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Crônica

Inertes

Lembra quando éramos crianças e ouvimos pela primeira vez as histórias de guerras? No início poderia ser apenas um emaranhado de datas, países e batalhas completamente desconectados da nossa realidade. Em algum momento, você provavelmente ficou

O contágio virtual

Lembro de quando ganhei o meu primeiro computador. Foi em 2010, eu tinha 12 anos. Não entendia muita coisa na época, mas precisava dele para fazer meus trabalhos da escola. Com o tempo, eu fui aprendendo

O futuro do lembrar

  No geral, me considero sortuda por algumas coisas. E uma delas é por lembrar da minha infância. Como é bom reviver alguns momentos na minha memória, em especial os tempos de escola. Lembro de muitas

Que distância tem o distanciamento?

A palavra distanciamento sempre foi só mais um substantivo masculino presente no vocabulário dos brasileiros. Aí 2020 chegou, a pandemia do novo coronavírus se instalou no mundo, e o que parecia ser uma palavra inofensiva passou

Era uma vez…

Um reino onde mulheres se fazem ouvir, escolhem seus destinos, realizam seus sonhos e escrevem suas próprias histórias. Nesse reino, Rapunzel decidiu que queria conhecer o mundo, cortou suas longas tranças, fez uma corda com elas

Cronistas debatem sobre a crônica no Flism

A crônica, apesar de ser um gênero menor da prática literária, ainda assim chamou a atenção dos santa marienses para o Flism, na noite de quinta feira, 12. Para falar e debater sobre esse gênero textual,

A arte da dança

Pliê, Tedu, Jeté, Rond Jamb, Grand Battement. A voz da professora está sempre em minha memória, dizendo várias e várias vezes os passos da dança. Quem nunca dançou Ballet não sabe o que é flutuar pelos

O gelo e a janela embaçada

Ontem ao sair pela manhã, os campos e os telhados das casas estavam cobertos com uma fina camada branca de gelo. Dos bueiros das ruas saiam vapor, que pareciam os do chuveiro, quando a água está

O amor novato

A vista vinha de uma criança, com cerca de seus nove anos, que acabara de ganhar o seu primeiro animal de estimação. É satisfatório pensar que ali a felicidade estava empregada na forma mais pura e

Foto de Disha Sheta no Pexels.

Lembra quando éramos crianças e ouvimos pela primeira vez as histórias de guerras? No início poderia ser apenas um emaranhado de datas, países e batalhas completamente desconectados da nossa realidade. Em algum momento, você provavelmente ficou horrorizado e perguntou: como? Como as pessoas deixaram acontecer? Precisamos viver nossas próprias tragédias para perceber o quanto a inércia é confortável. 

Inércia e negacionismo parecem conceitos tão similares, quase sinônimos. Negamos o horror mesmo com as melhores intenções, mesmo sabendo de tudo o que está acontecendo nós encontramos na apatia uma forma de sobreviver.   

Buscamos continuamente por novas alternativas, novas rotinas. Fazemos remendos em nós mesmos e no cotidiano para, de alguma forma, seguir em frente e suportar mais duas semanas até começar tudo de novo. A vida se divide em pequenos períodos de alívio, ilusão de ar nos pulmões, e longos intervalos de sufocamento. E seguimos em busca de alternativas que possam sustentar o ar, os dias. Não passou da hora de parar? Chega. 

Não dá mais para fingir que alternativas individuais vão nos levar para longe disso. Chega de intercalar crises de ansiedade e artigos sobre produtividade do LinkedIn. Chega de sustentar o insustentável, de carregar o caos no colo.

Até quando? Há mais de um ano nós esperamos a virada de chave, o acontecimento que vai mudar tudo, a repentina luz no fim do túnel, aquilo que vai fazer as pessoas se levantarem para gritar “não dá mais!”. Mais de 400 mil mortos e nós seguimos negando a dor, o horror. 

Desejo que encontremos forças e caminhos para sair da inércia, assim como as gerações anteriores encontraram. Eles descobriram formas de reivindicar a vida e se rebelar contra a barbárie. Que as aulas de história e a memória dos que partiram precocemente possam servir de impulso e inspiração para buscar a mudança necessária. 

