma partida real e eu estivesse narrando uma grande final. Quando saia um time de botão campeão, me sentia quase que um Galvão narrando para a televisão.

Com o passar dos anos troquei o quadro de botão por um videogame onde eu, na sala, na frente da televisão, continuei a narrar e comentar as partidas ainda com mais emoção. Mesmo gostando de narrar, meu sonho inicial era ser atleta profissional mas, como minha família não tinha condições,  foi por água abaixo meu plano de ser jogador e passei a pensar em outras profissões.

Ainda no ensino médio decidi fazer jornalismo e seguir meu sonho de trabalhar com esporte, só que de maneira diferente, não seria mais jogador e sim tentaria virar um narrador. Narrador que já era desde pequeno nos quadros de futebol de botão e no videogame em frente à televisão.

No ano de 2018 me inscrevi para o curso de Jornalismo na Universidade Franciscana, com a intenção de trabalhar com futebol e ser um dia um narrador ou comentarista profissional. Ao longo do curso tomei gosto por outras áreas do jornalismo, até pensei em mudar, porém meu gosto pelo esporte, especialmente o futebol, parece não acabar.

Cada vez mais gosto dessa modalidade esportiva. Com um convite de estágio, hoje eu atuo na área, trabalhando como produtor do programa de esportes JoGa Junto, da Rádio Medianeira 102.7, e tenho certeza que esse trabalho é o meu grande teste.

No ano de 2022 vou me formar e espero que, como narrador, comentarista ou repórter, a minha vida ganhar. Quem sabe algum dia serei como minhas inspirações, Glauco Pasa, Fernando Becker, Tino Marcos, Gustavo Berton, Paulo Brito, Galvão Bueno, Marco de Vargas ou um Pedro Ernesto Denardim e trazer muitas informações e fazer narrações.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Foto de cottonbro no Pexels

De longa data, vejo o passar do tempo como uma elipse de 24h. Só que, ao invés de um dia, refere-se a anos. A paixão pelo esporte, em específico ao tênis, é de tempos distantes. Algo que perpassava o deslumbrar dos jogos de Roland Garros e levava-me a entrar dentro de quadra, a ponto de me sentir um Nadal da vida, deslizando sobre o saibro. Difícil um jovem que já foi atleta não ter tido um ídolo para se inspirar. Nadal sempre foi mais que um jogador… um herói, dono de batalhas dentro e fora de quadra, contra adversários físicos e psicológicos. Superação… acredito que possa definir a admiração e o deslumbre acerca do atleta, não só pelo seu jogo, mas por me espelhar nele.

Recordo-me, como se fosse hoje, eu entrando em quadra, fardado de Babolat com a mesma Aero do espanhol, só que na mão direita. Batida no tênis antes do saque e dedos contorcidos antes do disparo. Calos nas mãos e a superstição em quadra, de frente com os passos, posicionamento e o pique da bola. Porém, assim como Nadal, meu adversário não era meu único obstáculo no momento do jogo. Uma das coisas mais complicadas que vivi para aprender a controlar, foram as enxurradas de pensamentos e auto menosprezo, independente de quem estivesse do outro lado da rede. Uma crença que me colocava abaixo, fazia sentir compaixão pelo adversário ao vê-lo triste, o que consequentemente me fazia entregar pontos de graça, para sua felicidade e que, posteriormente, me fariam perder o jogo. É claro que não queria entregar a partida, mas quando o adversário volta pro jogo, ele não terá o mesmo dó de você, eu garanto. Só sabia me sentir mal… com o público esperando algo diferente e a seriedade no rosto de meus pais. Não pela derrota, mas por saber o que passava na minha cabeça. Talvez me faltasse um pouco de ambição… espírito competitivo e autoconfiança, e saber que inimigos só existem dentro da quadra.