Arcéli Ramos é jornalista, egressa do curso de Jornalismo da UFN e publicará crônicas na CentralSul a cada 21 dias, a partir de hoje.

Uso das redes sociais cresce durante a pandemia. Foto: Lavignea Witt.

Lembro de quando ganhei o meu primeiro computador. Foi em 2010, eu tinha 12 anos. Não entendia muita coisa na época, mas precisava dele para fazer meus trabalhos da escola. Com o tempo, eu fui aprendendo sobre as outras funcionalidades e, depois de alguns meses, já entendia melhor os recursos da internet. O que eu mais gostava era jogar online, mas, com a influência dos meus amigos, logo entrei para o mundo das redes sociais. Comecei no Orkut e logo fui para o Facebook. Naquele tempo, a maioria das pessoas usava as redes sociais para conversas em grupo, jogos e publicação de fotos. Conforme as transformações na sociedade, tudo foi se modificando no mundo virtual. Logo começou a criação de conteúdo e a era da influência digital chegou com tudo. Hoje são poucas as pessoas que não fazem parte desse universo, seja para uso pessoal ou profissional. 

Voltamos ao início de 2020. Antes da pandemia, o fluxo nas redes sociais era intenso, agora é gritante. Encontramos uma válvula de escape nessa estrutura social composta de pessoas que se relacionam de diversas maneiras e compartilham conteúdos com valores comuns. Como estamos em meio a uma pandemia e as relações físicas estão temporariamente restringidas, buscamos conforto ao enviar e receber mensagens instantâneas através desse recurso. E, além das mensagens, vemos e compartilhamos conteúdos das mais diversas categorias. Mas como diz aquele velho ditado de vó, nem tudo são flores. 

Nesta altura, todo mundo já deve ter se sentido esgotado ou pressionado demais em algum momento desde que a pandemia começou. Não tem como se sentir a pessoa mais positiva do mundo dentro de uma rotina desgastante e com uma enxurrada de informações todos os dias. Mas a vida nas redes sociais é outra. É como se você entrasse em um mundo paralelo onde há vidas perfeitas, rotinas muito bem planejadas e pessoas sempre bem apresentadas. Há sim pessoas que compartilham suas vidas de maneira real, mas nem todo mundo quer aparecer mostrando os contratempos, não é mesmo? E o problema não está totalmente no conteúdo postado, mas em como as pessoas levam para si. Por isso insistimos em nos comparar a algo inexistente: uma vida perfeita. 

No início da pandemia todo mundo parecia ser produtivo. Alguns faziam exercícios físicos em casa, outros estavam aprimorando seu inglês e a maioria parecia estar com a vida profissional sob controle. E ver esse tipo de conteúdo circulando nas redes sociais tem nos tornado cada vez mais imediatistas. A autocobrança desnecessária se tornou algo normal. Também queremos ser felizes, produtivos e saudáveis o tempo todo. E existe um porém, isso não é possível.

Uma vez eu li em um livro de autoajuda que nunca teremos uma vida sem contrariedades, elas sempre existirão de alguma forma e a chave da nossa felicidade é conseguir solucionar cada uma delas. Ou seja, segundo o autor, uma pessoa é feliz — em certos momentos porque a felicidade é um estado de espírito e não uma condição — se resolver suas questões e continuar vivendo aquilo que é possível para ela. Sem comparação, sem pressão. Agora imagine uma outra vida se todos buscassem por esse ideal. 

Mas, a realidade é que estamos vivendo uma epidemia virtual dentro de uma pandemia. Resultado da busca de querer amarrar a vida em um estado perfeito criado através da internet. Nossa vacina teria que ser a liberdade. Liberdade dos status publicados nas redes sociais e da pressão imposta por si mesmo. Há sempre tempo de viver conquistas e objetivos, o segredo é respeitar seu próprio percurso. Era isso que eu queria que meu eu de 2010 pudesse ter ouvido antes de entrar nesse mundo virtual.

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli. 

 

A educação ‘abre’ caminhos. Foto: Lavignea Witt.

No geral, me considero sortuda por algumas coisas. E uma delas é por lembrar da minha infância. Como é bom reviver alguns momentos na minha memória, em especial os tempos de escola. Lembro de muitas ocasiões. Dos dias de aula, das brincadeiras, das tarefas em casa. Como era bom poder ir para escola e viver toda a experiência do aprendizado com meus colegas e professores. Infelizmente, essa não é a realidade de milhares de alunos desde março de 2020. Com o surgimento da pandemia, as aulas presenciais foram suspensas e gestores e educadores do mundo inteiro buscam os melhores caminhos para tentar manter a troca de conhecimento e as relações sociais entre todos. A maioria dos alunos participa das aulas através de videochamadas. Outros recebem as atividades impressas em casa ou buscam na escola. E muitos não conseguem usufruir de nenhuma das opções. O que era básico, agora é privilégio. 

Apesar de lembrar da minha infância de modo feliz, não tenho somente lembranças boas do meu tempo de escola. Lembro também das minhas dificuldades. Matemática era algo terrível para mim. Aquela mistura de números e letras me assusta até hoje. Além das aulas presenciais, tentava sanar todas minhas dúvidas em casa, com a ajuda dos meus pais ou de professores particulares. Hoje, um estudante do ensino fundamental, que tem dificuldade em alguma matéria, soube que precisa de muita dedicação e organização para aprender através do universo digital. E se não possui acesso à internet, o trabalho é dobrado. Os professores precisam adaptar novas formas de ensinar e novas formas de fazer o conteúdo chegar até esses alunos. Uma crise que ‘forçou’ milhares de estudantes e professores a se abrirem para o novo. 

E essa batalha não é somente de dois lados. Os pais, que dispõe do privilégio de trabalhar em home office, vivem essa rotina junto com eles. Mas nem tudo é vantajoso. Trabalhar, cuidar da casa e ajudar os filhos. Parece algo simples, mas demanda muito esforço. A suspensão das aulas presenciais devido ao isolamento criou novos hábitos e comportamentos dentro das relações familiares. A sobrecarga de atividades e as preocupações do dia a dia tem contribuído para angústias e aflições. Parece que estacionamos em março de 2020. 

Olhando para esse panorama de dificuldades, podemos assegurar que muitos efeitos desse momento permanecerão. E não me refiro apenas às estruturas ou processos de aprendizagem, mas sim à valorização. Ir à escola era rotina, e agora, assim como quase tudo, terá um novo sentido. Quando o ensino voltar a ser presencial, o hábito irá dar lugar a ressignificação. A forma de aprender não será mais a mesma, assim como a relação entre todos que se envolvem com o ambiente escolar. É certo afirmar que a pandemia também proporcionou e proporciona momentos de reflexão. 

Em seu livro, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, Carl Sagan afirmou: “Num mundo em transição, tanto os estudantes como os professores precisam ensinar a si mesmos uma habilidade essencial — precisam aprender a aprender.” A chave está aí. Não sabemos o que nos espera pela frente. O importante será aproveitar os ensinamentos que esse momento tem imposto para saber lidar com os imprevistos da melhor maneira. E que esses alunos tenham a mesma sorte de lembrar dos seus tempos bons de escola assim como eu. 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli. 

Os efeitos do distanciamento social em lugares públicos. Foto: Lavignea Witt.

A palavra distanciamento sempre foi só mais um substantivo masculino presente no vocabulário dos brasileiros. Aí 2020 chegou, a pandemia do novo coronavírus se instalou no mundo, e o que parecia ser uma palavra inofensiva passou a ser uma expressão utilizada em todas as mídias sociais e em conversas aleatórias sobre o cotidiano. Mais do que isso, tornou-se parte de nossas vidas, nos impactando profundamente. Ter lugares delimitados no chão em lojas, farmácias, supermercados e em tantos outros lugares virou algo comum. Todo mundo sabe: são necessários de 1,5 a 2 metros. Pensando assim, até parece pouco. Apenas 2 metros. Contudo, esses 200 centímetros foram capazes de mudar a vida de todas as pessoas ao redor do mundo.

Ninguém poderia imaginar que atividades, consideradas normais no dia a dia, precisariam de tantas regras para acontecerem. Foi como se a pandemia tivesse jogado um balde de água fria em todas as relações. Os encontros com pessoas precisaram ser adaptados para o mundo virtual. Aquela festa de aniversário agora acontece por videochamada. A conversa entre os amigos, também. As aulas, que antes enchiam uma sala qualquer com vozes e expressões, agora dependem quase que totalmente da tecnologia para ocorrer. E mais do que mudar a forma como nos encontramos com as pessoas, a pandemia gerou reflexões sobre como a vida era antes e como ficou depois da prática do distanciamento social.

Em outro tempo, era normal subestimar a interação física com as pessoas. Quem nunca escapou de um convite para encontrar amigos? A conexão com os outros se reduzia a um aperto de mão e ao contato visual. Havia a necessidade de delimitar cada expressão física ao socialmente aceito. Na atual circunstância, o contato físico nunca foi tão importante para o bem-estar. E é difícil abrir mão, de uma hora para a outra, de todas as atividades que envolviam estar fora de casa e conviver com outras pessoas. A verdade é que estamos todos vivendo um luto, em relação a tudo que deixamos para trás. Uma vez, ouvi de uma profissional da psicologia que luto não refere-se só a perda de um ente querido. O luto também é tudo aquilo que, por consequência de uma situação, precisamos mudar ou deixar de fazer. E, na atual conjuntura, quase tudo mudou.

A rotina, a convivência com pessoas de fora, a maneira de estudar e trabalhar, as relações entre amigos e até uma ida ao supermercado. Muita coisa precisou ser adaptada, mas tudo precisou ser ressignificado. Um simples abraço não é mais um simples abraço. Ir ali com os amigos faz muita falta. Ter conversas produtivas com colegas e professores na faculdade nunca foi tão significativo. Ou seja, é necessário transmitir emoções que vão além do que se comunicar apenas verbalmente. E quando a pandemia acalmar, as relações sociais voltarão a ser presenciais com algumas marcas e novos sentidos deixados pelo distanciamento. Mas que essas ressignificações permaneçam como uma forma de aprendizado pelo tempo difícil que passou. 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli. 

Imagem: divulgação

O que aprendemos com a pandemia? Essa é uma das perguntas a partir das quais se desenrola o Projeto Experimental que começa a ser publicado hoje, dia 12, na CentralSul Agência de Notícias.  “Retratos pandêmicos” tem produção da acadêmica Lavignea Witt, com orientação da professora Neli Mombelli, e apresenta crônicas jornalísticas com fotografias ilustrativas sobre o momento, com a intenção de promover reflexões a partir de cada situação e seus aprendizados.

Na divulgação do projeto é salientado: “Se perguntarmos a uma pessoa o que ela mais sente falta do ano de 2019, muito provável que ela irá responder algo sobre ter uma rotina ‘normal’. Mas, em meio a essa rotina, poucos refletiam sobre as indagações do cotidiano. Em 2020 isso mudou completamente. Precisou uma pandemia se instalar no mundo para que milhares de pessoas parassem tudo o que estivessem fazendo e prestassem mais atenção a muitas situações.”

Serão 5 crônicas que vão circular toda quarta-feira, até o dia 9 de junho.

Imagem de Jonny Lindner /Pixabay

Um reino onde mulheres se fazem ouvir, escolhem seus destinos, realizam seus sonhos e escrevem suas próprias histórias. Nesse reino, Rapunzel decidiu que queria conhecer o mundo, cortou suas longas tranças, fez uma corda com elas e desceu da torre alta. Viajou, comeu e amou. Aproveitou cada segundo da sua vida, livre, leve e solta.

Outra mulher também vivia por lá, Branca de Neve, considerada uma princesa, sabia exatamente onde queria chegar. Usou sua determinação, junto com as habilidades dos seus fiéis escudeiros, os sete anões. Virou uma empresária de sucesso, rica e poderosa, a Dona do Pedaço.

Do outro lado do reino, Cinderela disse umas verdades para sua madrasta cruel e suas irmãs postiças. Se livrou do relacionamento abusivo que tinha com elas e suas sapatilhas de cristal tornaram-se tendência nos quatro cantos do reino. Assim, nunca mais precisou entrar em uma carruagem que virava abóbora.

Aurora, que era conhecida como a Bela Adormecida, cansou de esperar o príncipe encantado. Na verdade, essa espera em sono profundo a fez pensar sobre sua vida e suas escolhas. Quando acordou, dispensou príncipes encantados, para um belo dia conhecer a destemida princesa Anna, de um distante reino de gelo, para juntas encontrarem o amor e viverem felizes para sempre.

Outra notável personagem desse lugar era uma menina dos cabelos de fogo, princesa e sereia, chamada Ariel. Nessa história ela não trocou sua voz por um par de pernas. Ela usou a sua voz para defender os animais marinhos contra as ações dos seres humanos e virou uma famosa ativista ambiental.

Não podemos deixar de falar de duas mulheres fortes e guerreiras desde crianças. Lideres dos seus povos, admiradas e respeitadas, não só reconhecidas pela beleza, Pocahontas e Mulan.

E por último, mas não menos importante, da periferia do reino, Tiana, uma princesa negra, extremamente inteligente, que propaga o Black Power por onde passa, recrutando seguidores, exigindo respeito e igualdade, sempre embalada ao som do jazz e do blues.

Todas as mulheres citadas nessa história mudaram seus destinos já escritos, para simplesmente escolherem o que quiser para suas vidas. Que assim como elas, todas as mulheres possam escrever suas próprias histórias, sem aceitar nada menos do que a felicidade.

Por Fabian Lisboa, acadêmico do curso de Jornalismo da UFN

A crônica, apesar de ser um gênero menor da prática literária, ainda assim chamou a atenção dos santa marienses para o Flism, na noite de quinta feira, 12. Para falar e debater sobre esse gênero textual, foram convidados os cronistas Orlando Fonseca, Marcelo Canellas e Candinho Ribeiro. O jornalista Marcelo Canellas, por não poder adiar compromissos, não pode comparecer ao evento.

Candinho Ribeiro e Orlando Fonseca presentes no Flism. Foto: Emanuely Guterres/ Agência CentralSul.

Antonio Candido Ribeiro, conhecido como Candinho, começou o painel contando um pouco sobre sua trajetória com a crônica. Formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), começou a escrever para o Jornal A Razão e, um tempo depois, para o Diário de Santa Maria. Conhecido como o mais rígido dos cronistas Santa Marienses, fala com prazer sobre o gênero que tanto gosta de escrever. ”A crônica tem um papel fundamental no jornal, seja ele qual for — para atrair leitores. É por isso que em meus textos, busco sempre dialogar com o leitor, trazer ele para o texto. Posso afirmar que traz bons resultados”, explicou Candinho. Quando questionado sobre a produção da crônica, disse que qualquer um pode escrever, desde que não desista no primeiro obstáculo e que permaneça com um mínimo de qualidade. Muitos nomes da crônica no Brasil foram abordados, como Machado de Assis, Rubem Braga, mas o que o escritor mais admira é Luiz Fernando Veríssimo. ”Não tenho palavras para descrever Veríssimo”, contou.

Orlando Fonseca lembra que começou a escrever neste mesmo gênero, quando ingressou no curso de Letras, pois sentia necessidade de refletir sobre seu trabalho e, por consequência, praticar o seu texto. Os cronistas locais e seus periódicos foi o assunto mais abordado pelo escritor, como nomes de Roque Callage, João Belém, Romeu Beltrão e Carlos Drummond de Andrade. Ele comenta que esta prática literária nasce do cotidiano, coisas simples, que geralmente não são noticiadas pelos meios de comunicação. ”O cronista busca as coisas mais simples da vida, as experiências das pessoas. Então, precisamos de disponibilidade para ser observador, não podemos ser impassivos diante daquilo que vimos. O cronista responde imediato às notícias do cotidiano, e faz uma crônica de imediato”, explica.

Nas perguntas do público se pode  notar o entusiasmo dos cronistas em dar dicas e conselhos para quem deseja seguir esta carreira. Para os escritores, o leitor precisa ser persuadido logo nas primeiras frases, para então sentir vontade de continuar lendo o texto. Para Candinho Ribeiro, a crônica se alimenta de tudo, por isso, o cronista possui liberdade suficiente para inventar a sua ‘saída’. ”Ele é provocado por algo que vê, que sente, que ouve e por isso escreve crônicas”, finalizou Orlando.

 

Pliê, Tedu, Jeté, Rond Jamb, Grand Battement. A voz da professora está sempre em minha memória, dizendo várias e várias vezes os passos da dança. Quem nunca dançou Ballet não sabe o que é flutuar pelos palcos da vida. A dança traz expectativa, é a emoção mais intensa e comovente do ser humano. Não consigo ouvir uma música clássica, que já tenho vontade de dançar. É algo que entra dentro de mim e irradia por todo o corpo fazendo com que eu saia por aí dançando e dançando, me sentindo muito contente.

O Ballet é a arte que vai além dança, a energia da música entra no meu corpo, pelos pés, braços e mente. Nos ensaios o suor escorre pelo corpo e cai no piso gelado, deixando no ar uma atmosfera tensa, de um bom ensaio, mas sofrido e cansativo. A professora é enérgica, faz repetir uma, duas, vinte vezes a sequência de movimentos. Corpo cansado, roxos pelas pernas, pés esfolados devido à sapatilha de ponta. Ao contrário do que se possa imaginar, tudo isso se significa felicidade, amor pela dança, realização e bem-estar.

Meu primeiro espetáculo, minha primeira apresentação com sapatilha de ponta, que é a etapa final que uma bailarina chega, estão guardados na minha memória para sempre. Sinto a emoção e o nervosismo como se fosse hoje, minhas mãos suavam frio, minhas pernas tremiam, a expectativa era grande, e eu estava muito feliz. Sabia que o esforço de todos os ensaios puxados, iriam valer a pena no final. 

Bailarinas são pessoas normais.Suportamos cortes e calos sem descer do gesso, nos acostumamos à dor diária e aceitamos isso como parte de nosso crescimento. É um amor inexplicável, pois a gente só sente quando se dança, quando sente a emoção e os movimentos. Acredito que foi uma escolha que nunca irei me arrepender, pois fazer ballet fez eu evoluir meu corpo e minha mente. É preciso sonhar e acreditar em seus sonhos, se esforçar para que aquilo funcione, de certo, e que seja a inspiração para a vida, como o ballet é para mim.

Texto: Milena Bittencourt

Crônica produzida para a disciplina de Jornalismo II sob a orientação do professor Carlos Alberto Badke

 

Ontem ao sair pela manhã, os campos e os telhados das casas estavam cobertos com uma fina camada branca de gelo. Dos bueiros das ruas saiam vapor, que pareciam os do chuveiro, quando a água está muito quente.

Ainda não havia nascido o sol, mas no céu estava começando a aparecer os primeiros sinais do amanhecer. Tinha poucas nuvens e a cor laranja misturado com um amarelo ouro dava um tom especial e brilhante ao despertar do dia. Essa mistura de cores com o gelo fino e branco, me remeteu a um tempo, lá pelos anos 80, onde essa mistura de cores me fez pensar nas sensações, sentimentos e lembranças da infância.

 Lembro que as manhãs eram assim: Acordava, e o sol que entrava pela janela que tinha uma cortina de renda, toda trabalhada com detalhes de pequenas rosas, refletia no chão da sala, formando um tapete florido de luz. Ali naquele sofá logo abaixo da janela, ficava olhando desenhos animados, coberta com uma colcha que chamávamos de acolchoado, era pesado e quente.

Nessa época o tempo parecia que passava mais lento! O cheiro de café passado irradiava por toda a casa. Era um cheiro de aconchego, quente e doce. O aroma de pão quentinho saído há pouco do forno, entrava pela fresta da porta da cozinha, que ficava ao lado da padaria, espalhava pela casa inteira. Esse era o cheiro da manhã!

Os vidros ficavam embaçados, era aconchegante lá dentro da casa. Ainda era cedo, os passarinhos cantavam lá fora. Quando já estavam terminando os desenhos animados, o sol entrava em toda a sala, aquecendo. Era hora de brincar com as bonecas no chão. Montava casinhas, quebra-cabeças e tantos outros.

O cheiro dos temperos exalava da cozinha para a sala, era minha mãe preparando o almoço. Mas os vidros da janela ainda estavam embaçados. Que coisa, está muito frio! O inverno chegou! E da janela embaçada do carro, só a lembrança ficou.

 

Texto: Maristela Santos

Crônica produzida durante o primeiro semestre de 2019 para a disciplina de Jornalismo II sob a orientação do professor Carlos Alberto Badke

A vista vinha de uma criança, com cerca de seus nove anos, que acabara de ganhar o seu primeiro animal de estimação. É satisfatório pensar que ali a felicidade estava empregada na forma mais pura e bonita. O protótipo de filhote, que nas minhas mãos, lambia com o sentimento de amor novato, dormia a quase todo o momento em meu colo, ou em alguma almofada que estava por perto.

De cor preta, vira-lata, porte pequeno, exibia o charme com o seu sorriso desajeitado toda vez que eu, ou alguém da família chegava em casa, por muitas vezes, a felicidade era tanta, ao ponto dela mesma realizar suas necessidades de forma involuntária. O amor crescia a passos pequenos, cada dia mais. 

O ano era 2014, recém tinha chegado da escola, logo perto do horário do almoço, o cansaço era visível no olhar, e a única coisa que eu mais gostaria, era do mesmo sorriso desajeitado, que na porta de casa, sempre me esperava. Abri a porta e logo a visão embaralhou-se, olhei para o sofá e logo de cara enxerguei a minha mãe, carregando no colo, o amor em forma de animal de estimação.

Os olhos desceram até onde se pode fazer o foco do que estava acontecendo, a pata esquerda tinha sido fraturada e semelhante a um balanço de pneu, balançava quase que sem parar. O som ao fundo, era misturado com gritos e ganidos intensos, a única solução era o veterinário mais próximo.

O carro naquele momento assemelhava-se a um cavalo que sofre chicotadas para acelerar os passos, a cirurgia já estava marcada por telefone, ao chegar lá, era só pedir a Deus e entregar nas mãos de quem poderia consertar aquela situação. Horas mais tarde a notícia do resultado vinha por telefone, era como um soco na boca do estômago, acabara não resistindo a anestesia, sofrendo um ataque do coração, quase que de imediato. 

A tristeza estava plantada em todos que conviviam com aquele animal. A questão é, será que era para ser a hora dela? 

Há alguns dias, estive relembrando esse momento junto da família, todos superados, mas com um toque de saudade dentro de cada coração. Eu nesse dia, tive que sair para o trabalho logo após o almoço. Ao sair da garagem dentro do carro, observei de longe um animal que vinha em minha direção. Como sempre minha mãe, senhora Divânia, deixa um pote de comida e água na porta de casa, era o mais provável de acontecer quando aquele animal chegasse mais perto.

O animal caminhava cada vez mais perto, mas algo estava errado, ele mancava como se algo o tivesse machucado, aproximando-se, consegui vê-lo, e a vontade de chorar veio segundos depois. O vira-lata assemelhava-se com o meu maior presente de anos atrás, e o problema que ele tinha, era o mesmo. Não sei dizer o que senti naquele momento, mas quando ele cruzou pelo carro, um olhar melancólico me hipnotizou, como se uma parte da minha infância fosse toda relembrada em questão de segundos, e o sentimento de saudade aflorar-se da forma mais bonita, um amor novato.

Texto: Kauan Costa

Crônica produzida durante o primeiro semestre de 2019 para a disciplina de Jornalismo II sob a orientação do professor Carlos Alberto Badke