Ahh aquele cheiro de terra molhada, chão batido. As canelas e joelhos ardiam, e a terra voava com o vento, a qual fazia jus ao nome de “pé-vermelho”, remetendo ao lugar de onde vim. Sentia-me em casa. Pena que a mente ainda não era 100% minha. Por mais que a concentração existisse, um pensamento levava ao outro. Era um dominó. Além da compaixão pelo oponente, por melhor que eu pudesse ser, por mais torneios vencidos, eu estava por baixo, para mim é claro. Custou trabalhar esta maneira de ver as coisas, pois era uma crença individual, nada que fosse realidade para as outras pessoas. Para quem ouve, pode parecer tranquilo, mas só quem sentiu sabe o quão massacrante a fila de obsessões e falsas crenças perturbam nos momentos mais importantes da vida, seja no esporte, jornada profissional ou pessoal. Ainda não me sentia um Nadal… por mais que o TOC e as superstições viessem à tona, carregadas de um perfeccionismo sem limites ao colocar e tirar os pés do saibro, me faltava a seriedade em tentar me enxergar como o melhor naquele esporte, ao menos, uma vez na vida. Valorizar cada saque e procurar ver os pontos bons que eu fazia. É lógico que hoje sou outro. A superação falou mais alto e o sofrimento se transformou em aprendizado. Sim, aquele garoto da Aero amarela, de 9 anos, conseguiu se moldar dentro das quadras. Aprendizado que o tênis me proporcionou, e a quem sou extremamente grato por me ter levado ao autoconhecimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Em direção ao pós pandemia. Foto: Lavignea Witt.

Tenho notado certa esperança nesses últimos dias. Muito disso se deve pelo fato de que inúmeras pessoas estão sendo vacinadas contra o novo coronavírus. Se você ver o noticiário, vai notar alguns acontecimentos atípicos, como repórteres de outros países que agora não precisam mais usar máscaras em determinados lugares públicos. É difícil não criar expectativa de melhora da pandemia com realidades como essa. Já estamos todos ansiosos pelo dia em que essas restrições terão fim. E como será o depois? 

É muito comum ouvir a expressão “antes da pandemia” em conversas sobre atividades que anteriormente eram consideradas normais. Ela confirma que, embora as limitações terminem com o tempo, nada será como antes. É provável que não tenhamos mais tanta liberdade e que as marcas deixadas por esse momento irão mudar as relações pessoais, profissionais, financeiras e etc. Tudo o que éramos e tudo o que vivíamos foi modificado. 

Lembro-me de quando tudo começou. Estava em uma rotina exaustiva. Era uma correria o dia inteiro, vivia no automático. Aí tudo parou! Deixamos um pouco de lado a vida acelerada. A maioria das pessoas começou a dar importância para coisas que consideravam banais. O “tudo bem?” virou o “como está se sentindo?”. Acabamos nos conectando de formas diferentes, sem que fosse algo corriqueiro e instintivo. Entretanto, aprendemos a acelerar novamente. Além disso, estamos tendo — exceto aqueles que nunca pararam de trabalhar de modo presencial — que lidar com o fato de que nossa vida gira em torno da nossa casa, indo e voltando entre cômodos. Muitas pessoas se encontraram no home office enquanto outras vão demorar para superar os transtornos causados por essa mudança. 

Em relação ao vínculo pessoal, ativamos nosso espírito comunitário. No início da pandemia, muitas pessoas ajudaram e foram ajudadas. Mesmo em uma situação ruim, muitos estenderam a mão aos outros. Porém, com o tempo, as coisas foram se modificando. As mesmas ações já não são mais tão comuns e outras que vão na contramão do que se recomenda estão se tornando constância, como as aglomerações, por exemplo. Algumas pessoas deixaram o momento ser tomado pelo egoísmo. Mas, esperamos que colaborações comunitárias continuem ocorrendo, porque sempre existe alguém que precisa de uma ajuda. 

Harper Lee, em seu livro “O sol é para todos”, afirmou: “Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela.” Se colocar no lugar do outro, que sempre foi algo difícil, se tornou fundamental durante a pandemia. Não vivemos as mesmas coisas e não temos os mesmos problemas. Ainda assim, muitas pessoas se mostraram empáticas com as realidades alheias, aspecto que espero adiante depois da pandemia. É mais fácil sobreviver à tempestade se temos alguém com quem contar nas horas difíceis. 

E como será o pós pandemia? Apesar das muitas teorias e tendências para o que vem depois, acredito que, pelo menos, alguns aprendizados devem ser levados para essa nova realidade. Um momento atípico e cheio de dificuldades que nos deu a oportunidade de revermos hábitos e desejos da nossa vida. Qualquer oportunidade, seja boa ou ruim, deve ser refletida e apropriada como experiência para as vivências que virão. O depois da pandemia está quase aí. Vivamos! 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli.